O dia em que Jon Bon Jovi esmurrou Sebastian Bach

Mal-entendido após pegadinha em show Skid Row foi a causa da agressão ocorrida em 1989

Seria preciso vasculhar fundo os anais do rock para encontrar episódios de violência relacionados a Jon Bon Jovi. Mesmo décadas antes de patrocinar projetos sociais e, assim, demonstrar uma preocupação com o próximo rara nos ícones do hard rock oitentista, o líder do Bon Jovi sempre evitou escândalos, para a frustração dos tabloides e das colunas sociais.

Mas ninguém é de ferro. Um dia, em 1989, um mal-entendido levou Jon a extravasar fisicamente contra Sebastian Bach, então vocalista do Skid Row.

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Jon Bon Jovi, o padrinho mágico

Antes de caminhar com as próprias pernas e provar seu valor por meio de números, o Skid Row era menosprezado pela imprensa. Jornalistas apelidaram o grupo oriundo de Toms River, Nova Jersey, de “Bon Jovi Jr.” devido ao fato de Jon Bon Jovi, à época a principal personalidade do rock americano, tê-lo apadrinhado e o ajudado a chegar lá.

O apadrinhamento não foi aleatoriedade do destino: Dave “Snake” Sabo, guitarrista do Skid Row, já era amigo de Jon muito antes de “Slippery When Wet” (1986), terceiro álbum de estúdio do Bon Jovi, se tornar um dos mais vendidos da história do hard.

Em entrevista aos autores Tom Beaujour e Richard Bienstock publicada no livro “Nöthin’ But a Good Time: A História Completa e Sem Censura do Hard Rock Anos 80”, lançamento da editora Estética Torta, Sabo dá mais detalhes sobre o início dessa amizade.

“Eu estava subindo a rua em direção à casa de um amigo e o Jon estava jogando basquete do lado de fora da casa dele. Eu tinha provavelmente 10 ou 11 anos, e ele era dois ou três anos mais velho. Ele tinha uma bola de basquete azul esquisita e eu era louco por basquete. Acho que eu o desafiei para um racha ou algo parecido, e nos tornamos bons amigos. Não muito depois ele começou a tocar guitarra e eu percebi como era legal.”

Embora ambos tenham feito aulas de guitarra com o mesmo professor, seus gostos musicais não poderiam ser mais distintos:

“O Jon e eu nos tornamos muito próximos, mas tínhamos gostos musicais muito diferentes. Ele estava mais inclinado a Bruce Springsteen, Elton John e Southside Johnny, enquanto eu gostava de alguns desses artistas também, mas preferia os Aerosmith e os Judas Priest da vida.”

Da amizade teve início uma colaboração musical que coincidiu com os primórdios do Bon Jovi. A estada de Dave na banda chegou ao fim quando Jon foi apresentado a outro guitarrista de nome Richie Sambora. Por mais que tivesse motivos para tal, Sabo não só não guardou rancor como alimentou a esperança de que um dia seria recompensado.

“Quando o Jon chegou pra mim e disse que o Richie seria o novo guitarrista da banda, não fiquei chocado, nem sentido, nem nada. Amei ter podido tocar com os caras, e eles são meus amigos. Mas simplesmente não era a minha praia. Era a banda dele. O Jon sabia exatamente o que queria e o encontrou no Richie. E sabe de uma coisa? Foi absolutamente a coisa certa a fazer. Portanto, sem um pingo de ressentimento, sou grato pelo tempo que tive. […] Jon e eu continuamos bons amigos. Ele sempre dizia: ‘Cara, vou fazer o que puder por você. Monte algo ótimo ou se torne parte de algo ótimo, vou ajudar de qualquer maneira que puder’.”

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Anos mais tarde, quando Dave montou o Skid Row, Jon manteve sua promessa.

Sebastian Bach boca de latrina

Dois dias depois do lançamento de seu autointitulado álbum de estreia em janeiro de 1989, o Skid Row abriu o primeiro show da turnê de “New Jersey”, do Bon Jovi, na Reunion Arena, em Dallas. “Youth Gone Wild”, primeira música de trabalho, não recebeu tanta atenção, mas “18 and Life”, lançada em meio ao giro conjunto, logo encontrou seu posto entre as mais pedidas das rádios e do Dial MTV; o correspondente gringo ao conhecido Disk MTV.

Hormônios em alta, bom senso em baixa e o ego na estratosfera tornaram Sebastian Bach, do Skid Row, um sujeito incorrigível quando de microfone em punho. A postura do desbocado vocalista de 1,90m virou motivo de preocupação e incômodo para Jon Bon Jovi. Bach recorda:

“As asneiras que eu falava nos colocaram em todo tipo de maus lençóis, porque o Bom Jovi tinha muitos pais levando as filhas pequenas para os shows. E eu ia lá em cima: ‘F#da-se, vá se f#der, f#da-se a polícia, vamos encher a cara!’. Mas, sabe, eu assistia ao Mötley Crüe quando era jovem, e a primeira fala do Vince para o público seria algo como: ‘Ei, Toronto! Olhem só quantas b0c&tas temos aqui esta noite!’. Ríamos muito. Então, na minha mente, eu estava apenas sendo engraçado. Mas a mamãe e o papai em Centerville, Iowa, não achavam lá muito engraçado.”

A pegadinha que deu errado

Num dos últimos shows da turnê, membros da equipe técnica do Bon Jovi pregaram uma peça no Skid Row. A poucos instantes de subirem ao palco, Sebastian, Dave, Scotti Hill (guitarra), Rachel Bolan (baixo) e Rob Affuso (bateria) foram “presenteados” com um banho… de leite. Quem conta a história é Scotti Hill:

“Estávamos em Louisville, Kentucky, e estávamos a caminho do palco, e tivemos que passar por uma pequena cortina. E, quando o Sebastian passou pela cortina, um dos caras da equipe do Jon estava lá com um enorme galão de leite gelado e o derramou sobre a cabeça dele. E nessa noite em especial, acho que a segunda música do nosso set foi ‘Piece of Me’. Antes de a música começar, são apenas o baixo e a bateria, e o Sebastian começa: ‘Beleza, Jon Bon Jovi! Porque você não vem pegar um Pedaço. De. Mim!’. E o que o Jon ouve nos bastidores, através das paredes de cimento da arena, é: ‘E aí, Jon Bon Jovi! Você é um viadinho!’.”

A sonoridade das palavras em inglês provocou uma confusão nos ouvidos de Jon Bon Jovi, que pensou ter ouvido “You’re a p#ssy!” quando Sebastian Bach bradou “Piece. Of. Me!”. Voltando para o camarim, Sebastian e os outros deram de cara com Jon parado na rampa, os aguardando. “O maxilar dele estava rígido como se estivesse prestes a entrar num ringue”, relembra Rachel Bolan. Hill continua:

“Então passamos, e o Sebastian disse: ‘Me pegou bonito, hein?!’. Ou algo assim. Referindo-se ao leite. E o Jon exclamou: ‘Seu filho da p&ta!’. E deu um soco na cara dele. A porradaria estancou. Muitos ‘vá se f#der!’ e dedos apontando e uns segurando os outros.”

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Jon e Sebastian trocaram alguns socos antes de os gerentes de produção e de turnê e outras pessoas os separarem. Scotti prossegue:

“Em seguida, fomos chamados para o escritório de produção e levamos uma tremenda comida de rabo. ‘Vocês, seus filhos da p&ta, não têm o menor respeito. O c% de vocês está na minha mão’. Eu lembro disso. ‘O. C%. De. Vocês. Está. Na. Minha. Mão’.”

A versão de Bach

Em sua autobiografia “18 and Life: Minha Vida no Skid Row”, lançada no Brasil em 2018 pela editora Benvirá, Sebastian Bach conta uma versão diferente para a história. O cantor do Skid Row diz que conseguiu se desviar do soco e aponta que Jon Bon Jovi estava impaciente com o fato da jovem banda de abertura estar vendendo mais camisetas do que a atração principal.

A noite em Kentucky realmente é mencionada por Sebastian como o estopim. Contudo, ele diz que foi imobilizado por três seguranças do Bon Jovi para levar o banho de leite gelado. Irritado, voltou ao palco todo molhado e disparou trocadilhos infames com o nome do Bon Jovi.

Bach relembra que, ao fim da apresentação, “cerca de 60 pessoas” se aproximaram da banda. Na frente de todas elas, estava Jon Bon Jovi, que quis tirar satisfações, junto de seu irmão, Tony, e do pai, John Francis Bongiovi Sr. O progenitor de Jon, inclusive, teria ameaçado Sebastian de morte. Os ânimos se acalmaram em seguida, mas a turnê seguiu com sabor de torta de climão.

Skid Row: gratidão apesar de tudo

Embora reconheça que houve exagero da parte de Jon, o guitarrista do Skid Row é totalmente grato ao líder do Bon Jovi.

“O Jon foi muito justo com a gente naquela turnê. E muito bom pra nós. Mas ele estava p#to pra c@ralho. Ele se enganou com o que pensou ter ouvido, mas estava farto das m&rdas que fazíamos. Sabe, nos disseram pra não falar palavrão durante o show, e o Sebastian vivia falando; nos disseram pra não fazer isto ou aquilo, e fazíamos de qualquer maneira. Estávamos tomando liberdades. Acho que ele estava farto. E então, ele aproveitou pra tirar esse peso das costas.”

Depois de nove meses na estrada, Bon Jovi e Skid Row encerraram a turnê conjunta em Chicago para nunca mais.

O livro “Nöthin’ But a Good Time: A História Completa e Sem Censura do Hard Rock Anos 80”, está à venda no site da editora Estética Torta.

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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