The War on Drugs fecha o C6 Fest no Rio com show arrebatador

Primeira edição do festival pode não ter lotado, mas ao menos os shows foram bons o suficiente para criar muita publicidade positiva

Adam Granduciel estava de bom humor. Durante todo o set do The War on Drugs no último dia do C6 Fest no Rio de Janeiro, no último sábado (20), o frontman set distribuía elogios para a plateia, o Brasil, jogava palhetas de brincadeira para os companheiros de banda e prometia que essa era a primeira de muitas vezes deles no país. 

Entre esses momentos, o grupo fez uma apresentação impressionante, sem dever nada aos palcos de grandes festivais ou sequer o registro ao vivo “Live Drugs”. Pouco importava que o Vivo Rio não estivesse cheio, talvez até com o menor público do C6 Fest até aqui. O The War on Drugs nesse momento é à prova disso tudo.

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Considerações gerais

Antes de falar sobre as apresentações do sábado (20), vale apontar algumas considerações gerais sobre a edição carioca e sobre o festival em si. Nos dias anteriores ao seu início, mais se falou sobre a ausência de promoção adequada do que do evento em si por vir.

O C6 Fest é organizado pela mesma produtora responsável pelos lendários Free Jazz e Tim Festival, então para fãs de música de uma certa idade, isso era garantia suficiente de qualidade da programação. 

Entretanto, passaram-se 15 anos desde a última edição do Tim. Não dá para esperar que um anúncio oficial onze semanas antes da data seja remotamente bem sucedido. Os responsáveis pelo C6 Fest pareciam se colocar em uma sinuca de bico propositalmente.

Festivais em seu primeiro ano sempre dão prejuízo, pela natureza de precisar estabelecer uma marca. Mesmo assim, o trabalho de promoção foi mal feito, causando temor em muitos de um fracasso iminente. No Rio, ao menos, o público superou as expectativas. Ainda assim, foi baixo.

Apesar de pouco público, o C6 Fest no Rio teve uma estrutura muito boa, com todas as apresentações começando na hora, terminando sempre à meia-noite e, acima de tudo, todos os shows foram bem recebidos pelas pessoas presentes. Nenhum artista fez uma apresentação remotamente ruim. 

Terno Rei

O terceiro dia começou com o Terno Rei, único artista brasileiro escalado na edição carioca. A banda paulista faz um rock profundamente influenciado por emo e shoegaze bastante vista nos Estados Unidos, mas rara entre grupos brasileiros. Isso parece ressoar com uma parcela considerável da juventude, os alçando para patamares cada vez maiores.

Foto: Pedro Hollanda

Eles fizeram uma apresentação extremamente profissional, com uma qualidade sonora invejável. Logo no início do show, em meio a gritos da plateia, eles expressaram felicidade de poder tocar com artistas do calibre do Black Country, New Road e o The War on Drugs, com o baixista e vocalista Ale Sater citando as duas bandas como influências.

Isso devia ter sido uma pista do que está por vir. Lewis Evans, saxofonista do Black Country, New Road, subiu ao palco durante a apresentação do Terno Rei, vestindo uma camisa do Flamengo de origem duvidosa, e se juntou à banda por duas canções. Atrás deste jornalista, nesse momento do show, estavam seus companheiros de grupo, o assistindo com sorrisos no rosto. Quando sua participação terminou, eles silenciosamente voltaram ao camarim.

Black Country, New Road

Após uma pausa rápida, o Black Country, New Road subiu ao palco. A banda inglesa passou por um ano turbulento, reformulando completamente seu show ao vivo após a saída do vocalista Isaac Wood devido a problemas dele com ansiedade. Isso acarretou num engavetamento de seu aclamado material anterior – os discos “For the First Time” e “Ants from Up There”.

Felizmente, o registro ao vivo desse novo show, “Live At Bush Hall”, chegou aos ouvidos suficientes da plateia jovem cantando junto em diversos momentos da apresentação. Com a saída de Wood, as responsabilidades vocais foram divididas democraticamente entre os integrantes – a baixista Tyler Hyde, a violinista Georgia Ellery, a tecladista May Kershaw e Evans.

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Foto: Pedro Hollanda

O som que em “Ants from Up There” se assemelhava ao art rock do Arcade Fire e os brasileiros do Baleia agora soa ainda mais barroco. O grupo que no início da carreira referia a si como a segunda melhor banda tributo ao Slint do mundo agora soa como se artistas folk tais quais o Fairport Convention ou o Decemberists passassem por uma fase post-rock, ouvindo muito Godspeed You Black Emperor.

O resultado ainda é irregular. As canções ainda variam demais, podendo soar como trilha sonora da Disney em momentos, mesmo com letras profundamente macabras. Os trunfos do grupo estão na forma de Hyde e Ellery, duas forças da natureza no palco, sendo capazes de capturar a atenção do público até nos momentos mais quietos na base da intensidade de sua performance.

Repertório – Black Country, New Road:

  1. Up Song
  2. The Boy
  3. I Won’t Always Love You
  4. Across the Pond Friend
  5. Laughing Song
  6. Horses
  7. Nancy Tries to Take the Night
  8. Turbines/Pigs
  9. Dancers

The War on Drugs

Falando em intensidade de performance, chegamos ao The War on Drugs. O espectro do septeto de Philadelphia pairava pelo ar desde o início da noite, em grande parte pelo toldo preto cobrindo o equipamento já montado. Quando eles finalmente subiram ao palco pouco antes das 22h, começou-se um dos melhores shows do rock atual.

O repertório, baseado principalmente nos últimos três discos do grupo – “Lost in the Dream”, “A Deeper Understanding” e “I Don’t Live Here Anymore” – é musicalmente denso, com várias camadas de sintetizadores e efeitos de guitarra ocorrendo. Entretanto, é impressionante como é possível distinguir cada camada com clareza.

Foto: Pedro Hollanda

O Vivo Rio não é uma casa de espetáculo particularmente conhecida por sua acústica, mas foi espantosa a qualidade sonora do War on Drugs. O volume de palco era bem alto, mas ao invés de distorcer, tudo parecia desabrochar. Cada instrumento era audível, e os arranjos bem pensados.

A plateia conhecia as canções, mesmo sem saber as letras perfeitamente. Em vários momentos, Adam Granduciel conversava com a plateia, comentando sobre pedidos de fãs, que iam desde faixas dos discos mais recentes até material mais antigo, como “Baby Missiles” ou “Arms Like Boulders”. 

A banda até deu uma enganada antes de “Under the Pressure”, dizendo não terem tempo para tocar a canção – com mais de dez minutos de duração – apenas para o sample de percussão em cascata que dá início a ela começar em seguida.

Foto: Pedro Hollanda

Ao final da apresentação, o público já cantava junto das melodias instrumentais. Na última canção antes do bis, o público cantava junto da introdução de teclado de “I Don’t Live Here Anymore”, com Granduciel os acompanhando enquanto apresentava a banda.

O bis foi “curto”, contendo apenas a canção “Thinking of a Place” – outra com mais de dez minutos de duração – antes que o War on Drugs deixasse o palco e o público saísse do Vivo Rio armados de um pensamento comum: quem não viu, perdeu.

E isso é uma arma para o C6 Fest usar no futuro.

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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