Paul McCartney supera atraso e conquista público de Belo Horizonte

Primeiro dos dois shows da turnê “Got Back” na capital mineira foi marcado por descontração e vários momentos emocionantes

É impossível manter as expectativas baixas quando se trata de um Beatle com a magnitude e o carisma de Paul McCartney. Passados seis anos desde a última passagem do músico por Belo Horizonte, os fãs mineiros estavam ansiosos com o reencontro, que aconteceu na Arena MRV, na noite do último domingo (3).

A primeira de duas apresentações da turnê “Got Back” em Belo Horizonte promoveu o encontro de diversas gerações de fãs, que testemunharam grandes feitos de McCartney como entertainer.

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A longa espera pelo Beatle

Como esperado, a escolha de levar o show para a recém inaugurada Arena MRV trouxe pequenos problemas de logística. O público belorizontino — já acostumado com o Mineirão e os problemas recorrentes do local como trânsito e péssima acústica — enfrentou atraso na abertura dos portões de alguns setores e despreparo de parte das equipes de trabalho, que não sabia dar informações básicas, como localização de banheiros.

Mesmo com tantos percalços, o público esperava ao menos a tradicional pontualidade britânica de McCartney — o que não ocorreu. O músico deveria ter subido ao palco às 20h30, mas nesse horário não havia nenhum sinal de que o show estava para começar.

Em meio a ansiedade e ao calor que tomou conta do estádio depois de uma pancada de chuva, ocorreram vários desmaios e diversas rodadas de água que eram passadas de mão em mão da grade até o meio da pista premium. 

A inquietação crescente do público virou curiosidade quando ficou claro, pouco antes das 21h, que a introdução da turnê — uma série de imagens acompanhada de músicas da carreira dos Beatles — havia sido descartada em meio ao atraso. Enfim, às 21h10 (quarenta minutos após o previsto), Paul McCartney e banda — Rusty Anderson (guitarra), Brian Ray (baixo e guitarra), Abe Laboriel Jr. (bateria) e Paul ‘Wix’ Wickens (teclados) — deram início ao show.

“Can’t Buy Me Love” abriu o repertório e conquistou a animação dos fãs já cansados da longa espera. “Junior’s Farm”, canção do Wings — grupo encabeçado Paul e Linda McCartney e Denny Laine entre 1971 e 1981 —, mostrou que Macca estava certo em 2021 quando afirmou à Bass Player que o grupo é subestimado. A faixa, assim como todas da banda pós-Beatles presente na setlist, elevaram os músicos ao máximo do potencial técnico, mas passaram despercebidas por parte do público focado em composições do Fab Four. “She’s a Woman” e “Got to Get You Into My Life”, obras dos Beatles que vieram logo em seguida, provaram isso.

Um espetáculo de carisma

De uma forma ou de outra, o show montado por Paul McCartney tem atributos mais que suficientes para chamar a atenção e impressionar. Seja com as imagens e animações dos telões, o jogo de luz ou com o palco dinâmico, o espetáculo cria uma ânsia constante pelo que está por vir. 

Mas o elemento principal por trás disso é a banda. Já no início do show, com “Letting Go”, o trio de metais Hot City Horns — composto por Mike Davis (trompete), Kenji Fenton (saxofone) e Paul Burton (trombone) — levou a atenção do público para a arquibancada do estádio, onde tocaram e dançaram, arrancando expressões de surpresa dos fãs.

Não falta carisma, principalmente no guitarrista Rusty Anderson, sempre interagindo com o público, e no brilhante Abe Laboriel Jr. (bateria), que deu tudo de si dançando durante “Dance Tonight”. 

Paul é um destaque à parte. É impressionante como uma figura histórica se aproxima do público por meio de uma interação atenciosa e descontraída. O cuidado de falar português em momentos chave e de aprender expressões locais atrai ainda mais o público, que se identificou com uma lenda quando ela disse “trem bão”. 

Repertório na medida

Com um repertório equilibrado, a apresentação aproveitou da energia estabelecida com a já citada “Dance Tonight” para seguir rumo a uma das músicas mais emocionantes dos Beatles. Ponto alto do show, “Blackbird” foi um acontecimento visual e musical inexplicável apenas com voz e violão. A emoção seguiu com “Here Today”, canção que fala de momentos com uma pessoa que já se foi — esta, dedicada a John Lennon.

George Harrison também foi homenageado pelo amigo. Acompanhado de um ukulele, Paul tocou “Something”, lendária composição do quiet beatle. Curiosamente, foi o momento do show mais registrado pelo mar de celulares.

Em seguida, “Ob-La-Di, Ob-La-Da” transformou a Arena MRV em um playground. A faixa do “White Album” reanimou os fãs, que já sentiam o cansaço pesando. Do mais velho ao mais novo, era só diversão. Aqui, a construção de setlist se mostrou certeira mais uma vez, já que as energias foram renovadas logo antes de McCartney tomar mais uma vez seu lugar no piano para reproduzir algumas das músicas mais aguardadas. 

Eram elas: “Let It Be”, cantada em uníssono; “Live and Let Die”, perfeitamente executada e acompanhada da pirotecnia e fogos de artifício; e por fim “Hey Jude”, com o inacreditável coral de Na Na Na’s conduzido pelo frontman.

“I’ve Got a Feeling” abriu o bis — todo dedicado aos Beatles — com o tão aguardado dueto virtual da dupla Lennon e McCartney. Na plateia cheia de crianças, diversos pais aproveitaram o momento para levantar os filhos para mostrar o “reencontro”, como se John estivesse fisicamente presente. Só uma marca histórica como os Beatles é capaz de render esses momentos. 

Com o fim da apresentação, é impossível não pensar no poder que os Beatles têm de unir diferentes gerações por meio da música. Mas não só isso. Há o potencial artístico e visionário de Paul McCartney, que, em nenhum sentido, se limitou ao legado da banda mais revolucionária da história.

*Após o segundo show em Belo Horizonte, nesta segunda-feira (4), Paul McCartney se apresentará em São Paulo (7, 9 e 10/12), Curitiba (13/12) e Rio de Janeiro (16/12).

Paul McCartney – ao vivo em Belo Horizonte

  • Local: Arena MRV
  • Data: 3 de novembro de 2023
  • Turnê: Got Back

Repertório:

  1. Can’t Buy Me Love (Beatles)
  2. Junior’s Farm (Wings)
  3. Letting Go (Wings)
  4. She’s a Woman (Beatles)
  5. Got to Get You Into My Life (Beatles)
  6. Come On to Me (carreira solo)
  7. Let Me Roll It (Wings)
  8. Getting Better (Beatles)
  9. Let ‘Em In (Wings)
  10. My Valentine (carreira solo)
  11. Nineteen Hundred and Eighty-Five (Wings)
  12. Maybe I’m Amazed (carreira solo)
  13. I’ve Just Seen a Face (Beatles)
  14. In Spite of All the Danger (The Quarryman)
  15. Love Me Do (Beatles)
  16. Dance Tonight (carreira solo)
  17. Blackbird (Beatles)
  18. Here Today (carreira solo)
  19. New (carreira solo)
  20. Lady Madonna (Beatles)
  21. Fuh You (carreira solo)
  22. You Never Give Me Your Money (Beatles)
  23. She Came in Through the Bathroom Window (Beatles)
  24. Jet (Wings)
  25. Being for the Benefit of Mr. Kite! (Beatles)
  26. Something (Beatles)
  27. Ob-La-Di, Ob-La-Da (Beatles)
  28. Band on the Run (Wings)
  29. Get Back (Beatles)
  30. Let It Be (Beatles)
  31. Live and Let Die (Wings)
  32. Hey Jude (Beatles)

Bis:

  1. I’ve Got a Feeling (Beatles)
  2. Birthday (Beatles)
  3. Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band – reprise (Beatles)
  4. Helter Skelter (Beatles)
  5. Golden Slumbers (Beatles)
  6. Carry That Weight (Beatles)
  7. The End (Beatles)

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Tairine Martins
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Tairine Martins é estudante de jornalismo na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Administra o canal do YouTube Rock N' Roll TV desde abril de 2021. Instagram: @tairine.m

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