A trágica história por trás da voz feminina de “Gimme Shelter”, dos Rolling Stones

Merry Clayton, cantora convidada para dueto com Mick Jagger, sofreu aborto espontâneo logo após gravar sua participação na música

‘Gimme Shelter’ é uma das músicas mais icônicas dos Rolling Stones. É a faixa de abertura do álbum ‘Let It Bleed, o último a contar com o guitarrista Brian Jones, demitido no meio das gravações e falecido em julho de 1969, meses antes do disco sair, em dezembro daquele ano.

Particularmente, ‘Gimme Shelter’ ganhou um ar lendário por conta da participação de Merry Clayton, que divide os vocais com Mick Jagger a partir da segunda metade da música. Ela conseguiu interpretar seus versos com tanta emoção que a participação dela ainda é lembrada como um dos melhores momentos da carreira dos Stones.

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O que poucos sabem é que há uma história trágica por trás da participação de Merry Clayton em ‘Gimme Shelter’. A cantora, que estava grávida, sofreu um aborto espontâneo após ter gravado sua parte na canção. Ela ficou tão traumatizada que demorou muitos anos para dar uma segunda chance à canção.

A inspiração para Gimme Shelter

A faixa foi gravada em duas sessões diferentes, nos dias 23 de fevereiro e 2 de novembro de 1969. Na segunda, os Rolling Stones estavam trabalhando com o produtor Jimmy Miller quando surgiu a ideia de incluir vocais femininos.

Composta pelo vocalista Mick Jagger e pelo guitarrista Keith Richards, ‘Gimme Shelter’ foi pensada, inicialmente, após Richards assistir a algumas pessoas na rua se escondendo de uma tempestade. Em seguida, a dramaticidade da letra veio de forma natural, já que aquele período era, segundo Jagger, “muito violento”.

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“Eram tempos muito duros e violentos. A guerra do Vietnã. Violência nas telas. E a guerra no Vietnã não era convencional. Não era como a Segunda Guerra, ou como a guerra do Golfo. Era uma guerra desonesta, as pessoas não concordavam com ela e não queriam lutar por ela. A música se tornou um pouco apocalíptica”, disse Mick, em uma entrevista à Rolling Stone, no ano de 1995.

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Convite dos Rolling Stones e gravação

Para ganhar um caráter ainda mais dramático, a canção pedia uma voz feminina para reforçar versos como os que citam estupro e assassinato. Jimmy Miller, então, ligou para o também produtor Jack Nitzsche, pedindo contatos de cantoras. Ele indicou Merry Clayton, que já havia trabalhado com nomes do porte de Elvis Presley, The Supremes e Ray Charles.

Naquela época, Merry Clayton não estava trabalhando, pois estava grávida. A ligação foi feita tarde da noite, quando ela se preparava para dormir. Estava de pijama e tudo o mais.

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“Estou em casa, quase meia-noite, deitada com meu marido na cama, quando recebemos a ligação do meu amigo e produtor Jack Nitzsche. Ele perguntou se eu estava ocupada e eu disse que não, estava na cama. Ele contou: ‘temos uns caras ingleses aqui e eles precisam de alguém para fazer um dueto, mas não consigo ninguém… você pode vir?’. Meu marido pegou o telefone da minha mão e gritou: ‘a essa hora, um convite para ela fazer gravação… você sabe que ela está grávida’. Mas ele convenceu a nós dois”, afirma a cantora, no livro “Mama Mia Let Me Go!”.

Após concordar em gravar os vocais, Merry Clayton foi para a rua, de pijamas, agasalho e rolos de cabelo, e entrou no carro que a levaria para o estúdio. Ela nem conhecia os Rolling Stones e precisou ser convencida novamente a fazer o trabalho, já que cantaria versos tão pesados, sobre estupro e assassinato.

Em entrevista recente ao programa de Queen Latifah, a artista revelou que precisou se lembrar do noticiário diário para se inspirar. Afinal, eram tantas desgraças acontecendo naquele período que não foi tão difícil apresentar um pouco de sofrimento em sua performance.

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Merry, então, gravou o primeiro take. Por estar em fase avançada em sua gravidez, sentiu o peso da barriga e precisou registrar de novo, sentada. Outros dois takes foram necessários e pronto: ela havia feito uma performance incrível.

O aborto sofrido por Merry Clayton

O que poderia se tornar uma história de sucesso acabou virando tragédia, pois ela sofreu um aborto espontâneo. Os textos sobre o assunto não deixam claro, mas alguns deles dão a entender que ela passou pelo aborto naquela mesma noite.

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A especulação principal é de que o esforço feito para gravar ‘Gimme Shelter’ teria provocado o aborto, além do fato de estar fora de casa, à noite, em uma situação pouco recomendável para alguém que está em uma gestação avançada. Merry fez tanta força em sua performance que a voz dela chega a rachar em alguns momentos (a partir de 2min55seg no álbum original), o que, curiosamente, foi mantido.

Fato é que ‘Gimme Shelter’ se tornou uma música tão traumática para Merry Clayton relata que passou passou anos sem ouvi-la. Demorou bastante para que a artista pudesse superar o ocorrido – mais precisamente, na década de 1980.

Por outro lado, chama atenção o fato de que logo no ano de 1970, Merry gravou uma versão para a música e a colocou em seu álbum de estreia, também intitulado ‘Gimme Shelter’. Ouça:

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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