Jimmy Page morou no Brasil por anos e um livro conta essa história

Guitarrista do Led Zeppelin casou-se com uma americana radicada no país, com quem teve filhos, e fixou residência na pacata cidade baiana de Lençóis

O guitarrista britânico Jimmy Page, lendário integrante do Led Zeppelin, morou no Brasil por anos. Casou-se com uma americana radicada no país, Jimena Gómez, com quem teve dois filhos biológicos e uma adotiva, e fixou residência na pacata cidade baiana de Lençóis, ainda que sem abandonar Londres, entre os anos de 1994 e 2008.

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Pode admitir: essa história parece mentira, não é? Daquelas fake news que tiozão metido a sabichão do rock, com nível etílico acima do esperado, sai contando em mesa de bar. Afinal, ninguém se recorda de Page ter aparecido no programa de Gugu Liberato, de ter feito ponta em uma novela da Globo, de ser visto em grandes eventos ou ter feito shows históricos no Brasil – aqui, ele só se apresentou no festival Hollywood Rock de 1996, realizado em São Paulo e no Rio de Janeiro, nos dias 20 e 27 de janeiro daquele ano.

Pois pode acreditar: é verdade. O livro ‘Jimmy Page no Brasil’, do jornalista e escritor Leandro Souto Maior, está para ser lançado e promete contar essa história com a riqueza de detalhes que o fã de Led Zeppelin merece. A obra chegará a público por meio da editora Garota FM Books e está nas etapas finais de seu projeto de financiamento coletivo, por meio da confiável plataforma Catarse (clique aqui para acessar).

Foto: Garota FM Books / divulgação

Até o fim de novembro, é possível participar do crowdfunding em uma série de recompensas, incluindo a de ter seu nome na seção de agradecimentos do livro. No comecinho de dezembro, a obra será rodada na gráfica, para que a entrega seja iniciada entre os dias 15 e 20 do mesmo mês. “Será como um presente de Natal”, brinca Leandro Souto Maior, em entrevista exclusiva.

No mês de dezembro, já com o crowdfunding encerrado, será possível adquirir o livro por meio da pré-venda, cujas informações serão divulgadas nas redes sociais da Garota FM. Em janeiro de 2021, a obra chega às livrarias, com preço mais alto que o disponível na campanha de financiamento coletivo e na pré-venda. Então, não perca tempo.

O material de divulgação do livro ‘Jimmy Page no Brasil’ já adianta o conteúdo: além de vários encontros com astros da música brasileira, Jimmy Page passou temporadas na Bahia e inaugurou a Casa Jimmy para abrigar jovens sem lar no Rio de Janeiro – o que lhe rendeu o título de Cidadão Honorário da cidade. A obra, que será lançada em português e em inglês, não é uma biografia de Page, mas um relato histórico específico de seus tempos em terras tupiniquins.

O prefácio é assinado por Ed Motta, grande colecionador de itens do Led Zeppelin no Brasil, e posfácio de Sebastião Reis, filho de Nando Reis. Foram entrevistados para o projeto: Aninha Capaldi, Armandinho Macedo, Canisso (Raimundos), Carlos Albuquerque (Calbuque), Carlos Coelho (Biquini Cavadão), Charles Gavin, Daniela Mercury, Ed Motta, Fabio Massari, Fernando Magalhães (Barão Vermelho), Fernando Nunes (Cássia Eller), George Israel, Gilberto Gil, Herbert Vianna, Ivo Meirelles, Liminha, Luiz Henrique Romanholli, Luiz Claudio Rocha (Lula Zeppeliano), Marcelo Costa Santos, Marcos Maynard, Margareth Menezes, Mauricio Valladares, Nando Reis, Paulo Ricardo (RPM), Pepeu Gomes, Raíssa de Oliveira, Roberto Frejat, Tony Bellotto (Titãs) e Zé da Gaita, entre outros.

Fernando Magalhães e Roberto Frejat, ambos no Barão Vermelho na época, juntos de Jimmy Page no Hotel Sheraton, em janeiro de 1996 (foto: divulgação)

A compilação de histórias reúne detalhes da vida de Jimmy Page no Brasil que nunca foram apresentados em suas biografias mais famosas. “Os jornalistas e biógrafos de fora não têm ideia da dimensão das coisas que o Jimmy viveu aqui. Como não pesquisaram, seja pela falta de interesse ou pela distância, é como se não tivesse sido tão significativo. Minha pesquisa mostra que foram muitos anos, e ele vinha todo ano, de 1994 até 2008. Passava temporadas na casa que ele construiu, após comprar um terreno. Ele chegou a comprar uma segunda casa e ainda construiu uma terceira, em Lençóis”, comentou Leandro.

Ao longo do bate-papo, o autor destaca, gentilmente, vários spoilers deliciosos sobre a obra. Da turnê pelo Brasil em 1975 que chegou a ser negociada, passando pelo início do vínculo com Jimena Gómez e o país, até várias peculiaridades ocorridas com Page em terras tupiniquins entre 1994 e 2008, a ótima entrevista proporciona uma introdução do que o livro pretende oferecer aos fãs.

A visita em 1979 – e a turnê que não rolou em 1975

Fotos: divulgação

O primeiro capítulo de ‘Jimmy Page no Brasil’ aborda a lendária vinda do Led Zeppelin ao país que nunca aconteceu. Não fosse a entrevista que Peter Grant concedeu ao jornalista e músico Eduardo Athayde para a revista brasileira ‘Pop’ em 1975, talvez, nem ficaríamos sabendo dessa negociação.

Athayde foi ouvido para o livro, que também reproduz páginas da icônica entrevista de Grant à ‘Pop’. A negociação para trazer o Led Zeppelin realmente aconteceu – e não vingou por questão de valores –, porém, diferentemente do que alguns sites publicaram já recentemente, Jimmy Page não acompanhou o empresário nesta viagem.

“A informação de que Jimmy veio com Peter Grant é errada. Quem veio foi só o Peter Grant. A reportagem da ‘Pop’ não diz que o Jimmy Page veio. Em alguns sites, diz, erroneamente, que veio. E esse é o primeiro capítulo: a sondagem do Peter Grant por locais e possibilidades de trazer o Led Zeppelin. Era um show caro, com telão, raio laser, e era algo super novo na época, sendo, talvez, o maior show de rock no mundo da época. Ele conversou com empresários, mas não fechou negócio. Chegou a conversar com o Marcos Lázaro, que trouxe o Alice Cooper em 1974, provavelmente o primeiro grande show de rock a vir para o Brasil. Tenho uma declaração posterior do Jimmy, nos anos 90, lamentando não ter fechado negócio na época, pois os empresários não toparam pagar o preço, ou não fizeram uma contraproposta que eles aceitassem”, revelou Leandro Souto Maior.

Charlotte Martin, modelo francesa que foi mulher de Jimmy Page entre 1970 e 1986, também foi entrevistada para o livro e confirma: Page não veio ao Brasil em 1975.

E nem em 1972, conforme Rita Lee diz em sua autobiografia, ‘Rita Lee: Uma autobiografia’, lançada em 2016 pela Editora Globo. Charlotte Martin disse que, de fato, a primeira visita de Jimmy Page ao Brasil foi ao lado dela e da filha, Scarlet, com 9 anos na época, para passar a virada de 1979 para 1980, com Jim Capaldi, baterista do Traffic, e sua esposa, a brasileira Aninha Capaldi.

“No livro, eu até desminto a Rita Lee (risos). Em sua autobiografia, ela conta que encontrou Jimmy Page em 1972, na Bahia, e que deu um violão para ele. Só que, segundo a Charlotte, também não houve vinda ao Brasil nessa época. A brasileira Aninha Capaldi e o falecido baterista Jim Capaldi, do Traffic, foram os anfitriões dessa vinda de Jimmy ao Brasil, em 1979. Eles fizeram vários programas na ocasião. Até fui a Londres para entrevistar Aninha e Charlotte, e a Aninha disse lembrar que os dois falavam que era a primeira vez deles no Brasil”, afirmou.

Ok, daremos um desconto para Rita Lee. “A Rita Lee já falou em entrevistas, inclusive uma recente, que ela disse: ‘minha memória não é uma Brastemp’”, comentou Leandro, aos risos.

Músicas com influência do Brasil

Duas músicas lançadas pelo Led Zeppelin trazem a influência do Brasil de formas diferentes. São elas: ‘Fool in the Rain’, lançada no álbum ‘In Through the Out Door’ (1979), e ‘Bonzo’s Montreux’, gravada em setembro de 1976 e divulgada no disco ‘Coda’ (1982), póstumo à morte do baterista John Bonham.

‘Fool in the Rain’ teve o seu estalo inicial por conta da Copa do Mundo de 1978. O vocalista Robert Plant era apaixonado por futebol e Jimmy Page também gostava. Ambos acompanharam as partidas do campeonato e descobriram um groove irresistível na torcida da seleção brasileira.

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“Eles assistiram aos jogos da Copa do Mundo pela televisão, na época. O Brasil estava em destaque – Pelé ainda era uma superestrela, apesar de não ter jogado aquela Copa. Então, eles assistiram aos jogos da seleção brasileira e ficaram fascinados com a batucada da torcida, além do apito típico de escola de samba. Aquele ‘samba de gringo’ que está no meio da música, que começa justamente com um apito, surgiu, de acordo com declarações deles para outros veículos ou de outras biografias, com inspiração na torcida brasileira na Copa do Mundo de 1978”, disse Leandro.

Com relação a ‘Bonzo’s Montreux’, ninguém melhor que Jimmy Page para contar o que realmente inspirou a criação da faixa. O guitarrista faz publicações diárias em suas redes sociais para recordar-se de fatos relacionados à sua carreira.

Em um post, que chegou a ser replicado neste ano, Page disse: “Eu tenho certeza que a inspiração de John (para ‘Bonzo’s Montreux’) veio das escolas de samba brasileiras”.

1994: o início do vínculo

Jimmy Page e Robert Plant no Hotel Sheraton, em 1994 (foto: divulgação)

Antes de 1994, Jimmy Page, ao que tudo indica, só havia visitado o Brasil naquela virada de ano entre 1979 e 1980, curtindo o Rio de Janeiro junto de Jim e Aninha Capaldi. Algo casual.

A segunda passagem de Page pelo país ocorreu, em 1994, por razões profissionais. Na época, ele estava com o projeto Page and Plant, junto de Robert Plant, e os dois gravaram o álbum ao vivo ‘No Quarter’, tocando músicas do Led Zeppelin em um show para a série ‘MTV Unplugged’, da MTV.

Os dois músicos fizeram uma tour promocional – sem shows, só entrevistas coletivas e eventos de divulgação – por quatro cidades: Tóquio (Japão), Sydney (Austrália), Buenos Aires (Argentina) e Rio de Janeiro. Conforme apontado por Leandro Maior Souto, a entrada do Rio no roteiro ocorreu a pedido de Plant, que havia se apresentado meses antes no festival Hollywood Rock de 1994, em show solo, e adorado o público local.

“Era apenas a presença deles na exibição pública do vídeo que eles gravaram junto do álbum e um especial da MTV Brasil. Foi exibido no Rio de Janeiro, em um telão no Arpoador, na praia de Ipanema. Além disso, eles só visitaram Tóquio, Sydney e Buenos Aires. Eles vieram, deram uma entrevista coletiva no hotel Sheraton”, afirmou.

Estava previsto para que os músicos conversassem com o público presente no Arpoador antes da exibição do vídeo de ‘No Quarter’. Acabou não rolando devido a uma situação desagradável em Buenos Aires.

“Quando eles chegaram no local, o empresário deles não achou que havia segurança suficiente. A escala anterior foi em Buenos Aires, onde o Jimmy Page conheceu a Jimena Gómez. Lá, ele foi assediado por um fã e enquanto o segurança tentava afastá-lo, o fã puxou o cabelo e conseguiu arrancar um pedaço. Então, o Jimmy ficou meio temeroso, ou p*to (risos). Por isso, houve insegurança. Eles nem saíram do carro. Porém, foram beber em um bar tradicional chamado Garota de Ipanema. Algumas pessoas o reconheceram, tem até relatos”, disse.

Foi em Buenos Aires que Jimmy Page conheceu Jimena Gómez, com quem ele se casaria em seguida e ficaria junto até 2008. Ela era americana e tinha pais argentinos, mas morava no Brasil – por isso, muitos veículos apontam que ela seria da Argentina, ou mesmo brasileira, mas sua origem é dos Estados Unidos.

“Jimena foi, de fato, o motivo para Jimmy se fixar no Brasil. Nessa mini-turnê de divulgação sem shows do ‘No Quarter’, foram apenas quatro cidades. Quem escolheu o Rio foi Robert Plant, não Jimmy Page, pois Plant fez um show solo no Rio de Janeiro, no Hollywood Rock, meses antes. O mesmo festival que eles vieram em 1996. Acabou determinando o destino de Page pelos próximos anos sem saber”, comentou o autor.

A então futura esposa de Jimmy estava em Buenos Aires para visitar os pais, que moravam por lá. Um vínculo familiar fez com que Jimena fosse parar dentro da emissora de TV onde os músicos ex-Led Zeppelin dariam uma entrevista.

“O cunhado da Jimena, que era marido da irmã dela, trabalhava em uma emissora de TV em Buenos Aires. A Jimena estava na cidade para visitar os pais, tinha acabado de ter uma filha e havia brigado com o marido. Então, ela foi meio que ‘chorar as mágoas’. Acontece que o Page e o Plant estavam indo para a emissora dar entrevista. A Jimena acabou indo para assistir à entrevista, circulou nos bastidores. Ela já curtia rock. O Luciano, ex-namorado com quem ela teve uma filha era músico na Bahia, até tinha uma banda de rock chamada Bichos”, disse.

Leandro Souto Maior destacou que o novo casal combinou de continuar se vendo. O reencontro ocorreu em Salvador e Jimena logo levou Jimmy para Lençóis, onde ela morava e era sócia de um bar e de uma pousada – com apenas 22 anos.

“Começaram uma relação, tiveram duas filhas e o Jimmy até adota a filha que ela havia acabado de ter. O ex da Jimena, Luciano, pai da filha dela, continuou amigo dela. Nessas idas e vindas do Jimmy a Salvador e Lençóis, chegou a conhecer Luciano e eles também se tornaram amigos. O Jimmy teve dois filhos, um menino e uma menina, com a Jimena. E um dos depoimentos que mais me emociona veio do Luciano, que disse que viveu uma experiência humana muito especial e única ali, pois quando Luciano, Jimmy e os três filhos de Jimena se encontravam, todos os três chamavam tanto Jimmy quanto Luciano de ‘pai’, ou ‘daddy’”, afirmou.

As casas de Jimmy Page no Brasil

Conforme já destacado, Jimmy Page teve três casas no Brasil, todas em Lençóis. A primeira foi construída em um terreno que Jimena já tinha. As duas arquitetas, que foram entrevistadas para o livro, comentaram que cobraram muito pouco pelo projeto, pois acabavam de abrir um escritório na cidade e exercer a arquitetura em Lençóis era bem difícil, pois a cidade era minúscula.

Uma segunda casa, que ficava em frente à primeira, foi comprada já pronta por Jimmy Page, pois ele não queria ter vizinhos. Alguns anos depois, o guitarrista adquiriu um terreno de 4 mil metros quadrados, conforme apuração do ‘Jornal Nacional’, da TV Globo, em 1998 – período em que o músico, enfim, foi descoberto pela grande mídia no Brasil.

“Pude conhecer a primeira casa, do terreno da Jimena, que ainda está no nome dela e foi alugada. Os inquilinos me receberam muito bem, só não deixaram fotografar. Nos fundos dela, há até um quiosque, tipo uma choupana, com teto de palha, em formato de heptágono. Uma das arquitetas disse que ele fez questão que fosse heptágono. Jimmy tem envolvimento com ocultismo, então, isso deve ter alguma simbologia para ele. A casa na frente, de dois andares, quase um bangalô, foi comprada por Jimmy porque ele não queria ter vizinhos. Era usada para receber convidados”, destacou Leandro.

A terceira casa ainda é usada por Jimena, que transita entre Lençóis e Londres, na Inglaterra. Porém os outros dois imóveis – um no nome dela, o outro no nome de Page – foram alugados e têm inquilinos no momento.

“Pode-se dizer que Jimmy Page morava em Lençóis entre 1994 e 2008. Eventualmente, passava meses, assim como poderia passar apenas algumas semanas ou até um fim de semana. Ele viajava com frequência, vinha ao Brasil mais de uma vez por ano. Há testemunhais de que ele chegava de busão (risos). Pegava um ônibus em Salvador e saltava em Lençóis. Então, era a casa dele e ficava fechada quando ele não estava. Só passou a alugar depois que os dois se separaram. Claro que ele ficava mais tempo em Londres, por conta de compromissos profissionais, mas ele vinha todo ano ao Brasil para passar algum tempo na casa dele”, disse o autor.

Shows no Brasil

Jimmy Page no Hollywood Rock 1996 (foto: Zeppeliano Fã-Clube / divulgação)

Jimmy Page só se apresentou publicamente, como músico, no Brasil, durante o festival Hollywood Rock de 1996, com o projeto Page and Plant. Conforme já apontado, os shows foram realizados em São Paulo e no Rio de Janeiro, nos dias 20 e 27 de janeiro daquele ano. Na época, a dupla ainda divulgava ‘No Quarter’ e só tocava músicas dos tempos de Led Zeppelin.

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A parceria ainda rendeu mais um disco, ‘Walking into Clarksdale’, em 1998, só com músicas inéditas. Entretanto, a tour de divulgação desse trabalho não passou pelo Brasil.

“Page deu várias entrevistas dizendo que viria, que queria vir, ou que era possível vir para tocar no Brasil com a turnê de divulgação. Foi, provavelmente, por falta de fechar um bom negócio, ou porque o próprio Plant desistiu do projeto a certa altura e não quis voltar a tocar com ele. É sabido que o Jimmy tentou persuadir o Plant várias vezes a continuar com a parceria, mas o Plant não quis mais. O Page precisa de um vocalista, né? Até fez aquele álbum ao vivo com o Black Crowes (‘Live at the Greek’, lançado em 2000), mas também não veio ao Brasil. Aí não dependia muito dele, mas dos empresários”, disse Leandro Souto Maior.

Apesar disso, o autor destaca: não foi por isso que ele não fez um som no Brasil. “Há vários relatos de pessoas que tocaram violão com Page. Ele tocou no Brasil outras vezes, só que sem ser anunciado e a plateia era um mínimo grupo de felizardos (risos)”, comentou.

Toca Raul, Jimmy Lama!

Leandro Souto Maior contou que Jimmy Page ganhou, em Lençóis, o apelido de Jimmy Lama no círculo interno de pessoas que o conheciam. O motivo? “Andava mal vestido, com camiseta rasgada, chinelo e tudo o mais”, revelou.

Ocasionalmente, Page saía de casa com um violão apenas buscando uma galera para tocar junto. “Chegava nas rodinhas da galera hippie, ou melhor, da galera roots local querendo tocar, até pedindo o violão”, disse o autor, que destacou uma história curiosa envolvendo a obra de Raul Seixas.

Jimmy Page em aeroporto na cidade de São Paulo (foto: Zeppeliano Fã-Clube / divulgação)

“Há relatos de uma ocasião em que o pessoal, meio mala e meio ‘biritado’, pedia: ‘toca Raul, toca Raul’. Ele não entendia o que era e não tocava. Para não desagradar, puxava algumas do Led. Porém, talvez por já estar meio ‘mamado’ e fora de forma também, não tocava bem aquelas músicas, segundo os relatos da galera. Quando ele virou as costas, uma das pessoas da roda soltou: ‘pô, que mala, o cara não conhece Raul Seixas e toca Led Zeppelin mal para caramba’. Tudo isso sem reconhecer que era o Page, pois ele realmente estava diferente. Era possível não o reconhecer”, contou.

Brincadeiras à parte, Jimmy Page realmente gostava de Lençóis. Não só de lá: ele também curtia Salvador.

“Há vários relatos de que ele não era reconhecido em Salvador como seria no Rio ou em São Paulo. Era disso que ele gostava na Bahia. Ele se sentia muito à vontade em sair nas ruas de Salvador, até para comprar um cigarro na esquina. Acho que ele conseguiu ficar anônimo por um bom tempo”, destacou Leandro.

O show com Iron Maiden no Rock in Rio 2001

Em janeiro de 2001, às vésperas da terceira edição do Rock in Rio, Jimmy Page concedeu uma entrevista coletiva ao lado do Iron Maiden. Prometeu que iria subir ao palco para uma participação ao lado da banda, que faria um show histórico no festival – retratado no álbum ao vivo ‘Rock in Rio’, divulgado também em vídeo.

“O Jimmy veio ao Rock in Rio em 2001, provavelmente já estava no Brasil, e participou de uma entrevista coletiva com o Iron Maiden. A esposa do Adrian Smith era uma das patronas da ONG que a Jimena fundou, chamada ABC Trust. Como o Jimmy já estava no Brasil, o Iron Maiden viria e as duas esposas atuavam nessa seara de causas sociais, surgiu essa ideia do Iron Maiden autografar uma guitarra que foi leiloada em prol da instituição”, narrou Leandro, inicialmente.

O autor destaca que há declarações de Page tanto para o jornal ‘O Globo’ quanto para o ‘Jornal do Brasil’ afirmando que tocaria no show do Iron Maiden. Ao ‘O Globo’, ele chega a afirmar: “estou doido para subir ao palco com o Iron Maiden”. “Então, eles estamparam na capa do jornal. E teve muito fã de última hora decidindo ir só por causa disso. Entrevistei vários assim”, comentou.

A participação acabou não rolando. À ‘Rolling Stone’, Jimmy Page disse que acordou sentindo muitas dores nas costas no dia em questão. “Na época, realmente, ele sofria de dores nas costas, muito provavelmente por carregar sua pesadíssima Gibson Les Paul abaixo do joelho. Então, ele falou que sabia que se subisse ao palco, acabaria pulando e curtindo, o que poderia causar uma lesão séria”, confirmou o autor.

Casa Jimmy

Jimmy Page na Casa Jimmy, quando ele recebeu o título de Cidadão Honorário da cidade do Rio de Janeiro, em 20 de setembro de 2005 (foto: Camilla Maia / divulgação)

Jimmy Page não teve uma produção musical tão ostensiva no Brasil, mas deixou um legado ainda maior na filantropia. Incentivado por Jimena, que sempre estava envolvida em projetos beneficentes, o guitarrista auxiliou na abertura da Casa Jimmy, um casarão em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, gerenciado pela ONG Task Brasil, uma sigla para The Abandoned Street Kids of Brazil Trust.

“É um casarão em Santa Teresa que começou funcionando como abrigo para crianças de rua, que dormiam lá. Tinha comida, aulas e tudo. Após alguns anos, com as crises e tudo o mais, eles mudam o foco apenas para a educação. Ainda existe a Casa Jimmy, mas ninguém mais dorme por lá. Ainda assim, tem aulas diárias para crianças carentes, não só disciplinas escolares, como também música, teatro e esportes”, disse Leandro Souto Maior.

A organização chegou a ser abordada para dar um depoimento ao livro, porém, Leandro recebeu um “não” como resposta”. “Só poderiam falar se o livro fosse aprovado pelo Jimmy Page. Então, entendi que ele ainda teria alguma relação com a casa. Não posso confirmar se ele ainda dá dinheiro, mas ainda que de consideração, deve existir uma relação até hoje. Também havia ajuda da prefeitura do Rio”, comentou.

Em 2005, Jimmy Page chegou a ser condecorado Cidadão Honorário do Rio de Janeiro devido aos esforços com a Casa Jimmy. “Quando ele veio para ser condecorado, também teve uma reunião com a prefeitura para tentar retomar o financiamento da prefeitura. Conseguiram renovar, mas por metade do valor inicial”, disse.

Leandro revelou que chegou a oferecer parte dos lucros do livro para as obras sociais de Jimmy. “Não se ganha muito dinheiro com livro no Brasil, mas pode entrar alguma coisa. Porém, fora o dinheiro, já saíram várias reportagens com citação ao nome da Casa Jimmy, com formas de contribuição. Disse a eles que o mais importante seria a projeção, podendo ter mais doadores. Ainda assim, eles preferiam não dar entrevista. Só sugeriram que as informações estavam no site deles”, afirmou.

A Casa Jimmy ainda existe e busca apoio por meio da Task Brasil. Mais informações podem ser obtidas no site oficial da ONG.

Serviço – livro ‘Jimmy Page no Brasil’

O livro ‘Jimmy Page no Brasil’ está em campanha de financiamento coletivo pelo Catarse, com benefícios aos apoiadores, até o dia 30 de novembro. Em dezembro, estará em pré-venda, com informações a serem divulgadas pela editora Garota FM Books.

Especificações do livro

  • 280 páginas
  • 22 cm de largura X 22 cm de altura
  • Colorido
  • Capa em papel couchê 300 g/m2, miolo em offset 120 g/m2
  • Textos em português e inglês
  • Histórias + reproduções de imagens de Jimmy Page no Brasil
  • Prefácio de Ed Motta e posfácio de Sebastião Reis
  • Tiragem de 1.000 exemplares (ou mais dependendo dos apoios)

Cronograma e prazo de envio das recompensas

  • Outubro – lançamento da campanha
  • Novembro – encerramento da campanha
  • Dezembro – edição e impressão do livro e envio das recompensas

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

11 COMENTÁRIOS

  1. Há uma grande e séria diferença entre o artista e o ser humano. Eu , prefiro mais o artista. Visto que, esse é perfeito. O outro, o ser humano, tem defeitos , vícios e imperfeições que me aborrecem muito.
    Desde 1969 ouço o Led Zappelin, e o que o Jimmy Page faz nos discos e ao vivo isso sim é perfeito e me agrada muito.

  2. Eu tenho um amigo que estava de férias em Lençóis na Bahia quando conheceu o Jimmy Page. Teve a oportunidade de tocar gaita no aniversário dele junto da Margareth Menezes. Ele não tem muito registro disso, porque na época quando ele se apresentou ao Jimmy o mesmo disse que não tiraria fotos, que estava ali para ser uma pessoa comum, sem chamar a atenção. Mas ele tem foto na Chapada que mostra o JP passando por eles

  3. No mínimo interessante essa vida dos artistas, desejar viver no anonimato e curtindo a vida por aqui. E achei muito legal esse projeto do livro com a história do mago sinistro….bora ler..

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