Ville Valo faz show de muitos hits e pouca nostalgia em São Paulo

Cantor finlandês ex-HIM estreia com êxito sua carreira solo no Brasil e mata sede de fãs por sucessos e outras coisas a mais

A história do rock não costuma ser generosa com líderes de banda que saem em carreira solo. São raros os casos em que a popularidade permanece como antes. Mas a estreia da nova fase da carreira de Ville Valo, ou VV, tem fugido à regra.

Músicas lançadas há menos de um ano já bateram a casa de milhões em execução nas plataformas digitais. Ele já tem 200 mil ouvintes mensais no Spotify, um quinto do que registra sua antiga banda, o super popular HIM, um dos maiores nomes do gothic rock da história. No Brasil, as coisas deram certo já antes de o show começar.

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Foto: Leandro Almeida

A parte técnica ficou pronta cedo e aparentemente sem imprevistos, já que uma discotecagem que incluiu clássicos de Billy Idol, Metallica e Scorpions soou sem interrupção por pelo menos meia hora antes do início do show. O palco também já era uma atração, decorado com um pano de fundo (backdrop) simples e uma iluminação de extremo bom gosto, tanto pela cor quanto pela disposição — embora nada disso tenha sido registrado pelo site devido à recusa da produção do artista em credenciar o fotógrafo da equipe para esta cobertura.

Foto: Leandro Almeida

Em um Carioca Club lotado, VV repetiu o feito na mesma casa em que o HIM, de que era vocalista e principal compositor, se apresentou pela última vez aqui, em dezembro de 2015.

Ville Valo é um compositor dos bons. Sabe como poucos escrever um refrão fácil de cantar e difícil de esquecer, combinando das mais diversas formas as palavras “amor” e “coração”. As semelhanças com o líder do Whitesnake, David Coverdale, continuam: também é galã, tem um timbre único, mas difere por ser gótico; então, “morte” entra na receita.

Foto: Leandro Almeida

Está formado um catálogo perfeito para apresentações ao vivo. Esse talento foi mantido em “Neon Noir”, primeiro lançamento após o fim do HIM em que até a instrumental “Zener Solitaire”, também de autoria de VV, se destaca. É ela que começa a tocar no PA enquanto as luzes se apagam, indicando que o evento iria começar.

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“Echolocate Your Love”, faixa que abre o disco, iniciou o show e os fãs mostraram que para eles também nada mudou. Se não eram recebidas como os hits arrasa-quarteirão que o tornaram conhecido, o repertório da carreira solo ficou longe de ter uma recepção fria ou indiferente. Todas foram cantadas em maior ou menor volume. Não houve alguma que passou batida, como se o povo não conhecesse.

Foto: Leandro Almeida
Foto: Leandro Almeida

A reação empolgada é diretamente oposta ao material apresentado, em sua maior parte lento ou cadenciado. Ville Valo só observa, quase não se move pelo palco. Fica exatamente no meio e deste lugar não sai. É como se esforçasse de propósito para sempre estar sob a ponta do “heartagram” no backdrop (o pentagrama com um coração no meio, símbolo reciclado dos tempos de HIM, agora com duas letras V).

É com essa postura indiferente, blasé, que VV fica à vontade. Ele sabe o que o povo quer e não nega. A segunda é “Poison Girl” e com ela ganha de vez o público, que vê o “Neon Noir”, com que tiveram menos de um ano para se acostumar, ser apresentado alternadamente aos hits de toda uma vida. Assim, “Foreverlost” antecede “Funeral of Hearts”. A agitada “Buried Alive By Love”, que abriu o primeiro show do HIM no Brasil, em 2014, fica para depois da metade do show, entre a forte candidata a hit da nova fase “Run Away from the Sun” e “Loveletting”.

Foto: Leandro Almeida

São dezenove músicas ao todo, 10 para o presente promissor, 9 para o passado glorioso. Tão discreta quanto competente, a banda que o acompanha é formada por Mikko Virta e Sampo Sundström nas guitarras, Risto Rikala na bateria e Juho Vehmanen no baixo. O stage manager Bobby Nieminen, sob orientação de Ville, distribuiu alguns fardos de garrafa d’água para os fãs na grade e perto dela.

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Daria para dizer que entregaram tudo o que era esperado pelo público paulista. Só não foi exatamente assim. Graças à internet sabemos que “Vertigo Eyes”, de “Neon Noir”, vinha sendo tocada e estava no final da fila do setlist. Contudo, por algum motivo, não encerrou o show.

A princípio, parecia ser uma pausa para o segundo bis, ainda que longa demais. Até aí tudo bem. A primeira, que antecedeu “In Trenodia” também foi.

Foto: Leandro Almeida

Após uma longa espera e alguns minutos de uma trilha indiscernível, as luzes aos poucos foram acesas e ficou claro que “When Death and Love Embrace” havia sido a última música. Sem problemas.

Talvez por ser uma nova fase que agradou os fãs, acompanhada de uma nova banda, nova equipe técnica, como disse em entrevista recente, Ville Valo fez um primeiro show solo muito superior à estreia do HIM no Brasil. A ver se a qualidade do material conseguirá ser longeva como a da grande banda finlandesa.

Foto: Leandro Almeida

Ville Valo – ao vivo em São Paulo

  • Local: Carioca Club
  • Data: 1º de novembro de 2023
  • Turnê: VV / Neon Noir

Repertório:

  1. Echolocate Your Love
  2. Poison Girl (HIM)
  3. The Foreverlost
  4. The Funeral of Hearts (HIM)
  5. Neon Noir
  6. Join Me in Death (HIM)
  7. Heartful of Ghosts
  8. Wings of a Butterfly (HIM)
  9. Salute the Sanguine
  10. The Kiss of Dawn (HIM)
  11. Run Away From the Sun
  12. Buried Alive by Love (HIM)
  13. Loveletting
  14. Right Here in My Arms (HIM)
  15. Saturnine Saturnalia

Bis:

  1. In Trenodia
  2. Soul on Fire (HIM)
  3. Baby Lacrimarium
  4. When Love and Death Embrace (HIM)

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Rolf Amaro
Rolf Amarohttps://igormiranda.com.br
Nasceu em 83, é baixista do Mars Addict, formado em Ciências Sociais pela USP. Sempre anda com o Andreas no braço, um livro numa mão e a Ana na outra.

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