Entrevista: Lucifer fala sobre vindouro show no Brasil, evolução e veia vintage

Casados, Johanna Sadonis (voz) e Nicke Andersson (bateria, também frontman do The Hellacopters) também revelaram como se conheceram e projetaram o próximo álbum, a ser lançado em 2023

Com quase uma década de carreira, o Lucifer virá ao Brasil pela primeira vez. Em show único na cidade de São Paulo, mais especificamente no Fabrique Club em 3 de dezembro, o grupo chegará para promover seu quarto álbum de estúdio, sugestivamente intitulado “Lucifer IV” e disponibilizado em outubro do ano passado.

Fundada em 2014 na cidade alemã de Berlim, a banda é comandada pela vocalista Johanna Sadonis. A formação atual conta com quatro instrumentistas suecos: o baterista – e marido da cantora – Nicke Andersson (The Hellacopters, Entombed), o baixista Harald Göthblad e os guitarristas Martin Nordin e Linus Björklund.

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A sonoridade é bem orientada ao heavy rock do fim da década de 1960 e início de 1970, com inclinação ao doom e ao occult rock. Não dá para esconder que a grande influência é o Coven, banda creditada por muitos como a real inventora do heavy metal em vez do Black Sabbath, mas também dá para citar referências ao Blue Cheer, Black Widow, o “amigo” Lucifer’s Friend e, por que não, o próprio Sabbath. Só não chame de “stoner”, já que Sadonis odeia este título.

Em entrevista coletiva acompanhada pelo site, Johanna Sadonis e Nicke Andersson foram convidados pelo colaborador Vagner Mastropaulo a refletir, inicialmente, sobre o que justificaria o curioso sucesso do Lucifer no Brasil. Ainda que esteja para se apresentar no país pela primeira vez, o grupo tem São Paulo como cidade que mais ouve seus trabalhos no Spotify. A cantora respondeu:

“Comentários vêm do Brasil e os leio desde que o Lucifer existe, acho que 2014. Então são oito anos, eu também vi essa estatística e estou muito empolgada. Vamos ver se todos esses ouvintes do Spotify aparecem no show. Apenas sei que há uma enorme cena de rock e metal por aí.”

O baterista, tão conhecido pelas funções de vocalista e guitarrista no The Hellacopters, complementou em tom de brincadeira:

“Parece que São Paulo tem um gosto musical muito bom!”

O que esperar do show

A julgar pelos repertórios recentes do Lucifer em turnê pela Europa, o show no Brasil será bastante orientado a promover “Lucifer IV”. Quando não estão em festivais – o que provoca o encurtamento dos setlists –, costumam tocar sete canções do novo disco, com destaques para “Bring Me His Head”, “Crucifix (I Burn For You)” e “Wild Hearses”, escolhidas como “músicas de trabalho” da obra.

O restante da noite comumente traz faixas dos dois álbuns anteriores, “Lucifer II” (2018) e “Lucifer III” (2020). Ou seja: nada da estreia homônima de 2015. Se há uma razão para isso, Nicke Andersson desconhece.

“Pode parecer, para alguém de fora, que: ‘ah, provavelmente é porque os novos membros não querem tocar as músicas mais velhas’. E isso não é verdade! Adoro o primeiro álbum. Gostaria de tocá-lo com mais frequência. Talvez com o passar do tempo.”

Líder e única integrante presente em todas as formações do projeto, Johanna Sadonis explica de forma mais elaborada:

“Amo o primeiro álbum, então não é por isso. Apenas acho que, na ‘encarnação’ anterior do Lucifer, excursionei tanto somente com o primeiro álbum – pois era tudo que tínhamos por um tempo – que, quando finalmente fizemos ‘Lucifer II’, ‘Lucifer III’ e ‘Lucifer IV’, tendo todos eles depois, fiquei super animada com o material novo. Talvez seja porque as composições mais novas sejam mais ‘rock’ ao vivo. Não quero cantar ‘Abracadabra’ pela milionésima vez, pelo menos neste momento, mas isso pode mudar. Simplesmente tem sido muito divertido tocar o material novo.”

Retrô até em clipe

O som do Lucifer quase chega junto de um cheirinho de “guardado”, já que a pegada é bem vintage. Referências de pelo menos 50 anos atrás ajudam a construir a identidade musical do grupo – o que não é exatamente novidade, já que o revival desse nicho tem rolado desde o início do século 21, mas a voz e o estilo de composição de Johanna Sadonis certamente oferecem um tempero diferente ao movimento.

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A estética old school também se reproduz nos materiais de divulgação, como videoclipes. Um claro exemplo é o de “Bring Me His Head”, inspirado pelo clássico filme oitentista “Carrie, a Estranha”. À época, Sadonis comentou sobre a produção:

“‘Carrie, a Estranha’ é um dos meus filmes favoritos. Sendo a vida toda uma pessoa que nunca se encaixou, eu sempre me identifiquei com ela. Estamos muito empolgados porque desta vez pudemos trabalhar com o diretor Amir Chamdin e o fotógrafo Crille Forsberg em nossos vídeos. O trabalho deles é de tirar o fôlego.”

Agora perguntada sobre o material, a cantora declarou:

“Foi muito divertido, mas, vocês sabem: não temos um orçamento de US$ 1 milhão, então temos de trabalhar com qualquer coisa que a gente tenha, então o vídeo foi filmado com uma câmera antiga, tubular, do fim dos anos 1970. É por isso que parece vintage. Tínhamos apenas um take para a cena com o sangue porque eu estava usando um vestido também dos anos setenta – e eu só tinha aquele mesmo. Então o sangue só podia cair sobre mim uma vez e tinha que ficar perfeito porque, se desse errado, não havia outro vestido. Tudo se encaixou, filmamos em um dia e assustei muitas crianças na rua quando saí para fumar depois da cena com o sangue! [Risos]”

Lucifer é “mais banda” agora?

Justamente por sua curiosa popularidade no Brasil, muitos fãs – incluindo o editor deste site – puderam acompanhar o Lucifer conforme o lançamento dos álbuns. A impressão é de que, a cada trabalho, eles soam cada vez mais como “banda” e menos como um projeto de Johanna Sadonis, a despeito das constantes mudanças de formação.

Nicke Andersson, que gravou os três últimos álbuns e talvez seja um dos grandes responsáveis por ajudar a dar uma cara de “banda” ao Lucifer, pensou bastante e até hesitou um pouco ao ser convidado para comentar a respeito de tal análise. Em sua visão, o processo de estabelecimento de uma sonoridade foi natural, já que houve menor rotatividade de músicos nos últimos anos.

“Acho que não somos nós que devemos dizer isso, mas acho que: ‘Lucifer I’ foi um álbum feito por uma formação, ‘Lucifer II’ tinha um line-up diferente e depois disso nos tornamos gradualmente a banda que somos hoje. Faz certo sentido que o último álbum soe mais como um esforço em grupo porque é assim que as coisas são. Digamos que se tivéssemos continuado com a mesma formação do primeiro álbum, então acho que ‘Lucifer III’ ou ‘Lucifer IV’ também soariam como um esforço coletivo.”

Coube à líder oferecer uma perspectiva mais completa, já que ela participou de todos os álbuns.

“Em primeiro lugar, sempre houve dois compositores. No primeiro álbum, Gaz Jennings e eu; no segundo e no terceiro fomos Nicke e eu; na maior parte do último, fomos Nicke e eu, exceto duas músicas que fiz com o guitarrista, Linus Björklund [nota: uma delas, “Crucifix (I Burn For You)”, foi mencionada depois], e uma música que é interlúdio acústico, mais parecido com uma trilha sonora de filme e feito por Martin Nordin, o outro guitarrista [nota: “The Funeral Pyre”]. É apenas um desenvolvimento natural, sabe? Passamos a nos conhecer mais como amigos dentro da banda. Crescemos juntos, saímos em turnê juntos, você aprende sobre a vida pessoal de cada um, os gostos musicais com maior profundidade. Você simplesmente conhece melhor a pessoa e, de algum modo, esta máquina que é o Lucifer está mais bem lubrificada agora. Isso é ótimo.”

Pessoal e futuro

Em resposta a outras perguntas de colaboradores, Johanna Sadonis e Nicke Andersson foram convidados a abordar dois pontos diferentes: a vida pessoal e o futuro do Lucifer. O primeiro tópico citado surgiu em resposta ao colega Dewindson Wolfheart, que quis saber como os dois se conheceram. A cantora respondeu:

“Eu estava morando em Berlim, de onde venho, e Nicke tinha um show de lançamento de um álbum com a outra banda dele, o Imperial State Electric. Temos um amigo mútuo que me convidou para o show. Nicke e eu tínhamos nos conhecido antes casualmente, mas nesta noite começamos a tomar uns drinks juntos, a falar sobre Blue Öyster Cult e a conversa nunca acabou… Falamos até o sol raiar, ele tinha que sair da cidade para seguir adiante e simplesmente seguimos conversando. […] O papo começou porque nenhum de nós já tinha assistido ao Blue Öyster Cult ao vivo, queríamos muito vê-los porque somos grandes fãs e estávamos preocupados que talvez eles fossem usar camisas havaianas.”

Com relação ao futuro – da banda, não da relação –, a colega Tamira Ferreira quis saber a respeito de “Lucifer V”, próximo álbum, programado para sair em 2023. A cantora destacou:

“Não acho que eu possa entregar nada sobre o próximo álbum, mas não esperem que mudemos completamente. Não acho que isso vá acontecer. Não há um conceito, o único objetivo é que todas as músicas têm que ser boas no sentido da composição. Elas meio que têm que te pegar nas estrofes e no refrão, elas devem fazer sentido, te chacoalhar ou te tocar. Elas têm que significar alguma coisa, sabe? Jamais colocaremos algo num álbum que esteja apenas preenchendo um vazio ou algo assim.”

Serviço do show

Lucifer em São Paulo

  • Quando: 03 de dezembro de 2022 (sábado), a partir das 18h
  • Onde: Fabrique Club (R. Barra Funda, 1071 – Barra Funda, São Paulo – SP)
  • Atrações de abertura: Grindhouse Hotel e Mattilha
  • Produção: Xaninho Discos e Tumba Produções
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Ingressos à venda no site Bilheto. Valores:

  • Pista meia lote 1: R$ 120
  • Pista promocional lote 1: R$ 120 (doe 1 kg de alimento)
  • Pista inteira lote 1: R$ 240

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Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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