Como a história do Fleetwood Mac inspirou “Daisy Jones & The Six”

Best-seller de 2019 se inspira nos bastidores caóticos da gravação do álbum “Rumours” para traçar fábula do rock setentista

Uma fábula do rock setentista, “Daisy Jones & The Six” conta a história da banda fictícia de mesmo nome que se separa repentinamente no ápice de seu sucesso. O livro de Taylor Jenkins Reid, lançado em 2019, conquistou o status de best-seller e, de quebra, uma legião de fãs graças ao realismo de um cenário inspirado em bandas reais. Também ganhou uma adaptação em série de TV, pelo Amazon Prime Video, com estreia em março.

No foco da inspiração da autora está o Fleetwood Mac e a odisseia por trás da produção de “Rumours” (1977), álbum de maior sucesso da carreira do grupo. Marcado por hits como “The Chain” e “Dreams”, o trabalho se destaca pela sonoridade influenciada pelo folk rock e pelas canções confessionais refletindo as tensões entre os músicos, que enfrentavam o fim de relacionamentos entre eles próprios durante a produção.

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Há semelhanças sutis entre as histórias. Então, separamos os pontos de encontro das trajetórias da banda real Fleetwood Mac e da fictícia Daisy Jones & The Six.

A chegada de novos membros

Fundado na Inglaterra em 1967, o Fleetwood Mac só alcançou o mainstream em 1975 com a chegada do casal Stevie Nicks (voz) e Lindsey Buckingham (voz e guitarra). Antes, o grupo era respeitado, especialmente pelos anos iniciais sob a liderança do influente guitarrista Peter Green, mas era mais conhecido pelos fãs de blues rock do que o público de modo geral.

Nove álbuns foram lançados pelo grupo até a chegada de Nicks e Buckingham, que também tentaram a fama com um disco em parceria no início da década de 1970, mas fracassaram nas vendas. Foi necessário que a dupla americana se juntasse à banda inglesa para que o potencial de todos fosse devidamente extraído.

Na obra de Taylor Jenkins Reid, a trajetória da banda The Six bebe da essência da situação. Anos após sua formação em meados da década 1960, o grupo assina contrato com uma grande gravadora de Los Angeles. Com dois álbuns lançados sem grande relevância comercial, a banda se torna um dos maiores fenômenos mundiais com a chegada de Daisy Jones como co-vocalista e compositora.

O clima por trás de “Rumours”…

Com a chegada da dupla em 1974, a dinâmica do Fleetwood Mac ficou dividida entre dois casais. Um deles era formado por Stevie Nicks e Lindsey Buckingham. O outro era composto pelo baixista John McVie e a tecladista e cantora Christine McVie. O baterista Mick Fleetwood completava a formação.

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Após a extensa turnê de divulgação do álbum homônimo, de 1975, os relacionamentos estavam em frangalhos e próximos do fim. Foi nesse cenário que o grupo iniciou a produção do álbum “Rumours”, assim como revelado por Mick em sua biografia, “Play On Now, Then and Fleetwood Mac”.

“Quando começamos a compor as músicas que entrariam em ‘Rumours’, estávamos todos em pedaços. Depois de sete anos de casados, John [McVie, baixista] e Christine [McVie, vocalista e tecladista] haviam se separado. O relacionamento de quatro anos de Lindsey [Buckingham, guitarrista] e Stevie [Nicks, vocalista] havia chegado ao fim. E meu casamento [com a modelo e atriz Jenny Boyd] estava a caminho do divórcio.”

No estúdio, durante as gravações, os McVie se evitavam, enquanto Nicks e Buckingham sempre berravam um com o outro. O clima tenso de término foi canalizado para o trabalho que, em seu tom confessional, rendeu composições brilhantes como “Dreams”, “Go Your Own Way” e “The Chain”.

Em segundo plano, o abuso de drogas também afetava a banda, como abordado em “Gold Dust Woman”, composição de Stevie Nicks. A cantora explicou o significado da letra em entrevista ao VH1 (via In Her Own Words).

“Era sobre… continuar. Era sobre cocaína. E depois de todos esses anos, como não uso cocaína desde 1986, posso falar sobre isso agora. Mas foi nesse ponto, acho que nunca estive tão cansada em toda a minha vida como quando fizemos aquilo. […] Então, ‘Gold Dust Woman’ era meu olhar simbólico para alguém passando por um relacionamento ruim, usando muitas drogas e tentando apenas sobreviver, passar disso para a próxima coisa.”

…e o clima por trás de “Aurora”

No romance “Daisy Jones & The Six”, o principal foco de tensão entre os Six está na relação da dupla de vocalistas. O líder e fundador da banda, Billy Dunne, tem uma postura autoritária quanto ao controle criativo, o que é abalado com a chegada de Daisy Jones, grande compositora que impõe uma participação democrática. 

Nos bastidores de “Aurora”, álbum definitivo da banda, há uma constante troca de farpas entre os vocalistas que, compondo juntos, usam as músicas como forma de diálogo. Mais próximos por conta do processo, Daisy e Billy se apaixonam – fato que aumenta ainda mais as tensões entre a dupla, já que o músico é casado e luta pela sobriedade enquanto a cantora se afunda no vício em álcool e drogas. 

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Para completar a equação dos dois términos, o guitarrista Graham Dunne e a tecladista Karen Sirko vivem um relacionamento fadado ao fracasso. Com perspectivas diferentes, o músico busca uma relação séria enquanto a colega quer aproveitar ao máximo sua carreira. A situação do casal fica insustentável após Graham não aceitar a decisão de Karen de se submeter a um aborto. 

Aqui, as histórias também se encontram no resultado do período conturbado. Com “Rumours”, o Fleetwood Mac bateu recordes de venda, venceu o Grammy de Álbum do Ano em 1977 e emplacou uma série de hits. Na ficção de Taylor Jenkins Reid, “Aurora” também é considerado um dos maiores discos do rock e conquistou um Grammy.

O destino após o sucesso foi um pouco diferente: o Fleetwood Mac se manteve ativo entre idas e vindas, mudanças de formação e empreitadas solo dos integrantes, enquanto o Daisy Jones & The Six encerrou atividades em meio a seu ápice.

Outras inspirações por trás de “Daisy Jones & The Six”

Apesar das similaridades apontadas, a sutileza evita que o livro seja uma sátira da história do Fleetwood Mac. Além disso, há outras referências presentes na obra.

Em entrevista ao Shelf Awareness, a autora Taylor Jenkins Reid citou mais bandas que serviram de referência para a criação dos Six, além de admitir a inspiração principal.

“Passei muito tempo pensando nas histórias da nossa cultura que me fascinam. São relacionamentos em que as pessoas têm uma produção criativa incrível, mas há conflitos pessoais, como a banda The Civil Wars (que se separou muito abruptamente), Fleetwood Mac, ou os Eagles. Há um documentário de três horas chamado ‘The History of the Eagles’ que fala sobre como eles criaram sua música, mas também sobre toda a turbulência entre os membros da banda. E fiquei tão empolgada com a ideia que senti que se tornou uma história que eu tinha para contar.”

Sobre a série “Daisy Jones & The Six”

“Daisy Jones & The Six” ganhou adaptação para as telas em formato minissérie, que chega no Amazon Prime Video em 3 de março. O elenco é composto por Riley Keough (como Daisy Jones), Sam Claflin (Billy Dunne), Suki Waterhouse (Karen Sirko), Will Harrison (Graham Dunne), Josh Whitehouse (Eddie Roundtree) e Sebastian Chacon (Warren Rojas). 

A adaptação apresenta vinte e quatro músicas originais produzidas por Blake Mills, com a colaboração de Phoebe Bridgers, Marcus Mumford, Jackson Brown e Taylor Goldsmith. Onze destas músicas compõem o álbum “Aurora”, lançado simultâneo a série nas plataformas digitais e em vinil.

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Tairine Martins
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Tairine Martins é estudante de jornalismo na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Administra o canal do YouTube Rock N' Roll TV desde abril de 2021. Instagram: @tairine.m

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