Jon Batiste leva Lia de Itamaracá ao palco do segundo dia do C6 Fest Rio

Noite jazz do festival foi marcada por homenagens criativas ao legado da música brasileira

O que era para ser a noite do jazz do C6 Fest Rio de Janeiro acabou pertencendo à maior cirandeira do Brasil. Lia de Itamaracá encantou a plateia do Vivo Rio na última sexta-feira (19), quando subiu ao palco junto de Jon Batiste e sua banda para o bis.

A segunda noite carioca do C6 tinha cheiro de fracasso. A escalação era reminiscente dos palcos mais nichados do Free Jazz e Tim Festival, com artistas menos conhecidos do grande público. Porém, o que parecia um público bem esparso quando começaram os shows acabou se tornando um número saudável ao longo do lineup.

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Domi & JD Beck

Os trabalhos começaram às 20h com Domi & JD Beck. A dupla de jazz, dona de uma fama digital crescente graças ao virtuosismo dos dois demonstrado em vídeos de Instagram e TikTok, fez uma apresentação digna da notoriedade de cada um.

JD Beck é um dos bateristas em maior em ascenção graças à sua técnica assustadora, sendo capaz de fazer mudanças entre compassos complexos com facilidade enquanto opera o bumbo à la J Dilla. Domi, por sua vez, segura a cama harmônica sozinha, tocando piano, sintetizador de baixo e de pedal – às vezes, tudo ao mesmo tempo.

Foto: Pedro Hollanda

O que poderia ser um festival de pretensão e profundamente alienador não é por causa da personalidade de ambos. O senso de humor dos dois ao longo da performance é bem autodepreciativo. Todo cover – no caso, versões de Wayne Shorter e Jaco Pastorius – era antecipado por um deles anunciando como iriam arruinar um clássico. 

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Entretanto, ao discutir parcerias com músicos do calibre de Thundercat e Herbie Hancock, acabam demonstrando a chancela que lhes é conferida por alguns dos nomes mais famosos do jazz.

Repertório – Domi and JD Beck:

Whatup
Smile
Two Shrimps
Endangered Species (Wayne Shorter cover)
Bowling
Duke
Space Mountain
Take a Chance
Havona (Weather Report cover)
Not Tight
Sniff

Samara Joy

Após uma pequena pausa, Samara Joy entrou no palco. A cantora americana pode ter se tornado a inimiga número 1 de parte do público pop brasileiro ao vencer o Grammy de Melhor Revelação em 2023, superando Anitta. Porém, sua abordagem jazz tradicional não teve o menor esforço para agradar ao público já maior presente.

Joy tem um controle vocal preciso. É capaz de projetar sua voz sem o menor esforço e ainda apresentar técnicas mais comuns no canto lírico. O repertório era composto em grande parte de standards apresentados de maneira bem tradicional – ela era acompanhada por piano, contrabaixo e bateria – com o grande destaque do set sendo o cover de “Flor de Lis”, composta originalmente por Djavan.

Foto: Pedro Hollanda

Jon Batiste

A banda de Jon Batiste entrou no palco antes dele. Acompanhado de percussionistas locais, o conjunto deu início ao show com uma introdução instrumental que comibnou elementos de samba e jazz, até que o cantor e pianista entrasse com uma bandeira do Brasil na mão.

Batiste se tornou famoso como o líder da banda do “Late Show with Stephen Colbert”, antes de vencer o Grammy de Álbum do Ano por “We Are”. Apesar de uma performance extremamente enérgica e cheia de espetáculo, o show pecava pelo fato do repertório ser um tanto fraco.

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As influências de Prince, Stevie Wonder e até Bob Marley são aparentes em Batiste e sua banda, acompanhados em diversos pontos do show por três dançarinas cheias de personalidade. Contudo, é impossível não ressaltar como o melhor momento antes do bis foi quando o músico se sentou ao piano e mostrou ao público uma versão incrível do standard “St. James Infirmary Blues”.

Aí no bis, após outro standard, Batiste demonstrou duas coisas. Primeiro, a humildade de deferir o espaço a outra cantora. Segundo, um interesse verdadeiro pela música brasileira e a influência da cultura africana nesta, ao trazer Lia de Itamaracá pro palco, que cantou “Janaína” e “Eu Vi Mamãe Oxum na Cachoeira”.

O que era um show se tornou uma celebração. Ao fim, toda a banda fez um trenzinho puxado por Batiste para fora do palco e dentro do público, enquanto este tocava a melodia de “Eu Vi Mamãe Oxum na Cachoeira” numa escaleta. E presenciando esse momento, me bateu a semelhança musical entre a ciranda e “St. James Infirmary Blues”.

Por mais que a performance de Batiste não tenha sido perfeita, a memória mais forte é justamente essa: o lembrete dos laços musicais entre o jazz e a música de matriz africana no Brasil.

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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