Como o Red Hot Chili Peppers manteve sucesso estrondoso com “By The Way”

Oitavo álbum de estúdio da banda californiana repete boa repercussão do antecessor ao apostar em abordagem mais melódica, comandada por John Frusciante

O Red Hot Chili Peppers havia conseguido uma das maiores ressurreições da história do rock com “Californication” e a volta do guitarrista John Frusciante, tido como perdido para as drogas. O sucesso do disco foi tamanho que reposicionou o grupo como um dos maiores do planeta. As expectativas não podiam estar mais altas com relação a seu sucessor, que viria a ser “By the Way”.

Felizmente, Frusciante – considerado um dos guitarristas mais criativos de sua geração – estava sóbrio pela primeira vez em muito tempo e transbordando de ideias. Isso acabou fazendo de “By the Way” um dos trabalhos mais diferentes – e ao mesmo tempo, paradoxalmente, convencionais – da carreira do grupo.

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A vida no topo

Ao fim da turnê de “Californication”, o Red Hot Chili Peppers começou imediatamente os trabalhos do sucessor. Não havia pressão da gravadora: era simplesmente o ímpeto criado a partir dos quatro integrantes estarem sóbrios pela primeira vez e em total sincronia.

Em sua autobiografia “Scar Tissue”, o vocalista Anthony Kiedis conta sobre o processo da época:

“Começamos a encontrar mágica e música e riffs e ritmos e jams e grooves. Adicionamos ou subtraímos de tudo e ficamos empurrando de um lado para o outro e colocando melodias.”

A banda armou um estúdio em um quarto nos fundos do famoso hotel Chateau Marmont, onde gravariam sob a tutela do produtor Rick Rubin, que havia produzido os últimos três álbuns deles. A diferença da vez, contudo, é que John Frusciante acabou tomando uma voz extremamente ativa em toda a música do disco.

Frusciante tinha planos ambiciosos para o disco, querendo duas sonoridades distintas para as canções: uma das metades mais melódica e “inglesa”, a outra mais influenciada por punk. Rubin convenceu o quarteto a optar pelas músicas mais melódicas por as achar mais originais e excitantes, mas um efeito colateral dessa sonoridade foi o grupo deixar para trás em vários momentos o funk que os deixou famosos.

Em 2006, o baixista Flea refletiu de maneira agridoce sobre o período numa entrevista para a Q Magazine, dizendo:

“John foi para esse outro nível de arte. Mas ele me fez sentir como se eu tinha nada a oferecer, como se eu não soubesse porra nenhuma.”

Frusciante estava tão presente no processo de composição a ponto de escrever as linhas de baixo de Flea. No livro “The Red Hot Chili Peppers: An Oral/Visual History”, Anthony Kiedis conta que essa tensão foi suficiente para o baixista quase deixar a banda durante as gravações.

Prato cheio

Entretanto, a paleta de influências da banda para “By the Way” era tão ampla que Flea ainda assim teve oportunidade de brilhar. Os dois principais singles do disco, “Can’t Stop” e a faixa-título, continham a sonoridade clássica do Chili Peppers, servindo como porta de entrada para o material mais arriscado.

John Frusciante estava trazendo influências díspares como Beach Boys, doo wop, pós-punk inglês, rock progressivo e música latina para o caldo – e mesmo assim o resultado é extremamente coeso. Por mais que o guitarrista estivesse sendo a principal força criativa, ele não deixava de creditar os outros integrantes, como falou em entrevista resgatada pelo Loudwire:

“Eu sei o que Anthony, Chad e Flea disseram, mas acho isso mais um esforço total da banda. Eu boto muita energia em tudo, claro, mas eu não subestimo que a energia real vem de todos nós quatro. Essa é a principal força, acima de todos nossos esforços individuais.”

Ao todo, foram gravadas 28 faixas, com 16 delas sendo utilizadas no disco. Grande parte dos outtakes foi lançado como lados b dos singles, mas o processo de gravação de “By the Way” simbolizou o início de um período muito prolífico para o Red Hot Chili Peppers. 

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Em 2003, a banda entrou no estúdio para trabalhar em seu “Greatest Hits”, que teria duas inéditas: “Fortune Faded” e “Save the Population”. O resultado das sessões foi suficiente para encher outro álbum (tanto que a primeira citada da coletânea veio desse período), mas a maioria das faixas nunca foi lançada.

Sucesso continuado

Apesar de ter vendido menos cópias que “Californication”, “By the Way” atingiu o segundo lugar da Billboard, uma posição acima de seu antecessor. O álbum ainda chegou ao topo das paradas em 18 países, incluindo o Reino Unido. Vendeu ao todo 8 milhões de cópias no mundo todo.

Para promover o lançamento e tentar evitar downloads ilegais, a Warner tentou uma estratégia de publicidade consistindo em vazar uma canção por dia a partir de 21 de junho até 9 de julho, quando o disco sairia. Esse plano teve a participação de mais de 150 estações de rádio, redes de TV como MTV e VH1, além de serviços de varejo digital como iTunes e AOL.

A turnê de “By the Way” os viu atingirem um patamar ainda maior como uma das principais bandas ao vivo do planeta. Um exemplo do poder dos Chili Peppers nessa época é o DVD “Live at Slane Castle”, registro de um show para 80 mil pessoas na Irlanda.

Mesmo assim, durante esse período, Flea continuou pensando em deixar o grupo. O baixista planejava se tornar professor de tempo integral em seu conservatório em Los Angeles e havia confidenciado essa ideia para alguns amigos próximos.

Contudo, uma conversa rápida com Frusciante após a turnê o convenceu a ficar, como ele contou à Rolling Stone:

“Eu mencionei algo para o John. Ele falou: ‘sei que fui egoísta com os overdubs no disco; eu não escutava ninguém’.”

Essa admissão ajudou Flea a decidir permanecer no grupo, além de sua amizade com Anthony Kiedis, como ele mencionou na mesma entrevista:

“Anthony e eu oscilávamos em termos de proximidade, especialmente desde que nos tornamos bem-sucedidos. Mas a parte mais dolorosa de sair, e a coisa que me impediu, foi a ideia de contar isso pro Anthony.”

O Chili Peppers lançou mais um disco com John Frusciante, “Stadium Arcadium”, em 2006. O lançamento continuou o passo frenético da banda, contendo 28 faixas. Ao fim da turnê desse disco, o grupo deu uma pausa após anos de turnês. 

Em 2009, Frusciante anunciou sua saída amigável do grupo, e foi substituído por Josh Klinghoffer, que participou de dois álbuns – “I’m With You” (2011) e “The Getaway” (2016) – até ser dispensado para o retorno do famoso guitarrista em 2019.

Red Hot Chili Peppers – “By the Way”

  • Lançado em 9 de julho de 2002 pela Warner Music
  • Produzido por Rick Rubin

Faixas:

  1. By the Way
  2. Universally Speaking
  3. This Is the Place
  4. Dosed
  5. Don’t Forget Me
  6. The Zephyr Song
  7. Can’t Stop
  8. I Could Die for You
  9. Midnight
  10. Throw Away Your Television
  11. Cabron
  12. Tear
  13. On Mercury
  14. Minor Thing
  15. Warm Tape
  16. Venice Queen

Músicos:

  • Anthony Kiedis (vocal)
  • John Frusciante (guitarra, backing vocals, piano, teclados, sintetizador modular, Mellotron, escaleta na faixa 13, baixo adicional na faixa 5)
  • Flea (baixo, guitarra, trompete na faixa 12)
  • Chad Smith (bateria, percussão)

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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