Crítica: “Wandinha” é boa obra, mas com falhas e hype que não se justifica

Série com envolvimento de Tim Burton poderia ser melhor caso fosse feita para todos, não apenas para adolescentes e adultos “teens”

Só se fala em “Wandinha”. O sucesso da nova série da Netflix, derivada de “A Família Addams” e com envolvimento do excêntrico diretor Tim Burton, é tamanho que chegou a bater o recorde de consumo de horas anteriormente alcançado pela quarta temporada de “Stranger Things”.

Não dá para negar que a obra oferece diversão de forma carismática. Vale a pena assisti-la. Porém, o hype não se justifica – está longe de ser tudo isso.

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Mesmo bem dirigida, com bom ritmo e uma protagonista que enche os olhos com seu trabalho, a trama tem um roteiro adolescente fraco e previsível. Além disso, decepciona no CGI e traz outros pontos discutíveis.

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Wandinha agora é jovem

A série mostra Wandinha Addams (Jenna Ortega) já adolescente sendo enviada pelos pais para estudar em uma escola para jovens diferenciados. Enquanto tenta sobreviver ou fugir, a adolescente cai dentro de um misterioso caso de pessoas assassinadas por, provavelmente, um monstro.

A história é simples e combina bem com uma personagem que até então não havia sido retratada nessa fase da vida. O problema é que ao optar por um roteiro assim, a narrativa precisa ser criativa – o que não é o caso aqui.

Em seus oito episódios, somos levados a lugares que já estamos cansados de ver em seriados como “Teen Wolf” ou mesmo “Malhação”, só para citar alguns exemplos. Há birra com os pais, ódio da colega de quarto, uma péssima gincana escolar, romance entre jovens, a garota mais popular não presta… e, agora, até uma dancinha para viralizar ao som de The Cramps (pelo menos, a cena é bem legal).

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Falta ousadia, ainda que o resultado não seja ruim. A personagem é defendida com louvor por Jenna Ortega e existe todo um clima Tim Burtaniano no ar que também ajuda a seduzir. Não há a sensação de tempo desperdiçado, nem irritação: a depender de quem assiste, apenas a de que aquilo não é para você.

Um bom Tim Burton

Idealizada por Alfred Gough e Miles Millar, “Wandinha” conta com Tim Burton na direção dos quatro primeiros episódios, além da produção executiva. Ainda que querido, o cineasta estava perdido há algum tempo, pois não conseguia mais emplacar um grande trabalho por não abdicar de uma estética outrora exuberante, mas hoje esgotada.

Em “Wandinha”, Burton segue um caminho seguro e oferece um respiro para sua carreira. Mesmo com a falta de ousadia do roteiro, os quatro episódios iniciais são os melhores. A estética e visão do cineasta são usadas na medida para brincar com o sombrio. Junto à interpretação de Jenna Ortega, é o necessário para querermos ir até o fim.

Do quinto ao último, o nível cai após a “bola” ser passada para James Marshall e Gandja Monteiro, que perdem muito o fio deixado por Tim Burton. São capítulos monótonos, confusos e exagerados, além de tentarem apostar em uma falsa estética do lendário cineasta. Até a interpretação de Ortega perde fôlego.

O CGI, como já citado, também é um problema. Alguns personagens parecem ter recebido atenção especial, enquanto outros – que talvez sejam até mais importantes – foram escanteados, ficando em um patamar visual do nível daquele live-action de “Scobby-Doo” lançado no começo dos anos 2000.

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A família é um problema

Outra questão muito séria é o entendimento de que Wandinha sozinha não seguraria as pontas da obra. É desnecessária a participação dos outros membros da família, já que nenhum deles funciona, exceção feita a Mãozinha. Parecem servir mais como easter eggs de luxo do que à narrativa.

Catherine Zeta-Jones está quase no piloto automático como Mortícia, assim como o Gomez de Luis Guzmán. Ambos estão longe da mesma energia Anjelica Huston e Raúl Juliá nos filmes de 1991 e 1993. O mesmo vale para o ator Fred Armisen, que ainda se sai um pouco melhor como Tio Faster, mas ainda muito abaixo se comparado à versão de Christopher Lloyd.

Há, por outro lado, uma homenagem legal para quem acompanhou os longas da década de 1990: a participação da atriz Christina Ricci, que deu vida a Wandinha nos filmes. Ela aparece como uma certa professora da nova escola. Um bom acerto.

Poderia ter sido mais

Como sua família, Wandinha Addams é adoradora das trevas, da dor e da escuridão. Contudo, a insistência no formato “teen” transforma diversas vezes a personagem em apenas uma jovem problemática que usa o mórbido para chamar a atenção.

Não é essa a alma de “A Família Addams”. Pode ter dado muito certo nos números e na repercussão nas redes sociais, especialmente em meio ao público mais jovem, mas dava para fazer muito mais.

Todos os episódios de “Wandinha” já estão disponíveis na Netflix.

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Raphael Christensen
Raphael Christensenhttp://www.igormiranda.com.br
Ator, Diretor, Editor e Roteirista Formado após passagem pelo Teatro Escola Macunaíma e Escola de Atores Wolf Maya em SP. Formado em especialização de Teatro Russo com foco no autor Anton Tchekhov pelo Núcleo Experimental em SP. Há 10 anos na profissão, principalmente no teatro e internet com projetos próprios.

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