Ouça e saiba como foi o último show do Led Zeppelin, em 1980

No dia 7 de julho de 1980, acontecia o último show do Led Zeppelin. A apresentação foi realizada na arena Eissporthalle, em Berlim, Alemanha, como conclusão de uma curta turnê de 14 datas por alguns países da Europa entre junho e julho daquele ano. O áudio dessa performance pode ser ouvido mais abaixo, nesta mesma página.

Pouco mais de dois meses depois, em 25 de setembro de 1980, o baterista John Bonham morreu de aspiração pulmonar. O músico havia consumido 40 doses de vodca – entre 1 litro e 1,4 litro da bebida alcoólica –, caiu no sono e se asfixiou com o próprio vômito. Em dezembro, os remanescentes do Led Zeppelin divulgaram um comunicado informando que não seguiriam com a banda sem Bonzo.

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Anos de pouco trabalho

O Led Zeppelin estava sem fazer uma turnê propriamente dita desde 1977 quando surgiu a ideia de marcar uma série de shows pela Europa em 1980. Um ano antes, em 1979, a banda havia realizado duas apresentações no festival Knebworth, na Inglaterra, bem como outras duas como aquecimento em Copenhague, na Dinamarca. Porém, o ritmo de atividades era bem menos intenso do que em outros momentos.

Assista, abaixo, a um registro da banda no Knebworth:

O vocalista Robert Plant, em especial, estava desmotivado a seguir com o Led Zeppelin no ritmo de outros tempos. Também em 1977, no mês de julho, o cantor perdeu o filho Karac, de apenas 5 anos, em decorrência de um raro e agressivo vírus estomacal. Plant estava em turnê na ocasião e lamentava profundamente a morte do menino.

Os anos se passaram e o Led Zeppelin seguiu sem trabalhar tanto. A banda gravou o álbum ‘In Through the Out Door’ no fim de 1978, o lançando em agosto de 1979. Eles precisavam sair em turnê para divulgá-lo. Robert Plant não queria excursionar pelos Estados Unidos, nem no Reino Unido, pois estavam sendo muito criticados nesses países – não só pelo pouco inspirado disco que acabavam de liberar, como, também, pelas polêmicas ao longo dos anos.

A última turnê do Led Zeppelin

Diante desse cenário, o empresário Peter Grant decidiu marcar uma breve turnê por alguns países da Europa, como Alemanha, Bélgica, Holanda, Áustria e Suíça. Foram, ao todo, 14 apresentações em um mês. A ideia de Grant era deixar Plant empolgado novamente para voltar à estrada, especialmente aos Estados Unidos.

Para essa turnê, o Led Zeppelin adotou um formato minimalista, tanto em visual e estrutura quanto em performance musical. O hedonismo rockstar do início da década de 1970 estava fora de moda: no rock, gêneros como o punk e a new wave ditavam tendência em contraste com tudo aquilo que o Zeppelin representava até então.

A solução para fugir da pompa do hard rock daqueles tempos foi uma turnê que “voltava ao básico”. A estrutura trazia um palco mais modesto, sem telões e com menos recursos de iluminação e afins, que combinava com as arenas indoor, de menor porte, que receberiam os shows. Até o visual mudou: os caras subiam no palco de cabelos mais curtos e roupas mais básicas.

Musicalmente, essa mesma proposta foi mantida. Os longos solos de bateria e o exibicionismo do guitarrista Jimmy Page com um arco de violino, entre outros momentos do tipo, ficaram de lado. Os improvisos de 30 minutos também.

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O Zeppelin cortou as “gorduras” dos shows, mas o repertório ainda estava recheado de clássicos. A banda não abria mão de hits como ‘Whole Lotta Love’, ‘Stairway to Heaven’, ‘Black Dog’ e ‘Kashmir’, que dividiam espaço com canções de ‘In Through the Out Door’, como ‘All My Love’, ‘Hot Dog’ e ‘In the Evening’. Rolavam, ainda, dois covers logo na abertura dos sets: ‘Train Kept A-Rollin’’ (Tiny Bradshaw) e ‘Nobody’s Fault but Mine’ (Blind Willie Johnson).

Veja, abaixo, registros em vídeo de um show em Munique, no dia 5 de julho de 1980 (a apresentação final, em Berlim, poderá ser ouvida mais abaixo nesta mesma página):

Os problemas pelos quais os integrantes passavam naquele período, especialmente os já mencionados de Plant e os vícios de John Bonham e Jimmy Page, não atrapalharam o clima de camaradagem que rolou durante a turnê. “Estávamos em ótimo espírito. Simplificamos bastante e, como artistas, lembro que o punk nos acordou. Fez com que a gente se lembrasse de como era no início. Na época em que John morreu, estávamos prontos para voltar. Ele morreu durante os ensaios de uma turnê americana”, disse o baixista John Paul Jones, em entrevista ao Celebrity Cafe.

Apesar do bom clima entre os músicos, problemas são problemas. E apareceram, em grau mais sério, no show em Nuremberga, na Alemanha, em 27 de junho: após tocar apenas três músicas, a banda teve que parar de tocar porque John Bonham passava muito mal. Embora tenha dito que apenas havia comido demais, o baterista sofreu um colapso pelo abuso de álcool e drogas.

O último show do Led Zeppelin

Em 7 de julho de 1980, Robert Plant, Jimmy Page, John Paul Jones e John Bonham subiram juntos ao palco pela última vez. A apresentação, na arena Eissporthalle de Berlim – na época, Berlim Ocidental, devido à divisão da Alemanha pela União Soviética –, não chegou a ser filmada, como quase toda a turnê, mas possui registros em áudio que circulam na internet.

O show seguiu conforme o protocolo: dois covers na abertura, músicas de álbuns mais recentes no miolo e clássicos entre as canções finais. Só chamou atenção a ausência de ‘Achilles Last Stand’, que estava sendo tocada em quase todas as outras apresentações, só ficando de fora da performance em Viena, Áustria, no dia 26 de junho.

O registro em áudio mostra, ao menos em retrospecto, as consequências causadas pelo vício. John Bonham até se mantinha bastante firme tocando bateria, mas Jimmy Page, que já era criticado antes, soava cada vez mais desleixado na guitarra. Robert Plant parecia explorar seus vocais de forma diferente, encontrando uma forma mais identitária de explorar menos os agudos dos tempos áureos. John Paul Jones estava, provavelmente, em seu auge: muito seguro, parecia ser a “cola” que grudava tudo aquilo no palco.

Comentários publicados no site do Led Zeppelin por pessoas que estiveram presentes nesse show mostram que a percepção era a mesma: havia o encanto, ainda que a performance não fosse das melhores. “A banda parecia desgastada pela turnê. Fiquei desapontado com o show, devo admitir. Foi pouco inspirado. Parecia um percurso rápido entre alguns hits e outras músicas novas de ‘In Through the Out Door’, que não me agradou por não soar tão Zeppelin como os outros”, afirmou um fã.

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“Esse show alterna entre o brilhante e o tédio, especialmente de Jimmy. Os bons momentos são realmente bons. ‘Since I’ve Been Loving You’ tem uma grande versão e há muito experimentalismo em uma versão bem longa de ‘Trampled Under Foot’, além de uma performance bem extensa de ‘Stairway to Heaven’”, disse outro.

“O solo de ‘Trampled Under Foot’ de Page soou um pouco desleixado. ‘The Rain Song’ e ‘All My Love’ foram perfeitas. ‘White Summer’ foi bem longa e entediante. ‘Stairway’ teve a maior versão aqui, com 14 minutos! Mas o solo de Jimmy é bem desleixado”, completou mais um.

Curiosamente, o Led Zeppelin faria mais um show em Berlim, no dia seguinte, em 8 de julho. Porém, esse show não foi realizado, apesar de constar no pôster da turnê.

Ouça o último show do Led Zeppelin:

Repertório:

1. The Train Kept A-Rollin’ (Tiny Bradshaw cover)
2. Nobody’s Fault but Mine (Blind Willie Johnson cover)
3. Black Dog (precedida pela introdução de Out on the Tiles)
4. In the Evening
5. The Rain Song
6. Hot Dog
7. All My Love
8. Trampled Under Foot
9. Since I’ve Been Loving You
10. White Summer/Black Mountain Side
11. Kashmir
12. Stairway to Heaven

Bis:

13. Rock and Roll
14. Whole Lotta Love

O futuro

Os shows nos Estados Unidos já estavam com ingressos à venda quando John Bonham morreu. Surgiram rumores, inclusive, de que a banda seguiria com outro baterista, a exemplo do The Who, que continuou sem Keith Moon, morto em 1978. Nomes como Cozy Powell (Rainbow, Jeff Beck), Carmine Appice (Cactus; Beck, Bogert & Appice), Bev Bevan (Electric Light Orchestra), Barriemore Barlow (Jethro Tull) e Simon Kirke (Free, Bad Company) foram apontados pela imprensa para uma possível vaga no Zeppelin – Kirke, inclusive, participou de um show da turnê final da banda, em Munique, na Alemanha.

Como dito anteriormente, John Bonham morreu em 25 de setembro, pouco mais de 2 meses após o último show. A banda estava em meio a ensaios para, enfim, realizar uma turnê pelos Estados Unidos. Rodar pela América era o plano de Peter Grant ao marcar as apresentações na Europa, certo?

Mesmo assim, a decisão foi de acabar com o Led Zeppelin. Para os remanescentes, não havia sentido em seguir sem John Bonham. “Queremos que todos saibam que a perda de nosso querido amigo e o senso profundo de harmonia inseparável que tínhamos nos fez decidir que não podemos continuar”, disse comunicado à imprensa, divulgado em 4 de dezembro de 1980. Encerrava-se, ali, a trajetória de uma das maiores bandas da história do rock.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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