Crítica: “Jurassic World: Domínio” decepciona e é salvo por tecnologia e nostalgia

Trilogia protagonizada por Chris Pratt é concluída com trama que tira dos holofotes a alma da franquia: os dinossauros

Quantos grandes clássicos do entretenimento do passado poderiam ser revisitados com a incrível tecnologia que temos nos dias de hoje? Os grandes estúdios de Hollywood trabalham bastante com essa premissa, então, seria quase impossível não trazer novamente uma história envolvendo dinossauros – caso da franquia original “Jurassic Park” e da atual, “Jurassic World”.

Histórico da(s) franquia(s)

Em 2001, a Universal Pictures se encaminhava para lotar as salas de cinemas do mundo todo com “Jurassic Park 3”. A ideia era que a obra concluísse a trilogia iniciada em 1993 com “Jurassic Park – Parque dos Dinossauros” e prosseguida em 1997 com “O Mundo Perdido – Jurassic Park”, ambos dirigidos pelo lendário diretor Steven Spielberg.

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A produção foi conturbada: o próprio Spielberg não tinha interesse em voltar, roteiros eram recusados e a produtora Amblin Entertainment estava focada em outros projetos. Apesar do sucesso de bilheteria (US$ 368 milhões para um investimento de US$ 93 mi), a obra que acabou sendo dirigida por Joe Johnston (“Jumanji”) é mediana. Há um vilão assustador – o Espinossauro – e efeitos especiais melhores que os dos antecessores, mas o roteiro fácil nos leva a uma das piores soluções de filmes de todos os tempos.

Pulamos para 2015. Com o avanço tecnológico, a Universal reviveu a franquia, agora rebatizada, com o filme “Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros”. Com direção de Colin Trevorrow (que, competentemente, vinha buscando seu lugar ao sol), protagonizado pelo astro em ascensão Chris Pratt (“Guardiões da Galáxia”) e tendo algum dedo de Steven Spielberg, o longa foi um sucesso arrebatador. Arrecadou US$ 1,6 bilhão e chegou a entrar para a lista das 10 maiores bilheterias de todos os tempos.

O roteiro repleto de passagens desnecessárias foi compensado por uma história promissora e efeitos especiais de primeira. Há ainda um vilão assustador: o Indominus Rex, feito em laboratório com DNA misturado de um Velociraptor e um T-Rex.

Infelizmente, a sequência “Jurassic World: Reino Ameaçado” (2018) não manteve a pegada e não desenvolveu tão bem o que havia de promissor na primeira obra. Ciente dos equívocos no trabalho do diretor Juan Antonio Bayona (“O Impossível”), a Universal decidiu mudar para “Jurassic Park: Domínio”, que encerra a nova trilogia: trouxe de volta Colin Trevorrow e ainda permitiu o retorno dos antigos protagonistas da primeira sequência, dos anos 1990.

Trevorrow tinha tudo em mãos para fazer um bom fechamento – até mesmo dinossauros. Uma pena ter se esquecido justamente do elemento principal da franquia.

Dinossauros para escanteio

“Jurassic World: Domínio” é tudo, menos um filme de dinossauros. Embora não seja pior que o antecessor, repete o erro ao tentar forçar uma história com mais camadas do que deveria ter. Ao longo de seus 146 minutos, apresenta várias histórias distintas passando por cima dos animais jurássicos, que deveriam ser a alma de tudo isso.

Há pelo menos três sinopses diferentes por aqui. A oficial diz que após os eventos de “Jurassic Park: Reino Ameaçado”, a humanidade se vê obrigada a ter os dinossauros livremente entre eles, dividindo todo o ecossistema. Para garantir a sobrevivência de todos, eles deverão lutar contra pessoas que veem possibilidade de lucro nisso.

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A premissa é boa, apesar de que a origem do sucesso de “Jurassic Park” estava ligada ao tratamento intimista. Os longas de sucesso se passam em uma ilha, com um grupo limitado de pessoas, tramas em volta do perigo iminente dos seres pré-históricos, entre outros elementos. E isso é ótimo, especialmente por mesclar aventura com suspense e até terror.

Também assinando o roteiro ao lado de Emily Carmichael (“Círculo de Fogo: A Revolta”), Colin Trevorrow trouxe para a obra problemas como clonagem, modificações de DNA, sequestro, desequilíbrio do ecossistema e por aí vai. Temos, então, todo tipo de assunto humano para um filme de dinossauro.

Como resultado, os gigantescos animais ficaram “menores” do que coadjuvantes. Trajetórias que não deveriam existir dividem espaço com um sentimento de nostalgia a partir da presença dos personagens clássicos – que lidam com diversas ameaças bem diferentes das que esperávamos.

Altos e baixos no elenco

Não dá para negar que as voltas de Sam Neill como Dr. Alan Grant, Laura Dern interpretando Dra. Ellie Sattler e o incomparável Jeff Goldblum dando vida a Dr. Ian Malcom são responsáveis por fazer “Jurassic World: Domínio” ser melhor que seu antecessor. Os três atores da franquia original desempenharam um trabalho impecável. Parecem nunca ter abandonado aquele universo, especialmente pela química entre eles.

Chris Pratt (foto abaixo) e Bryce Dallas Howard, que vivem respectivamente Owen Grady e Claire Dearing, acabam deslocados da obra. Aqui, o protagonismo dos dois é justificado apenas por conta de mais uma trama extra que o roteiro apresenta. Mesmo caso da jovem Isabella Sermon, que vê sua personagem, Maise Lockwood, em um mistério novelesco.

A interpretação de DeWanda Wise como Kayla Watts decepciona por se resumir apenas a caras e bocas. BD Wong volta a reprisar seu papel como o Dr. Henry Wu, mas agora em uma pegada canastrona. Por fim, Campbell Scott reforça o quanto é experiente ao fazer o vilão Dr. Lewis Dodgson — sim, em “Jurassic World: Domínio”, o antagonista é o corporativismo de um humano com claras referências a Steve Jobs em vez de um dinossauro. Aliás, a promessa do Giganotossauro como um vilão monstruoso e histórico não se cumpre.

No fim das contas, “Jurassic World: Dominion” não é ruim, mas não empolga. Ainda é uma boa diversão para o fim de semana, especialmente pela tecnologia impressionante utilizada e pelas boas cenas de ação, que são bem feitas e repletas de frenesi. Contudo, os altos e baixos do elenco e o direcionamento que tira o protagonismo dos dinossauros deixaram uma má impressão.

* “Jurassic World: Dominion” estreia nos cinemas brasileiros na próxima quinta-feira, 2 de junho.

** Texto de Raphael Christensen editado por Igor Miranda.

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Ator, Diretor, Editor e Roteirista Formado após passagem pelo Teatro Escola Macunaíma e Escola de Atores Wolf Maya em SP. Formado em especialização de Teatro Russo com foco no autor Anton Tchekhov pelo Núcleo Experimental em SP. Há 10 anos na profissão, principalmente no teatro e internet com projetos próprios.

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