Coldplay inicia maratona de shows em SP com megaespetáculo colorido e carismático

Primeira de 11 apresentações no Brasil – seis delas na capital paulista – trouxe o que pode ser definido como um dos maiores espetáculos do planeta

A espera chegou ao fim na última sexta-feira (10). Após um adiamento de 5 meses – as apresentações estavam marcadas para outubro do ano passado – em função de uma infecção pulmonar contraída pelo vocalista Chris Martin pouco tempo após uma performance histórica no Rock in Rio, o Coldplay está no Brasil para realizar uma série de shows. A primeira de onze apresentações no país – seis delas em São Paulo – aconteceu no estádio do Morumbi.

Todas elas são parte da turnê “Music of the Spheres”, promovendo o álbum de mesmo nome. O giro inteiro foi idealizado durante dois anos, com base em critérios ESG (“Environmental, Social and Governance”, em inglês, que em português pode ser traduzido como “Ambiental, Social e Governança”). Apesar do uso extensivo de efeitos pirotécnicos e confetes, foram pensadas formas para reduzir a emissão de carbono e produtos químicos nocivos na atmosfera, utilizando materiais 100% biodegradáveis no lugar dos tradicionais. Além disso, outros esforços incluem o uso da primeira bateria recarregável móvel para geração de energia no palco, desenvolvida em parceria com a fabricante de automóveis alemã BMW, além de um app que ajuda fãs a escolherem opções de viagem com consciência ambiental.

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Formado em 1996 por Chris Martin (vocalista), Jonny Buckland (guitarrista), Guy Berryman (baixista) e Will Champion (baterista), o Coldplay é tão emblemático que chega a ser rotulado por muitos na atualidade como “a maior banda do mundo”.

Obviamente, é difícil entregar este título, mas os números não mentem. Em quase três décadas de carreira, o grupo inglês já vendeu mais de 100 milhões de álbuns vendidos, conquistou 7 Grammys e 8 Brit Awards, emplacou três lançamentos na lista dos álbuns mais comercializados de todos os tempos no Reino Unido (“Parachutes”, “A Rush of Blood to the Head” e “X&Y”) e conta com mais de 60 milhões de ouvintes mensais somente no Spotify.

*Fotos registradas de celular devido ao não-credenciamento de fotógrafo para as apresentações.

Foto: Guilherme Góes

Chuva, entrada e Elana Dara

Se a expectativa era alta por tudo isso, dá para dizer que São Pedro jogou, literalmente, um balde de água fria nos fãs. A sexta-feira (10) foi marcada por calor até o início da tarde, quando uma forte chuva caiu em São Paulo e se estendeu até o fim da tarde. Como resultado, houve congestionamento intenso nas principais vias da zona oeste de São Paulo. É claro, porém, que nada disso foi suficiente para afastar o público de 72,5 mil presentes, que se aglomerou progressivamente no Morumbi.

O acesso do público em geral ocorreu de forma pontual, a partir das 16h. Contudo, representantes de imprensa foram colocados na mesma fila de clientes do camarote “Stadium”, o que resultou em uma pequena confusão e um atraso de quase duas horas para a liberação dos profissionais.

Já na entrada, deu para notar o magnífico palco do Coldplay, com dois telões arredondados de tamanho médio nas laterais e uma enorme passarela, além de um arranjo em LED em formato oval na parte central. Foram exibidas informações sobre o aplicativo da turnê, assim como filmagens das ações da ONG “One Tree Planted” na Escócia, Zimbábue e Ilhas Faroé. Uma árvore seria plantada para cada ingresso vendido nesta tour, assim gerando um impacto ambiental positivo em todo o mundo.

Pontualmente às 18h15, a cantora curitibana Elana Dara deu início a seu show de abertura. Devido à forte chuva, a artista e seu grupo de apoio precisaram se abrigar em uma pequena tenda improvisada no palco principal. Após uma pequena intro instrumental, Elana comentou que “participar da abertura do show do Coldplay não era apenas uma grande honra, mas também a realização de um sonho”. Em seguida, entrou a música “Sempre estrago tudo”, misturando MPB, rap, pop e leves contornos indie rock. Sua banda trazia músicos experientes, como o baixista Tuti Camargo (Medulla) e o baterista André Dea (Sugar Kane, Vespas Mandarinas e Supercombo).

Em “Cabeça de vento”, single liberado no streaming apenas horas antes do evento, Elana tomou coragem e caminhou pela passarela para interagir mais com o público. O encerramento do curto set de quatro faixas ficou a cargo de “Amor não eh pra mim”, sua música mais conhecida, com participação de Vitor Kley na gravação original.

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Apesar do esforço, ficou nítido que a chuva atrapalhou bastante a performance de Elana Dara. Vídeos de outras apresentações mostram que a cantora tem presença de palco, mas desta vez ela apenas fez seu trabalho em uma tenda junto de seus parceiros de trabalho.

Repertório:

  1. Sempre estrago tudo
  2. Anestesia
  3. Cabeça de vento
  4. Amor não eh pra mim

O empolgante Chvrches

Com garoa mais fraca e público mais presente, o grupo escocês de neo-synthpop Chvrches fez o primeiro show de sua carreira em solo brasileiro. Além de abrir para o Coldplay em todos os compromissos da turnê, a banda também fará apresentações solo em São Paulo e no Rio de Janeiro – clique aqui para ler entrevista com a vocalista Lauren Mayberry.

A cantora, aliás, surpreendeu ao encarar a chuva logo no início do set, durante o refrão da primeira música, “He Said She Said”, oriunda do novo álbum “Screen Violence” (2021). Conduziu também o público para apoiá-la no refrão da faixa seguinte, “Forever”. Em “Leave a Trace”, um dos principais hits do começo da carreira do grupo, os demais integrantes enfim ganharam holofotes – apesar da estrutura de palco secundária à disposição do grupo –, com destaque aos backing vocals marcantes de Martin Doherty.

Para a surpresa de uma pequena parcela de fãs presentes na pista, o Chvrches seguiu com “Bury It” e “Miracle”, mais duas faixas do álbum “Every Open Eye” (2015), referência do “revival” do synthpop na década passada. Aliás, toda a cultura oitentista serve de grande influência para os escoceses, tanto no som com fortes passagens de sintetizadores Yamaha DX7 quanto na estética e, principalmente, na postura de palco de Lauren Mayberry. Rodopiando incansavelmente pelo palco, a performance da cantora remete à atitude da lendária Patti Smith durante o auge de sua carreira.

A vocalista deixou claro que estava muito feliz em poder abrir para o Coldplay e presenciar a emoção do público brasileiro. Foi a ocasião para estrear seu single mais recente, “Over”, lançado há duas semanas. Para a felicidade daqueles que curtem a fase mais recente do conjunto, também veio “Asking for a Friend”. Já o hit “The Mother We Share” mostrou-se popular até mesmo entre os fãs do Coldplay, em uma empolgação que se estendeu ao encerramento com “Clearest Blue”.

Repertório:

  1. He Said She Said
  2. Forever
  3. Leave a Trace
  4. Bury It
  5. Miracle
  6. Final Girl
  7. Over
  8. Asking for a Friend
  9. The Mother We Share
  10. Clearest Blue

O espetáculo do Coldplay

Perto das 20h30, os telões do estádio foram preenchidos com a arte de “Music of the Spheres” enquanto as luzes foram diminuindo. O tema do filme “E.T.” tocou e, às 20h46, três crianças brasileiras subiram ao palco para anunciar a presença do Coldplay e destacar pautas ESG da turnê. Fogos de artifício estouraram quando a banda surgiu no palco para iniciar “Higher Power”. Também era a deixa para que as pulseiras de LED Xyloband, distribuídas na entrada do show, foram finalmente ativadas, criando um espetáculo de luzes em movimento.

Após a impressionante introdução com a música nova, Chris e seus colegas transportaram o público de volta para 2015 com “Adventure of a Lifetime”. No telão central, uma divertida animação psicodélica de robôs e macacos dançarinos vestidos como aeronautas. Bolas de plástico coloridas também foram lançadas em direção à pista. Perto do fim, Chris Martin pediu para os fãs se sentarem no chão e levantarem apenas quando ele desse o comando. Já em “Paradise”, rolaram imagens do mascote do videoclipe com cenas de uma paisagem em um deserto de areia, além de iluminação sincronizada com as Xylobands. Ao final da música, Chris continuou sussurrando o refrão e os fãs seguiram acompanhando-o com um “ô, ô, ô” uníssono.

“The Scientist” trouxe Martin pela primeira vez ao piano. Arriscando palavras em português, o frontman expressou sua gratidão por aquela noite. Mais bolas de plástico coloridas surgiram enquanto a plateia cantava junto. O clima de calmaria oferecido pela música do álbum “A Rush of Blood to the Head” (2002) foi encerrado quando todos os integrantes seguiram à passarela para executar “Viva La Vida”. A garoa se intensificou, mas os caras seguiram ali. A multidão respondeu com uma enorme salva de palmas. O espaço secundário do palco permaneceu ocupado para “Hymn for the Weekend” e “Let Somebody Go” – esta última, com a fã Anália Guedes assumindo os vocais enquanto Chris tocava piano.

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Em “In My Place”, cenas de um belíssimo pôr do sol se sobressaíram na tela. Além disso, um globo de discoteca surgiu na parte superior do palco, “banhando” o público com luzes alaranjadas. Depois, para acompanhar “Yellow”, as Xylobands mudaram de cor para amarelo enquanto Chris guiou os fãs com seu violão. Perto do último refrão, o vocalista pediu aos fãs na pista que virassem de costas para o palco e olhassem para a arquibancada – um gesto meio “nonsense”, mas bem recebido.

Pulseiras, lasers e tudo o mais

Até aquele momento, as Xylobands haviam sido apenas um elemento complementar. Isso mudou em “Human Heart”: enquanto o Coldplay tocava, apenas algumas das pulseiras de LED foram ativadas, formando três corações estrategicamente posicionados na arquibancada. Em contraposição ao “momento bonitinho”, veio a pesada “People of the Pride”, com alguma influência hard rock e letras que trazem até palavrão. As luzes foram diminuídas e as Xylobands, desligadas, enquanto animações de temática cyberpunk preencheram o cenário.

Os lasers de “Clocks” criaram um cenário hipnotizante de luzes verdes em todo o palco. Em seguida, os membros da banda se afastaram brevemente do palco, deixando no cenário a mensagem “If you wanna love, be love. If you wanna peace, be peace” (“Se você quer amor, seja o amor. Se você quer ser paz, seja a paz”). Na volta, os músicos usaram capacetes de alienígenas para tocar “Infinity Sign”. Mais um efeito incrível: a passarela se transformou em uma “esteira de LEDs”, enquanto Chris simulava uma corrida pela plataforma.

Originalmente gravada com o BTS, “My Universe” teve um holograma dos sul-coreanos no refrão, enquanto “A Sky Full of Stars” contou com um pedido complicado para os dias de hoje: Martin quis que todos os fãs deixassem os celulares de lado.

“Feats” com Coldplay e encerramento

Após uma rápida pausa, o Coldplay surgiu no palco secundário apelidado de “C-stage”, localizado nos fundos do estádio. Chris Martin convidou Cris Botarelli, integrante da banda potiguar Far From Alaska, para assumir uma guitarra pedal steel na música “Sparks”. Antes de continuar com o último bloco do show, o vocalista fez questão de agradecer às bandas de abertura, bem como os trabalhadores da iluminação, som, limpeza, segurança e bares. Memorável, pois assisti a mais de 500 shows nos últimos 14 anos e, até hoje, só vi uma banda fazer esse tipo de agradecimento.

O cantor também pediu para que os fãs que olhassem para o telão e enviassem amor para as regiões do mundo que estão enfrentando tensões políticas, como Ucrânia, Rússia, China e Taiwan. O quarteto, então, surpreendeu novamente: para encerrar a parte do set no “C-side”, nada menos do que um cover de “Amiga da minha mulher”, com participação de Seu Jorge. O brasileiro, vale lembrar, também participou de um show do U2 no Morumbi, em 2011.

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No retorno ao palco principal, o Coldplay fechou o repertório com “Humankind”, “Fix You” (enfeitada por uma chuva de fogos) e “Biutyful”, onde bonecos fantoches dividiram a voz e os instrumentos com os músicos. Ao fim, Martin e seus parceiros ainda foram à beira da passarela, posaram para fotos e acenaram para os fãs. Emocionado, o público se despediu do estádio ecoando o refrão de “Viva la Vida”.

Foi um show inesquecível. O Coldplay não só impressionou pelos efeitos visuais e tecnologias exclusivas, como também pela paixão entregue em cada música. E não há como não destacar Chris Martin por seu carisma e humildade em cima do palco. Se esta é a “maior banda do mundo”, não dá para saber, mas não restam dúvidas de que sua apresentação é um dos maiores espetáculos do planeta.

Repertório:

Intro (trilha filme “E.T”)

  1. Higher Power
  2. Adventure of a Lifetime
  3. Paradise
  4. The Scientist
  5. Viva la Vida
  6. Hymn for the Weekend
  7. Let Somebody Go
  8. In My Place
  9. Yellow
  10. Human Heart
  11. People of the Pride
  12. Clocks
  13. Infinity Sign
  14. Something Just Like This
  15. Midnight
  16. My Universe
  17. A Sky Full of Stars

Bis:

  1. Sparks (com Cris Botarelli)
  2. Amiga da minha mulher (com Seu Jorge)

Bis 2:

  1. Humankind
  2. Fix You
  3. Biutyful

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Guilherme Góes
Guilherme Góeshttp://www.igormiranda.com.br
Guilherme Góes, 27 anos, estudou jornalismo na Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Apaixonado por música desde criança, participa do cenário musical independente paulistano desde 2009. Já passou pelos veículos Besouros.net e Hedflow.

3 COMENTÁRIOS

  1. E os intérpretes/manipuladores dos bonecos em Biutyful foram contratados bonequeiros brasileiros 🙂 (com excessão da personagem Angel Moon que a intérprete é a americana Nicollete Santino)

    • Conforme explicado nos primeiros parágrafos do texto, o fotógrafo do site não foi credenciado para cobrir a apresentação. E não podemos usar fotos dos outros.

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