Os 45 anos de ‘Billion Dollar Babies’, o grande clássico de Alice Cooper


Alice Cooper – “Billion Dollar Babies”
Lançado em 25 de fevereiro de 1973

Grandes discos, por vezes, dependem de um contexto histórico para que sejam compreendidos por completo. Pode não parecer o caso do shock rock inconsequente do Alice Cooper, mas, especificamente em “Billion Dollar Babies”, faz sentido que seja dessa forma.

Os Estados Unidos, terra de Alice Cooper, passavam por um momento curioso. Os anos de Guerra Fria e Guerra do Vietnã, a reeleição do conservador Richard Nixon e o frequente questionamento do “sonho americano”, em meio aos movimentos de contracultura, influenciaram bastante os pensamentos desse período.

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Ideologicamente, os integrantes de Alice Cooper – na época, ainda uma banda – não passaram incólumes desse turbilhão de instabilidade que eram os Estados Unidos na época. Com o intuito de multiplicar o sucesso do já consagrado “School’s Out” (1972), o grupo deu um tom ainda mais sincero ao disco que estava por vir.

Eis que “Billion Dollar Babies”, um show de horrores – e críticas -, chegou a público no dia 25 de fevereiro de 1973. O álbum foi direto para o primeiro lugar das paradas dos Estados Unidos e Reino Unido, tendo chegado, na terra do Tio Sam, à marca de 500 mil cópias vendidas já no mês seguinte, de março.

“Billion Dollar Babies” não tem um hit como o antecessor “School’s Out”, que conta com sua faixa homônima. Embora não seja conceitual em temática lírica, “Billion” é um disco que se encaixa no conjunto de músicas, não com hits individuais. Ouvir “Hello Hooray” como introdução, ter a complexa “Unfinished Sweet” entre a groovy faixa título e a direta “No More Mr. Nice Guy” ou contar com a acústica “Generation Landslide” antes da obscura “Sick Things” são transições que só se justificam no contexto geral.

Apesar de estar ainda mais refinada, a sonoridade de “Billion Dollar Babies” ainda caminha para o hard rock clássico e teatral que é de praxe de Alice Cooper. Os arranjos de “Unfinished Sweet”, “Raped And Freezin'” e “I Love The Dead” trazem algo que não se via muito na época: performance. A partir de suas melodias, o disco parece contar uma história – de terror e com diversos momentos irônicos, claro.

Por outro lado, são as letras que me conquistaram em “Billion Dollar Babies”. A faixa título, por exemplo, dialoga com “Dead Babies”, lançada em “Killer” (1971) – o sucesso e a controvérsia trouxeram os “bilhões” à banda. Já “Elected”  representa o cenário político americano daquela época e, curiosamente, ainda soa moderna. “Generation Landslide”, por sua vez, empilha críticas ao consumismo com referências temporais. Até mesmo as bizarras “I Love The Dead” e “Raped And Freezin'”, que tratam de necrofilia e assédio sexual, respectivamente, merecem ser citadas – dentro de seus contextos, obviamente.

Com um disco tão bom, Alice Cooper chegou ao seu topo. A banda investiu ainda mais em seus shows teatrais, passando a contar com guilhotina, sangue falso e tudo o que se vê nas apresentações atuais. Entre 40 e 50 pessoas trabalhavam diretamente para as tours – um número expressivo para a época. Curiosamente, o faturamento não chegou nem perto do esperado – as 64 performances tiveram renda de US$ 4 milhões, sendo que esperava-se US$ 20 milhões.

Além do retorno financeiro da estrada não ter chegado da forma esperada, o disco seguinte, “Muscle of Love” (1973), não atingiu o sucesso do antecessor. E, internamente, a banda estava em frangalhos: vícios e conflitos internos fizeram com que Alice, o cantor, seguisse um caminho separado da banda.

Antes de se deteriorar, o Alice Cooper, enquanto banda, deixou um clássico, na exata definição da palavra, nas mãos dos fãs. Seja pelas letras ou pelo conteúdo puramente musical, “Billion Dollar Babies” soa atual. E quando um disco ganha características atemporais, ele pode ser chamado, sem qualquer receio, de “clássico”.

Alice Cooper (vocais, gaita)
Glen Buxton (guitarra)
Michael Bruce (guitarra, teclados)
Dennis Dunaway (baixo
Neal Smith (bateria)

Músicos adicionais:
Donovan (vocais na faixa 4)
Steve “The Deacon” Hunter (solos de guitarra nas faixas 4, 6, 7 e 9; pedal steel na faixa 1)
Mick Mashbir, Dick Wagner e Marc Bolan (guitarra adicional)
Bob Dolin e Bob Ezrin (teclados adicionais)
David Libert (vocais de apoio)

1. Hello Hooray
2. Raped and Freezin’
3. Elected
4. Billion Dollar Babies
5. Unfinished Sweet
6. No More Mr. Nice Guy
7. Generation Landslide
8. Sick Things
9. Mary Ann
10. I Love The Dead

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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