Crítica: “Batem à Porta” é M. Night Shyamalan contido e eficiente, ainda que com falhas

Popular diretor volta às telas com seu mais correto filme desde “Fragmentado” e entrega obra que poderia ir muito além, mas correta e com méritos

Ao assistir “Batem à Porta”, novo filme de M. Night Shyamalan que estreou nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (2), tive a sensação de assistir a um jogador de futebol que, após sofrer grave lesão e passar por um longo tempo de recuperação, decide voltar aos poucos para o gramado.

Com um roteiro muito interessante, frenético e misterioso, o cultuado diretor nos entrega um longa muito correto, sem os excessos de explicação que marcaram algumas de suas obras anteriores. Contudo, algumas decisões e uma certa falta de capricho nos diálogos fazem de “Batem à Porta” apenas um bom filme – algo que talvez Shyamalan e o público estivessem precisando.

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Quem bate?

Em “Batem à Porta”, o casal gay Eric (Jonathan Groff) e Andrew (Ben Aldridge) decide passar um tempo com sua filha adotiva Wen (Kristen Cui) em uma sossegada cabana na floresta. Porém, sem imaginar, quatro pessoas armadas invadem a residência e avisam a família de que eles precisam sacrificar um integrante para que, assim, posam salvar a humanidade do apocalipse.

A premissa do filme é maravilhosa, assim como o tempo ritmo da obra. “Batem à Porta” não perde tempo em sua história e decide desde o primeiro de seus 100 minutos já iniciar a tão assustadora invasão. Tudo é focado apenas na história da cabana e da decisão sobre qual familiar será sacrificado.

Em alguns momentos, o diretor opta por flashbacks para mostrar um pouco da origem de tal família. Apesar de desnecessários, por parecer sujar a linha narrativa do filme (exceto em um momento em particular), os retornos são acertadamente rápidos e não chegam a incomodar.

Fragilidades de “Batem à Porta”

Uma proposta muito simples e que poderia ter sido melhor trabalhada e desenvolvida para aumentar o nível de suspense é a conexão feita entre tragédias apocalípticas e os parentes. Toda vez que a família se recusa a colaborar e fazer a difícil escolha, os quatro invasores decidem liberar uma praga que afetará a humanidade – e para provar que isso aconteceu, eles ligam a televisão e mostram o noticiário. Isso, aliás, é mostrado no trailer; a surpresa fica em torno de como os homens armados fazem isso.

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Tal situação é exibida de forma exaustiva. Apesar de sempre haver um argumento sólido para tal “coincidência”, o diretor e os roteiristas poderiam ter desenvolvido essa ideia com maior maestria para não ficarem reféns de um único artifício.

Além disso, uma história tão tensa, misteriosa e dramática como esta merecia maior capricho em alguns diálogos. M. Night Shyamalan já mostrou no passado saber criar conversas que entram em nossa mente e causam um estrago, seja por questões intelectuais ou para perturbar. Cito o exemplo dos belíssimos diálogos do filme “Sinais”, também do cineasta, onde ele conseguiu misturar filosofia e terror em papos apavorantes.

Por se tratar de um filme com diversas possibilidades de teoria, abrimos um pouco a mente para entender também algumas decisões ruins de roteiro. Uma delas consiste na opção de colocar os protagonistas na posição de maiores burros do ano, fazendo com que façam as piores escolhas possíveis – o que incomoda em um nível onde há o risco de se fugir um pouco da experiência.

Um M. Night Shyamalan eficaz

Apesar de todos esses tópicos negativos, ainda assim “Batem à Porta” é correto e funcional. E entender a filmografia de M. Night Shyamalan, que tem mais filmes decepcionantes do que realmente bons, é imprescindível para chegar a essa conclusão.

Quando o diretor acerta, acerta lindamente, como em “O Sexto Sentido”. Quando erra, erra de forma grotesca, como em “A Dama na Água” – isso para nem citar “O Último Mestre do Ar”. E quando resolve se boicotar, consegue levar um longa ao fracasso em pouco mais de dez minutos, como em “Tempo”. É um cineasta complicado, mas que permanece no gosto do público, como se sempre pudesse receber uma segunda chance.

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Em “Batem à Porta”, ele não precisará novamente dessa segunda chance. Conduzido de forma correta, o longa acerta no suspense que se propõe a contar e ao trazer tantas discussões pertinentes. Nada de se limitar ao fim do mundo: são expostas questões sobre política, fanatismo, religião e até desarmamento.

Auxiliado pelos roteiristas Steve Desmond e Michael Sherman, M. Night faz uma adaptação muito eficaz do livro “O Chalé do Fim do Mundo” de Paul Tremblay. Ambos os roteiristas parecem segurar um pouco o ímpeto de Shyamalan em explicar em excesso seus filmes, o que rende uma maçã apenas descascada, que pode ser cortada pelo público.

O ator Dave Bautista

Outro acerto de “Batem à Porta” está no elenco. Os protagonistas Jonathan Groff (“Mindhunter”) e Ben Aldridge (“Pennyworth”) entregam o drama familiar com emoção e sentimentalismo tocantes – o final é lindo por conta de ambos. Também há Rupert Grint, o inesquecível Ron Weasley de “Harry Potter”, em um trabalho muito interessante agora como veterano, além de Abby Quinn e Nikki Amuka-Bird – esta última presente também em “Tempo”, de 2021.

Contudo, quem carrega o longa nas costas é Dave Bautista. O eterno Drax de “Guardiões da Galáxia” é um ator muito promissor. Ótima aposta para muitos diretores e sem sombra de dúvidas um dos mais talentosos egressos da WWE.

Partida segura

Apesar de alguns pontos que poderiam ter sido melhor trabalhados, M. Night Shyamalan volta seguro, confiante e muito eficaz. “Batem à Porta” está longe de ser perfeito, mas também está longe de ser apenas um entretenimento – é algo maior que isso. Um filme que não te permite respirar e ainda te faz raciocinar mil e uma teorias tem seus méritos.

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Raphael Christensen
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Ator, Diretor, Editor e Roteirista Formado após passagem pelo Teatro Escola Macunaíma e Escola de Atores Wolf Maya em SP. Formado em especialização de Teatro Russo com foco no autor Anton Tchekhov pelo Núcleo Experimental em SP. Há 10 anos na profissão, principalmente no teatro e internet com projetos próprios.

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