Por que “Doutor Estranho 2” é excelente e ao mesmo tempo decepcionante

Lançado como “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”, filme marca belo ressurgimento do diretor Sam Raimi, mas frustra após tantas promessas – inclusive no título

Este texto sobre “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”, o mais novo filme do Universo Cinematográfico Marvel (UCM), não contém spoilers. Leia sem medo.

Não dá para negar que “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” tem um dos melhores subtítulos de filme dos últimos anos. Especialmente para quem acompanha o Universo Cinematográfico Marvel (UCM).

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Com esse nome, a Marvel deixava claro para onde iria após o espetáculo que deu em “Vingadores: Ultimato”. Havia agora novas formas de preencher o UCM não só com filmes, mas também com seriados e animações.

Há anos o termo “Multiverso” vem sendo pincelado pela empresa, o que tem aquecido seu público para esse momento apoteótico. “WandaVision” traz o início dessa ideia, “Loki” escancara o conceito e “What If” chuta o balde completamente. O momento histórico de “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa”, por fim, indicava que o próximo passo seria o tal “Multiverso da Loucura”.

A partir daí, a enorme maioria do público passou a pensar: se vimos tudo isso no mais recente filme do Homem-Aranha, imagine no tal Multiverso da Loucura? E foi aí o grande pecado cometido por este bom filme dirigido por Sam Raimi e protagonizado por Benedict Cumberbatch.

Sem click, mas muito bait

A preocupação inicial veio quando foi divulgado o tempo de duração de “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”. Como a Marvel pretendia mergulhar nisso em apenas duas horas e cinco minutos? Apesar dos trailers, a aflição se confirmou. Não há multiverso nem loucura como imaginado. O título é uma baita isca. Só não é “clickbait” porque não tem o “click”.

O conceito de multiverso é explorado no longa de forma rasa. Há apenas uma cena encantadora em tal quesito e sua duração é de aproximadamente 15 segundos. Não foi entregue o prometido. Em vez de uma versão definitiva sobre o tema, houve uma leve pincelada com algumas participações especiais para aquecer o coração por breves minutos.

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Ainda assim, excelente

Por outro lado, “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” (ou “Doutor Estranho 2”, como seria mais justo) é um dos melhores filmes do UCM caso seja assistido sem expectativas. Sam Raimi nos entrega o seu melhor em uma produção frenética, tanto pelo ritmo perfeito em que a história se desenvolve quanto em aspectos técnicos, indo da fotografia aos efeitos especiais.

Impressiona, ainda, como Raimi consegue trabalhar com personalidade própria e introduzir terror dentro de um universo tão estabelecido. É muito instigante ver um filme da Marvel com clima de perseguição, sustos, mortes chocantes com muito apelo visual, pausas para se refletir de onde pode vir a ameaça, uma tensão que incomoda justamente por ser apavorante ao se colocar na situação de determinados personagens.

Aliás, esse é um dos grandes pontos fortes que o diretor consegue obter: a tensão apavorante de sobreviver a algo tão poderoso e tão cheio de fúria e violência. Uma das mais extraordinárias sequências abdica do medo de abusar dos hematomas, cortes e sangue para mostrar como pode ser tão letal seu vilão, um personagem comparável a Jason Voorhees, Michael Myers, Leatherface, entre outros. Que vilão? Bem, assista e descubra.

O elenco também guarda grandes méritos. Benedict Cumberbatch nasceu para ser o Doutor Estranho, a jovem atriz Xochitl Gomez traz uma incrível America Chavez e é prazeroso ver mais do Wong (Benedict Wong) que, enfim, foi muito mais utilizado por aqui. Mas é a Feiticeira Escarlate de Elizabeth Olsen quem rouba a cena e nos entrega uma performance brilhante – e surpreendente assustadora.

Filmaço, mas…

Isoladamente, “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” é impecável. Um filmaço. De longe uma das melhores produções da Marvel, em todos os sentidos. E o mais satisfatório: é diferente de tudo o que se vinha fazendo. O longa revitaliza o gênero e a própria empresa que o fez.

Ainda assim, cometeu o erro de não entregar o que prometia. Fosse lançado sem o tal compromisso com o “efeito Homem-Aranha” e tivesse um título como “Doutor Estranho 2: A Missão”, seria perfeito. Não foi o caso. Muito se prometeu e não foi cumprido, o que compromete a experiência – a ponto de eu deixar a sala ao fim com o sentimento de frustração e a percepção de que daria para ir muito além no conceito de multiverso.

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Praticamente todas as surpresas foram entregues nos trailers. Os poucos momentos que geram sobressalto nesse sentido são curtos.

Até mesmo uma das cenas mais extraordinárias, com um verdadeiro show da Feiticeira Escarlate, provoca questionamento: precisava que fosse em cima daqueles personagens? Não poderiam ser outros? Claramente essa parte do longa é uma refilmagem para entregar algo pensando no mencionado “efeito Homem-Aranha”. Dá até para visualizar a sala de reuniões da Marvel com algum engravatado dizendo: “Vocês viram ‘Homem Aranha 3’? Precisamos colocar alguma participação no ‘Doutor Estranho 2’, mas quem?”.

No fim das contas, estamos diante de um filme excelente para assistir sem expectativas por participações especiais ou levar ao pé da letra o subtítulo da obra. Consuma esta produção apenas como a segunda do Doutor Estranho, com direção do extraordinário Sam Raimi, sem pensar em referências ou presentes. Não há multiverso nem loucura. Há apenas uma barriga querendo nos ganhar à força nos dizendo…

“Neste filme ainda não, aguarde pelos próximos.”

“Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil.

Sinopse – Doutor Estranho no Multiverso da Loucura

“Em ‘Doutor Estranho no Multiverso da Loucura’, do Marvel Studios, o UCM liberta o multiverso e explora seus limites como nunca foi feito antes. Viaje pelo desconhecido com Doutor Estranho, que, com a ajuda de novos e velhos aliados, atravessa insanas e perigosas realidades do Multiverso para confrontar um misterioso novo adversário.”

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Raphael Christensenhttp://www.igormiranda.com.br
Ator, Diretor, Editor e Roteirista Formado após passagem pelo Teatro Escola Macunaíma e Escola de Atores Wolf Maya em SP. Formado em especialização de Teatro Russo com foco no autor Anton Tchekhov pelo Núcleo Experimental em SP. Há 10 anos na profissão, principalmente no teatro e internet com projetos próprios.

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