Por que ‘Led Zeppelin III’ decepcionou tantos fãs em 1970

Hoje visto como clássico, álbum trouxe lendária banda puxando o freio para apostar em sonoridade acústica

O Led Zeppelin começou com o pé na porta. Os dois primeiros álbuns, de 1969, redefiniram o rock e fomentaram o que hoje chamamos de hard rock. Porém, em 1970, a banda decidiu puxar o freio com ‘Led Zeppelin III’.

Lançado em 5 de outubro de 1970, o terceiro disco da carreira do Zeppelin trouxe uma sonoridade ligeiramente distinta em comparação aos dois primeiros trabalhos. Boa parte das músicas foram gravadas em formato acústico, explorando o folk e ramificações menos densas do blues.

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‘Led Zeppelin III’ era tão aguardado que se tornou um dos álbuns com mais pedidos antecipados em pré-venda da história até então. Nos Estados Unidos, foram quase um milhão de cópias adquiridas antes mesmo do lançamento.

A expectativa só aumentou quando a data foi adiada em dois meses porque o volvelle que acompanhava o encarte do LP atrasou para ficar pronto. A obra é assinada por Zacron, que era amigo do guitarrista Jimmy Page e afirmou ter ficado orgulhoso do trabalho, mas reclamou, anos depois, pelo fato de ter um prazo para cumprir – algo que todo artista odeia, seja da música, das artes visuais ou de outros campos.

Quando ‘III’ chegou aos ouvidos do público, muitos esperavam pauladas como ‘Whole Lotta Love‘, ‘Communication Breakdown’, ‘Heartbreaker’ e ‘Good Times Bad Times’. Acabaram ficando com uma série de músicas acústicas e mais lentas, como ‘Friends’, ‘Gallows Pole’, ‘Tangerine’, ‘That’s the Way’, ‘Bron-Y-Aur Stomp’ e ‘Hats off To (Roy) Harper’.

A tracklist do álbum até traz algumas músicas em formato mais convencional, como ‘Immigrant Song’, ‘Celebration Day’ e ‘Out on the Tiles’. Mesmo algumas acústicas, como ‘Gallows Pole’, são animadinhas. E há, claro, o melancólico blues de ‘Since I’ve Been Loving You’. Todavia, a maioria das faixas corresponde a uma proposta mais experimental.

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Das montanhas para os fãs

O vocalista Robert Plant foi o principal “acionista” da ideia de fazer um álbum diferente, com músicas mais acústicas, explorando influências do folk. O guitarrista Jimmy Page, a mente por trás do Zeppelin, gostou da ideia e se isolou com Plant, junto de ambas as esposas, nas Cambrian Mountains, no País de Gales. Foi ali que boa parte do conceito presente em ‘Led Zeppelin III’ nasceu, com inspiração no ambiente bucólico em que estavam inseridos.

Curiosamente, só uma música foi finalizada por lá: ‘That’s the Way’. Todavia, eles trouxeram a ideia do campo para a cidade e terminaram de formatar o conceito.

O problema é que como os fãs esperavam outra coisa, ‘Led Zeppelin III’ foi bastante criticado em suas primeiras semanas de lançamento. Ninguém quis saber se tinha música boa ali: queriam apenas bater cabeça.

Treta com imprensa

Foto: reprodução / Facebook

A imprensa compartilhou das críticas feitas pelos fãs e detonou o álbum. Teve jornalista dizendo que o Led Zeppelin queria imitar o Crosby, Stills, Nash & Young. Será mesmo?

No fim das contas, Jimmy Page ficou tão chateado com tudo isso que ficou 18 meses sem dar entrevista. Foi por conta das críticas negativas na imprensa que o álbum ‘Led Zeppelin IV’ (1971) foi lançado de forma tão misteriosa – até mesmo no encarte desse disco, o grupo dispensou informações escritas e fotos.

Em entrevista concedida para o livro ‘Light & Shade: Conversations With Jimmy Page’, em 2012, Jimmy Page comentou:

“Estávamos tão à frente que era difícil para as pessoas saberem o que diabos estávamos fazendo. Os críticos, especialmente, não entendiam. O Led Zeppelin estava crescendo. Muitos contemporâneos nossos narravam a perspectiva deles, enquanto nós estávamos sendo realmente expansivos. Eu estava amadurecendo como compositor e músico e havia muitos tipos de música que me estimulavam. Com essa incrível banda, eu tive a chance de ser realmente aventureiro.”

As vendas de Led Zeppelin III

No geral, ‘Led Zeppelin III’ teve boas vendas. Chegou ao primeiro lugar das paradas de pelo menos cinco países, incluindo Estados Unidos e Reino Unido. A banda não lançava singles em terras britânicas e pouco apostava no formato no restante do mundo, então, apenas ‘Immigrant Song’ (com ‘Hey, Hey, What Can I Do’ no lado B) serviu como “canção de trabalho” – e chegou ao 16° lugar em solo americano.

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Só que, evidentemente, ‘III’ não teve as mesmas boas vendas que ‘II’, que chegou ao topo das paradas de mais países e emplacou ‘Whole Lotta Love’ como single. Atualmente, ‘II’ registra 12 milhões de cópias comercializadas nos Estados Unidos, enquanto seu sucessor chegou à metade desse número.

Na época, ‘III’ chegou a conquistar disco de ouro nos Estados Unidos pelas 500 mil cópias comercializadas, mas as vendas desaceleraram não só pela proposta experimental, como, também, pela repercussão negativa entre jornalistas. Passado o “hype” do lançamento, o sucesso do disco caiu.

Todavia, o Zeppelin fez o que quis, em termos artísticos, e entregou um álbum sincero. Mesmo que tenham chocado os fãs, eles subverteram os valores hedonistas de astros do rock que eles mesmos ajudaram a construir no primeiro ano e meio de banda.

É preciso ter talento, acima de tudo, para ousar após chegar no auge. O Led Zeppelin fez isso tantas vezes – inclusive no álbum seguinte, ‘IV’ – que toda a trajetória da banda reforça o quanto ela era especial.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

1 COMENTÁRIO

  1. LED ZEPPELIN III = simplesmente O melhor Álbum da Banda.
    Simples assim.
    O resto é mimimi de fã burro que quer ouvir “Rock & Roll” pro resto da vida & ou pseudocrítica musical idem.
    Único que depois de 52 anos (o LZ & EU nascemos juntos) ainda consigo ouvir inteiro no repeat.

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