Quando Peter Criss, baterista original do Kiss, quase cometeu suicídio

Em meio a um terremoto, músico esteve entre a vida e a morte ao ver, literalmente, sua vida desmoronar

O baterista Peter Criss sempre fez parte da metade “complicada” do Kiss, ao lado do amigo e guitarrista Ace Frehley. A dupla tinha problemas com drogas e álcool enquanto Paul Stanley e Gene Simmons tentavam manter as coisas funcionando.

A situação evoluiu para um rompimento do grupo original: Criss deixou a formação em 1980 e Frehley, em 1982. Ambos seguiram imersos nos vícios – e no caso do baterista, escalou para uma depressão que quase tirou sua vida em 1994.

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Na época, Peter ainda tentava emplacar uma carreira solo após diversos projetos frustrados na década anterior. Ele montou uma banda chamada Criss, que produzia o álbum “Cat #1”. Sua fortuna, que segundo o próprio chegou a somar US$ 12 milhões no passado, tinha sido reduzida a “apenas” US$ 100 mil.

O ponto mais baixo de sua vida ocorreu quando tudo começou a tremer em seu apartamento em Hollywood, nos Estados Unidos.

O terremoto de Northridge

Em 14 de janeiro de 1994, a região de Los Angeles foi atingida por um tremor de 6.7 na escala Richter, que foi conhecido como o terremoto de Northridge. Com epicentro bem próximo das áreas habitadas, o fenômeno resultou em 9 mil feridos e causou 57 mortes.

No livro “Make-up to Breakup: Minha Vida Dentro e Fora do Kiss”, Peter Criss contou suas impressões assustadoras do momento.

“As lâmpadas voavam pelos ares. Levantei-me, corri para a sala de estar e vi todos os meus discos de ouro do Kiss caindo das paredes e rachando. Também tinha uma estante cheia de cristais Steuben que conseguira arrancar das mãos de minha ex-mulher, e todos aqueles preciosos cristais se estilhaçaram. De repente, o sofá voou pelo ar, a poltrona correu de um lado para o outro, e eu fui arremessado contra a parede do banheiro. Pensei: ‘Jesus, vou morrer numa m**da de um apartamento em Hollywood. Não acredito que vai ser assim’.”

O músico relata que precisou deixar seu apartamento apenas com a roupa do corpo, portando uma bolsa onde guardava seus US$ 100 mil – tudo o que ele tinha – e um revólver Magnum .357, com o qual pretendia se defender caso tentassem roubá-lo. Ele voltou para casa no dia seguinte – e encontrou um cenário desolador.

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“Entrei no meu apartamento e não acreditei no que vi. Tudo que eu possuía de valor estava destruído. Não tinha cama. A vara no closet havia caído, e as minhas roupas se espalhavam pelo chão. A geladeira tombara, e toda a comida estava se estragando. Os armários da cozinha estavam abertos e havia açúcar espalhado por todos os lugares. Na sala de estar, vi todos os discos em pedaços. A parte superior de meu People’s Choice Award, troféu que ganhara por ‘Beth’, havia quebrado. Os retratos de minha filha haviam caído da parede, e os vidros das molduras estavam estilhaçados. Tudo o que costumava olhar e estimar ficara em ruínas.”

Foi nesse momento, sozinho em seu apartamento destruído pelo terremoto, que o baterista começou a ter pensamentos suicidas. A forte crise depressiva fez Peter colocar o cano do revólver na boca. Começava, então, uma batalha do artista contra si mesmo.

O renascimento de Peter Criss

Todos os pensamentos que Peter Criss teve enquanto contemplava o suicídio foram narrados pelo próprio em seu livro. Ele descreve até mesmo a sensação de enfiar o cano da arma na boca (“tem por volta de 15 centímetros de comprimento e enfiei metade para dentro; a largura é de dois centímetros e meio e, assim, passei a sentir um pouco de ânsia de vômito”).

Durante aqueles minutos, o músico pensou em todos os momentos importantes de sua vida. Naturalmente, começou a lembrar-se das pessoas que fizeram parte de sua trajetória.

A mãe dele havia falecido três anos anos, em 1991. A perda não havia sido superada por completo, devido à relação muito próxima entre os dois. O pai estava vivo – e certamente ficaria em péssimo estado ao perder um filho.

Enquanto pensava na família, Peter encontrou em meio aos escombros um retrato de sua filha, Jenilee, ainda criança.

“Meus olhos viajaram um pouco e examinei o armário caído, e, perto dele, estava um retrato de minha filha. Era o meu retrato favorito dela: Jenilee estava com 10 anos ali, e parecia uma santa. E, milagrosamente, o vidro da moldura não estava rachado; o porta-retratos permanecia em pé, de forma desafiadora, no meio de todo o entulho.

Foi quando me deu um estalo. Eu passara por algumas situações bestas, mas, de qualquer forma, ainda tinha minha menina, cara. De repente, houve um enorme sentimento de fé naquele quarto. Comecei a acreditar que Deus não queria me levar no meio daquela grande loucura; Ele tinha algo a mais reservado para mim. No entanto, a depressão era muito escura e muito profunda, e a dor, muito aguda; encontrava-me no meio de um combate difícil, quase como uma batalha pela minha alma. Podia sentir a força do meu poder retendo o gatilho com a arma na minha boca. Tinha o poder de vida ou morte, ali mesmo. Estava no controle pleno de viver ou morrer. Era muito, muito pesado.”

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Decisão certa

Após essa batalha contra si mesmo, Peter Criss guardou a arma. Era a decisão certa a ser tomada.

O músico seguiu sua vida, cuidando primeiro do estrago em sua casa causado pelo terremoto. O álbum “Cat #1” foi lançado naquele mesmo ano e não obteve a repercussão esperada, mas a vida ainda reservaria muitas coisas ao baterista – incluindo seu retorno ao Kiss entre 1996 e 2003 e um novo casamento, com Gigi Criss.

Atualmente, o músico está aposentado da música e tem se mostrado muito apegado a sua fé nos últimos anos – o que certamente colabora para que se mantenha saudável mentalmente nos dias de hoje.

* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição por Igor Miranda.

** No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV), associação civil sem fins lucrativos, oferece apoio emocional e prevenção do suicídio, gratuitamente, 24 horas por dia. Qualquer pessoa que queira e precise conversar, pode entrar em contato com o CVV, de forma sigilosa, pelo telefone 188, além de e-mail, chat e Skype, disponíveis no site www.cvv.org.br.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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