“Obscured By Clouds”, o álbum esquecido do Pink Floyd antes do estouro

Trabalho foi desenvolvido para servir como trilha sonora do filme “La Vallée”, mas acabou ofuscado pelo sucessor “The Dark Side of the Moon”

Em 1972, o Pink Floyd se encontrava em um período particularmente fértil em termos de criatividade. O ano anterior havia visto o lançamento de “Meddle”, disco em que o grupo finalmente havia encontrado seu som emblemático após anos de busca desde a saída do antigo líder Syd Barrett.

Encabeçado pela clássica exploração psicodélica das profundezas do oceano “Echoes”, o álbum foi bem recebido por crítica e público. 

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Buscando capitalizar em cima desse momento prolífico, o quarteto formado por David Gilmour (voz e guitarra), Roger Waters (voz e baixo), Richard Wright (voz e teclados) e Nick Mason (bateria) começou os trabalhos no que viria a ser um dos maiores álbuns de todos os tempos: “The Dark Side of the Moon”.

Entretanto, antes de gravar o trabalho que os faria estourar de vez, o grupo passou pouco mais de um mês gravando “Obscured by Clouds”, que foi lançado em junho de 1972 e quase ninguém lembra.

Pink Floyd e as trilhas sonoras

Durante o período entre 1968 e 1970, o Pink Floyd se distinguiu entre artistas experimentais da época por meio de seu trabalho em trilhas sonoras de filmes. 

Durante o período, a banda contribuiu ao todo para três filmes: o clássico da contracultura “Zabriskie Point”, de Michelangelo Antonioni; o pouco conhecido “The Committee”, de Peter Sykes, que só teve a trilha lançada em 2016; e “More”, estreia do suíço Barbet Schroeder na cadeira de diretor. Este último rendeu o primeiro álbum do grupo sem Syd Barrett.

Em 1972, Schroeder estava aprontando seu segundo longa, “La Vallée”, sobre exploradores franceses numa busca espiritual por um vale na Nova Guiné. Na hora da trilha, ele pensou na hora na banda.

Ainda não tendo deixado completamente para trás os dias de shows tão caros a ponto de os músicos ganharem menos dinheiro que os roadies numa turnê, o Pink Floyd aceitou.

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O plano era gravar no Château d’Hérouville na França, de maneira rápida, em meio a várias obrigações da agenda. O método foi o mesmo de “More”: o quarteto assistiu a um corte bruto do filme com cronômetros para fazer anotações de momentos específicos e de resto criar peças musicais tratando mais de clima do que qualquer outro tipo de estrutura.

Em sua biografia “Inside Out: A Personal History of Pink Floyd”, o baterista Nick Mason descreveu as gravações dentro desse contexto:

“Esse método de temas evoluindo e sendo modificados era parte do nosso forte, mas não tínhamos espaço para autoindulgência considerando que nosso tempo disponível no estúdio era muito apertado. Tivemos somente duas semanas para gravar a trilha e pouco tempo depois para transformá-la em um álbum. O que me impressiona hoje é que acabamos com algo que era muito bem estruturado.”

“Obscured by Clouds”: ponto fora da curva

“Obscured by Clouds”, ao mesmo tempo, aponta o caminho adiante do Pink Floyd e mostra uma estrada não percorrida. Algumas das ideias musicais presentes no acabaram sendo mais exploradas em “The Dark Side of The Moon”, mas em geral o álbum estranha por ser muito diferente de tudo sendo produzido pelo grupo.

Esse som muito diferente é melhor exemplificado em “Free Four”, música mais famosa do disco. Trata-se de uma canção meio country rock, meio glam, com um violão despojado e palminhas como nos hits do T. Rex.

Contudo, a letra da canção apontava para um tema que viria a ser explorado em álbuns subsequentes, especificamente a Segunda Guerra Mundial e a morte do pai do baixista, Roger Waters. 

Musicalmente, destaca-se o fato de o tecladista Richard Wright ter usado seu novo sintetizador VCS 3, que havia comprado da BBC Radiophonic Workshop. Esse instrumento foi bastante utilizado durante as sessões de “The Dark Side of The Moon”.

Boa e velha treta

Depois que as gravações da trilha sonora foram finalizadas e estava tudo pronto, banda e companhia produtora tiveram uma briga. Dessa forma, o Pink Floyd se recusou a lançar o disco com o nome do filme, alterando o título para “Obscured by Clouds”. 

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Por mais que o grupo tivesse tentado diminuir o material, caracterizando-o como uma coleção de sobras, o trabalho atingiu o 6º lugar nas paradas inglesas e conseguiu emplacar “Free Four” em rádios americanas. Foi o primeiro single do Pink Floyd desde “See Emily Play” a conseguir atingir o top 50 americano.

Na maior ironia de todas, a produtora francesa mudou o nome do filme na hora do lançamento para “La Vallée (Obscured By Clouds)”. Espertos, tentaram capitalizar em cima do sucesso de sua trilha não-oficial.

Da correria, a simplicidade

Ouvido hoje, “Obscured by Clouds” é um objeto interessante no sentido de mostrar como o Pink Floyd era capaz de compor canções simples e despojadas, ao contrário das obras complexas pela qual a banda é conhecida até hoje.

No livro “Nos Bastidores do Pink Floyd”, de Mark Blake, Barbet Schroeder reflete sobre “Obscured by Clouds” com bom humor:

“Acho que o Pink Floyd se surpreendeu por ter sido capaz de fazer um disco tão bom em apenas duas semanas. Talvez eles não devessem ter demorado tanto no estúdio em todas aquelas outras músicas.”

Levando em conta que o sucessor de “Obscured by Clouds” foi gravado durante um período de oito meses e é considerado um dos maiores álbuns da história – com um sucesso tão duradouro a ponto de forçar uma mudança em como paradas de sucesso eram compiladas e apresentadas -, talvez a história há de discordar com o suíço.

Pink Floyd – “Obscured by Clouds”

  • Lançado em 2 de junho de 1972 pela Harvest
  • Produzido pelo Pink Floyd

Faixas:

  1. Obscured by Clouds (instrumental)
  2. When You’re In (instrumental)
  3. Burning Bridges
  4. The Gold It’s in the…
  5. Wot’s… Uh the Deal?
  6. Mudmen (instrumental)
  7. Childhood’s End
  8. Free Four
  9. Stay
  10. Absolutely Curtains

Músicos:

  • David Gilmour (vocal, guitarra)
  • Roger Waters (vocal, baixo)
  • Richard Wright (vocal, teclados)
  • Nick Mason (bateria, percussão)

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

3 COMENTÁRIOS

  1. “The Gold It’s in the…” é uma pérola perdida da banda, rock vigoroso com um belo riff, uma canção menos convencional do repertório deles e pouquíssimo lembrada ou mesmo conhecida, além do album como um todo ser muito bom e bastante subestimado

  2. É um dos meus discos favoritos do Pink Floyd e que teve o “azar” de ter saído entre dois “gigantes”, o “Meddle” e o “Dark Side…”. Talvez tivesse saído antes de “Meddle”, a história seria outra. Mas como a ideia da trilha do filme só surgiu após “Meddle”, paciência. Até hoje me pergunto como canções como “The Gold It’s In The…”, “Wot’s… Uh The Deal” e “Stay” não se tornaram grandes hits do Pink Floyd. São canções lindas e do tipo “pra tocar no rádio”.

  3. Antes de Obscured by Clouds, o Pink Floyd já havia lançado musicas “simples e despojadas” nos discos More, Atom Heart Mother, Meddle. (Green is the Colour, If, Saint Tropez, etc, erc.) Eu concordo com o diretor do filme: forçados pela falta de tempo, mesmo assim o conjunto demonstrou sua qualidade. Prefiro este disco que os subsequentes, muito enfadonhos, em minha opinião.

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