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Mamonas Assassinas: as referências a outros artistas e bandas no único disco

Álbum lançado em 23 de junho de 1995, foi fenômeno de popularidade no Brasil

Lançado em 23 de junho de 1995, o único álbum da carreira dos Mamonas Assassinas, homônimo, foi um fenômeno de popularidade no Brasil. Está entre os discos mais vendidos da história do país e, segundo informações da época, chegou a ter duas milhões de cópias comercializadas em 6 meses. Além disso, fez bastante sucesso em Portugal, ganhando disco de ouro por lá.

A trajetória dos Mamonas chegou ao fim pouco tempo após o lançamento deste disco, em 2 de março de 1996, quando todos os integrantes morreram em um acidente aéreo. Uma tragédia que parou o Brasil por encerrar a carreira de músicos tão jovens e no auge da fama.

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O repertório presente no único álbum dos Mamonas Assassinas ainda é lembrado com carinho por muitos fãs, seja pela sátira presente em todas as letras ou pelo conteúdo musical, que, galhofas à parte, mostrava que os músicos eram bons de serviço.  O material também chama atenção pelas diversas referências a outros artistas e bandas, especialmente do exterior, presentes nas composições – quase todas elas não foram creditadas oficialmente.

Listei, a seguir, todas as referências a outros artistas e bandas encontradas nas melodias do único álbum dos Mamonas Assassinas, seja em minha audição ou pesquisa em outras fontes. São feitos, ainda, alguns comentários pontuais sobre as letras, embora o foco seja citar as menções melódicas, não líricas.

‘1406’, ‘Débil Metal’ e ‘Lá Vem o Alemão’ não são mencionadas porque não fazem referências diretas a obras de outros artistas, apenas a estilos de performance. Nota-se que a primeira traz uma pegada funk rock/metal, na veia do Faith No More e Red Hot Chili Peppers. A segunda, por sua vez, reúne uma série de clichês do metal. Já a terceira brinca com o título de ‘Lá Vem o Negão’ (Cravo e Canela) e com a forma de cantar de Luiz Carlos (Raça Negra) e Netinho de Paula (Negritude Jr). Porém, não há reutilização de melodias em seus respectivos andamentos.

As referências e paródias dos Mamonas Assassinas

‘Vira-Vira’

As referências de ‘Vira-Vira’ estão claras, até pela temática da letra, um claro deboche ao som folclórico de Portugal. A canção, que também ficou muito popular no país, traz referências a três músicas do cantor lusitano Roberto Leal: ‘A Festa Ainda Pode Ser Bonita’, ‘A Casa da Mariquinha’ e, especialmente, ‘Arrebita’, dona da melodia original.

A letra, vale lembrar, não tem nada a ver com a obra de Roberto Leal. Os versos são inspirados em uma piada do humorista brasileiro Costinha, presente no disco ‘O Peru da Festa 2’ – sim, nos tempos pré-internet, grandes comediantes lançavam álbuns com seu conteúdo.

‘Pelados em Santos’

A música mais famosa do álbum dos Mamonas traz claras referências a ‘Crocodile Rock’, de Elton John. A letra, claro, também é repleta de menções a outros fatos da cultura daquele momento.

‘Chopis Centis’

A referência mais evidente entre todas do álbum está nessa música, que utiliza o riff principal de ‘Should I Stay or Should I Go’, do The Clash, só que em outro tom.

Nem é preciso falar muito, já que dá para perceber logo de cara. Praticamente uma paródia.

‘Jumento Celestino’

Logo no início de ‘Jumento Celestino’, há uma citação com um trecho da música ‘Rock de Jegue (De Quem é Esse Jegue)’, de Genival Lacerda.

Podem existir outras apropriações harmônicas, ainda que sutis, ao longo da canção – especialmente nas partes com instrumentos diferentes –, mas não as identifiquei.

‘Sabão Crá-Crá’

Uma referência que, provavelmente, é involuntária, está presente nessa faixa. Embora se pareça com uma vinheta, ‘Sabão Crá-Crá’ traz uma letra típica daquelas músicas cantadas em ambiente escolar. Ninguém sabe quem fez, mas é passada por gerações.

Todavia, há uma semelhança entre a melodia de ‘Sabão Crá-Crá’ e o fraseado principal do primeiro movimento da Terceira Sinfonia de Beethoven. Além disso, a canção surgiu como uma paródia em português de outra composição, intitulada ‘The Mad Ku-Ku’, do cineasta americano Marvin Hatley.

‘Uma Arlinda Mulher’

Há duas referências ao Radiohead em ‘Uma Arlinda Mulher’. Além da melodia, semelhante à de ‘Fake Plastic Trees’, há uma “chamada” para a guitarra com distorção, nos primeiros segundos, bastante semelhante à de ‘Creep’.

Um pouco fora da questão melódica, ainda há uma referência a Belchior na forma de cantar o segundo refrão da música. Essa forma de impor a voz imitando algum artista se repete por quase todo o álbum, mas nem todos perceberam essa menção ao artista cearense, citado como “Belchi” em uma vinheta.

‘Cabeça de Bagre II’

Além da referência clara à risada do Pica-Pau no solo de guitarra, há duas citações mais implícitas em ‘Cabeça de Bagre II’. Uma delas, bastante sutil, relaciona essa canção a ‘Cabeça Dinossauro’, dos Titãs, seja pela forma de cantar ou pela construção da letra.

A outra, ainda mais curiosa, está em um dos riffs principais, semelhante ao de ‘Baby Elephant Walk (O Passo do Elefantinho)’. A canção, de temática infantil, é de autoria do americano Henry Mancini. Tornou-se popular com sua versão em português, feita pelo Trio Esperança no auge da Jovem Guarda.

‘Mundo Animal’

O que parece ser uma das músicas mais autorais dos Mamonas Assassinas traz outra citação sutil. Desta vez, ao fim da canção, é possível ouvir uma referência a um trecho de ‘Toda Forma de Amor’, do cantor Lulu Santos.

‘Robocop Gay’

Algumas das referências mais elaboradas fazem parte de ‘Robocop Gay’. Os vocais não apenas imitam Eduardo Dussek, como, também, há versos e especialmente rimas que se conectam com um dos hits do cantor, ‘Barrados no Baile’. A letra também cita ‘Doce Doce Amor’, de Jerry Adriani.

Durante os shows, no meio de ‘Robocop Gay’ (entre as transições dos dois “momentos” da canção), os Mamonas Assassinas tocavam a introdução de ‘Je Suis La Femme’, de Gretchen. A passagem é conhecida como ‘Melô do Piripipi’ e ficou ainda mais popular ao integrar as apresentações da banda.

‘Bois Don’t Cry’

Um caminhão de referências está presente em ‘Bois Don’t Cry’. As mais sutis estão no título, parodiando ‘Boys Don’t Cry’ (The Cure), e na forma de impor os vocais, no estilo de Waldick Soriano.

Já as mais explícitas, pelo menos para os fãs de música pesada, estão no uso de melodias de ‘Tom Sawyer’ (Rush) e ‘The Mirror’ (Dream Theater) lá para a metade da canção, quando o instrumental fica mais pesado.

‘Sábado de Sol’

Trata-se da única música a não trazer nenhum crédito a qualquer integrante dos Mamonas Assassinas. O motivo é claro: trata-se de um cover, não de uma referência ou paródia. A canção original é da banda Baba Cósmica, gravada em uma demo no mesmo ano de 1995.

https://www.youtube.com/watch?v=934KGDdLsjg&feature=emb_title

Entre um dos integrantes da Baba Cósmica, está Rafael Ramos, filho do produtor João Augusto Soares – na época, diretor artístico da gravadora EMI. Ele compartilha os créditos da composição com Pedro Knoedt e Felipe Knoblitch.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

14 COMENTÁRIOS

  1. É quase imperceptível mas na música Sábado de Sol cantada pelos Mamonas, eles cantam a primeira parte exagerando o sotaque carioca e na segunda parte passão a usar o sotaque paulista.

  2. Em “Mundo animal ” a introdução e a guitarra rítmica me lembra “Crazy Train” do Ozzy; o riff de “Debil metal” parece Symptom of the Universe do Sabbath (riff de guitarra antes de entrar a parte melódica no violão)e “1406”lembra a introdução de Always on the run,Lenny Kravitz,em outro tom…
    Minha opinião, é claro.

  3. Achei também que Robocop gay tem um pouco de imitação do Freddy Mercury,quando o vocalista do Queen cantava aquela música de rock estilo Elvis Presley.

  4. Ainda faltou uma referência em Cabeça de Bagre II, que é quando o Dinho canta “Mamonha-nha-nhá”, da mesma forma que o Rodolfo dos Raimundos canta na introdução de Puteiro em João Pessoa.

  5. São várias misturas sonoras boas em uma música só, cada música mostra isso.
    Quase todas as músicas do álbum tem isso (são 14, mas 12 delas tem um tempero de cada ritmo).
    Juntou-se com o talento que cada um tinha na banda e fez esse resultado estrondoso.
    As gravadoras recusaram as músicas dos caras, a princípio, por conta das letras ‘pesadas’, acho que até a própria EMI não queria publicar o álbum, mas tentaram a sorte e deu o resultado que conhecemos, mesmo perto dos 30 anos do lançamento.

    Bela pérola dos 90s!

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