O “garoto que substituiu Eric Clapton” e depois virou guitarrista do Poison

Blues Saraceno teve uma carreira nada comum na música, começando como um prodígio da guitarra e hoje atuando de forma mais discreta

Quem encararia a missão de substituir Eric Clapton em uma turnê com dois músicos do Cream — com o baixista e vocalista Jack Bruce e o baterista Ginger Baker — 20 anos depois do fim das atividades do grupo? Um jovem de pouco mais de 16 anos aceitou o desafio, deu conta do recado, foi parar no Poison e se tornou um respeitado produtor e músico de estúdio. Essa é a história de Blues Saraceno.

Prodígio da guitarra, o americano nascido em 1971 começou a carreira bem, sendo escalado para uma participação em um álbum da cantora Cher. Uma de suas demos também foi destaque em uma revista dedicada ao segmento.

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Mas tudo mudou mesmo em meados de 1990, quando ele, tendo 19 anos de idade, foi fazer uma audição para a retomada da parceria entre Bruce e Baker, mas não como Cream, pois não contaria com Eric Clapton. Saraceno relembrou o episódio em entrevista para a Classic Rock.

Duas horas de atraso

Devido a um problema em seu carro, Blues Saraceno chegou duas horas atrasado para o teste, que seria em Manhattan, Nova York. Ao entrar, se deparou com músicos experientes e mais velhos (Jack com 47, Ginger com 51) — e teve a certeza de que não conseguiria a vaga. Mesmo assim, decidiu causar uma impressão.

Ele relembra:

“Eu pluguei em um (amplificador) Marshall JCM800 e percebi: ‘não importa, não há chance de pegar esse emprego de qualquer forma’. Só fiz o meu melhor e respeitei a situação – apesar de estar tão estressado. Coloquei tudo no 10 no amplificador, virei ele de lado para não explodir todo mundo e toquei a guitarra com tanta força que até os dentes das pessoas tremiam.”

Se o objetivo era causar uma impressão, Saraceno certamente conseguiu. E achou que tinha colocado tudo a perder.

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“Eles estavam todos olhando para mim e eu tipo ‘M*rda… não apenas estou atrasado, como também estraguei tudo.’ Eles não disseram nada e então Jack Bruce olhou e sinalizou para eu sair e eu fiz essa ‘caminhada da vergonha’ indo embora. Eu pensava: ‘M*rda, talvez eu devesse ter colocado o amplificador no 8 ao invés de 10’ e essas coisas. Então eu agradeci a eles e percebi: ‘Não poderia ter sido pior’.”

Surpreendentemente, o guitarrista estava enganado. No dia seguinte ele recebeu uma mensagem de Bruce pedindo para que voltasse. Ele aprendeu três músicas e estava contratado. Seu trabalho com os membros do Cream durou cerca de duas turnês.

O garoto que substituiu Eric Clapton

Blues Saraceno não se sentiu intimidado diante do desafio. O jovem ganhou destaque nos shows de retorno do Cream e logo ficou conhecido como “o garoto que substituiu Eric Clapton”.

Como ele próprio explica, nunca houve uma tentativa de emular o “Slowhand”. Os veteranos Jack Bruce e Ginger Baker sabiam e estavam gostando de tê-lo no palco.

“Eu não estava tentando ser Clapton, nem poderia. Ninguém pode tocar o que Eric Clapton fez. Ele é um talento em um milhão e Jack sabia disso, então ele amava o fato de que um garoto como eu, com um moicano azul e uma guitarra xadrez, estava lá fazendo das músicas suas próprias.”

Do creme ao veneno

A “reunião” de dois terços do Cream não foi tão longeva e logo Ginger Baker abandonou o grupo. Ele foi substituído primeiro por Simon Phillips (The Who, Toto, David Gilmour, Judas Priest, Jeff Beck, Gary Moore e outros) e depois por Gary Husband (The 4th Dimension, Level 42, Gary Moore, Al Jarreau, Andy Summers e outros).

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Paralelamente, Blues Saraceno continuou lançando álbuns solo. Em 1993, surgiu o convite para o Poison, que tentava se recuperar da saída complicada de Richie Kotzen.

Saraceno se apresentou com a banda no Brasil, no festival Hollywood Rock de 1994, enquanto promoviam o álbum “Native Tongue” (1993). Chegou a gravar o disco “Crack a Smile… and More!”, que acabou lançado somente em 2000, quatro anos após deixar a banda de forma amigável.

Desde então, Blues Saraceno seguiu em carreira solo. Também participou de trabalhos de Ziggy Marley, Melissa Etheridge, Lita Ford e outros artistas, mas de forma mais discreta, em trabalhos de sessão.

Ele ainda passou a trabalhar como produtor e músico de estúdio, além de se envolver com trilhas sonoras para a TV, incluindo comerciais e também games.

Screenshot via YouTube @seymourduncan

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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