“Closer to Home”, o álbum que fez o Grand Funk Railroad estourar

Terceiro disco do trio americano de hard rock foi promovido com outdoor de US$ 100 mil e credenciou músicos de vez às grandes arenas

No dia 14 de junho de 1970, os habitantes de Nova York e principalmente os frequentadores da Times Square amanheceram com a visão de algo nunca antes visto: um outdoor cobrindo um quarteirão inteiro da avenida mais famosa da cidade, promovendo o lançamento de um disco.

Quem era o artista capaz de receber tal publicidade, cujo custo foi de 100 mil dólares apenas para esse outdoor? Beatles? Rolling Stones? Led Zeppelin?

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Nenhum deles. Era um grupo de hard rock americano prestes a lançar seu terceiro álbum em menos de 12 meses.

Esse foi o momento em que o Grand Funk Railroad – com o terceiro disco de sua carreira, chamado “Closer to Home” – deu seu salto para o mainstream.

De Michigan para o mundo

O Grand Funk Railroad foi formado em Michigan por três músicos veteranos de bandas garage – Mark Farner na guitarra e vocais, Don Brewer na bateria e Mel Schacher no baixo – procurando explorar um som diferente, mais calcado na dinâmica do power trio popularizada pelo Cream.

Uma apresentação no Atlanta International Pop Festival em 1969 chamou a atenção das gravadoras pela energia do grupo ao vivo. O Grand Funk era tão conhecido pela qualidade de seus shows que arranjaram treta com o empresário da banda para qual estavam abrindo naquele ano – nada mais, nada menos que o Led Zeppelin.

O vocalista Mark Farner contou a história para Eddie Trunk em entrevista ao jornalista Eddie Trunk:

“Começamos em Cleveland e tivemos uma boa resposta do público. Então, tocamos em Detroit, perto de nossa cidade natal. Era um show grande, com umas 15 mil pessoas, e estávamos tendo um bom retorno. Então, nós estávamos preparados para tocar ‘Inside Looking Out’ e eles perceberam que o lugar estava prestes a desmoronar com a boa reação. Peter Grant (empresário do Zeppelin) disse ao nosso empresário: ‘pare a banda ou eu desligo a eletricidade’.”

Magia nos palcos

Os primeiros dois álbuns do Grand Funk Railroad, “On Time” e “Grand Funk Railroad”, venderam bem o suficiente para serem certificados discos de ouro. Porém, rádios mal tocavam os singles e a crítica os desprezava. O sucesso do grupo se baseava na proeza dos músicos ao vivo e na habilidade do empresário Terry Knight em lhes promover.

Foi essa fórmula que culminou no outdoor. Somente alguém com ideias mirabolantes o suficiente como Knight pensaria em algo dessa escala. A gravadora não daria tal verba para uma banda que não tivesse o cacife gerado por uma reputação irrepreensível ao vivo e vendas sólidas.

“Closer to Home” representava um passo largo para a frente em termos criativos para o grupo. O ritmo desenfreado de turnês e lançamentos fez o som e a química entre os músicos se refinar.

Em meio às tradicionais canções baseadas em groove do trio, agora havia canções acústicas como a abertura “Sin’s a Good Man’s Brother”, além de riffs que poderiam justificar colocar o Grand Funk Railroad como precursores do heavy metal. E, coroando tudo isso, estava “I’m Your Captain (Closer to Home)”, a música final do disco.

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“I’m Your Captain (Closer to Home)” tem dez minutos e é mais ambiciosa do que qualquer outra coisa feita pelo Grand Funk até então. Contando uma história sobre alguém sentindo saudades de casa em meio a condições desagradáveis, a música encontrou um público entre soldados no Vietnã.

Perguntado sobre a origem da faixa numa entrevista para o site Songfacts, Farner falou:

“Inicialmente a música veio a mim depois que eu havia feito minhas preces uma noite e tinha colocado um P.S. ao final delas. Eu pedi a Deus para me dar uma canção que tocasse o coração de pessoas que o Criador queria atingir. Eu levantei às 3 da manhã – estou sempre acordando a todas as horas da noite e anotando coisas. Muitas delas não são canções, mas essa calhou de ser uma.”

Sucesso, problemas e idas-e-vindas

A versão single de “I’m Your Captain (Closer to Home)”, reduzida de dez para cinco minutos de duração, acabou sendo o carro-chefe do trabalho, dando ao grupo seu primeiro hit no top 40 americano. O álbum “Closer to Home” em si atingiu o 6º lugar da Billboard, se tornando o primeiro lançamento do Grand Funk Railroad a receber disco de platina.

No ano seguinte, lançaram mais dois discos top 10 nas paradas – “Survival” e “E Pluribus Funk” – e igualaram o recorde de público estabelecido pelos Beatles no Shea Stadium em Nova York, esgotando os ingressos para um show no estádio em apenas 72 horas.

Entretanto, brigas judiciais causadas pela demissão do empresário Terry Knight fizeram com que o grupo abrisse mão dos direitos autorais de todas as canções lançadas nesse período. Além disso, precisaram pagar uma indenização para Knight.

Ainda assim, a banda continuou tendo sucesso, atingindo o número 2 das paradas com seu sétimo disco, “We’re An American Band”, em 1973. Não chegaram a repetir o sucesso de “Closer to Home” com seus trabalhos seguintes, mas acumularam discos de ouro e platina em território americano. Encerraram atividades em 1976 e tiveram reuniões esporádicas nas décadas de 1980 e 1990.

No ano 2000, o Grand Funk Railroad retomou seus trabalhos em definitivo para turnês. Porém, não trazem mais Mark Farner, que deixou a formação para focar em sua carreira solo.

Grand Funk Railroad – “Closer to Home”

  • Lançado em 15 de junho de 1970 pela Capitol Records
  • Produzido por Terry Knight

Faixas:

  1. Sin’s a Good Man’s Brother
  2. Aimless Lady
  3. Nothing Is the Same
  4. Mean Mistreater
  5. Get It Together
  6. I Don’t Have to Sing the Blues
  7. Hooked on Love
  8. I’m Your Captain (Closer to Home)

Músicos:

  • Mark Farner (guitarra, teclados, vocal)
  • Mel Schacher (baixo)
  • Don Brewer (bateria, vocal)

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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