Opeth celebra carreira diante de público empolgado em São Paulo

Em apresentação transferida para local maior diante do alto interesse, banda sueca promoveu passeio por toda a sua discografia

A reação efusiva do público aos primeiros acordes de “Ghost of Perdition” enunciou que o show do Opeth, adiado por três vezes por causa da pandemia de Covid-19, não seria apenas mais uma passagem divulgando seu álbum mais recente, “In Cauda Venenum” (2019). Foi uma longa e celebrada retrospectiva incluindo faixas de todos os discos de sua carreira.

*Fotos de Artur Satriani / @artur_satriani. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

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Nova casa de shows

O mundo é muito diferente desde que a quinta passagem do Opeth pelo Brasil foi inicialmente agendada para 2020. Nestes anos de adiamento, não mudou apenas o repertório esperado, mas também a casa que recebeu a banda. Os 1,2 mil lugares do Carioca Club ficaram insuficientes para o grupo, que se apresentou na Terra SP, com capacidade total para quase o triplo de pessoas (incluindo áreas sem vista do palco, como no espaço onde foi montada a tenda de merchandising).

A troca gerou alguma reclamação nas redes sociais. Ainda que de fácil acesso por trem, a Terra SP, localizada na zona sul da capital, é bem mais distante do centro da cidade de São Paulo que o já tradicional Carioca Club, onde a apresentação foi inicialmente agendada.

Foto: Artur Satriani

Apesar das duas horas e meia de apresentação dos suecos, o show começou pontualmente às 21h e terminou num horário funcional para que todos pudessem pegar o transporte público no retorno para casa – preocupação sempre presente em eventos organizados pela promotora Overload.

A Terra SP, por sua vez, ainda não é uma tradicional casa de shows de metal na cidade. Recentemente mudou de nome – chamava-se Terra Country – para abrigar públicos mais diversos do que o sertanejo. Destaque para a qualidade de som, com instrumentos bem definidos em volume alto, satisfazendo o exigente público de uma apresentação em que peso e precisão técnica são dos principais atrativos.

Sua estrutura tem um palco comprido para uma pista não tão funda, que garantiria uma boa proximidade do público com a banda, não fosse por algumas pilastras gerando pontos cegos. Também há dois andares com balcões acima da parte térrea, circulando-a pelos lados e ao seu final, também garantindo visão satisfatória dos músicos.

Apesar de bares e banheiros espalhados pela casa, não raro filas se formavam, principalmente nos caixas. Ouviam-se algumas reclamações quanto aos preços praticados no local, porém nada muito diferente do que ocorre em casas noturnas na cidade.

Fãs empolgados

A troca de local garantiu uma nova carga de ingressos disponível ao público, que aproveitou a chance e levou cerca de 2,5 mil pessoas ao Terra SP. Pista e balcões ficaram bem preenchidos por fãs portando camisetas dos mais variados estilos, desde bandas obscuras de black metal até rock progressivo dos mais puristas.

Foto: Artur Satriani

A versatilidade de fãs é responsável por dar uma popularidade inimaginável ao Opeth na ocasião de seu surgimento, com o primeiro disco quase trinta anos atrás, trazendo uma mistura até certo ponto bizarra de tendências extremas do metal com nuances psicodélicas e progressivas.

Naquela noite de quarta-feira na capital paulista, já após a segunda música do repertório – a agressiva “Demon of the Fall”, faixa de “My Arms, You Hearse” (1998) –, Mikael Åkerfeldt, guitarrista, vocalista, principal compositor e líder do Opeth, confessou estar assustado por poder ouvir a reação dos presentes se sobrepor ao seu retorno intra-auricular.

Foto: Artur Satriani

Após esse primeiro momento de vários elogios e agradecimentos à resposta efusiva de seus fãs, Åkerfeldt, sempre bem-humorado entre as músicas, confirmou que o repertório da noite viajaria por toda a carreira do Opeth – e que como eles já são velhos, o show seria longo.

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Ninguém entendeu isso como um problema a tomar pelos coros dos fãs acompanhando o vocalista nos versos de “Eternal Rains Will Come”, faixa que abre “Pale Communion” (2014), quando o grupo já navegava por mares mais progressivos.

Foto: Artur Satriani

Novo baterista

Nos anos de espera e adiamentos, o Opeth também teve uma mudança de formação. Martin Axenrot, responsável pela bateria no último álbum de estúdio, deu lugar ao finlandês Waltteri Väyrynen, que já havia marcado presença em terras brasileiras com os ingleses do Paradise Lost.

Foto: Artur Satriani

O novo baterista teve um desempenho correto e se mostrou já bem integrado ao quarteto sueco restante, que compõe a banda com Åkerfeldt há mais de uma década. O fiel escudeiro Martín Méndez segue quietão cuidando do baixo, enquanto Joakim Svalberg ganha cada vez mais proeminência nos teclados e dá uma bela ajuda nos backings vocals.

Foto: Artur Satriani

Fredrik Åkesson, por sua vez, firmou-se como o principal parceiro de Åkerfeldt no palco. Agita de um lado ao outro do palco e recebe várias vezes o foco ao reproduzir com fidelidade os riffs e solos que troca com o chefão.

Foto: Artur Satriani

Se os vocais agressivos não têm mais a potência de outrora – nada que cause muitas reclamações –, Mikael Åkerfeldt demonstra cada vez mais segurança ao usar sua voz limpa nas faixas mais progressivas, além da precisão na execução dos riffs e solos que já se tornou sua marca registrada tanto quanto o mini stand-up comedy entre as faixas.

Foto: Artur Satriani


Resgate dos primórdios

Apesar de o Opeth ter se focado em explorar suas influências progressivas nos discos lançados na última década, o destaque do repertório da noite ficou para as raras aparições de faixas dos dois primeiros trabalhos do grupo.

Antes de tocar “Under the Weeping Moon”, faixa de “Orchid”, primeiro álbum do Opeth lançado no distante ano de 1995, Mikael Åkerfeldt lembrou que Anders Nordin, baterista que gravou os dois primeiros discos do grupo, era nascido no Brasil, mas confessou não ter mais contato com o ex-membro.

Foto: Artur Satriani

De “Morningrise”(1996), foi escolhida “Black Rose Immortal”, uma das mais cultuadas faixas de toda a sua discografia. Segundo brincou Åkerfeldt, apenas porque ela é longa – seus vinte minutos jamais haviam sido executados ao vivo na íntegra antes de o grupo iniciar a turnê atual nos últimos meses de 2022, apesar dos insistentes pedidos do público nos últimos trinta anos, justificou o vocalista para afirmar que ela não é tão obscura assim.

Equilíbrio prog e metal

Tendo resgatado faixas de seu início de carreira mais extremo, o Opeth optou por canções mais progressivas para boa parte de sua discografia. A escolha funcionou com o público, pois “Burden”, faixa intimista de “Watershed”(2008), teve participação mais efusiva em relação à contemplação contida recebida por “Black Rose Immortal”, que a antecedeu.

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Foto: Artur Satriani

De seu álbum mais celebrado, “Blackwater Park”(2001), apesar de pedidos pela clássica “The Drappery Falls” (com direito a ter seus versos iniciais desafinadamente cantado pelo vocalista em um momento), o grupo executou “Harvest”, balada acompanhada em uníssono assim como “Windowpane”, faixa de “Damnation” (2003), primeiro disco totalmente progressivo que prenunciava a guinada a ser tomada a partir de “Heritage” (2011), ironicamente representado por “The Devil’s Orchard”, uma de suas músicas mais pesadas e recebida com bastante animação.

Porque, apesar de progressivo, o Opeth conquistou sua popularidade por ser uma banda de heavy metal, e das bem pesadas. Além das duas músicas de abertura e da dupla do início de carreira, quase no final da apresentação o grupo tocou “The Moor”, faixa de “Still Life”(1999) em que os riffs extremos correm soltos, gerando tentativas de abertura de rodas de mosh, atrapalhadas pelas pilastras no meio da pista.

Foto: Artur Satriani

O encerramento da primeira parte do repertório veio como a representante de “In Cauda Venenum”, seu disco mais recente. A épica “Allting tar slut”, que também fecha o disco, teve uma recepção modesta, talvez por ser difícil para o público cantar junto em sueco, ou porque depois de duas horas, todos se poupassem para o bis.

Foto: Artur Satriani

Final de peso

“Sorceress”, faixa-título do álbum de 2016 e cheia de andamentos sabbathianos e teclados barulhentos setentistas, colocou cabeças para chacoalhar. Em seguida, o Opeth anunciou que faria uma homenagem a um famoso grupo inglês de Birmingham, e todos pensaram na mesma banda, inclusive os músicos, ao prenunciar aquele famoso riff que praticamente deu origem a isso que chamamos de heavy metal.

No entanto, a banda homenageada foi o Napalm Death, pela sua “mensagem lírica”. E três vezes. Pois Mikael Åkerfeldt fez questão de executar os quase 2 segundos de “You Suffer” até ficar contente, como sua última de tantas piadas contadas ao longo da noite, antes do já tradicional encerramento com “Deliverance”, para reação frenética do público a uma das faixas mais pesadas e épicas de toda a sua discografia.

Foto: Artur Satriani

Em um momento da longa noite, Mikael Åkerfeldt anunciou que nesta turnê sulamericana ocorreriam os últimos shows do grupo por algum tempo, pois iriam se dedicar à composição e gravação de um disco novo. E esses shows tocando faixas de todos os seus álbuns serviram de inspiração para começar o trabalho.

Seria essa uma indicação de um retorno às influências mais pesadas? A julgar pela reação do público nesta noite, tanto faz. O Opeth já o tem nas mãos.

*Fotos de Artur Satriani / @artur_satriani

Foto: Artur Satriani

Opeth – ao vivo em São Paulo

  • Local: Terra SP
  • Data: 8 de fevereiro de 2023
  • Turnê: In Cauda Venenum

Repertório

  1. Ghost of Perdition
  2. Demon of the Fall
  3. Eternal Rains Will Come
  4. Under the Weeping Moon
  5. Windowpane
  6. Harvest
  7. Black Rose Immortal
  8. Burden
  9. The Moor
  10. The Devil’s Orchard
  11. Allting tar slut

Bis:

  1. Sorceress
  2. You Suffer (cover do Napalm Death)
  3. You Suffer (cover do Napalm Death)
  4. You Suffer (cover do Napalm Death)
  5. Deliverance

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Thiago Zuma
Thiago Zuma
Formado em Direito na PUC-SP e Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, Thiago Zuma, 43, abandonou a vida de profissional liberal e a faculdade de História na USP para entrar no serviço público, mas nunca largou o heavy metal desde 1991, viajando o mundo para ver suas bandas favoritas, novas ou velhas, e ocasionalmente colaborando com sites de música.

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