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A história das fotos dos Mamonas Assassinas mortos

Imagens publicadas pelo jornal Notícias Populares mostravam corpos das vítimas do acidente aéreo ocorrido em 2 de março de 1996

O acidente de avião que vitimou todos os integrantes do Mamonas Assassinas, além de outras quatro pessoas, contou com intensa cobertura jornalística. Afinal de contas, a banda vivia o auge de sua popularidade quando a tragédia ocorreu, em 2 de março de 1996, na Serra da Cantareira.

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- Advertisement -

Alguns veículos foram além. Um deles, já extinto, foi o jornal Notícias Populares. Ligado ao Grupo Folha, o impresso notório por seu conteúdo sensacionalista circulava em São Paulo e publicou fotos dos corpos das vítimas: o vocalista Dinho, o guitarrista Bento Hinoto, o baixista Samuel Reoli, o baterista Sérgio Reoli, o tecladista Júlio Rasec, o piloto Jorge Luiz Martins, o copiloto Alberto Yoshiumi, o segurança Sérgio Saturnino Porto e o roadie Isaac Souto – este último era primo de Dinho.

As imagens foram produzidas por Fernando Cavalcanti, que já falou sobre o assunto em um artigo publicado no El País, no ano de 2018. Na ocasião, o profissional fez uma reflexão a respeito da cobertura, que “mesclou jornalismo, entretenimento e morbidez”.

Em seu relato, Cavalcanti revelou que não estava sequer escalado para trabalhar no turno em que a tragédia aconteceu. Ele estava apenas cobrindo uma folga do fotojornalista Zé Maria. Junto do repórter Hélio Santos, ouviu por meio da frequência de rádio da polícia sobre a queda do avião – que seria dos Mamonas Assassinas. Os profissionais, então, foram atrás.

A estratégia do fotógrafo

Como ainda estava escuro, não foi possível encontrar os corpos. As buscas foram retomadas pela manhã com auxílio do helicóptero da TV Globo, que pediu exclusividade da notícia em troca de ajudar as autoridades. Fernando Cavalcanti recorreu a uma alternativa para fazer o seu trabalho.

“A polícia começou a cercar os jornalistas num canto. Então, percebi a movimentação, tirei meu colete, embrulhei a câmera numa camisa de flanela, deixei minha mochila com o repórter e me escondi no mato.”

Dessa forma, o profissional conseguiu chegar perto do local exato do acidente. Ninguém percebeu sua presença, já que a preocupação maior era, obviamente, com a tragédia.

Quando a Globo já havia exercido sua prioridade, os demais jornalistas foram autorizados a trabalhar. No entanto, havia uma corda isolando a região principal do acidente. Ou seja: nenhum outro fotógrafo conseguiu imagens como as de Fernando, que as disponibilizou para os editores do Notícias Populares, responsáveis por publicá-las sem censura.

Recorde de tiragem

Em tempos pré-internet, levou um tempo até que o público tivesse acesso ao mórbido material. O acidente ocorreu em um sábado à noite, Fernando Cavalcanti fez as fotos no domingo e o jornal saiu na segunda-feira.

De acordo com o fotógrafo, o Notícias Populares…

“[…] Bateu seu recorde de tiragem, imprimiu três ou quatro clichês e na terça-feira publicou um pedido de desculpas ao seus leitores por não ter conseguido suprir a demanda.”

Uma situação ainda mais soturna ocorreu dias após o acidente, quando, de acordo com Cavalcanti, “um cidadão aparece na redação com uma mão, já em estado de decomposição, embrulhada num saco plástico”.

“Ele foi à caça de souvenirs do acidente e acabou encontrando a mão. O Notícias Populares ficou tão marcado pela cobertura do acidente que ele, em vez de levar a mão para a polícia, levou para a redação do jornal. E, coitado do Rogerinho (um dos fotógrafos da equipe), ainda teve que registrar aquilo.”

Excessos reconhecidos

O texto de Fernando Cavalcanti reconhece os exageros cometidos naquela cobertura – e no trabalho em geral desempenhado no Notícias Populares, jornal extinto em 2001.

“Apesar do lema do jornal de ser ‘nada mais que a verdade’, a maior parte do conteúdo que produzíamos era entretenimento e não jornalismo. Um dia meu editor Flavio Florido me disse: ‘você pode achar que isso é uma grande piada, mas não se esqueça de que o porteiro do prédio que compra o jornal tem certeza de que isso é verdade… muito cuidado’.”

O profissional relembra que a publicação trazia “mortos, quase sempre pobres, na capa”, além de “mulheres peladas e toda sorte de histórias bizarras”, também podendo ser acompanhadas de denúncias. O momento vivenciado pela cidade de São Paulo era prolífico para esse tipo de conteúdo.

“Naquela época, a violência nas periferias da cidade corria solta, todo final de semana tínhamos uma nova chacina. Outras vezes não havia denúncia alguma e as fotos dos mortos só serviam para saciar a curiosidade mórbida dos nossos leitores e, claro, para vender mais e mais jornais.”

Segundo Cavalcanti, a responsabilidade da publicação das fotos não foi dele. Em suas palavras, “a decisão de publicar isso ou aquilo nunca foi de nenhum fotógrafo, porque nunca nos deixaram influir na decisão do que publicar”.

Ainda assim, ele afirma que “jornalismo e entretenimento são duas coisas completamente distintas, que devem ser separadas por uma grossa linha vermelha”. E reconhece:

“Aquelas fotos que fiz do acidente dos Mamonas, ao contrário de tantas outras fotos de mortos que encerram alguma denúncia relevante, pertencem ao outro lado dessa linha.”

Até mesmo a Folha criticou

Nem mesmo dentro do Grupo Folha o Notícias Populares era unanimidade. O jornal principal, Folha de S. Paulo, publicou um texto assinado pela colunista Barbara Gancia, dias após a tragédia, com críticas à cobertura do Notícias Populares.

“No ‘Programa Livre’, Valéria, a namorada do Dinho, soltou os cachorros contra a imprensa. Acusou, entre outras, as publicações como o jornal Notícias Populares e a revista Manchete de desumanos e antiéticos por publicarem fotos dos corpos mutilados dos rapazes. Basta que qualquer um de nós se coloque por um segundo na pele das famílias e dos amigos dos Mamonas para constatar que Valéria tem toda a razão.”

Em seguida, porém, ela reflete que as publicações foram esgotadas, tamanha a procura do público pelo conteúdo mórbido. Ou seja: havia demanda.

“Por outro lado, as edições do ‘Notícias Populares’ e da ‘Manchete’ que traziam as escabrosas fotos do acidente esgotaram em todas as bancas da cidade. Morrer dormindo ou degolado, dá na mesma. E, no fim das contas, o único resultado prático da morbidez dessa corja de ignorantes que quer a todo custo esmiuçar o acidente, é colocar crianças diante das imagens de seus ídolos despedaçados. Bom senso, limite e decoro são mesmo privilégio de poucos.”

*Texto baseado em artigo publicado por este jornalista, em 2021, no site Whiplash.

O que causou o acidente dos Mamonas Assassinas

O trágico acidente de avião que matou os cinco integrantes dos Mamonas Assassinas, além de outras quatro pessoas, ocorreu em 2 de março de 1996. A aeronave que colidiu com a Serra da Cantareira, em São Paulo, era um jatinho Learjet 25D prefixo PT-LSD.

A banda fazia uma viagem de Brasília (DF), onde havia se apresentado, até o aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo. O voo de ida foi realizado no mesmo avião, com os mesmos piloto, Jorge Luiz Martins, e copiloto, Alberto Yoshiumi.

Clima pouco favorável

Na volta, as condições climáticas não eram favoráveis: parte da Serra da Cantareira, local onde o jato executivo caiu, era coberta por uma neblina espessa.

Em entrevista ao G1, em 2016, a mãe de Dinho, Célia Alves, que o esperava no avião com familiares, relembrou:

“Ficamos esperando, de olho naquela bendita porta que se abre, e achei estranho a demora. Pensei: ‘Poxa vida, esse avião vai descer com esse tempo?’ Falei: ‘Ah, vou tirar esse pensamento da cabeça. Isso não é bom’. Pedia a Deus que ele chegasse bem.”

Fadiga do piloto e copiloto

Porém, os fatores mais importantes que explicam o acidente estão relacionados com o piloto e o copiloto. Ambos acumulavam fadiga relacionada à agenda da banda, pois estavam em trânsito desde o dia anterior.

Na tarde de 1° de março de 1996, a tripulação transportou os passageiros de Caxias do Sul (RS) para Piracicaba (SP), chegando às 15h55. Permaneceram na cidade em questão até a manhã do dia seguinte, quando seguiram até Guarulhos, aterrissando às 7h36, em uma viagem rápida.

Todos permaneceram no aeroporto de Guarulhos até 16h41, quando saíram, com duas horas de atraso, para Brasília, chegando às 17h52. O retorno em definitivo para Guarulhos foi iniciado às 21h58, com o acidente, tragicamente, ocorrendo às 23h16.

O expediente cumprido por piloto e copiloto foi de 16h30 – excedendo o máximo autorizado de 11h.

Além disso, o copiloto Alberto Yoshiumi não tinha horas de voo o bastante para aquela aeronave, portanto, não assessorou o piloto Jorge Luiz Martins quando necessário. Ele trabalhou naquele transporte sem ter sido contratado formalmente pela Madri, empresa de táxi aéreo que estava a cargo do transporte dos Mamonas Assassinas naquela ocasião.

O erro técnico em si

No fim das contas, o que exatamente causou o acidente que matou os Mamonas Assassinas? Tecnicamente, um erro na direção de uma curva, depois de diversos protocolos, como os citados acima, não terem sido seguidos.

A aeronave arremeteu em contato com a torre de controle, após o piloto informar que havia condições visuais para tal. Foi realizada, então, uma curva para a esquerda, mas a direção correta para chegar ao aeroporto era à direita.

Tudo isso em velocidade acima e altitude abaixo do indicado, o que foi fatal: menos de um minuto após a curva ter sido realizada, o avião se chocou diretamente com a Serra da Cantareira.

Apesar da orientação para seguir pela perna do vento (à esquerda) ter sido emitida pela torre de controle e a comunicação entre ela e os pilotos não ter sido considerada ideal, a Justiça de São Paulo isentou, em 1997, os controladores de voo Alberto Mendonça, José Valcir da Cruz e Rosemberg de Souza Nascimento, que trabalharam na torre.

De acordo com a promotora Waléria Garcelan Loma Garcia, os controladores, anteriormente acusados de homicídio culposo (sem intenção de matar), cumpriram as normas. Jorge Luiz Martins, o piloto, assumiu o risco após deixar de voar sob orientação eletrônica e passou a realizar um voo visual – um dos erros principais, visto que não havia visibilidade e a tripulação lidava com a fadiga.

Vale destacar que o vídeo a seguir, publicado pelo canal de YouTube “Aviões e Músicas”, explica as causas do acidente com riqueza de detalhes. Conteúdo recomendado.

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Igor Miranda
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Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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O acidente de avião que vitimou todos os integrantes do Mamonas Assassinas, além de outras quatro pessoas, contou com intensa cobertura jornalística. Afinal de contas, a banda vivia o auge de sua popularidade quando a tragédia ocorreu, em 2 de março de 1996, na Serra da Cantareira.

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Alguns veículos foram além. Um deles, já extinto, foi o jornal Notícias Populares. Ligado ao Grupo Folha, o impresso notório por seu conteúdo sensacionalista circulava em São Paulo e publicou fotos dos corpos das vítimas: o vocalista Dinho, o guitarrista Bento Hinoto, o baixista Samuel Reoli, o baterista Sérgio Reoli, o tecladista Júlio Rasec, o piloto Jorge Luiz Martins, o copiloto Alberto Yoshiumi, o segurança Sérgio Saturnino Porto e o roadie Isaac Souto – este último era primo de Dinho.

As imagens foram produzidas por Fernando Cavalcanti, que já falou sobre o assunto em um artigo publicado no El País, no ano de 2018. Na ocasião, o profissional fez uma reflexão a respeito da cobertura, que “mesclou jornalismo, entretenimento e morbidez”.

Em seu relato, Cavalcanti revelou que não estava sequer escalado para trabalhar no turno em que a tragédia aconteceu. Ele estava apenas cobrindo uma folga do fotojornalista Zé Maria. Junto do repórter Hélio Santos, ouviu por meio da frequência de rádio da polícia sobre a queda do avião – que seria dos Mamonas Assassinas. Os profissionais, então, foram atrás.

A estratégia do fotógrafo

Como ainda estava escuro, não foi possível encontrar os corpos. As buscas foram retomadas pela manhã com auxílio do helicóptero da TV Globo, que pediu exclusividade da notícia em troca de ajudar as autoridades. Fernando Cavalcanti recorreu a uma alternativa para fazer o seu trabalho.

“A polícia começou a cercar os jornalistas num canto. Então, percebi a movimentação, tirei meu colete, embrulhei a câmera numa camisa de flanela, deixei minha mochila com o repórter e me escondi no mato.”

Dessa forma, o profissional conseguiu chegar perto do local exato do acidente. Ninguém percebeu sua presença, já que a preocupação maior era, obviamente, com a tragédia.

Quando a Globo já havia exercido sua prioridade, os demais jornalistas foram autorizados a trabalhar. No entanto, havia uma corda isolando a região principal do acidente. Ou seja: nenhum outro fotógrafo conseguiu imagens como as de Fernando, que as disponibilizou para os editores do Notícias Populares, responsáveis por publicá-las sem censura.

Recorde de tiragem

Em tempos pré-internet, levou um tempo até que o público tivesse acesso ao mórbido material. O acidente ocorreu em um sábado à noite, Fernando Cavalcanti fez as fotos no domingo e o jornal saiu na segunda-feira.

De acordo com o fotógrafo, o Notícias Populares…

“[…] Bateu seu recorde de tiragem, imprimiu três ou quatro clichês e na terça-feira publicou um pedido de desculpas ao seus leitores por não ter conseguido suprir a demanda.”

Uma situação ainda mais soturna ocorreu dias após o acidente, quando, de acordo com Cavalcanti, “um cidadão aparece na redação com uma mão, já em estado de decomposição, embrulhada num saco plástico”.

“Ele foi à caça de souvenirs do acidente e acabou encontrando a mão. O Notícias Populares ficou tão marcado pela cobertura do acidente que ele, em vez de levar a mão para a polícia, levou para a redação do jornal. E, coitado do Rogerinho (um dos fotógrafos da equipe), ainda teve que registrar aquilo.”

Excessos reconhecidos

O texto de Fernando Cavalcanti reconhece os exageros cometidos naquela cobertura – e no trabalho em geral desempenhado no Notícias Populares, jornal extinto em 2001.

“Apesar do lema do jornal de ser ‘nada mais que a verdade’, a maior parte do conteúdo que produzíamos era entretenimento e não jornalismo. Um dia meu editor Flavio Florido me disse: ‘você pode achar que isso é uma grande piada, mas não se esqueça de que o porteiro do prédio que compra o jornal tem certeza de que isso é verdade… muito cuidado’.”

O profissional relembra que a publicação trazia “mortos, quase sempre pobres, na capa”, além de “mulheres peladas e toda sorte de histórias bizarras”, também podendo ser acompanhadas de denúncias. O momento vivenciado pela cidade de São Paulo era prolífico para esse tipo de conteúdo.

“Naquela época, a violência nas periferias da cidade corria solta, todo final de semana tínhamos uma nova chacina. Outras vezes não havia denúncia alguma e as fotos dos mortos só serviam para saciar a curiosidade mórbida dos nossos leitores e, claro, para vender mais e mais jornais.”

Segundo Cavalcanti, a responsabilidade da publicação das fotos não foi dele. Em suas palavras, “a decisão de publicar isso ou aquilo nunca foi de nenhum fotógrafo, porque nunca nos deixaram influir na decisão do que publicar”.

Ainda assim, ele afirma que “jornalismo e entretenimento são duas coisas completamente distintas, que devem ser separadas por uma grossa linha vermelha”. E reconhece:

“Aquelas fotos que fiz do acidente dos Mamonas, ao contrário de tantas outras fotos de mortos que encerram alguma denúncia relevante, pertencem ao outro lado dessa linha.”

Até mesmo a Folha criticou

Nem mesmo dentro do Grupo Folha o Notícias Populares era unanimidade. O jornal principal, Folha de S. Paulo, publicou um texto assinado pela colunista Barbara Gancia, dias após a tragédia, com críticas à cobertura do Notícias Populares.

“No ‘Programa Livre’, Valéria, a namorada do Dinho, soltou os cachorros contra a imprensa. Acusou, entre outras, as publicações como o jornal Notícias Populares e a revista Manchete de desumanos e antiéticos por publicarem fotos dos corpos mutilados dos rapazes. Basta que qualquer um de nós se coloque por um segundo na pele das famílias e dos amigos dos Mamonas para constatar que Valéria tem toda a razão.”

Em seguida, porém, ela reflete que as publicações foram esgotadas, tamanha a procura do público pelo conteúdo mórbido. Ou seja: havia demanda.

“Por outro lado, as edições do ‘Notícias Populares’ e da ‘Manchete’ que traziam as escabrosas fotos do acidente esgotaram em todas as bancas da cidade. Morrer dormindo ou degolado, dá na mesma. E, no fim das contas, o único resultado prático da morbidez dessa corja de ignorantes que quer a todo custo esmiuçar o acidente, é colocar crianças diante das imagens de seus ídolos despedaçados. Bom senso, limite e decoro são mesmo privilégio de poucos.”

*Texto baseado em artigo publicado por este jornalista, em 2021, no site Whiplash.

O que causou o acidente dos Mamonas Assassinas

O trágico acidente de avião que matou os cinco integrantes dos Mamonas Assassinas, além de outras quatro pessoas, ocorreu em 2 de março de 1996. A aeronave que colidiu com a Serra da Cantareira, em São Paulo, era um jatinho Learjet 25D prefixo PT-LSD.

A banda fazia uma viagem de Brasília (DF), onde havia se apresentado, até o aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo. O voo de ida foi realizado no mesmo avião, com os mesmos piloto, Jorge Luiz Martins, e copiloto, Alberto Yoshiumi.

Clima pouco favorável

Na volta, as condições climáticas não eram favoráveis: parte da Serra da Cantareira, local onde o jato executivo caiu, era coberta por uma neblina espessa.

Em entrevista ao G1, em 2016, a mãe de Dinho, Célia Alves, que o esperava no avião com familiares, relembrou:

“Ficamos esperando, de olho naquela bendita porta que se abre, e achei estranho a demora. Pensei: ‘Poxa vida, esse avião vai descer com esse tempo?’ Falei: ‘Ah, vou tirar esse pensamento da cabeça. Isso não é bom’. Pedia a Deus que ele chegasse bem.”

Fadiga do piloto e copiloto

Porém, os fatores mais importantes que explicam o acidente estão relacionados com o piloto e o copiloto. Ambos acumulavam fadiga relacionada à agenda da banda, pois estavam em trânsito desde o dia anterior.

Na tarde de 1° de março de 1996, a tripulação transportou os passageiros de Caxias do Sul (RS) para Piracicaba (SP), chegando às 15h55. Permaneceram na cidade em questão até a manhã do dia seguinte, quando seguiram até Guarulhos, aterrissando às 7h36, em uma viagem rápida.

Todos permaneceram no aeroporto de Guarulhos até 16h41, quando saíram, com duas horas de atraso, para Brasília, chegando às 17h52. O retorno em definitivo para Guarulhos foi iniciado às 21h58, com o acidente, tragicamente, ocorrendo às 23h16.

O expediente cumprido por piloto e copiloto foi de 16h30 – excedendo o máximo autorizado de 11h.

Além disso, o copiloto Alberto Yoshiumi não tinha horas de voo o bastante para aquela aeronave, portanto, não assessorou o piloto Jorge Luiz Martins quando necessário. Ele trabalhou naquele transporte sem ter sido contratado formalmente pela Madri, empresa de táxi aéreo que estava a cargo do transporte dos Mamonas Assassinas naquela ocasião.

O erro técnico em si

No fim das contas, o que exatamente causou o acidente que matou os Mamonas Assassinas? Tecnicamente, um erro na direção de uma curva, depois de diversos protocolos, como os citados acima, não terem sido seguidos.

A aeronave arremeteu em contato com a torre de controle, após o piloto informar que havia condições visuais para tal. Foi realizada, então, uma curva para a esquerda, mas a direção correta para chegar ao aeroporto era à direita.

Tudo isso em velocidade acima e altitude abaixo do indicado, o que foi fatal: menos de um minuto após a curva ter sido realizada, o avião se chocou diretamente com a Serra da Cantareira.

Apesar da orientação para seguir pela perna do vento (à esquerda) ter sido emitida pela torre de controle e a comunicação entre ela e os pilotos não ter sido considerada ideal, a Justiça de São Paulo isentou, em 1997, os controladores de voo Alberto Mendonça, José Valcir da Cruz e Rosemberg de Souza Nascimento, que trabalharam na torre.

De acordo com a promotora Waléria Garcelan Loma Garcia, os controladores, anteriormente acusados de homicídio culposo (sem intenção de matar), cumpriram as normas. Jorge Luiz Martins, o piloto, assumiu o risco após deixar de voar sob orientação eletrônica e passou a realizar um voo visual – um dos erros principais, visto que não havia visibilidade e a tripulação lidava com a fadiga.

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Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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