O deplorável último show de Steven Adler no Guns N’ Roses

Saideira do baterista foi marcada por surpresas de última hora e momentos de vergonha alheia

Hoosier Dome (posteriormente RCA Dome), Indianápolis. Em 7 de abril de 1990, a então casa do time de futebol americano Indianapolis Colts da NFL foi palco da sexta edição do Farm Aid, evento beneficente que visa arrecadação de fundos para agricultores familiares nos Estados Unidos. Em meio a nomes como Elton John, Neil Young e Willie Nelson, estava o da maior banda do planeta na época, o Guns N’ Roses.

Por estarem concentrados no trabalho no que se tornaria o marco “Use Your Illusion” (1991) – ainda que progredindo a passos de tartaruga –, Axl Rose (vocais), Slash (guitarra), Izzy Stradlin (guitarra), Duff McKagan (baixo) e Steven Adler (bateria) não faziam shows desde a curta temporada abrindo para os Rolling Stones em meio à histórica “Urban Jungle Tour” seis meses antes. Ainda assim, aceitaram a proposta.

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O evento seria televisionado ao vivo para todo o país e Indianápolis ficava a uma hora de carro da cidade natal de Axl, Lafayette. Por conta disso, era importante, sobretudo para o vocalista – que entrou no palco de óculos escuros, camiseta da marca de cigarros Marlboro e chapéu de caubói – fazer um bom show, a despeito de ele e seus colegas não terem se preocupado em ensaiar.

Em sua autobiografia, Slash escreveu:

“Eu estava empolgado demais para irmos até lá e tocarmos juntos outra vez. Mas as coisas foram por água abaixo bem rápido.”

Steven Adler e um salto de fé

Slash conta que no instante que a banda entrou no palco, Steven Adler correu até a bateria, que ficava numa plataforma grande difícil de errar, e deu um salto. Errou por mais de um metro e levou um tombo.

Em “Meu Apetite por Destruição: Sexo, Drogas e Guns N’ Roses”, Adler minimiza o incidente, embora reconheça que seus reflexos e sua atenção pudessem estar comprometidos:

“Quando fomos apresentados no show do Farm Aid, fiquei tão animado que estava indo para a bateria e, quando subi até ela, meu pé ficou preso na armação que tinha em volta do tablado. Tropecei e caí de bunda. Talvez eu estivesse um pouco chapado, mas vou te dizer: não tem nada como ser derrubado na frente de todos aqueles fãs para te deixar sóbrio na hora.”

Já em seu livro, Slash recorda:

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“Observei a cena como se fosse em câmera lenta. Foi mais do que um vexame.”

“Passável, na melhor das hipóteses”

Embora chateado por estar ao vivo na TV, Adler rapidamente se recompôs, baquetas em mãos, segundo ele, “pronto para o rock”. Só não imaginava que o caos estava apenas começando.

Para as dezenas de milhares de fãs que gritavam sem parar e outros milhões que assistiam pela TV, Axl Rose, de surpresa, anunciou:

“Essa é uma nova que fizemos, chama-se ‘Civil War’.”

Composta por Axl, Slash e Duff, “Civil War” foi a música que arrancou o couro de Steven no estúdio em dezembro de 1989. Mais de trinta takes depois – dos quais nenhum pôde ser aproveitado sem edições –, ficou claro para a banda que o baterista, num vai-e-vem com a heroína, estava se tornando um fardo mais pesado a cada dia.

A mudança de tratamento não passou despercebida por Adler, que notou que Duff e Slash continuavam se distanciando dele. Em seu livro, ele disse:

“Eles pareciam trancados em suas próprias panelinhas.”

Apesar de não terem finalizado “Civil War” completamente e não a terem ensaiado, o Guns até que a tocou bem naquela ocasião. Para Slash, a performance “foi passável, na melhor das hipóteses”. Clique aqui para assistir.

Welcome to the… FARM?

As surpresas não pararam por aí. O plano era tocar “Welcome to the Jungle” em seguida, mas Axl não resistiu a dar uma alfinetada nos cidadãos de Indiana.

Quando o vocalista anunciou “Down on the Farm” do grupo punk U.K. Subs – “esta é a única música de fazenda que conhecemos” –, a reação de Steven, que nunca a tinha ouvido antes, foi gritar para Duff: “que p*rra é essa?”. O baixista bateu palmas para que Adler pegasse o andamento e se afastou, deixando o colega a ver navios.

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Não obstante reconheça que não fez mais do que um bum-bum-bum, Adler, em seu livro, escreveu:

“Detonei e me senti orgulhoso, e não p*to.”

Por sua vez, em sua própria obra, Duff rebateu:

“Ele foi deplorável no palco.”

Slash parece matar a charada:

“Não poderia ter havido meio melhor de Steven nos revelar que estivera mentindo quanto a ter conseguido se livrar das drogas. Ele continuava se drogando, e provavelmente o fizera no próprio quarto até o minuto que antecedeu a saída para a apresentação.”

Visivelmente consternado, Axl, que cantou a música ao melhor estilo “Zé Buscapé”, gritou “obrigado – boa noite, p*rra!” antes de jogar o microfone no chão e dar o fora dali.

Seria o último show de Steven Adler na banda. O baterista foi oficialmente demitido do Guns N’ Roses em julho de 1990.

Facada nas costas pelo Guns N’ Roses

Em “Meu Apetite por Destruição”, Steven Adler refere-se ao episódio como uma “facada nas costas”. Com a típica negação de um adicto, aponta uma possível teoria da conspiração:

“Olhando agora, percebo que isso pode ter sido uma prova de que o plano deles de me tirar da banda já estava em andamento. Eles não me deixavam por dentro das músicas novas e nem me diziam o que iam tocar. Acredito que a estratégia deles era fazer meu desempenho virar uma m*rda. Creio que eles queriam que eu estragasse tudo na TV ao vivo – isso seria a prova deles. Ao me marcar como um baterista de m&rda, mal preparado, eles estariam armados com um bom motivo para me expulsar.”

Steven Adler só subiria ao palco com o Guns N’ Roses novamente em 2016. Como convidado e apenas para algumas músicas.

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

5 COMENTÁRIOS

  1. Ouvi muito sobre isso, por mais que o Adler tenha causado problemas, antes disso podiam tentar uma solução mais amigável.
    O fato de isolarem ele, só foi pior pra ele e serviu como argumento de mandarem ele embora.

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