A história da capa de “Atom Heart Mother”, o álbum da “vaca” do Pink Floyd

Ideia era fugir da psicodelia dos primeiros álbuns - e nada mais realista do que uma foto de uma vaca em um pasto em algum lugar da Grã-Bretanha

Quando falamos de capas de discos icônicas do rock e da música em geral, é muito difícil não abordar o Pink Floyd. Entre pessoas pegando fogo, prismas/arco-íris e muros, uma das mais lembradas é a de “Atom Heart Mother” (1970), que traz nada além de uma simpática vaca em um pasto inglês – sem título, nome da banda ou qualquer outro elemento além da foto.

“Atom Heart Mother” é considerado por muitos fãs o último disco da fase inicial – e mais experimental – do Pink Floyd. A capa reflete justamente algo que os integrantes tinham em mente: afastar-se da psicodelia abundante em seus primeiros trabalhos e ir na contramão dessa tendência de forma quase grosseiramente sóbria.

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Aqui é inaugurado, também, o padrão de não colocar qualquer texto na capa do disco. Algumas versões de “The Wall” (1979) trariam o nome Pink Floyd e o título do álbum, mas o projeto original da capa trazia apenas o muro de tijolos brancos. O texto só retornaria oficialmente a uma capa do Pink Floyd muitos anos depois, em “A Momentary Lapse of Reason” (1987).

A mulher, o mergulhador e a vaca

A capa de “Atom Heart Mother” é obra da famosa Hypgnosis, empresa de design gráfico muito famosa nos anos 1970 e que criaria depois outras capas icônicas do Pink Floyd, como as de “Wish You Were Here” (1975) e “Animals” (1977). O “briefing” da banda foi claro: abandonar o visual psicodélico que era associado ao som até ali.

Em entrevista à Classic Rock, Storm Thorgerson, fotógrafo e fundador da Hypgnosis, falou sobre o conceito da capa e a sugestão da vaca, feita pelo colega John Blake. A ideia era de que a imagem do animal seria a coisa mais “não-psicodélica” possível e casava bem com o que Thorgerson tinha em mente.

“O Floyd nos disse que queriam algo não-psicodélico. Eu queria criar uma não-capa a partir do não-título e do não-conceito do álbum – algo que não era como as outras capas.”

Além da vaca sugerida por Blake, outras duas fotos foram feitas: uma mulher prestes a entrar por uma porta em frente a uma escada e um homem mergulhando totalmente de cabeça para baixo. A primeira sugestão foi usada no álbum “The Asmoto Running Band” (1971), do Principal Edwards Magic Theatre, que foi produzido pelo baterista do Pink Floyd, Nick Mason. A segunda, mais famosa, se tornou a capa de “High ‘N’ Dry” (1981), do Def Leppard.

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Thorgerson conta que quando as três fotos foram mostradas para a banda, Roger Waters caiu na gargalhada ao ver a vaca. Tanto ele quanto os oclegas aprovaram facilmente a imagem.

Já os executivos da gravadora EMI não acharam a imagem tão engraçada assim.

Lulubelle III, a estrela de “Atom Heart Mother”

Lulubelle III. Esse era o nome da vaca fotografada por Storm Thorgerson, em uma fazenda de Hertfordshire, Inglaterra, segundo seu proprietário. Alguns outros animais do mesmo rebanho foram clicados e apareceram na contracapa e variados materiais de divulgação.

Não dava para ser mais não-psicodélico do que uma vaca pastando. Contudo, ainda havia um problema: a EMI.

Thorgerson conta que a relação da Hipgnosis com o departamento de arte da gravadora já não era muito bom antes, devido à dificuldade para a empresa aceitar as ideias propostas. Depois de “Atom Heart Mother”, só piorou. Ele chegou a ser acusado de estar tentando destruir a gravadora, mas afirma que o Pink Floyd sempre o apoiou na queda de braço com o departamento de arte.

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O último “ok” precisava ser dado por L.G. Wood, diretor de management da EMI por quem todas as capas de lançamentos deveriam ser aprovadas. A principal preocupação de todos – inclusive dentro da gravadora – era a total ausência de texto, sem o nome da banda ou o título do álbum, o que poderia complicar a venda dos LPs nas prateleiras das lojas.

Chegou, então, o momento do executivo analisar a foto. Reza a lenda que Wood admirou Lulubelle III por um momento. Virou a capa a procura de texto e viu suas amigas. Sem transparecer espanto, o executivo teria declarado “ah, frísias” – a raça das vacas em questão – e aprovado a capa sem maiores comentários.

Pink Floyd e seu “The Dark Side of the… Moo”

Os temores da EMI em relação às vendas de “Atom Heart Mother” logo se provaram infundados. O álbum, considerado um dos mais orquestrados e complexos do Pink Floyd, foi um sucesso de vendas.

Lulubelle III e companhia logo dominaram os pôsteres e anúncios da mídia especializada. Não tinha jeito: a capa logo se tornou uma imagem icônica associada à banda.

O sucesso foi tanto que, em algum momento dos anos 1980, foi lançado um bootleg com trechos não usados de sessões do álbum e de outros momentos da década de 1970 com uma capa procurava emular a original e trazia outra vaca em outro pasto, fotografada de forma parecida. O título dado ao registro? “The Dark Side of the Moo”.

Não se sabe se Roger Waters também riu ao ficar sabendo do lançamento pirata.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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