Crítica: “Halloween Ends” falha ao abrir mão do terror e até de Michael Myers

Com novo personagem surgido por acaso e holofotes tirados de protagonistas, conclusão da nova trilogia parece querer se desvencilhar dos antecessores a todo momento

Eis que você está em casa e recebe o convite para uma festa de aniversário. Você então compra um lindo presente, coloca uma roupa nova e parte para comemorar mais um ano de vida de alguém querido. Porém, ao chegar na festa, é informado de que o aniversariante não comparecerá. No lugar, está um vizinho desconhecido. Este é “Halloween Ends”.

O final da trilogia que faz ligação direta com o clássico slasher de 1978 chega aos cinemas na próxima quinta-feira (13), mas desde terça (11) está disponível em sessões antecipadas. A obra traz consigo uma decepcionante conclusão ao abrir mão do terror, suspense, heroísmo, grandiosidade e – acredite se quiser – até de Michael Myers.

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Ponto de partida para o fim

Este texto obviamente não tem spoilers significativos de “Halloween Ends”, mas há dos outros dois filmes. Até porque a nova trilogia abriu apenas dois assuntos que devem permanecer em segredo para o público. Um deles seria: o que é Michael Myers? O outro, por tabela: o que acontece no embate final entre a lendária Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) e seu antagonista? As respostas seguirão em sigilo, mas outros tópicos, que não comprometem a experiência diante das telas, não.

“Halloween Ends” se passa quatro anos após os eventos em “Halloween Kills” (2021). Aqui, Michael Myers está sumido e Laurie Strode agora tenta viver uma vida pacata ao lado da neta, que teve a mãe brutalmente assassinada no longa anterior.

Em paralelo, nos deparamos com uma cidade de Haddonfield machucada e traumatizada, mas ao mesmo tempo sem poupar ninguém. Entra aí o mais novo convidado da festa: o jovem Corey Cunningham (Rohan Campbell). Em 2019, Corey decide trabalhar como babá e se envolve acidentalmente na morte da criança que cuidava. Mesmo inocente, ele é acusado por todos na cidade – exceto por Allyson (Andi Matichak), a neta de Laurie.

Daí pra frente, inicia-se um certo “Top Gun” do terror. Corey pilota uma moto e se entrega ao ódio; Allyson, montada na garupa, fica apaixonadíssima sem razão alguma; e Laurie Strode vê Michael Myers nos olhos do atormentado garoto.

Este é o filme. Só o resumo feito nos parágrafos anteriores retrata uma hora da película, restando apenas outros 51 minutos. Sem sangue, mortes e sem Michael Myers: apenas a construção de um personagem que surgiu do nada na trilogia e que tende a ser a nova versão do psicopata mascarado, inclusive sendo treinado pelo mesmo.

Facada no próprio trabalho

A direção é novamente assinada por David Gordon Green, que também foi um dos roteiristas da trilogia. Sua outra sequência de longas, agora de “O Exorcista”, está quase pronta. Mesmo com méritos no passado, Green fez péssimas escolhas nesta obra recém-lançada e descartou muito do que havia construído até então.

O “Halloween” de 2018, primeiro da trilogia atual, é fantástico. David Gordon Green foi hábil e certeiro ao revitalizar a franquia ao oferecer uma continuação direta do clássico. Trouxe uma Laurie Strode “badass”, cheia de camadas e questões não resolvidas que finalmente a transformavam em um símbolo, como Sidney Prescott de “Pânico” ou Ellen Ripley de “Alien”.

“Ends”, infelizmente, faz de Laurie uma personagem normal, distante dos holofotes, enquanto perde-se tempo com personagens que nem deveriam estar ali. Jamie Lee Curtis faz o que pode com seu carisma, mas é visível o quanto neste terceiro filme a personagem se tornou apenas coadjuvante.

O mesmo se diz de Allyson, que no primeiro longa termina segurando a faca de Myers como se o diretor nos preparasse para algo – que nunca veio. Ainda não parece haver explicação para toda aquela sequência final da menina ao lado da mãe e da vó.

A morte chocante de Karen (Judy Greer) ao final do segundo filme, após Michael Myers sobreviver a tudo aquilo, é deixada de lado. Para “Halloween Ends”, o ocorrido com a filha da protagonista teve o peso de uma pluma.

Myers, aliás, foi esquecido neste novo filme. Acabou transformado em um patético morador de esgoto que serve como instrutor do mal. Chega a ser assaltado pelo pupilo, que é visivelmente mais fraco.

Outro ponto de fragilidade é que o roteiro força a ideia Rousseauniana de que a sociedade corrompeu um inocente e o transformou em maligno. A pergunta que fica é: por que isso não foi feito antes, desde o primeiro filme, ou talvez com outro personagens que não tenha surgido do nada? Nada que aconteceu nos dois longas anteriores tem peso neste terceiro.

“Halloween Ends” e o vício no “cult”

No início de 2022, tivemos uma grata surpresa com a revitalização da franquia de filmes “Pânico”. O quinto filme do assassino misterioso trouxe um respiro à franquia ao manter suas origens, surpreender dentro de uma condição crível e não se envergonhar de ser o que é. Uma ideia louvável, pois o gênero de terror se encontra em uma fase mais racional e até “cult”, onde longas com assassinos mascarados dão lugar ao terror psicológico.

Com méritos, tais obras se tornaram verdadeiras obras de arte do novo horror. Entretanto, não demorou muito, para que se criasse uma certa ânsia de cineastas buscarem ser respeitados dentro do novo padrão. É como se produzir terror hoje ao estilo do passado fosse algo ruim. O novo “Pânico” (2022) e do primeiro “Halloween” (2018) da trilogia atual vão contra isso, e é por esse motivo que gosto tanto deles.

Ambos os longas nos deram o que se espera de obras do gênero, além de novas ideias dentro de uma realidade crível. Não é o que ocorre em “Halloween Ends”. Em meio a tantas tentativas de se desvencilhar dos próprios antecessores, o longa que acaba de chegar aos cinemas me provoca um questionamento: qual a dificuldade de se fazer um filme de duas horas com alguém usando máscaras matando pessoas em casa durante o Halloween? Por que achar que é necessário fazer um mergulho além disso numa franquia já estabelecida?

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Raphael Christensen
Raphael Christensenhttp://www.igormiranda.com.br
Ator, Diretor, Editor e Roteirista Formado após passagem pelo Teatro Escola Macunaíma e Escola de Atores Wolf Maya em SP. Formado em especialização de Teatro Russo com foco no autor Anton Tchekhov pelo Núcleo Experimental em SP. Há 10 anos na profissão, principalmente no teatro e internet com projetos próprios.

1 COMENTÁRIO

  1. O erro desse filme é querer apressar tudo e não dar tempo para respirar, do nada a mina olha pro cara e pensa “putz, quero dar pra ele a qualquer custo”, não deu tempo de desenvolver o romance.. o cara querer substituir o Meyers mas assim como dito na crítica, ele surgiu DO NADA, o evento do início do filme foi de 0 a 100 MUITO RÁPIDO, o Corey tem umas partes que é MUITO CRINGE, e a Allyson pqp, que mina retardada, queria que tivesse morrido.
    Mas por incrível que pareça depois de ter falado o que falei no parágrafo anterior, eu AMEI esse filme, também devo mencionar que teve algumas cenas mal feitas e até uns erros (no início Allyson tira umas luvas azuis da mão e do nada ela aparece de luvas de volta), mas esse filme me agradou muito mais que o Kills, minha opinião foi que o Kills foi totalmente para encher linguiça, as mortes e o Meyers ficaram impecáveis mas de resto o filme foi um desastre que não serviu pra nada, se assistir o de 2018 e esse de 2022 não vai sentir falta do Kills, pelo menos em Ends a gente vê um desfecho para à história e um ar novo sem ser mais repetição do que foi Kills.
    Nota 9,0. Pecou no desenvolvimento dos personagens (por ser incluído só nesse último) e do romance muito forçado porém acertou em finalmente fazerem algo que realmente faz sentido para acabar com o Meyers. (eu jurava que o Corey iria voltar como Meyers no final).

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