Quando o Metallica apresentou Marianne Faithfull às novas gerações com “The Memory Remains”

Notória por ter vivido altos e baixos, cantora entrou pela primeira vez nas paradas americanas em 32 anos ao colaborar com a banda

Apesar de John Lennon e Yoko Ono monopolizarem os olhares na virada dos anos 1960 para os 70 por conta das polêmicas que levaram os Beatles ao fim, nenhum casal foi mais badalado durante a Invasão Britânica do que Mick Jagger e Marianne Faithfull.

O chamativo vocalista dos Rolling Stones e a cantora revelação formavam uma dupla popular entre os jovens, embora cheio de encrencas com a justiça. A perseguição da polícia à banda, sempre à procura de drogas, fez com que a jovem se tornasse alvo de perseguição e críticas da mídia, fazendo com que seu encanto junto ao público desaparecesse.

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Com o fim do relacionamento, em 1970, Marianne caiu em desgraça. O vício a consumiu, fazendo com que perdesse a guarda do filho Nicholas, fruto do casamento com o artista John Dunbar, anterior ao namoro com Jagger.

A situação a fez tentar o suicídio e passar um bom tempo morando nas ruas de Londres, enquanto consumia heroína. Após várias tentativas, só voltaria a fazer sucesso em 1979, com o disco “Broken English”, que trazia influências do punk e letras politizadas.

Mais problemas e vida discreta

Após se mudar para Nova York na década seguinte, Marianne Faithfull seguiu enfrentando problemas com drogas. A situação cobrou um preço caro em sua voz. Para usarmos como exemplo, peguemos sua música mais conhecida, “As Tears Go By”.

A composição de Mick Jagger e Keith Richards foi gravada originalmente em 1964, na versão que você pode conferir a seguir.

E abaixo está a versão de 1987.

Afastada dos holofotes a maior parte do tempo, Marianne passou a ter uma carreira mais low profile. Entre suas poucas aparições de maior porte esteve a atuação como a mãe de Pink na reencenação de “The Wall” promovida por Roger Waters em Berlim, no ano de 1990.

O baixista e vocalista gostou tanto da parceria que a ofereceu uma música composta tendo Syd Barrett em 1968 como personagem principal. “Incarceration of a Flower Child” nunca foi gravada pelo Pink Floyd e saiu no álbum “Vagabond Ways”, lançado por Marianne em 1999.

Metallica, “The Memory Remains” e ressurgimento

Porém, inegavelmente, nenhum momento colocou Marianne Faithfull tão em alta após seu auge quanto a parceria com o Metallica em “The Memory Remains”. A música foi lançada como primeiro single do polêmico álbum “Reload” (1997), a continuação do também controverso “Load” (1996).

Em entrevista à Billboard, realizada em 2014, a cantora explicou como surgiu o contato.

Leia também:  A crítica de David Gilmour ao mercado musical contemporâneo

“Estava na Irlanda, vivendo minha linda e sossegada vida. De repente, o telefone tocou e veio essa voz do outro lado: ‘Alô, Marianne Faithfull? Aqui é Lars, do Metallica’. Assim, a história se desenrolou. Pediram que eu fosse até Dublin gravar e me colocaram na canção. Nasceu uma grande amizade e mantemos contato até hoje.”

A letra é inspirada no filme “Sunset Boulevard” (“Crepúsculo dos Deuses” no Brasil), de 1950. Estrelada por William Holden e Gloria Swanson, a obra conta a história de uma atriz do cinema mudo em decadência sendo consumida pelo desejo de voltar a ser famosa e acabando por criar um mundo fantasioso dentro de sua cabeça.

Também há uma citação ao final da canção (“Say yes… at least say hello…”) para “The Misfits”, último filme completo de Marilyn Monroe, lançado em 1961. Ela morreria no ano seguinte em decorrência de uma overdose de barbitúricos, após ter gravado parte de “Something’s Gotta Give”.

Videoclipe e sucesso

Dirigido por Paul Andresen, o videoclipe de “The Memory Remains” traz o Metallica tocando em uma plataforma suspensa, fazendo rotações completas e contínuas. Ao contrário do que o efeito faz o espectador perceber, é a sala que gira em torno dos músicos através de uma grande caixa giratória – cuja construção consumiu um quarto do orçamento de US$ 400 mil da produção.

Marianne Faithfull canta em um corredor escuro e gira a manivela de uma caixa, simulando aquela onde a banda se encontra. As filmagens ocorreram no Aeroporto de Van Nuys, em Los Angeles.

A música chegou ao top 20 em 15 paradas internacionais entre América do Norte e Europa. Foi a primeira canção de Marianne Faithfull a entrar no Billboard Hot 100 desde “Summer Nights”, de 1965 – e a última até hoje.

A parceria de estúdio se repetiu duas vezes ao vivo. A primeira em 1997, no tradicional programa televisivo “Saturday Night Live”. A segunda dia 7 de dezembro de 2011, durante a série de shows em San Francisco que celebrou 30 anos da banda.

Marianne Faithfull e a Covid-19

Marianne Faithfull foi diagnosticada com Covid-19 no início da pandemia. Ela passou 22 dias internada em um hospital de Londres.

Em entrevista ao jornal The Guardian em janeiro deste ano, confirmou que o vírus pode ter encerrado sua carreira de vez.

“A Covid-19 deixou danos permanentes em meus pulmões. A médica que cuidou de mim deixou claro que é irreversível. É bem provável que eu não possa cantar nunca mais. Também tenho fadiga e sofro de perda de memória recente. Quase morri.”

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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O chamativo vocalista dos Rolling Stones e a cantora revelação formavam uma dupla popular entre os jovens, embora cheio de encrencas com a justiça. A perseguição da polícia à banda, sempre à procura de drogas, fez com que a jovem se tornasse alvo de perseguição e críticas da mídia, fazendo com que seu encanto junto ao público desaparecesse.

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Com o fim do relacionamento, em 1970, Marianne caiu em desgraça. O vício a consumiu, fazendo com que perdesse a guarda do filho Nicholas, fruto do casamento com o artista John Dunbar, anterior ao namoro com Jagger.

A situação a fez tentar o suicídio e passar um bom tempo morando nas ruas de Londres, enquanto consumia heroína. Após várias tentativas, só voltaria a fazer sucesso em 1979, com o disco “Broken English”, que trazia influências do punk e letras politizadas.

Mais problemas e vida discreta

Após se mudar para Nova York na década seguinte, Marianne Faithfull seguiu enfrentando problemas com drogas. A situação cobrou um preço caro em sua voz. Para usarmos como exemplo, peguemos sua música mais conhecida, “As Tears Go By”.

A composição de Mick Jagger e Keith Richards foi gravada originalmente em 1964, na versão que você pode conferir a seguir.

E abaixo está a versão de 1987.

Afastada dos holofotes a maior parte do tempo, Marianne passou a ter uma carreira mais low profile. Entre suas poucas aparições de maior porte esteve a atuação como a mãe de Pink na reencenação de “The Wall” promovida por Roger Waters em Berlim, no ano de 1990.

O baixista e vocalista gostou tanto da parceria que a ofereceu uma música composta tendo Syd Barrett em 1968 como personagem principal. “Incarceration of a Flower Child” nunca foi gravada pelo Pink Floyd e saiu no álbum “Vagabond Ways”, lançado por Marianne em 1999.

Metallica, “The Memory Remains” e ressurgimento

Porém, inegavelmente, nenhum momento colocou Marianne Faithfull tão em alta após seu auge quanto a parceria com o Metallica em “The Memory Remains”. A música foi lançada como primeiro single do polêmico álbum “Reload” (1997), a continuação do também controverso “Load” (1996).

Em entrevista à Billboard, realizada em 2014, a cantora explicou como surgiu o contato.

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“Estava na Irlanda, vivendo minha linda e sossegada vida. De repente, o telefone tocou e veio essa voz do outro lado: ‘Alô, Marianne Faithfull? Aqui é Lars, do Metallica’. Assim, a história se desenrolou. Pediram que eu fosse até Dublin gravar e me colocaram na canção. Nasceu uma grande amizade e mantemos contato até hoje.”

A letra é inspirada no filme “Sunset Boulevard” (“Crepúsculo dos Deuses” no Brasil), de 1950. Estrelada por William Holden e Gloria Swanson, a obra conta a história de uma atriz do cinema mudo em decadência sendo consumida pelo desejo de voltar a ser famosa e acabando por criar um mundo fantasioso dentro de sua cabeça.

Também há uma citação ao final da canção (“Say yes… at least say hello…”) para “The Misfits”, último filme completo de Marilyn Monroe, lançado em 1961. Ela morreria no ano seguinte em decorrência de uma overdose de barbitúricos, após ter gravado parte de “Something’s Gotta Give”.

Videoclipe e sucesso

Dirigido por Paul Andresen, o videoclipe de “The Memory Remains” traz o Metallica tocando em uma plataforma suspensa, fazendo rotações completas e contínuas. Ao contrário do que o efeito faz o espectador perceber, é a sala que gira em torno dos músicos através de uma grande caixa giratória – cuja construção consumiu um quarto do orçamento de US$ 400 mil da produção.

Marianne Faithfull canta em um corredor escuro e gira a manivela de uma caixa, simulando aquela onde a banda se encontra. As filmagens ocorreram no Aeroporto de Van Nuys, em Los Angeles.

A música chegou ao top 20 em 15 paradas internacionais entre América do Norte e Europa. Foi a primeira canção de Marianne Faithfull a entrar no Billboard Hot 100 desde “Summer Nights”, de 1965 – e a última até hoje.

A parceria de estúdio se repetiu duas vezes ao vivo. A primeira em 1997, no tradicional programa televisivo “Saturday Night Live”. A segunda dia 7 de dezembro de 2011, durante a série de shows em San Francisco que celebrou 30 anos da banda.

Marianne Faithfull e a Covid-19

Marianne Faithfull foi diagnosticada com Covid-19 no início da pandemia. Ela passou 22 dias internada em um hospital de Londres.

Em entrevista ao jornal The Guardian em janeiro deste ano, confirmou que o vírus pode ter encerrado sua carreira de vez.

“A Covid-19 deixou danos permanentes em meus pulmões. A médica que cuidou de mim deixou claro que é irreversível. É bem provável que eu não possa cantar nunca mais. Também tenho fadiga e sofro de perda de memória recente. Quase morri.”

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João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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