Crítica: “Top Gun: Maverick” é uma carta de amor ao cinema

Com Tom Cruise voltando a pilotar um “caça” após 36 anos, continuação direta do clássico de 1986 surpreende ao apresentar-se como candidato a melhor filme do ano

Foi curioso acompanhar a trajetória de “Top Gun: Maverick”. O filme que estreia no Brasil nesta quinta-feira (26) estava prometido para ser lançado em junho de 2020. Por conta da pandemia, acabou adiado como outras obras. Todavia, enquanto os demais títulos remarcados estreavam, a Paramount Pictures seguia aguardando o que parecia ser a “hora certa” para disponibilizá-lo.

Agora que a continuação direta de “Top Gun: Ases Indomáveis” (1986) enfim está disponível, deu para entender o motivo de tal decisão. Os executivos sabiam que tinham nas mãos uma grande obra.

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O resultado foi conquistado a duras penas. “Top Gun: Maverick” começou a ser desenvolvido há mais de uma década, em 2010, quando a Paramount conseguiu convencer o diretor Tony Scott e o produtor Jerry Bruckheimer, ambos envolvidos com o longa de 1986, a trabalharem na sequência.

Na época, Scott sabia a história que gostaria de contar e inclusive a externou. Infelizmente, em 19 de agosto de 2012, o diretor cometeu suicídio, o que colocou o projeto em hiato. Somente em julho de 2017, Joseph Kosinski – que trabalhou com o protagonista desta obra, Tom Cruise, em “Oblivion” – foi trazido para ocupar a vaga do saudoso cineasta original. O roteiro, por sua vez, passou a ser assinado por Christopher McQuarrie (vencedor do Oscar por “Os Suspeitos”, de 1995), Ehren Kruger (“Transformers 2” e “Transformers 3”) e Eric Warren Singer (indicado ao Oscar por “Trapaça”, de 2013).

Ao todo, a produção registrou nada mais, nada menos que 800 horas de material. O grandioso orçamento permitia alguns exageros: mais de US$ 150 milhões foram investidos. O processo de filmagem levou quase um ano: de maio de 2018 até abril de 2019.

Valeu a pena. “Top Gun: Maverick” é uma pura demonstração de amor à arte do cinema. Brilhante e sem erros, o longa não só acerta ao nos fazer voltar ao passado como também é capaz de convencer a nova geração.

O trabalho de Joseph Kosinki se sobressai. O cineasta demonstrou compreender o que é levar às telas a continuação de um clássico. Há homenagens a cenas clássicas, cenas emocionantes, passagens bem-humoradas… tudo o que se esperava está aqui e ainda vai além, ao adquirir vida própria independentemente do longa antecessor.

Mas nem de longe os destaques param por aqui.

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Simples, mas com camadas complexas

A história de “Top Gun: Maverick” é simples. Após 30 anos de serviços prestados à Marinha, o capitão Pete “Maverick” Mitchell (Tom Cruise) torna-se instrutor de novos pilotos para a realização de uma missão praticamente suicida. A complexidade entra com o desenvolvimento de tópicos específicos.

O primeiro está nos problemas de se fazer um filme que aborde a masculinidade. A solução está no roteiro. Não há receio em entregar, nesse sentido, uma obra com as mesmas características do primeiro. Não há preocupação em agradar determinados públicos. Não são transmitidos recados de tom político ou social. Apenas continua-se de onde parou em 1986.

O segundo tem relação com a chegada de novos elementos, naturais pela transição de décadas. São trazidas à tona questões ligadas à tecnologia e sua ameaça de “substituir” o homem, ao envelhecimento, a perder quem amamos, aos questionamentos sobre as paixões que vivenciamos, a como gostaríamos de encerrar nossa passagem por este planeta.

Experiência de vida

Por tudo isso, “Top Gun: Maverick” é uma experiência de vida dentro da sala de cinema. Foi um enorme acerto a adição de Bradley “Rooster” Bradshaw (Miles Teller), filho do melhor amigo de Maverick, Nick “Goose” Bradshaw (Anthony Edwards) que morreu em um acidente no primeiro filme. O protagonista é humanizado de modo raro em continuações do tipo e ainda mais incomum em obras de ação.

Outra presença de destaque no elenco é a emocionante participação de Val Kilmer como o eterno comandante Tom “Iceman” Kazansky. Mesmo lutando contra um câncer na garganta e estando debilitado, inclusive sem poder falar, Kilmer fez questão de aparecer no longa. Sua voz precisou ser recriada a partir de uma nova tecnologia, capaz de utilizar a antiga voz do astro. Dói vê-lo assim, mas emociona muito.

Os coadjuvantes de luxo Penny Benjamin (Jennifer Connelly), Cyclone (Jon Hamm) e Hangman (Glen Powell) acrescentam o brilho necessário. Todo o elenco foi escalado muito bem, de modo que não seria absurdo pensar em um “Top Gun 3”.

Mas quem dá um show à parte é o protagonista. Há quem não conheça a fundo a carreira de Tom Cruise e o veja apenas como um profissional dos filmes de ação, mas trata-se de um ator com três indicações ao Oscar – e o número poderia ser maior. “Top Gun: Maverick” celebra não apenas o cinema, como o próprio Cruise, que retribui com uma performance madura e pra lá de real.

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Entre os nomes principais do elenco original, nota-se a ausência de Kelly McGillis, que deu vida a Charlotte “Charlie” Blackwood, instrutora da Marinha e interesse amoroso de Maverick no longa original. Uma falta justificada, já que não ter a personagem na obra dá todo o sentido a Maverick. O próprio diretor explicou em entrevistas que há histórias do passado que devem permanecer lá atrás. Mesmo que sejam lindas.

Para todos

O grande trunfo de “Top Gun: Maverick” é ser feito para todos. Não é restrito à nostalgia dos fãs do clássico oitentista, apesar da grande fotografia de Claudio Miranda (vencedor do Oscar por “As Aventuras de Pi”, de 2012) nos levar de volta a 1986. Jovens que estão tendo acesso a este mundo pela primeira vez também vão curtir.

E não apenas pela história, como também pela ação. Há cenas de combate com os famosos caças supersônicos que impressionam por trazerem efeitos práticos, sem CGI, e fazem valer a pena assistir em uma sala IMAX, já que a trama se passa bem mais no céu do que em terra.

Com tantos acertos, é difícil não imaginar o reconhecimento não apenas do público, como também da Academia. Mesmo com os especialistas torcendo bastante o nariz para longas como este, o Oscar dificilmente vai ignorar alguns pontos importantes da parte técnica, especialmente envolvendo áudio. Inclusive, dá para cravar uma nova conquista do prêmio de Melhor Canção Original por “Hold My Hand”, coescrita, coproduzida e interpretada por Lady Gaga.

“Top Gun: Maverick” celebra o cinema como espetáculo. Ao sair da sala, não dá para deixar de pensar no significado daquela grande tela. O blockbuster em potencial estará no circuito por um tempo e, particularmente, torço para que seja um sucesso. Seria justo, já que a continuação supera o clássico.

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Raphael Christensen
Raphael Christensenhttp://www.igormiranda.com.br
Ator, Diretor, Editor e Roteirista Formado após passagem pelo Teatro Escola Macunaíma e Escola de Atores Wolf Maya em SP. Formado em especialização de Teatro Russo com foco no autor Anton Tchekhov pelo Núcleo Experimental em SP. Há 10 anos na profissão, principalmente no teatro e internet com projetos próprios.

2 COMENTÁRIOS

  1. Sobre Kelly McGillis, eu discordo de: ¨Uma falta justificada, já que não ter a personagem na obra dá todo o sentido a Maverick. O próprio diretor explicou em entrevistas que há histórias do passado que devem permanecer lá atrás. Mesmo que sejam lindas.¨!!!! Porque vi uma entrevista dela em que ela explica a sua ausência, ela disse: ¨eu to velha, por isso não me chamaram para fazer o filme¨!!!!
    Vida cruel essa a das mulheres que eram lindas nos anos 80 e agora totalmente esquecidas, triste isso!!!! valeu!!!!

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