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Como o Foo Fighters quase liquidado aprendeu a viver outra vez com “One By One”

Marcado por turbulências em seu processo produtivo, quarto álbum de estúdio quase foi responsável pelo fim do grupo

“I am a little divided / Do I stay or run away / And leave it all behind?” (“Estou meio dividido / Será que fico ou vou embora / E deixo tudo isso para trás?”), canta Dave Grohl, como se autoquestionando, em “Times Like These”, um dos carros-chefes de “One By One”, quarto álbum de estúdio do Foo Fighters.  O caminho até seu lançamento, em 22 de outubro de 2002, foi dos mais tortuosos e por pouco não liquidou a banda. Mas como diz o refrão da supracitada faixa, “é em tempos assim que você aprende a viver outra vez”.

A turnê de “There Is Nothing Left to Lose” (1999) que manteve o Foo Fighters na estrada por catorze meses chegou ao fim em 13 de janeiro de 2001, véspera do 32º aniversário de Dave Grohl, com direito a este soprando a única vela de seu bolo diante de 200 mil pessoas no Rock in Rio, no Rio de Janeiro. A ideia era dedicar os meses seguintes à composição e à gravação do novo disco da banda, finalizando-o a tempo dos tradicionais shows de festival de verão europeus no meio do ano.

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Depois de faturar dois Grammys — “There Is Nothing Left to Lose” como Melhor Álbum de Rock e “Learn to Fly” como Melhor Videoclipe —, Grohl, Chris Shiflett (guitarra), Nate Mendel (baixo) e Taylor Hawkins (bateria) se reuniram na casa deste em Los Angeles e lá registraram quinze demos. O trabalho não foi dos mais focados em razão de Dave estar envolvido em N outras empreitadas, como o Tenacious D (com o ator/comediante Jack Black, o qual havia participado do clipe de “Learn to Fly”) e o Probot.

“Como aquilo podia estar acontecendo?”

Quando se deram conta de que o material não ficaria pronto a tempo, os quatro resolveram mudar o foco e se preparar para o circuito de festivais europeus… que não seria realizado na íntegra.

Depois do show no V Festival, na Inglaterra, na noite de 19 de agosto, Hawkins sofreu uma overdose. Levado às pressas para um hospital a nordeste de Londres, o baterista ficou em coma por duas semanas. Mantendo o máximo de sigilo em relação ao ocorrido, a banda à imprensa foi curta e grossa, simplesmente comunicando que o quadro de Taylor era estável e que as demais apresentações no Reino Unido e na Europa estavam canceladas.

Em entrevista a seu biógrafo Paul Brannigan reproduzida em “This is a Call” (Leya, 2012), Dave Grohl confessou que quando Taylor teve overdose pensou, pela primeira vez, em largar a música:

“Cheguei ao ponto de me questionar se a música era sinônimo de morte. Acredita? Porque estou nessa por causa da música, mas não quero continuar se todo mundo vai morrer. Não valia a pena. Eu saía do hospital e ia para o hotel todas as noites orando, em voz alta, enquanto caminhava. Não sou um cara religioso, mas estava perturbado. Estava com medo, desiludido e confuso. ‘Como aquilo podia estar acontecendo?’. Não era justo, simplesmente não era […] Graças a Deus o Taylor sobreviveu. Então, quando o levamos de volta aos Estados Unidos, o mais importante era garantir que todos estivessem saudáveis e felizes. Amo tudo o que faço, mas o mais importante, para mim, é que as pessoas vivam felizes para sempre.”

Embora no documentário “Back and Forth” (2011) Shiflett tenha se referido à hospitalização de Hawkins como resultado de uma overdose de heroína, o baterista sempre negou que o problema fosse devido a essa droga. O motivo, segundo ele, teria sido seu vício em analgésicos. Duas décadas depois, tivemos a certeza de que não era bem nem só isso.

Criatividade não se força

Com Taylor Hawkins pronto para voltar ao batente, os quatro se reuniram primeiro no estúdio montado no porão de Dave na Virginia e depois no moderno e caríssimo Conway Studios, em Hollywood. Estabeleceram uma rotina de trabalho árduo que mais equivaleu a uma tentativa consciente de sarar a banda depois do incidente na Inglaterra do que qualquer outra coisa.

Obviamente não deu certo. Forçar a criatividade resultou num material tão fraco que acabaria sendo descartado, não obstante os custos de gravação àquela altura beirassem um milhão de dólares.

O desânimo com sua própria banda levou cada um dos integrantes a se dedicar a outros projetos: Grohl se juntou ao Queens of the Stone Age para uma turnê, Shiflett ao irmão Scott no Viva Death, Mendel ao ex-colega de Foo Fighters William Goldsmith no The Fire Theft e Hawkins a Eric Avery, do Jane’s Addiction.

O manda-chuva do Foo Fighters

Os dias de escapismo chegaram ao fim às vésperas da edição de 2002 do popular festival Coachella, no qual o Foo Fighters se apresentaria ao lado de The Strokes, Oasis e do próprio Queens of the Stone Age.

Foi durante os ensaios para o show que Dave bateu no peito e proferiu as palavras que mudariam para sempre os rumos do Foo Fighters:

“Eu que mando nesta banda.”

Com todos cientes de quem comandava o barco e Shiflett, Mendel e Hawkins convencidos de que Grohl tinha a palavra final em quaisquer assuntos referentes ao grupo, tudo pareceu voltar aos trilhos. E um de seus primeiros decretos enquanto “capitão” foi jogar fora todo o material gravado tanto na casa de Taylor quanto em quatro meses no Conway Studios.

De volta para Virginia, o Foo Fighters fez “One By One” inteiro em duas semanas, mas de maneira picada, nem sempre com todos os integrantes presentes em razão de pendências de Dave com o Queens of the Stone Age. A Paul Brannigan, Nate confessou:

“Sabe o ditado ‘o que não mata, engorda’? Ele se aplica perfeitamente. Fazer aquele álbum foi complicado: foi a primeira vez que foi difícil e saber que não estava bom o suficiente nos frustrou. Mas fazer o que nesse caso?”

A imperfeição que vende

Com duas opções de capa assinadas por Raymond Pettibon, “One By One” estreou na terceira posição da Billboard. Atingiu ainda o topo das paradas da Austrália, da Irlanda e do Reino Unido.

Impulsionado pelo lascivo single “All My Life” — o verso “I love it but I hate the taste” (“Eu amo, mas detesto o gosto”) seria uma referência a sexo oral — e seu clipe filmado no gigantesco The Forum em Los Angeles, o álbum desbancaria uma semana depois a coletânea homônima do Nirvana, antiga banda de Dave — que traz a inédita “You Know You’re Right” — do lugar mais alto também nos Estados Unidos. As vendas no Brasil ultrapassam as 50 mil cópias.

Apesar do sucesso alcançado e a alcançar, visto o novo Grammy que seria vencido no ano seguinte, e de muitas músicas terem a mais alta estima dos fãs, para Grohl, “One By One” só tem quatro músicas realmente fortes. São elas: os singles “All My Life”, “Times Like These”, “Low” e “Tired of You”; esta última com solo de guitarra de ninguém menos que Brian May, do Queen. A Paul Brannigan, ele admite:

“Nós nos apressamos para começá-lo e nos apressamos para terminá-lo. Muitas músicas não eram suficientemente boas. Nós nos preocupamos em finalizá-lo e lançá-lo… não foi o momento de maior orgulho da minha carreira.”

Foo Fighters – “One By One”

  • Lançado em 22 de outubro de 2002
  • Produzido por Foo Fighters, Adam Kasper e Nick Raskulinecz

Faixas:

  1. All My Life
  2. Low
  3. Have It All
  4. Times Like These
  5. Disenchanted Lullaby
  6. Tired of You
  7. Halo
  8. Lonely as You
  9. Overdrive
  10. Burn Away
  11. Come Back

Músicos:

  • Dave Grohl (vocal, guitarra, piano na faixa 11)
  • Nate Mendel (baixo)
  • Taylor Hawkins (bateria, percussão)
  • Chris Shiflett (guitarra)

Músico adicional:

  • Brian May (guitarra na faixa 6)

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

1 COMENTÁRIO

  1. Cara… Eu devo gostar de Lado B.
    Pra mim deste disco a música 7 Halo é inesquecível, e a música 8 Lonely as You é minha música preferida da banda.

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