Kraftwerk e Mdou Moctar brilham no 2º dia do C6 Fest São Paulo

Música eletrônica e guitarra tuaregue deram tom do festival no sábado (20); pena que os dois shows coincidiram em horário, enquanto outros ficaram vazios

O segundo dia do C6 Fest em São Paulo teve como protagonistas a música eletrônica do Kraftwerk e a explosão de timbres e solos da guitarra tuaregue do Mdou Moctar. Foram deles os melhores shows de sábado (20), já cotados também para figurar entre os mais marcantes de todo o festival, que se encerra neste domingo (21) com mais alguns nomes de peso: Caetano Veloso, The War on Drugs e Samara Joy, por exemplo.

Uma pena, no entanto, que o público que compareceu ao Parque Ibirapuera tenha tido que escolher entre as duas atrações. Kraftwerk e Mdou Moctar se apresentaram praticamente no mesmo horário, nos palcos Plateia Externa e tenda Heineken, respectivamente. Sim, já era algo sabido previamente, mas nem por isso foi menos lamentado.

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Por outro lado, artistas como o camaronês Blick Bassy atraíram quase nenhum interesse e tocaram para um público diminuto num fim de tarde que poderia ter sido melhor aproveitado em termos de distribuição de atrações.

*Textos de Gabriel Caetano e Guilherme Gonçalves. Fotos de Gustavo Diakov / @xchicanox. Role para o lado para visualizar todas. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Plateia Externa vs. Tenda Heineken

O evento serviu uma noite quente em meio ao frio da capital paulista. Na Plateia Externa, dedicada à música eletrônica, era notória uma comunhão de gerações (30 anos para mais) que, à priori, pareciam estar ali somente para assistir o Kraftwerk, atração principal do dia. Porém, o decorrer do dia de festival mostrou que não era bem assim.

Já a Tenda Heineken preconizou a música negra, em especial a vinda da África. Subiram ao palco nomes como Blick Bassy, de Camarões; o tuaregue Mdou Moctar, do Níger; e Jon Batiste (fotos abaixo), oriundo de uma família afrodescendente ligada à música e ao ativismo no estado americano da Lousiana. Além deles, também marcou presença o combo brasileiro formado por Russo Passapusso, Orquestra Nomade, BNegão e Kaê Guajajara, que se juntaram para uma apresentação única e pensada exclusivamente para o festival.

*Fotos de Gustavo Diakov / @xchicanox. Role para o lado para visualizar todas. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

De modo geral, porém, todos da Tenda Heineken sofreram com a concorrência do Kraftwerk. Nas quatro apresentações, a sensação era de que os artistas mereciam um público maior.

Quanto à estrutura e organização, tudo correu com pontualidade e sem problemas. Com estrutura digna de um evento que, se cravar raízes no calendários de festivais, o C6 Fest promete cultivar público e ganhar notoriedade entre os fãs de música – mesmo que a divulgação dessa edição não tenha sido tão ampla.

Blick Bassy: belo, mas pouco empolgante

*Por Guilherme Gonçalves

O primeiro a entrar em cena no sábado (20) foi o cantor e compositor Blick Bassy, às 17h. O camaronês se apresentou para não mais do que 100 pessoas em um local projetado para abrigar cerca de 5 mil.

Completado por outros dois músicos (no teclado e pedais de efeito), o trio fez um show morno e que não empolgou tanto.

A sonoridade é bonita, mas com uma atmosfera tranquila até demais, que não casou com o contexto de festival, ainda mais em um palco tão grande. Talvez se tivesse sido no Auditório, o show pudesse cativar mais.

*Fotos de Gustavo Diakov / @xchicanox. Role para o lado para visualizar todas. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Juan Atkins, o rei do techno de Detroit

*Por Gabriel Caetano

Quando começou a apresentação de Juan Atkins, notei que o público ao redor na Plateia Externa não tinha muita familiaridade com o DJ. Seu projeto Model 500 – ativo desde 1985 – apresentou techno de respeito, com as batidas “industriais” que fazem parte de sua assinatura. Som que, inclusive, tem a ver com Detroit, uma cidade tomada por indústrias e duras linhas de produção.

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Seu telão era um show à parte. Como estava bem próximo ao palco, confesso que tive alguma dificuldade para notar as projeções. Ainda assim, deu para notar que elas evocavam desde referências ao cyberpunk e a ficção científica até cenas do filme “Metrópolis”, de Fritz Lang. Tudo em perfeita simbiose com setlist, enquanto o público ainda se mostrava apenas no aquecimento para o que estava por vir.

*Fotos de Gustavo Diakov / @xchicanox. Role para o lado para visualizar todas. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Russo Passapusso e sua trupe

*Por Guilherme Gonçalves

Logo na sequência, Russo Passapusso e seus convidados escancaram o contraste. O cantor do BaianaSystem esteve acompanhado por uma verdadeira big band, com Orquestra Nomade, B Negão e Kaê Guajajara, e teve êxito em colocar o público para dançar.

Com um belo naipe de metais e muito groove, o combo executou músicas de todos os envolvidos, desde “(Funk) Até o Caroço”, do BNegão & Os Seletores de Frequência, até “Reza Forte”, do BaianaSystem. Entre as canções, Kaê Guajajara fez discursos incisivos, sobretudo sobre demarcação de terras indígenas no Brasil.

Repertório:

  1. Intro
  2. Agente Russo
  3. Reza Forte
  4. Funk Até o Caroço
  5. Kaê Número 5
  6. Morning Birds
  7. Essa é Pra Tocar no Baile
  8. Casa da Árvore
  9. Lucro
  10. Ka’e Hu
  11. Libertação

Mdou Moctar: pouco visto, mas histórico

*Por Guilherme Gonçalves

Pouco depois das 19h, Mdou Moctar começou sua apresentação praticamente no mesmo horário em que o Kraftwerk iniciava os trabalhos no Plateia Externa. Uma pena dois dos shows mais aguardados do C6 Fest terem coincidido. Mas quem esteve na tenda Heineken saiu com a sensação de ter visto algo histórico.

Encabeçada pelo guitarrista, cantor e compositor tuaregue Mahamadou Souleymane (aka M.dou Mouktar), a banda faz um som completamente instigante e tem hoje um trabalho de timbres e solos de guitarra inigualável. É rock e blues direto do deserto do Saara, com simplicidade e virtuosismo na medida certa.

Enquanto a guitarra base de Ahmoudou Madassane cria uma panorama hipnótico e calcado na repetição de acordes simples, até meio punk às vezes, Mahamadou Souleymane vai distribuindo solos em profusão, acompanhado pela bateria acachapante de Souleymane Ibrahim, que redefine as marcações e o tempo de forma nada ortodoxa. É belo, intenso, dançante e surpreendente ao mesmo tempo, pois não se sabe exatamente o que vem pela frente.

Na frente do palco, muitas pessoas dançaram ao som de “Iblis Amghar”, “Chismiten” e “Tala Tannam”, algumas das faixas de destaque do incrível “Afrique Victime” (2021), quinto álbum do Mdou Moctar. Sem dúvida, um show que ficará marcado como um dos grandes momentos da primeira edição do C6 Fest.

Foto: Guilherme Gonçalves

Kraftwerk, a usina de hits

*Por Gabriel Caetano

Pioneiro da música eletrônica, o Kraftwerk trouxe gente de todo país para ver exclusivamente o grupo na Plateia Externa do C6 Fest. Dos membros fundadores do grupoalemão, estava apenas Ralf Hütter, acompanhado por Henning Schmitz, Falk Grieffenhagen e Georg Bongartz.

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Conversei com gente de outras cidades e estados que pegariam a estrada de volta, já no domingo (21), ignorando o próximo dia de festival. Esse é o tamanho da banda que volta ao Brasil pela quarta vez.

*Fotos de Gustavo Diakov / @xchicanox. Role para o lado para visualizar todas. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Assistir ao grupo é testemunhar a evolução dos sintetizadores e teclados na música ao longo do tempo. Em um show enxuto como esse, é difícil fazer uma seleção unânime de hits como as que foram desfilados, mas ninguém ficou desagradado.

De fato, essa seleção parecia menos importante que a presença do quarteto, especialmente de Ralf Hütter, por quem muita gente na frente do palco estava pulsando aos potentes graves que o som armado emitia.

Ao final, com “Music Non Stop”, todos já sabiam que era o fim da apresentação. E como num ritual, os integrantes do Kraftwerk se despediram um a um após um solo de cada.

Eles, que começaram um show mais gélidos e concentrados, ao final, pareciam satisfeitos com sua música e com o abraço que receberam do povo presente.

*Fotos de Gustavo Diakov / @xchicanox. Role para o lado para visualizar todas. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Repertório – Kraftwerk:

  1. Numbers – Computer World
  2. Spacelab
  3. The Man-Machine
  4. Autobahn
  5. Computer Love
  6. The Model
  7. Tour de France 1983 – Prologue – Tour de France Étape 1 – Chrono – Tour de France Étape 2
  8. Trans Europe Express – Metal On Metal – Abzug
  9. The Robots
  10. Planet of Visions
  11. Boing Boom Tschak – Music Non Stop

Underworld: Brazil, you are beautiful

*Por Gabriel Caetano

O Underworld pegou uma barra pesada na Plateia Externa e deu conta do serviço. Precisava manter acesa a plateia hipnotizada pelo Kraftwerk.

Ao contrário do que aconteceu no Rio de Janeiro, o público não deixou a arena e já na abertura se aglomerou na frente do palco para ver o próximo show. Tomados pela energia de Karl Hyde e Rick Smith durante a horinha em que o Underworld tocou, o público dançou e curtiu ainda mais a noite de sábado no Ibirapuera.

Hyde é enérgico e não para de dançar, invocando também a participação do público – que respondia não só balançando a cabeça, mas com gritos e agitos das mãos.

Se havia qualquer desconfiança do duo ser conhecido apenas pela “trilha de ‘Trainspotting’”, a teoria desabava a cada nova música. Foi a apresentação onde o público se mostrou mais solto, de certo modo, até explosivo, graças à sinergia firmada entre banda e audiência.

Encerrando sua apresentação, Karl Hyde, visivelmente emocionado pela entrega, abraçou o parceiro e apontando para o público, declarou: “Brazil, you are beautiful”.

*Fotos de Gustavo Diakov / @xchicanox. Role para o lado para visualizar todas. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Repertório – Underworld:

  1. Gene Pool
  2. Two Months Off
  3. Dark & Long
  4. Push Upstairs
  5. King of Snake
  6. Rez / Cowgirl
  7. And the Colour Red
  8. Born Slippy .NUXX

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