Duas resenhas sobre “Aurora”, o álbum de Daisy Jones & The Six

Disco que acompanha nova série do Amazon Prime Video chegou às plataformas digitais com vocais dos atores protagonistas e envolvimento de músicos da cena atual de Los Angeles

Inspirada no livro homônimo de Taylor Jenkins Reid, a série “Daisy Jones & The Six” (clique aqui para ler a crítica) conta a história de uma banda fictícia, que dá nome à produção, que chegou ao topo do mundo da música nos anos 1970. A trama é inspirada em especial na trajetória do Fleetwood Mac e, como era de se esperar, seu desenvolvimento é regado a muita música.

Um álbum com músicas compostas especialmente para o seriado, intitulado “Aurora”, foi disponibilizado nesta quinta-feira (2), um dia antes do seriado estrear no Amazon Prime Video. Os colaboradores Pedro Hollanda e Tairine Martins (em ordem alfabética) apresentam suas impressões a respeito do trabalho, que traz Blake Mills na produção e participações de músicos como Marcus Mumford (Mumford & Sons), Phoebe Bridgers, Madison Cunningham, Matt Sweeney (Skunk), Ethan Gruska, James Valentine (Maroon 5), Jason Boesel (Rilo Kiley) e Jonathon Rice, além de vocais dos atores protagonistas Riley Keough (como Daisy Jones) e Sam Clalfin (com Billy Dunne.

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Os textos trazem pontos de vista diferentes e, de certo modo, complementares. Pedro Hollanda se apresenta como admirador dos músicos envolvidos no projeto; já Tairine Martins, autora da crítica sobre a série publicada no site, oferece sua opinião enquanto fã do livro que originou o seriado.

“Aurora” (Daisy Jones & The Six), por Pedro Hollanda

“Aurora” apresenta os anos 70 de “Daisy Jones & The Six” sob a ótica da cena atual de Los Angeles

Muitos esperariam que “Aurora” seria uma reprodução fiel da sonoridade da década de 1970. Contudo, o álbum que serve como trilha de “Daisy Jones & The Six” é uma criatura curiosa: o passado reproduzido sob a ótica atual. Os representantes da cena musical contemporânea de Los Angeles envolvidos no projeto decidiram evitar o pastiche e se concentraram em criar um material que, sem deixar de soar atual, homenageia o espírito da era responsável por influenciá-los.

Desde o primeiro momento, com a faixa-título, isso fica claro. A sonoridade dos artistas vindos de Los Angeles nos anos 1970 é marcada por suavidade – baixo e bateria abafados, guitarras comportadas até quando distorcidas e harmonias espetaculares –, mas “Aurora” chega com o pé na porta, com fuzz de todos os sabores, da saturação criada pelo console do estúdio ao efeito de oitava criado por ring modulators.

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Enquanto discos de L.A. feitos naquela década tinham sonoridade limpa e bastidores imundos, este parece usar distorção como textura para escancarar a disfunção presente na criação desse tipo de registro. Desde o primeiro single lançado do disco, “Regret Me”, até o clímax emocional em “The River” – com performance vocal espetacular de Riley Keough, a Daisy Jones da série –, a música coloca em primeiro plano a tensão e ainda parece evocar algo mais esotérico.

É fácil comentar sobre a obra do passado, mas muitas vezes esquecemos do contexto em que não só foi lançada, mas como era consumida. Quem acompanhou a carreira do Fleetwood Mac contemporaneamente, dos tempos de blues rock ao quinteto pop multiplatinado, tem uma lembrança emocional da música diferente daqueles fãs do grupo nascidos bem depois.

Nascida em 1983, Taylor Jenkins Reid escreveu o livro “Daisy Jones & The Six” baseado em lembranças de ouvir Fleetwood Mac quando criança e o descobrimento da história por trás. Particularmente, desenvolvi meu apreço pelo grupo em circunstâncias similares, ouvindo o grupo em rádios destinadas a música suave, apesar das letras ásperas. “Aurora” parece o produto de vários artistas talentosos buscando inserir todos os aspectos do passado, por mais que esse soasse diferente. No fim das contas, não há como replicar o passado, apenas reproduzir nossa impressão dele.

“Aurora” (Daisy Jones & The Six), por Tairine Martins

“Aurora” se destaca como obra multimídia e funciona para além do rótulo de trilha sonora

Com respeito ao livro e seus fãs, o Amazon Prime Video desenvolveu uma proposta multimídia que combina o lançamento da série “Daisy Jones & The Six” com o álbum “Aurora”. São três formatos diferentes que dialogam e no âmbito musical, há coerência na sonoridade e força o suficiente para se colocar como algo além de uma trilha sonora.

Na narrativa, “Aurora” representa o álbum que transformou a banda de blues rock Daisy Jones & The Six em uma das maiores da década de 1970. Mas quem ouvir o disco esperando a sonoridade da época poderá se decepcionar. O livro de 2017 alcançou um público plural, para além dos admiradores do rock setentista. Portanto, a trilha oferece um meio-termo e busca um público maior ao se equilibrar em pop rock com pitadas de blues. Uma combinação do nostálgico e do contemporâneo, com potencial para agradar uma audiência diversa.

Ainda assim, o blues rock tradicional aparece em músicas como “The River”, com guitarras potentes e ritmo mais frenético. Os vocais de Riley Keough como Daisy Jones elevam ainda mais a faixa que, sem dúvida, é um dos pontos altos da tracklist. A propósito, Keough e Sam Claflin (como Billy Dunne) conseguiram trazer para a realidade a química das vozes tão exaltadas nos episódios e no livro.

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O grande acerto de “Aurora” está no diálogo com a série. Para se ter ideia: as canções do disco não têm longos solos de guitarra como no blues rock tradicional, o que é explicado em um episódio do seriado. Outro exemplo: na trama, Billy diz a Daisy repetidamente que sua entrada no show ocorre na quarta música; no álbum, a quarta faixa “Two Against Three” é um número solo da cantora. 

Há de se observar ainda o conteúdo lírico. No universo de “Daisy Jones & The Six”, as composições do “Aurora” são confessionais e abordam os conflitos vividos pelos personagens, com foco em Billy e Daisy. Desde o lançamento do primeiro single, “Regret Me”, os fãs do livro vem discutindo nas redes a mudança das letras e o impacto na adaptação. Mas são alterações coerentes: saímos das metáforas da obra original (já que um impresso permite que você releia inúmeras vezes) para chegar a mensagens mais explícitas nas músicas que apoiam a série, dado o seu ritmo mais ágil.

Um exemplo é “Please”, onde Billy aborda diretamente seu dilema do romance com Daisy perante seu casamento com Camila. Provando mais uma vez o cuidado com a conexão entre a série e o álbum, o teor confessional da composição gera até conflitos durante os episódios, além de render uma piada sobre mensagens codificadas de Billy para Daisy. 

O ritmo da tracklist é outro destaque. O álbum tem um início energético e iluminado com a faixa-título; a suave “Kill You To Try” cria o clima para o número solo de Daisy, “Two Against Three”. Daqui em diante, há equilíbrio entre canções sentimentais e agitadas. No lado B, vale citar “More Fun to Miss” (“Impossible Women” na obra original), que eleva a energia da experiência junto de “The River”, mesmo com o sóbrio encerramento de “No Words”.

Ouça “Aurora” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!

Daisy Jones & The Six – “Aurora”

  1. Aurora
  2. Let Me Down Easy
  3. Kill You to Try
  4. Two Against Three
  5. Look at Us Now (Honeycomb)
  6. Regret Me
  7. You Were Gone
  8. More Fun to Miss
  9. Please
  10. The River
  11. No Words

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