Bruce Kulick entende ficar fora do show final do Kiss, mas diz: “Kisstória não foi representada”

Membro oficial da banda entre 1984 e 1996, guitarrista creditou veto ao empresário Doc McGhee

O guitarrista Bruce Kulick integrou o Kiss entre 1984 e 1996. Apesar de ter sido um período com menor projeção em comparação aos gloriosos anos 1970, a banda conseguiu emplacar alguns hits, além de ter lançado ao menos um álbum indiscutível – “Revenge”, em 1992.

Após sua saída, quando a formação original se reuniu, o músico se manteve presente no contexto que vai além do grupo, participando de convenções e eventualmente até mesmo tocando com os antigos colegas, como no Kiss Kruise. De qualquer modo, na hora de baixar a cortina, o irmão de Bob Kulick não foi chamado.

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Questionado pelo Ultimate Classic Rock, o músico fez uma breve retrospectiva sobre suas atuações ano após ano.

“Fiz alguns eventos do tipo Kiss Expo com Peter Criss. Ele sempre foi caloroso e divertido comigo. Isso está relacionado ao Creatures Fest, onde, na verdade, ele disse: ‘eu adoraria participar da sua banda’. Tocamos uma música juntos e foi muito bom. Ace Frehley e eu trocamos mensagens de vez em quando, mantemos contato. Ele também sempre foi muito gentil. Já comentou que sou o melhor guitarrista do Kiss depois dele (risos). Significa muito para mim. Não há dúvida de que ter esse bom relacionamento com todos é algo positivo.”

Sendo assim, por que Bruce não subiu ao palco ao menos no último show da banda, ocorrido em Nova York mês passado? Ele só pode teorizar:

“Sei que Ace falou abertamente sobre certas conversas que pode ou não ter tido com as pessoas. Ou ele fez comentários sobre o que ele queria e coisas assim. Não sei o que pode ou não ter acontecido com Peter e Ace, se foram realmente convidados. Quando anunciaram a turnê ‘End of the Road’ pela primeira vez, disseram que todos iriam receber um convite, que isso seria divulgado como um gesto de boa vontade de Gene e Paul. Mas isso nem sempre significa que isso vai acontecer em grande estilo.

Vou dar um passo adiante e apenas dizer: não, não fui convidado para estar lá. Já imaginava quando anunciaram os shows finais. Doc (McGhee, empresário) participou de um podcast e alguém perguntou sobre a minha presença. Ele respondeu que o Kiss não é uma banda de jam. Em outras palavras, meio que zombou de mim subindo lá e tocando com eles, o que já havia feito no Kiss Kruise junto a Ace, certo?”

Bruce Kulick e Doc McGhee

A seguir, Kulick seguiu atacando o manager da banda, o responsabilizando por sua exclusão – embora, sejamos honestos, Gene Simmons (voz e baixo) e Paul Stanley (voz e guitarra) tivessem o poder de passar por cima de qualquer decisão caso quisessem.

“Doc não gosta nem entende a época em que fiz parte da banda. Não participou desse período. Pessoalmente, sempre foi muito legal comigo e eu sei o quão importante ele é para a grande visão do que foi feito depois que eu saí. Mas vejo o que ele declarou sobre o Kiss não ser um grupo de jams como uma forma de anunciar ao mundo que não iria rolar. Eu entendo, ok? Não estava procurando por um momento mágico para tocar com eles no palco, mesmo que os fãs adorassem – eu realmente acredito nisso. Mas não importa.”

De qualquer modo, Bruce reconhece ter se sentido desconfortável com o contexto de não estar meramente presente no desfecho.

“Admito que foi um pouco estranho quando alguns amigos que conheço perguntaram: ‘Ei, Bruce, você está em Nova York? Vou te ver mais tarde?’. Tive que responder: ‘Não, mas divirta-se.’ O que deveria dizer, além disso? Eu quero que todos se divirtam. Significa muito para mim ver que os fãs ainda gostam. Foi irônico que pouco antes do grande evento eu estivesse voltando de um show de Grand Funk enquanto todos iam a Nova York. Disse para minha esposa Lisa: ‘Ei, isso é como o Kiss Kruise para o qual não fui convidado’. Porque todo mundo está indo para algum lugar. É como se o porto agora fosse o Madison Square Garden e a cidade de Nova York.”

Leia também:  Jake E. Lee é baleado em Las Vegas; músico deve se recuperar totalmente

A decepção dos fãs e a mágoa de Bruce

Adotando uma postura semelhante à dos membros originais que ficaram de fora, o guitarrista usou o público como parâmetro.

“Para mim, no show final, os fãs realmente falaram. Eu realmente acho que muitos deles ficaram desapontados. Sabiam que provavelmente Ace, Peter ou talvez até eu não estaríamos lá. Mas nem mencionaram o nome de ninguém. Sequer das outras pessoas importantes em sua carreira, como Bill Aucoin, o próprio Doc McGhee ou outras figuras importantes que fazem parte da Kisstória, que ajudaram a banda a ter tanto sucesso. Não vou invadir a festa quando não fui convidado. Certamente foi a noite deles. Homenageei com um post nas redes sociais, parabenizando-os. Você sabe, é a noite deles para fazer o que quiserem.”

De qualquer modo, mesmo que indiretamente, uma música em que Bruce tocou marcou presença na hora do anúncio da nova era, com os avatares. Ainda assim, dava para ter feito mais, na visão do artista.

“O que haveria de errado em mencionar os outros caras? Ou até mesmo mostrado algumas imagens de qualidade? Um vídeo de cinco minutos teria ajudado muito em um evento como esse. O que posso dizer? Eu sei que muitos fãs ficaram desapontados. Não falei nada sobre isso, imagino que o grande diferencial da noite foram os avatares. Senti um prazer culposo quando foram apresentados com ‘God Gave Rock and Roll to You II’ e a minha guitarra. Foi bom estar conectado de certa forma, uma música da era ‘Revenge’ que eu acho que é uma grande parte da carreira deles. Sei que eles fecharam muitos shows com ela.”

O carinho dos fãs

Apesar de claramente ressentido, Kulick prefere ver o lado positivo no carinho que recebeu dos kissmaníacos online.

“Nas redes sociais, as pessoas escrevem: ‘Gostaria que você estivesse lá’, ‘É uma pena que você não foi’ e tudo mais. Não quero que ninguém pense que foi uma decisão minha. Simplesmente senti que não poderia estar envolvido de outra forma que não com um convite. Não parecia certo para mim. Sei que teriam me colocado na lista se pedisse, mas se me quisessem lá, teriam me convidado. Eu respeitei isso.”

A situação foi diferente da cerimônia do Rock and Roll Hall of Fame 2014, quando os quatro originais foram induzidos. Mesmo assim, a “família” esteve presente de forma quase completa.

“Gene e Paul me convidaram, me levaram de primeira classe e eu fiz parte da comitiva. Estava lá para apoiá-los, mesmo não tendo sido um dos homenageados. Sentei-me à mesa com a família, Tommy e Eric. Tom Morello gentilmente mencionou todos os membros da banda durante seu discurso de introdução. Todos nós sabemos que isso aconteceu de maneira estranha, porque o Hall da Fama só queria introduzir os originais. Achei errado, mas era o que eles queriam fazer. Mas eu estava lá. A Kisstória foi representada no Hall of Fame, mas não no último show da banda.”

Sobre o Kiss

Idealizado por Paul Stanley e Gene Simmons, o Kiss vendeu mais de 100 milhões de discos em toda a carreira. É a banda de rock americana com maior número de discos de ouro e platina em toda a história.

A formação derradeira contou com o guitarrista Tommy Thayer e o baterista Eric Singer. Ace Frehley e Peter Criss, respectivos membros originais de cada função, teriam sido sondados sobre uma participação. Porém, não houve um acerto entre as partes e eles devem ficar de fora da despedida.

A “End of the Road Tour” passou duas vezes pelo Brasil, em 2022 e 2023. O giro mundial teve início antes da pandemia, obviamente sendo interrompido por conta da situação.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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Após sua saída, quando a formação original se reuniu, o músico se manteve presente no contexto que vai além do grupo, participando de convenções e eventualmente até mesmo tocando com os antigos colegas, como no Kiss Kruise. De qualquer modo, na hora de baixar a cortina, o irmão de Bob Kulick não foi chamado.

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Questionado pelo Ultimate Classic Rock, o músico fez uma breve retrospectiva sobre suas atuações ano após ano.

“Fiz alguns eventos do tipo Kiss Expo com Peter Criss. Ele sempre foi caloroso e divertido comigo. Isso está relacionado ao Creatures Fest, onde, na verdade, ele disse: ‘eu adoraria participar da sua banda’. Tocamos uma música juntos e foi muito bom. Ace Frehley e eu trocamos mensagens de vez em quando, mantemos contato. Ele também sempre foi muito gentil. Já comentou que sou o melhor guitarrista do Kiss depois dele (risos). Significa muito para mim. Não há dúvida de que ter esse bom relacionamento com todos é algo positivo.”

Sendo assim, por que Bruce não subiu ao palco ao menos no último show da banda, ocorrido em Nova York mês passado? Ele só pode teorizar:

“Sei que Ace falou abertamente sobre certas conversas que pode ou não ter tido com as pessoas. Ou ele fez comentários sobre o que ele queria e coisas assim. Não sei o que pode ou não ter acontecido com Peter e Ace, se foram realmente convidados. Quando anunciaram a turnê ‘End of the Road’ pela primeira vez, disseram que todos iriam receber um convite, que isso seria divulgado como um gesto de boa vontade de Gene e Paul. Mas isso nem sempre significa que isso vai acontecer em grande estilo.

Vou dar um passo adiante e apenas dizer: não, não fui convidado para estar lá. Já imaginava quando anunciaram os shows finais. Doc (McGhee, empresário) participou de um podcast e alguém perguntou sobre a minha presença. Ele respondeu que o Kiss não é uma banda de jam. Em outras palavras, meio que zombou de mim subindo lá e tocando com eles, o que já havia feito no Kiss Kruise junto a Ace, certo?”

Bruce Kulick e Doc McGhee

A seguir, Kulick seguiu atacando o manager da banda, o responsabilizando por sua exclusão – embora, sejamos honestos, Gene Simmons (voz e baixo) e Paul Stanley (voz e guitarra) tivessem o poder de passar por cima de qualquer decisão caso quisessem.

“Doc não gosta nem entende a época em que fiz parte da banda. Não participou desse período. Pessoalmente, sempre foi muito legal comigo e eu sei o quão importante ele é para a grande visão do que foi feito depois que eu saí. Mas vejo o que ele declarou sobre o Kiss não ser um grupo de jams como uma forma de anunciar ao mundo que não iria rolar. Eu entendo, ok? Não estava procurando por um momento mágico para tocar com eles no palco, mesmo que os fãs adorassem – eu realmente acredito nisso. Mas não importa.”

De qualquer modo, Bruce reconhece ter se sentido desconfortável com o contexto de não estar meramente presente no desfecho.

“Admito que foi um pouco estranho quando alguns amigos que conheço perguntaram: ‘Ei, Bruce, você está em Nova York? Vou te ver mais tarde?’. Tive que responder: ‘Não, mas divirta-se.’ O que deveria dizer, além disso? Eu quero que todos se divirtam. Significa muito para mim ver que os fãs ainda gostam. Foi irônico que pouco antes do grande evento eu estivesse voltando de um show de Grand Funk enquanto todos iam a Nova York. Disse para minha esposa Lisa: ‘Ei, isso é como o Kiss Kruise para o qual não fui convidado’. Porque todo mundo está indo para algum lugar. É como se o porto agora fosse o Madison Square Garden e a cidade de Nova York.”

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A decepção dos fãs e a mágoa de Bruce

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“Para mim, no show final, os fãs realmente falaram. Eu realmente acho que muitos deles ficaram desapontados. Sabiam que provavelmente Ace, Peter ou talvez até eu não estaríamos lá. Mas nem mencionaram o nome de ninguém. Sequer das outras pessoas importantes em sua carreira, como Bill Aucoin, o próprio Doc McGhee ou outras figuras importantes que fazem parte da Kisstória, que ajudaram a banda a ter tanto sucesso. Não vou invadir a festa quando não fui convidado. Certamente foi a noite deles. Homenageei com um post nas redes sociais, parabenizando-os. Você sabe, é a noite deles para fazer o que quiserem.”

De qualquer modo, mesmo que indiretamente, uma música em que Bruce tocou marcou presença na hora do anúncio da nova era, com os avatares. Ainda assim, dava para ter feito mais, na visão do artista.

“O que haveria de errado em mencionar os outros caras? Ou até mesmo mostrado algumas imagens de qualidade? Um vídeo de cinco minutos teria ajudado muito em um evento como esse. O que posso dizer? Eu sei que muitos fãs ficaram desapontados. Não falei nada sobre isso, imagino que o grande diferencial da noite foram os avatares. Senti um prazer culposo quando foram apresentados com ‘God Gave Rock and Roll to You II’ e a minha guitarra. Foi bom estar conectado de certa forma, uma música da era ‘Revenge’ que eu acho que é uma grande parte da carreira deles. Sei que eles fecharam muitos shows com ela.”

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A situação foi diferente da cerimônia do Rock and Roll Hall of Fame 2014, quando os quatro originais foram induzidos. Mesmo assim, a “família” esteve presente de forma quase completa.

“Gene e Paul me convidaram, me levaram de primeira classe e eu fiz parte da comitiva. Estava lá para apoiá-los, mesmo não tendo sido um dos homenageados. Sentei-me à mesa com a família, Tommy e Eric. Tom Morello gentilmente mencionou todos os membros da banda durante seu discurso de introdução. Todos nós sabemos que isso aconteceu de maneira estranha, porque o Hall da Fama só queria introduzir os originais. Achei errado, mas era o que eles queriam fazer. Mas eu estava lá. A Kisstória foi representada no Hall of Fame, mas não no último show da banda.”

Sobre o Kiss

Idealizado por Paul Stanley e Gene Simmons, o Kiss vendeu mais de 100 milhões de discos em toda a carreira. É a banda de rock americana com maior número de discos de ouro e platina em toda a história.

A formação derradeira contou com o guitarrista Tommy Thayer e o baterista Eric Singer. Ace Frehley e Peter Criss, respectivos membros originais de cada função, teriam sido sondados sobre uma participação. Porém, não houve um acerto entre as partes e eles devem ficar de fora da despedida.

A “End of the Road Tour” passou duas vezes pelo Brasil, em 2022 e 2023. O giro mundial teve início antes da pandemia, obviamente sendo interrompido por conta da situação.

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João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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