Entrevista: Nils Molin destrincha novo álbum do Dynazty e revela ojeriza pelo grunge

Bate-papo exclusivo do vocalista sueco com o site inclui ainda falas sobre o renascimento do hard rock no começo dos anos 2000 e o Brasil

Na qualidade de principal letrista do Dynazty, banda à qual se juntou por meio do extinto MySpace em meados dos anos 2000, Nils Molin é o cara certo para se conversar quando o assunto vai além do superficial e do óbvio.

Em “Final Advent”, concebido em tempos pandêmicos e lançado pela AFM Records (com edição em CD no Brasil pela Shinigami Records), o vocalista apresenta algumas de suas melhores letras e o grupo — completado por Love Magnusson (guitarra) Mike Lavér (guitarra), Jonathan Olsson (baixo) e Georg Härnsten Egg (bateria) — faz jus com performances individuais de primeira em meio a seu hard rock tipicamente europeu, com muitos acenos ao power/speed metal.

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Veja como foi o bate-papo.

Uma entrevista com Nils Molin (Dynazty)

Bebê pandêmico

Muitos artistas e bandas lançaram álbuns ao longo de 2022 que podem ser definidos como “bebês pandêmicos”. Nils Molin acredita que “Final Advent” até possa se encaixar nessa definição, mas afirma que o Dynazty teria trabalhado no disco independentemente se houvesse ou não uma pandemia.

“A pandemia não teve tanta influência direta porque aqui na Suécia não tivemos um lockdown. Ainda pudemos ir à casa uns dos outros para compor juntos como sempre fizemos. E como não havia nada que se pudesse fazer a respeito de turnês, mesmo de planejá-las, compor se tornou o foco principal.”

O material começou a ser composto no segundo semestre de 2020. Já as gravações se deram no segundo semestre do ano seguinte. Mesmo tendo levado esse tempo para aprontar tudo, as novidades ficam restritas a alguns aspectos musicais presentes no disco.

“Sempre tentamos ajustar e aprimorar nosso processo de trabalho a cada álbum que fazemos, e neste aqui tentamos algumas coisas que nunca havíamos tentado. Temos um solo de violão, um solo de baixo e novas técnicas. Também usamos uma guitarra chamada Evertune, construída para gravar acordes abertos e coisas assim. Ela é ótima porque não desafina, e com isso você não precisa parar de gravar para reafinar, tornando todo o processo mais eficiente.”

Por dentro das letras

As composições líricas de “Final Advent” apresentam certa inclinação a temas correlatos à mente humana e à saúde mental. Nils Molin se apresenta como entusiasta dos assuntos.

“Me interesso muito na psique humana. E o quanto interajo com outras pessoas e observo o mundo ao meu redor aparece muito nas minhas letras e nas minhas composições em geral.”

Músicas como as correlatas “Advent” e “Power of Will” são alguns dos exemplos mais claros nesse sentido.

“‘Advent’ fala sobre autoaceitação, autocrescimento e autorrealização. É sobre perceber que tipo de pessoa você quer se tornar e o que fazer para alcançar seus objetivos. ‘Power of Will’ trata de encontrar força dentro de si mesmo para ter certeza de que, não importa o que aconteça, você vai superar o que lhe aflige.”

Outro destaque na parte das letras é “Heart of Darkness”, que tem ligação com o livro homônimo escrito por Joseph Conrad e o filme nele inspirado, “Apocalypse Now”.

“A inspiração veio dele [do livro], mas também do filme. Não é necessariamente sobre o filme, mas sobre alguém que está à procura de uma saída em meio à escuridão da alma; as dificuldades e o quão sombrias podem ser as coisas quando se está sujeito a esse estado mental no qual você descobre que a única maneira de sair vivo é não confiando em ninguém a não ser em si mesmo.”

Revolução ou renascimento?

Quando o Dynazty começou, o mundo estava redescobrindo o hard rock graças a bandas como Crashdïet, Hardcore Superstar e outras que foram ficando pelo caminho. Nils Molin não esconde a empolgação por ter feito parte do que chama não de “revolução”, mas de “renascimento”.

“Na época eu tinha 16, 17 anos, e de repente havia esse monte de bandas de hard rock aparecendo em todos os lugares, mas principalmente aqui na Suécia. Eu nunca tinha visto nada parecido, pois cresci nos anos 1990 e bandas assim não apareciam na TV nem tocavam no rádio. Então veio esse ‘renascimento’. O Crashdïet estava o tempo todo na TV. A música deles tocava em comercial de automóveis! [Risos.] Isso incentivou muito de nós a começarem a tocar.”

Embora a base do som do Dynazty seja o hard rock, a cada álbum a banda vem promovendo uma aproximação com outros estilos. Em “Final Advent” mesmo, ouvem-se algumas batidas industriais e alguns refrãos tipicamente power metal. Molin pontua:

“No fundo somos amantes de música e apreciadores de muitos gêneros diferentes, mas o hard rock clássico e o heavy metal estão no nosso DNA. Não significa, no entanto, que não iremos expandir nossos horizontes musicais. Dito isso, acho que no ‘Final Advent’ nós meio que solidificamos nossa identidade musical. Mas, sim, é um trabalho em andamento, pois nenhum de nós quer se tornar musicalmente obsoleto ou estagnado. Trazer novas influências a bordo é saudável, mas acho que estamos com um som muito mais definido agora.”

Grunge? Eca!

Adentrando o campo das influências musicais, há de se destacar que muitas bandas de hard rock surgidas após os anos 1990 incorporam elementos de estilos que veteranos da década de 1980 rejeitam; leia-se o grunge. O supracitado Crashdïet, por exemplo, costumava tocar “Territorial Pissings” do Nirvana em seus shows.

Ao contrário do saudoso Dave Lepard e cia., o vocalista do Dynazty nunca foi chegado ao movimento oriundo de Seattle.

“Honestamente? Essa é uma das piores épocas do rock. [Risos.] Pode até ser que existam boas músicas no meio, mas a maioria é uma m#rda na minha opinião. Temos muitas influências dos anos 1990, mas elas não vêm do movimento grunge. Um exemplo é Rage Against the Machine. Acho absolutamente fantástico e muito melhor do que qualquer uma das principais bandas grunge.”

Embora não seja fã do movimento, Nils não cai no clichê de culpar o grunge pelo fim da era hair metal. Em sua visão, foi “apenas a ferramenta usada pela indústria fonográfica para matar o hard rock dos anos 1980”.

“Amo esse hard rock oitentista, mas havia tanta banda m#rda e sem conteúdo saturando o mercado… Por exemplo, bandas como Poison, White Lion e Warrant vendiam milhões de álbuns e não eram muito boas e havia muitas outras que eram muito melhores e foram deixadas de lado. Naquela época a MTV ditava as regras e não era tanto sobre a música, mas sim sobre o visual. Era questão de tempo até essa lógica cair por terra. Então o hard meio que se matou, daí então veio o grunge que era o extremo oposto.”

Praia e futebol no meio da rua

No Brasil, muita gente conheceu o Dynazty por causa de “This is My Life”, que a banda tocou na edição 2011 do Melodifestivalen, evento que seleciona o participante sueco do Eurovision. Embora seja um cover (a gravação original é de Anna Bergendahl), a música abriu muitas portas e rendeu muitos frutos ao grupo. Nils Molin aponta a versão como o primeiro passo para alcançar um público global.

“Até aquele momento, tínhamos lançado apenas um álbum e por uma gravadora muito pequena. ‘This is My Life’ nos mostrou que nossa carreira era algo que poderíamos começar a construir, mas nos anos seguintes houve músicas que foram muito mais importantes para nós, como ‘The Human Paradox’.”

https://www.youtube.com/watch?v=I7vdjJhH85k

Com quatro álbuns lançados em CD no Brasil, é natural o questionamento: já não seria hora de o Dynazty vir tocar em terras tupiniquins? Molin, que já veio com sua outra banda, Amaranthe, assegura que sim.

“Falta pouco, na verdade, para finamente tocarmos aí. É tudo uma questão de encontrar as pessoas certas para fazer acontecer e ter uma outra banda para fazer uma turnê conjunta. Estive com o Amaranthe em São Paulo, mas quero muito conhecer o Rio de Janeiro também. As praias, a cultura. Quero ver as pessoas jogando futebol no meio da rua e coisas assim, sabe? Sou apaixonado por futebol. E ouvi falar que o público carioca, bem como o de muitos países da América do Sul, é extraordinário. Mal posso esperar para voltar ao Brasil.”

Ouça “Final Advent”, a seguir, via Spotify, ou clique aqui para ouvir em outras plataformas.

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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