Autograph prova-se maior que a soma de suas partes em “Beyond”

Novo disco contém últimas gravações do baixista Randy Rand, morto em abril, e atesta viabilidade de line-up sem nenhum dos integrantes originais

Houve um momento nos anos 1980 em que se vislumbrou futuro dos mais promissores para o Autograph. Embalado por “Turn Up the Radio” — 29ª posição nas paradas estadunidenses —, o LP de estreia do grupo, “Sign in Please” (1984), ultrapassou a marca de 800 mil cópias vendidas. Mas foi só: nenhum outro single ou álbum lançado pelo quinteto sequer margeou o top 40 dos EUA.

A formação clássica foi aos poucos se desmantelando. Steve Plunkett, o vocalista, passou a se dedicar à carreira de cantor de jingles. Steve Isham (teclados) e Keni Richards (bateria) faleceram; o primeiro de morte morrida em 2008 e o segundo, aparentemente, de morte matada em 2017. Coube à dupla Steve Lynch e Randy Rand tocar o barco, até o guitarrista decidir se dedicar a outros projetos — entre eles a escrita de uma autobiografia —, deixando o baixista no comando das atividades.

- Advertisement -

Rand não se fez de rogado e, até sua morte em abril deste ano, manteve o Autograph na ativa. Com o brasileiro Simon Daniels — outrora conhecido como Danny Simon, do Jailhouse — nos vocais, Jimi Bell (House of Lords) na guitarra e Marc Wieland na bateria, deixou “Beyond”, novo trabalho de estúdio do grupo e primeiro pela italiana Frontiers Records, pronto. E o resultado não poderia ser mais satisfatório.

Deve-se observar que, estilisticamente, o Autograph dos dias de hoje em pouco se parece com aquele de quase quatro décadas atrás. O som é muito mais voltado para o classic rock e a ausência de um tecladista na formação confere maior protagonismo às guitarras. Aliás, nesse quesito, Bell não fica devendo em nada a seu antecessor e, em alguns momentos, chega a superá-lo na velocidade e no volume de diferentes técnicas empregadas por solo.

Leia também:  Within Temptation anuncia álbum e DVD ao vivo “Worlds Collide Tour: Live in Amsterdam”

Vocalmente, Daniels pouco lembra Plunkett, mas em matéria de letras, os dois estão na mesma página; ou seja, pouca ou nenhuma profundidade, um léxico suavemente limitado, mas perfeição na métrica, rimas certeiras e versos de imediata assimilação. Rand e Wieland provêm o básico, sem tentar puxar os holofotes para si, prezando pela consistência que permite, principalmente a Bell, se destacar.

“This Ain’t the Place I Wanna Be”, uma ode à inquietude, abre o disco com um de seus melhores refrães. Na sequência, “Your Slave Tonight” e “Everything” seguem um padrão quase hard europeu no que diz respeito a timbragens; com o acréscimo de que a segunda traz uma das melhores fritações da carreira de Bell. “Gotta Getcha” põe a banda inteira para contribuir nos vocais. “Take Me Higher” pega emprestada — até demais — a estrutura dos versos de “Hysteria”, do Def Leppard, no momento baladeiro que põe fim à primeira metade do álbum.

Mais acenos a modernidade podem ser ouvidos em “Run for Your Life”. Aí “Beautiful Disaster”, de construção bem menos elaborada, vem no contraponto e serve de lembrete: às vezes, menos é mais. “Love is a Double Edge Sword” traz no título a premissa de aconselhamento amoroso da letra. De todas as músicas, esta e a próxima, “Heart of Stone”, são as que mais remetem ao Autograph dos velhos tempos.

Elton John e Thin Lizzy juntos? “Feels So Good” é a prova de que sim, é possível e, sim, soa incrível. Com o perdão do trocadilho, “Flying High” mantém o clima lá no alto e passa o bastão para a derradeira “To Be Together”, a qual Daniels parece cantar tentando segurar o choro, soar como um tributo ao falecido amigo e colega de banda.

Leia também:  Yungblud regrava hit do Kiss para trilha do filme “O Dublê”; ouça

Muito se deve falar do Autograph nos próximos tempos. Ao que tudo indica, Lynch está movendo os pauzinhos para reivindicar os direitos pelo nome, que vem sendo usado por Daniels, Bell e Wieland desde a morte de Rand; os três deixaram claro que seguiriam em frente como um tributo, com a bênção da viúva do baixista e de uma parcela considerável dos fãs.

Aos descrentes da viabilidade desse line-up, um conselho: ouça “Beyond” e saque que há, sim, potencial e talento para a construção de uma nova história.

Ouça “Beyond” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!

Autograph – “Beyond”

  1. This Ain’t The Place I Wanna Be
  2. Your Slave Tonight
  3. Everything
  4. Gotta Getcha
  5. Take Me Higher
  6. Run For Your Life
  7. Beautiful Disaster
  8. Love Is A Double Edge Sword
  9. Heart Of Stone
  10. Feels So Good
  11. Flying High
  12. To Be Together
  13. Mind Of Fear (bonus track; exclusivo dos formatos digitais)

Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Twitter | Facebook | YouTube.

ESCOLHAS DO EDITOR
InícioLançamentosAutograph prova-se maior que a soma de suas partes em “Beyond”
Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

DEIXE UMA RESPOSTA (comentários ofensivos não serão aprovados)

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui


Últimas notícias

Curiosidades