Ian Stewart: o músico que era feio demais para ser um Rolling Stone

Embora tenha sido um dos fundadores da banda, pianista morto em 1985 foi relegado aos bastidores

Em 12 de julho de 1962, os Rollin’ Stones (como eram chamados inicialmente, em homenagem à música homônima de Muddy Waters) realizaram seu primeiro show em um pequeno porão na Oxford Street, em Londres, chamado The Marquee Club. Vestidos de terno e gravata, o vocalista Mick Jagger, os guitarristas Keith Richards e Brian Jones, o baixista Derek Taylor, o baterista Mick Avory e o pianista Ian Stewart, o “Stu”, ganharam um cachê simbólico de 20 libras.

No fim de outubro de 1962, Bill Wyman entrou no lugar de Taylor. Em janeiro de 1963, depois de recusar ofertas para ingressar nos Stones por quase um ano, Charlie Watts assumiu a bateria. E em abril, ao assinarem com o empresário Andrew “Loog” Oldham, mal sabiam os rapazes que estavam selando o destino de seu colega Stu.

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Oldham os fez adicionar o “g” para torná-los os Rolling Stones e sugeriu a Keith que seu sobrenome deveria passar a ser “Richard” visando a uma associação com Cliff Richard, o maior ídolo pop da Inglaterra da época. Para tornar a banda mais atraente para o público feminino, a colocou em jeans pretos apertados, suéteres pretos e botas no estilo das dos Beatles. Também pediu a todos que deixassem os cabelos crescerem.

Quando da assinatura de um contrato com a Decca em junho, Oldham insistiu que Stewart não combinava com a imagem do grupo e teria que sair. De acordo com o empresário, parecer normal era errado para os Stones. Como os outros sempre haviam admirado Stu por sua habilidade, decidiu-se que ele continuaria a fazer parte do time, ainda que nos bastidores: sob nenhuma circunstância ele deveria aparecer em fotografias da banda ou subir ao palco com ela.

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https://www.youtube.com/watch?v=QHjlnn8lKqk

Quem foi Ian Stewart

Nascido Ian Andrew Robert Stewart em 18 de julho de 1938 em Pittenweem, Escócia, Stu, de fato, continuou fazendo parte do time. Contribuiu tocando piano, órgão, piano elétrico e percussão para todos os álbuns dos Rolling Stones lançados entre 1964 e 1986, exceto “Their Satanic Majesties Request”, “Beggars Banquet” e “Some Girls” – cujas sessões boicotou em razão da insistência de Mick Jagger de tocar guitarra em algumas faixas. “Parecia a p#rra do Status Quo”, disse ele.

Entre os hinos dos Stones que trazem a assinatura musical de Stu, estão “Honky Tonk Women”, “Brown Sugar” e “It’s Only Rock ‘N’ Roll (But I Like It)”. Também gravou com o Led Zeppelin – adivinha quem é que toca o piano na clássica “Rock And Roll”? – e com o George Thorogood and the Destroyers em seu mais famoso álbum, “Bad to the Bone”, de 1982.

Ressentimento

Ao longo dos anos, Stu nunca teve papas na língua para criticar os Stones. Embora tenha tocado em duas de suas faixas – “Silver Train” e “Star” –, chamou “Goats Head Soup” de “infinitamente sem graça”. Também criticava as rotinas sexuais e de entorpecentes de Mick e Keith.

Passados 18 anos da expulsão que o fez, nas palavras do autor Alan Clayson, “flutuar na hierarquia, incógnito, em algum lugar entre os carregadores de equipamentos e o eixo Jagger-Jones-Richards”, comentou:

“Se Andrew ‘Loog’ Oldham estivesse sendo consumido pelo fogo, eu nem sequer mijaria nele.”

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Importância reconhecida

Ainda que rebaixado de membro efetivo a roadie e eventual colaborador, Ian Stewart foi amplamente reconhecido como a cola que mantinha as peças nos lugares certos. “Poucas, pouquíssimas pessoas se dão conta de quão importante ele era para os Stones”, disse Keith Richards quando da morte de Ian.

Na autobiografia “Vida”, o guitarrista vai além:

“Ian Stewart. Ainda estou trabalhando por causa dele. Para mim, o Rolling Stones é a banda dele. Sem seu conhecimento e sua organização, sem o salto que ele deu em relação a suas origens para correr o risco de tocar com um bando de moleques, a gente não teria ido a lugar nenhum.”

Mick Jagger completa:

“Stu foi o único cara que tentamos agradar. Sempre buscávamos sua aprovação quando estávamos compondo ou ensaiando uma música. Queríamos que ele gostasse.”

Adeus

Ian “Stu” Stewart teve um infarto fulminante em 12 de dezembro de 1985. Ele tinha 47 anos.

“Dirty Work”, talvez o pior álbum dos Stones de todos os tempos, foi dedicado a ele. Os 30 segundos de “Key to the Highway” ouvidos na sequência da derradeira “Sleep Tonight” são talvez seu último registro de que se tem notícia.

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

3 COMENTÁRIOS

  1. Ian Stewart, por que era feio ? Até parece que os demais são a excelência da beleza !
    Talvez o cara não entrasse no mundo dos narcóticos por isso foi excluído do grupo.

  2. Sempre vejo o Dirty Work sendo acusado de ser um disco de péssimo para terrível. Mas eu gosto bastante dele. É um disco bem podreira que em coisas muito boas. “Too rude”, “Harlem Shuffle”, “Dirty Work”, “Back to zero”. Não adianta, por mais que se procure, não existe disco ruim dos Stones. Um disco ruim deles é melhor que 90% do que se produz na musica atualmente.

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