Como Alice Cooper ressignificou as férias escolares em “School’s Out”

Detentora do status de hino do rock, faixa-título de álbum lançado em 1972 o impulsionou alto nas paradas

“Os minutos que faltam para o sinal da escola tocar no último dia de aula são tão intensos que, quando ele toca, é quase um orgasmo”, disse Alice Cooper — o cantor — à Rolling Stone. Ao colocarem a faixa-título de “School’s Out” na 326ª posição na lista das 500 maiores músicas de todos os tempos publicada em 2004, os editores da revista escreveram: “É o tipo de canção que viverá enquanto as crianças odiarem a escola.”

Curiosamente, à época do lançamento do disco, a publicação foi especialmente dura: “Isso [‘School’s Out’] é tão ruim para os garotos no colégio quanto é para seus pais”. Nada como o passar do tempo; que o diga a “tia Alice”.

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Nadando para morrer na praia

Tendo sobrevivido a um mal afamado período psicodélico e, posteriormente, introduzido o circo dos horrores para seguidores como King Diamond e Marilyn Manson nos LPs “Love It to Death” e “Killer” (ambos de 1971), o Alice Cooper — na qualidade de grupo formado por Alice, os guitarristas Glen Buxton e Michael Bruce, o baixista Dennis Dunaway e o baterista Neal Smith — decidiu que cobras e bebês mortos eram coisa do passado.

Mesmo com toda a promoção do mundo e um grande show, “Killer” estagnou na 21ª posição da Billboard e os singles “Be My Lover” e “Under My Wheels” falharam em entrar no top 40 do ranking. A Dave Thompson, autor de “Alice Cooper: Bem-vindo ao Meu Pesadelo”, Smith admitiu:

“Nós estávamos subindo nas paradas no interior dos Estados Unidos. Por mais incrível que pareça, infelizmente não conseguimos bombar em Nova York ou em Los Angeles. Estávamos sendo rejeitados pelos dois maiores mercados da música na América. A indústria fonográfica pensou que tínhamos um rock teatral que ofuscava nossas habilidades musicais questionáveis.”

Havia apenas uma forma de acabar com o aparente boicote: escrever uma canção que se tornasse um hino do rock não só nos Estados Unidos, mas na Europa também.

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Eis que do nada, um estalo

Uma noite, enquanto assistia a uma reprise do seriado dos anos 1940, “The Bowery Boys”, Alice foi surpreendido com uma parte em especial dos diálogos na qual um personagem virava para outro e dizia: “Hey, Satch, school’s out!”.

Embora a tradução mais correta para a expressão seja “pare de levar as coisas tão a sério” — no sentido de “você não está na sala de aula agora” —, o cantor a interpretou ao pé da letra, com uma visão satírica do início das férias escolares.

A partir do riff principal criado por Glen Buxton, “School’s Out” nasceu. De acordo com Dennis Dunaway, em sua autobiografia “Snakes! Guillotines! Electric Chairs!” (2015), esta foi a primeira vez que todos da banda tiveram certeza de que uma música em particular seria o single.

Não só a banda, mas também o presidente, o vice-presidente e o diretor de A&R da Warner Bros., que estavam presentes quando da gravação da música no Record Plant, em Nova York.

Uma inspiração nada ordinária

Decidido qual seria o single, em novo esforço com o produtor Bob Ezrin — o mesmo de “Love It to Death” e “Killer” —, o Alice Cooper decidiu apostar no tema da delinquência juvenil em seu vindouro trabalho.

A principal inspiração por trás do conceito do álbum “School’s Out” foi o musical “West Side Story” (lançado no Brasil com o título “Amor, Sublime Amor”), de 1961. Na história ambientada na Nova York dos anos 1950, o romance entre dois jovens estudantes no ensino médio desencadeia uma rivalidade entre duas gangues, os Jets e os Sharks, que disputam o controle das ruas da cidade.

Em “Snakes! Guillotines! Electric Chairs!”, Dunaway conta que o supracitado filme também inspirou o visual da banda na época:

“O filme [‘West Side Story’] influenciou como Alice e eu nos vestimos naquele ano. Compramos tênis brancos e esfregamos terra neles para parecermos Sharks ou Jets.”

A simplicidade que vende

Não estava nos planos do grupo incluir coros, cordas ou metais, mas tão logo Bob Ezrin os sugeriu, o “sim” veio de maneira unânime. Satisfeito com o próprio trabalho na faixa-título de “School’s Out”, o produtor requentaria a ideia de crianças cantando sete anos mais tarde quando encarregado de produzir “The Wall”, do Pink Floyd.

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O fundamento sonoro do disco ainda é o hard rock setentista, mas a suntuosidade dos arranjos de músicas como “Gutter Cats vs. The Jets”, “Blue Turk”, “My Stars”, “Public Animal #9”, “Alma Mater” e “Grand Finale” acena às big bands de jazz, aos musicais da Broadway, aos Beatles e a trilhas sonoras de filmes.

Ainda assim, foi o single homônimo, talvez o momento mais cru do repertório, que impulsionou o álbum, cuja capa imitava uma carteira escolar e continha uma calcinha de papel dentro do encarte, ao segundo lugar na Billboard e renderia ao Alice Cooper o disco de platina, em 1990. No Reino Unido, o sucesso foi ainda maior, com “School’s Out” no topo das paradas de singles.

Na autobiografia “Me, Alice”, Cooper celebra:

“Os caluniadores restantes finalmente foram silenciados para sempre”.

E em silêncio continuaram quando menos de um ano depois “Billion Dollar Babies” levou a banda à primeira posição em sua terra natal.

Alice Cooper – “Schools Out”

  • Lançado em 5 de junho de 1972 pela Warner Music
  • Produzido por Bob Ezrin

Faixas:

  1. School’s Out
  2. Luney Tune
  3. Gutter Cat vs. the Jets
  4. Street Fight (Instrumental)
  5. Blue Turk
  6. My Stars
  7. Public Animal #9
  8. Alma Mater
  9. Grande Finale (Instrumental)

Músicos:

  • Alice Cooper (vocal)
  • Glen Buxton (guitarra solo)
  • Michael Bruce (guitarra base, teclados, backing vocals)
  • Dennis Dunaway (baixo, backing vocals)
  • Neal Smith (bateria, backing vocals)

Músicos adicionais:

  • Bob Ezrin (teclados)
  • Dick Wagner (solo de guitarra na faixa 6)
  • Wayne Andre (trombone na faixa 5)

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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