Detroit Rock City: o filme que foi um fiasco de bilheteria e implodiu reunião do Kiss

Banda tentou, em 1999, emplacar um sucesso no cinema pela segunda vez, mas resultado foi ainda pior, inclusive para a relação interna do grupo

O Kiss parecia estar recuperando sua glória na segunda metade dos anos 90. Com a reunião da formação original e o lançamento de um novo álbum de estúdio – “Psycho Circus”, lançado em 1998 – o próximo passo na máquina empresarial da banda era o cinema, com o filme “Detroit Rock City” (1999).

O momento parecia ideal para a segunda investida da banda em Hollywood – no fim da década de 1978, eles tentaram com o filme “Kiss Meets the Phantom of the Park” (“Kiss Contra o Fantasma do Parque”, no Brasil), que não deu muito certo. Por outro lado, internamente, o funcionamento da banda na virada do século já estava muito comprometida.

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Lançado no Brasil com a tradução literal “Detroit, a Cidade do Rock”, o filme “Detroit Rock City” é mais bem visto pelos fãs hoje em dia no que na época do lançamento. Contando a história de um grupo de adolescentes que enfrenta desafios para ir a um show do quarteto, o longa acabou sendo um fracasso de bilheteria.

Kiss contra o Fantasma do Parque (e contra o bom gosto)

Como já mencionado, em 1978, o Kiss produziu um filme chamado “Kiss Meets the Phantom of the Park”. Era o auge da popularidade da banda e parecia ser a situação adequada para a investida cinematográfica, ainda que tenha sido uma produção exclusiva para a TV.

O longa é bem fraco, mesmo para os padrões da época, com um roteiro bem previsível e cheio dos clichês mais óbvios, além de momentos dignos de piada, especialmente em relação aos “superpoderes” que os membros da banda tinham. Obteve boa audiência devido à popularidade do grupo na época, mas não passou disso.

O vocalista e baixista Gene Simmons sempre foi o grande incentivador da banda em sua carreira cinematográfica, mesmo depois do fiasco com “Kiss Meets the Phantom of the Park”. Na década de 80, já na fase sem maquiagem, ele chegou a delegar algumas responsabilidades artísticas no Kiss para o também cantor e guitarrista Paul Stanley com a intenção de embarcar em uma carreira de ator – que acabou nunca engrenando.

Em “Detroit Rock City”, o baixista linguarudo não queria repetir os mesmos erros das outras experiências, que foram um fracasso. Porém, de acordo com o baterista Peter Criss e o guitarrista Ace Frehley, que haviam voltado ao Kiss em 1996, foram ações do próprio Simmons que acabaram por “derrubar” o novo filme, bem como a festejada reunião da formação original, que vinha se sustentando até ali.

Gene Simmons e o controle total de “Detroit Rock City”

Para a nova empreitada, o Kiss chamou o diretor Adam Rifkin e o roteirista Carl V. Dupré, por intermédio do produtor Tim Sullivan. Gene Simmons também atuou como coprodutor, ao lado de Barry Levine.

Todavia, conforme revelado por Peter Criss em sua autobiografia, “Makeup to Breakup”, o baixista acabou sendo muito mais do que isso.

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“Ace, Paul e eu nem sabíamos sobre o filme até que lemos sobre ele no The Hollywood Reporter. Depois de nos encontrarmos com Tim e os produtores, fiquei animado. Não era algo tipo Hanna-Barbera, era um filme de verdade, com um diretor – Adam Rifkin, de quem eu já tinha ouvido falar e admirava por seu filme ‘Um Ratinho Encrenqueiro’ (‘Mouse Hunt’). Eu realmente queria trabalhar nisso, mas então Gene começou a f**** tudo.”

Segundo o baterista, Gene Simmons fazia questão de controlar cada decisão sobre o filme, incluindo, por exemplo, a trilha sonora. Criss reclama que foram escolhidas apenas músicas do Kiss compostas por Simmons e Stanley, fazendo com que ele e Frehley não recebessem royalties pelo uso de suas músicas. Mais do que isso: os dois eram, segundo ele, frequentemente menosprezados.

“Ele fez com que cortassem uma cena onde os garotos nos encontravam no backstage porque, de acordo com ele, ‘Ace e Peter não conseguem atuar’. Então, ele disse aos outros produtores e ao diretor que Ace e eu éramos como crianças e precisávamos ser mantidos na rédea curta.”

Cortes finais – de cenas a relações

Peter Criss também afirma, em seu livro, que a gravação de uma nova versão da música “Detroit Rock City”, presente no longa, foi encomendada pelo estúdio cinematográfico. De acordo com o baterista, essa foi a última gravação feita pela formação original do Kiss.

Outras ações do baixista durante a produção do longa acabaram sendo a gota d’água também para Ace Frehley. Também em sua autobiografia própria, “Não me arrependo”, o guitarrista acusa Simmons de ter ordenado de última hora o corte de uma cena onde a filha dele, Monique Frehley, aparecia.

A ideia de trazê-la teria sido do próprio Gene, mas o baixista teria usado a situação para “se vingar” de Ace por algum vacilo.

“Eu sabia que não era por acidente. Gene esteve envolvido no processo de edição diariamente. Eu lembro até de receber fitas dele, no começo, com cenas e finais alternativos, mas a cena de Monique sempre estava incluída. Eu sabia que Gene estava provavelmente bravo comigo por alguma coisa que eu fiz, mas me atingir atacando minha filha? Quero dizer, foi ideia dele em primeiro lugar, então que p**** ele estava fazendo?”

A retirada da cena onde Monique aparecia foi levado por Frehley como um ataque pessoal e acabou contribuindo para piorar o clima na banda – que já não era dos melhores desde as gravações de “Psycho Circus”, quando Ace e Peter foram substituídos por músicos de estúdio e nenhum fã foi avisado disso.

“Nunca me senti da mesma forma sobre Gene depois disso. Ele chegou ao ponto mais baixo comigo e essa falha em particular contribuiu muito para minha segunda saída do Kiss.”

Resultado ruim e o início do fim

Apesar de ser acusado de controlador por alguns, Gene Simmons chegou a ser elogiado por outras pessoas por seu trabalho como produtor pelo diretor do filme. De acordo com Adam Rafkin, foi ótimo tê-lo como produtor, inclusive em eventuais discussões com o estúdio a respeito de diferenças criativas, como um todo.

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Em entrevista concedida em 2009, o cineasta declarou:

“Gene foi um produtor fantástico para trabalhar. Ele ama filmes e é muito respeitoso com o processo. Sempre que nos encontrávamos em uma encruzilhada criativa um com o outro, ele sempre se reportava a mim, porque eu era o diretor. Ele também lutava a meu favor contra o estúdio se houvesse uma discordância criativa. Gene é ótimo.”

No entanto, relatos como o de Tim Sullivan, que disse ter recebido ligações de Simmons para tratar sobre o filme no meio de um show do Kiss, enquanto Peter Criss fazia seu solo de bateria, mostram que talvez o baixista estivesse empolgado além da conta com a produção. O tumulto cobrou seu preço na bilheteria e na carreira dos envolvidos.

No geral, “Detroit Rock City” foi considerado um fracasso de bilheteria, tendo arrecadado menos de US$ 6 milhões mundialmente com a venda de ingressos. O orçamento ficou entre US$ 17 milhões e US$ 34 milhões, o que caracteriza um prejuízo e tanto.

O “rombo” seria ainda maior na banda, que entraria no novo milênio em clima de despedida.

Em 2000, ano seguinte ao lançamento do filme, o Kiss daria início a uma turnê de despedida – de mentirinha, pois foi apenas o canto do cisne apenas da formação original, com Gene e Paul demitindo Ace e Peter e seguindo com outros integrantes.

Criss chegou a ter um breve retorno em 2003, mas nunca mais os quatro integrantes originais tocariam juntos após essa turnê.

Do lado dos patrões, o assunto do filme é deixado de lado. Os motivos para o fim da formação original do Kiss são os mesmos de sempre: os abusos de álcool e drogas por parte de Frehley e Criss.

Algumas performances ruins dos colegas na “Farewell Tour” acabam por dar a razão a Simmons e Stanley. Contudo, independente dos motivos reais, o fim da reunião do Kiss provavelmente não teve início nos palcos e, sim, em um set de filmagens.

* Texto desenvolvido em parceria por André Luiz Fernandes e Igor Miranda. Pauta, argumentação base e edição geral por Igor Miranda; redação, argumentação complementar e apuração adicional por André Luiz Fernandes.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

2 COMENTÁRIOS

  1. Olha cara, vou falar a real, isso soa mais como dor de cotovelo do que como critica valida, é obvio que todo projeto pra dar certo precisa de um líder, é obvio que vão escolher as melhores musicas, etc…

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