A história do coronel Tom Parker, o empresário “vilão” de Elvis Presley

Responsável por gerenciar carreira do rei do rock afetou negativamente o artista de diversas maneiras

Na história da música popular, um aspecto que se tornou clichê é a figura do empresário todo-poderoso nos bastidores fazendo o possível para levar seus artistas ao topo enquanto os explora sem o menor pudor. Nenhum teve tanto controle, gerando tanto sucesso e talvez afetando negativamente a carreira do artista quanto o coronel Tom Parker, empresário de Elvis Presley.

Coronel Tom Parker, o coronel de araque

Nascido Andreas Cornelis van Kuijk na Holanda em 1909, o empresário emigrou ilegalmente para os Estados Unidos aos 20 anos, onde assumiu a identidade nova de Tom Parker. Arranjou empregos em parques de diversão até começar a trabalhar na indústria musical nascente no sul do país.

- Advertisement -

O título de “coronel” veio a partir de um reconhecimento honorário pelo governador da Louisiana, Jimmie Davis, por Parker ter trabalhado em sua campanha. Numa parte do país onde a maioria das famílias moravam em áreas rurais, valia muito para alguém como ele, procurando status imediato em qualquer lugar, atender pelo nome de coronel.

Em 1955, ele começou a ouvir rumores de um artista em Memphis ganhando cada vez mais notoriedade por seu estilo único, combinando country e R&B. Seu nome era Elvis Presley – e para a surpresa do empresário, ele era branco.

Elvis tinha um contrato com a gravadora Sun Records, de Sam Phillips. Após um ano sendo agenciado por seu guitarrista, Scotty Moore, estava agora com o radialista Bob Neal. Entretanto, Neal estava tendo dificuldades ao lidar com a fama crescente do cantor. 

Alanna Nash, autora do livro “The Colonel: The Extraordinary Story of Colonel Tom Parker and Elvis Presley”, contou para a Variety sobre essas dificuldades e como elas proporcionaram a oportunidade para o coronel “roubar” Elvis de Neal:

“O primeiro empresário de Elvis, Bob Neal, me falou que ele comeu o pão que o diabo amassou tentando convencer estações a tocar o primeiro single do Elvis. Estações de rádio country disseram que Elvis soava negro demais pra tocar. E as estações que tocavam rhythm and blues disseram que ele soava demais como um caipira.

Mas algumas delas começaram a tocá-lo o tempo inteiro. O coronel promoveu a primeira grande turnê de Elvis com Hank Snow. Na primeira vez que uma multidão viu Elvis ao vivo, houve uma demanda por seus discos.”

Galinha dos ovos de ouro

Com isso, Tom Parker assinou Elvis Presley a um contrato completamente fora do comum na indústria. Normalmente, empresários e agentes recebiam entre 10% e 15% do que seus clientes ganhavam. O coronel, por outro lado, tinha direito a metade de tudo.

Leia também:  A música mais brega do Creed, segundo Scott Stapp

Foi com esse incentivo que o coronel começou a procurar por um acordo de gravadora melhor para seu cliente. Ele convenceu a RCA Victor a comprar o contrato de Elvis com a Sun e o primeiro single do cantor pelo novo selo, “Heartbreak Hotel”, atingiu o primeiro lugar nas paradas, o tornando um astro.

A estrela de Elvis só aumentava. Após um período de dois anos nas Forças Armadas, um pulo para o cinema nos anos 1960 parecia inevitável. Porém, foi aí que a relação entre os dois ficou complicada.

Azedando a relação com Elvis Presley

Os filmes estrelados por Elvis Presley nos anos 1960 eram uma sucessão de musicais insossos que acabaram afetando negativamente sua carreira. Enquanto Beatles e Rolling Stones simbolizavam uma nova era no rock, o rei havia se tornado antiquado e sua filmografia durante a maior parte da década era prova disso.

Além disso, as turnês de Elvis eram limitadas aos Estados Unidos pelo coronel, que tinha medo de deixar o país e não ser permitido voltar por ser um imigrante ilegal. O rei, além de ser impedido de evoluir artisticamente, não podia viajar pelo mundo. Ele ficava fazendo um percurso por cidades pequenas, com hotéis baratos e nenhuma acomodação decente, para maximizar o lucro do empresário.

Quando Elvis deu a volta por cima em sua carreira após um especial de TV em 1968, o coronel deu sua grande cartada. Um acordo em 1969 com o então International Hotel em Las Vegas – que se tornou o Hilton dois anos depois – transformou Elvis no artista residente do cassino.

Foram oito anos se apresentando em Las Vegas. Os quase 600 shows renderam uma fortuna considerável para Elvis, mas ainda assim o cantor odiava o compromisso. Ele era forçado a cumprir cada vez mais datas na cidade pelo coronel, então afundado em dívidas de jogo.

No livro “The Colonel: The Extraordinary Story of Colonel Tom Parker and Elvis Presley”, de Alanna Nash, o cabeleireiro particular de Elvis, Larry Geller, falou:

“Todo mundo sabia que Parker estava afundado até o pescoço com as ‘pessoas’ em Vegas por causa de suas perdas enormes no jogo. Elvis ficou mais a par disso com o passar do tempo e sabia que ele era a isca e salva vidas do coronel Parker, que Parker era dono dele, e quaisquer dívidas que Parker acumulasse, Elvis acabaria pagando fazendo shows.”

Em 1973, o coronel vendeu o catálogo inteiro do cantor para a RCA por US$ 5,4 milhões, muito abaixo do valor real. A relação entre Parker e Elvis ficou tão estremecida que o cantor parou de falar regularmente com o empresário.

Leia também:  A banda dos anos 90 que Slash cita como a melhor para se ver ao vivo

Parker também acabou com a última chance de Elvis Presley estrelar em um filme sério. Com demandas estapafúrdias, arruinou as negociações para o cantor estrelar no remake de “Nasce uma Estrela”, com Barbra Streisand.

A maldade final

Na cinebiografia “Elvis”, dirigida por Baz Luhrmann, Tom Parker é interpretado por Tom Hanks quase como um vilão de desenho animado. Uma das maldades presentes do filme é narrada por Larry Geller no livro de Alanna Nash.

Antes de um show em 1977, Parker presenciou um médico tendo que dar remédios ao cantor e afundar sua cabeça em água gelada para retirá-lo do estupor criado por seu vício em remédios. O coronel teria dito ao médico:

“Você me escuta! A única coisa que me importa é que ele esteja em cima do palco hoje à noite. Nada mais importa!”

O cantor morreu três meses depois, aos 42 anos de idade.

Falcatruas descobertas

Mesmo após a morte de Elvis Presley, coronel Tom Parker manteve controle sobre o espólio até um juiz ordenar um inquérito a respeito das práticas do empresário. O laudo apontou uma quantidade enorme de falcatruas, que possivelmente custaram ao artista – e por consequência ao próprio Parker – milhões de dólares. 

A família do cantor entrou com um processo e conseguiu tirar o controle do espólio do empresário.

Tom Parker faleceu em 21 de janeiro de 1997, aos 87 anos, após sofrer um AVC. No fim, talvez a maior injustiça de todas: o empresário viveu 20 anos além de seu cliente, permanecendo na Terra o dobro de tempo que ele. Usufruiu como ninguém dos frutos explorados durante anos daquele adolescente que ele conheceu em Memphis em 1955 e que, apesar de ter mudado o mundo, foi impedido de fazer muito mais pela ganância de um coronel de araque.

Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Twitter | Facebook | YouTube.

ESCOLHAS DO EDITOR
InícioCuriosidadesA história do coronel Tom Parker, o empresário “vilão” de Elvis Presley
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

1 COMENTÁRIO

  1. Realmente a ganância de certas pessoas não tem limites. Muito triste que aconteceu com o Elvis, na época não tinha ninguém para instrui lo a sair das garras desse coronel de araque? Até a família era conivente! Fiquei muito comovida com o filme!
    Ele poderia ter ido muito mais longe senão fosse tanta exploração!!

DEIXE UMA RESPOSTA (comentários ofensivos não serão aprovados)

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui


Últimas notícias

Curiosidades