Apesar de potencial, “Chamas da Vingança” fracassa em nova adaptação cinematográfica

Remake do filme inspirado no livro de Stephen King tem problemas em praticamente todos os quesitos, em especial na direção

Em 1984 foi feita a primeira adaptação para o cinema de “A Incendiária”, livro de Stephen King. Lançado no Brasil com o nome “Chamas da Vingança” (no original, “Firestarter”), o filme foi um grande fracasso. O próprio Stephen King não gostou.

O projeto em questão apresentava um bom caminho e inclusive seria dirigido pelo genial John Carpenter. Porém, o cineasta foi desligado do projeto e seu lugar foi assumido Mark L. Lester (“Comando Para Matar”). O longa não agradou mesmo tendo uma ainda criança Drew Barrymore (“As Panteras”) no papel principal.

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Quase 30 anos depois, Blumhouse e Universal acharam uma grande ideia fazerem um remake da obra, que estreia nesta quinta-feira (19) nos cinemas brasileiros. Eles estavam certos – afinal, existem filmes do passado com enorme potencial, mas que foram desenvolvidos de péssima forma.

Então, por que não dar uma segunda chance a obra? Eles deram. E, infelizmente, vacilaram de novo.

A história e os erros

O enredo de 2022 apresenta Andy (Zac Efron) e sua esposa Vicky (Sydney Lemmon), que, quando jovens, participaram de um experimento cientifico que os fez desenvolveram poderes sobrenaturais. Os dois se apaixonaram e tiveram uma filha, a pequena Charlie (Ryan Kiera Armstrong), que nasce não apenas com os mesmos poderes dos pais, mas também o adicional de pirocinese – ou seja, ela pode criar e manipular o fogo. Porém, ela não consegue controlar esta capacidade. Então, pai e mãe lutam para manter tanto ela quanto a humanidade em segurança.

A história tem potencial. Não há a obrigação da fórmula Marvel ou de criar algum universo de seres extraordinários. Trata-se de um drama/terror sobre uma família com poderes, sua filha descontrolada e pessoas querendo se apropriar disso como arma. É um cenário interessante para uma obra assustadora, dramática, com camadas psicológicas e muitas possibilidades de cenas ao estilo “Carrie: A Estranha” (1976).

Contudo, o que recebemos do remake de 2022 foi um roteiro raso e previsível, com direção pouco satisfatória de Keith Thomas e pouco desenvolvimento de personagens, a ponto de ancorar-se muito no ator galã e na atriz mirim fofinha. Apesar do ritmo não desagradar, as cenas são mal executadas a ponto de conseguirmos antever um ocorrido. Toda vez que algo importante ou que requer algum efeito especial vai acontecer, o público “recebe” um aviso de que algo virá.

Zac Efron e Ryan Kiera Armstrong em cena de “Chamas da Vingança”

Em uma cena em específico, Vicky, a mãe, estica os braços para acalmar a filha. O enquadramento e a forma estranha como a personagem de Sydney Lemmon dá o abraço permite facilmente a compreensão que algo ocorrerá com seus membros. E acontece.

Os efeitos especiais também decepcionam. Quando há um trabalho nesse sentido, a regra é clara: ou faça muito bem a parte computadorizada, ou não faça. Neste caso, daria até para dispensar os efeitos especiais de superpoderes por questões dramáticas ou psicológicas – há muitas camadas a serem exploradas com criatividade. Infelizmente, não houve capricho o suficiente nesta parte da produção.

Falta de profundidade

“Chamas da Vingança” é promovido como um terror, com elementos de suspense e mistério. Todavia, tais gêneros não são bem abordados. O roteiro assinado por Scott Teems (“Halloween Kills”) é infantil. Os diálogos sobre os poderes são rasos e não permitem criar nenhum tipo de mistério, assim como as intenções da parte antagonista da história – saímos da sala de cinema sabendo que eles são malvados e só.

As atuações não conseguem compensar os problemas estruturais. Zac Efron obedece ao roteiro com certa competência, assim como Ryan Kiera Armstrong. Pediram a ela uma criança caricata que brinca com superpoderes – e foi o que ela deu. Sydney Lemmon apresenta elementos mais sombrios, mas o roteiro descarta isso e sua personagem se torna apenas um grito em cena. A performance de Gloria Reuben como a vilã Capitã Hollister é um ponto baixo: roteiro, direção e capacidade da atriz tentam oferecer uma versão de Amanda Waller (Viola Davis), mas acabam entregando uma espécie de Paola Bracho (Gabriela Spanic) em “A Usurpadora”.

Infelizmente, o remake de “Chamas da Vingança” é mais uma obra de Stephen King que foi desperdiçada e tinha um potencial absurdo. Não dá nem para se questionar se o Mestre do Terror teve acesso ao roteiro deste longa ou não ­– como ele odeia “O Iluminado” (1980) de Stanley Kubrick, não dá para saber o quanto valeria sua opinião.

Resta-nos torcer para que daqui 30 anos alguém resolva fazer mais uma adaptação da obra original – e acerte. Material é o que não falta.

* Texto de Raphael Christensen editado por Igor Miranda.

Sinopse – “Chamas da Vingança”

* Sinopse enviada pelos canais oficiais da Universal Pictures Brasil.

Em uma nova adaptação do clássico thriller de Stephen King, dos produtores de “O Homem Invisível”, “Chamas da Vingança” apresenta uma garota com poderes pirocinéticos extraordinários, que luta para proteger sua família e a si mesma de forças sinistras que buscam capturá-la e controlá-la.

Por mais de uma década, os pais Andy (Zac Efron; “Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal”; “O Rei do Show”) e Vicky (Sydney Lemmon; “Fear the Walking Dead”, “Succession”) estão fugindo desesperados para esconder sua filha Charlie (Ryan Kiera Armstrong; “American Horror Story: Double Feature”, “A Guerra do Amanhã”) de uma agência federal sombria que quer aproveitar seu dom sem precedentes para criar fogo em uma arma de destruição em massa.

Andy ensinou Charlie como desarmar seu poder, que é desencadeado pela raiva ou pela dor. Mas quando Charlie faz 11 anos, o fogo fica cada vez mais difícil de se controlar. Depois que um incidente revela a localização da família, um agente misterioso (Michael Greyeyes; “Wild Indian”, “Rutherford Falls”) é enviado para caçar a família e capturar Charlie de uma vez por todas. Charlie tem outros planos.

O filme também é estrelado por Kurtwood Smith (“Amityville: O Despertar”, “Hitchcock”), John Beasley (“Uma Noite de Crime 2: Anarquia”, “A Soma de Todos os Medos”) e Gloria Reuben (“Lincoln”, “Mr. Robot”). A trilha sonora de “Chamas da Vingança” é composta pelo lendário John Carpenter (“Halloween”, “Christine, o Carro Assassino”, “A Bruma Assassina”) e seus colegas compositores da franquia “Halloween” Cody Carpenter e Daniel Davies.

Dirigido por Keith Thomas (“The Vigil”), com roteiro de Scott Teems (“Halloween Kills: O Terror Continua”) baseado no livro de Stephen King, “Chamas da Vingança” é produzido por Jason Blum (“Halloween”, “O Homem Invisível”) para a Blumhouse e o vencedor do Oscar® Akiva Goldsman (“Eu Sou a Lenda”, “Constantine”) para Weed Road Pictures. Os produtores executivos do filme são Ryan Turek, Gregory Lessans, Scott Teems, Martha De Laurentiis, J.D. Lifshitz e Raphael Margules.

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Raphael Christensenhttp://www.igormiranda.com.br
Ator, Diretor, Editor e Roteirista Formado após passagem pelo Teatro Escola Macunaíma e Escola de Atores Wolf Maya em SP. Formado em especialização de Teatro Russo com foco no autor Anton Tchekhov pelo Núcleo Experimental em SP. Há 10 anos na profissão, principalmente no teatro e internet com projetos próprios.

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