In Flames em São Paulo: quando banda e público se merecem

Suecos – e americanos – celebram longa da trajetória da banda para público reduzido no tamanho e gigante no barulho

Na última quinta-feira (9), a banda sueca In Flames tocou pela terceira vez em São Paulo. E também pela terceira vez, com uma formação diferente.

Novos músicos substituírem antigos é assunto mais relevante do que o usual aqui. Desde 2021 cinco ex-integrantes voltaram a fazer parte do cenário internacional do heavy metal, o The Halo Effect, mais ou menos na mesma linha do que faziam antes. Retomar a primazia das guitarras era proposta, algo que o In Flames havia deixado de fazer pelo menos desde o disco “Clayman” (2000), com experimentalismos que beiravam alternativo ou qualquer coisa longe do death metal melódico, estilo que ajudaram a criar.

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Em resposta ou não, a banda matriz lançou neste ano de 2023 o pesado e direto “Foregone”. É esse álbum que vieram divulgar.

Antes da atração principal, trazida ao país em data única pela Free Pass, o Kryour subiu ao palco. Som e luz costumavam ser um problema para as bandas de abertura, limitados quando não piorados por pura sabotagem. Entretanto, nada disso aconteceu e o novo nome do metal paulista pode apresentar o repertório do “Where Treasure Are Nothing” e “Creatures Dwell My Room”, respectivamente o único álbum e único EP lançados até o momento.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Apesar de poucos registros inéditos, Gustavo Iandoli (guitarra e vocal), Guba Oliveira (guitarra), Matheus Carrilho (bateria) e Gustavo Muniz (baixo) demonstraram pleno domínio do palco e dos instrumentos, o que não é simples dada a complexidade do som extremo e melódico que fazem. Nomes como Children of Bodom, Dark Tranquillity, Opeth e Gojira vem à mente como referência.

A banda é original e usa a montanha de notas e tempos quebrados para transmitir uma mensagem ao ouvinte, de um jeito que quem toca sabe o que eles estão fazendo; quem não toca, entende. Bela surpresa, que foi bem recebida pelo público que mal ocupava um quinto do espaço do Tokio Marine Hall.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

A ocupação não mudou muito ao longo da noite. A data ser em uma quinta-feira, para um artista que nunca foi um grande vendedor de ingressos obteve o resultado previsível. Vazio não estava, mas menos da metade da capacidade da casa parecia ocupada quando a introdução “The Beginning of All Things That Will End” começou a tocar. Iluminada por uma luz verde, a versão mais recente do logotipo do In Flames parecia brilhar no backdrop.

Aos poucos a banda subiu ao palco para começar o show com “The Great Deceiver”, uma das três faixas de “Foregone” a serem apresentadas (além da introdução). Geralmente priorizado, o material mais recente foi economizado no setlist para dar espaço a todas as fases da banda, como anunciado pelo vocalista Anders Fridén na primeira comunicação com o público, antes de “Everything’s Gone”.

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Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Embora longe de esgotar os ingressos, o público presente fez barulho por quem foi e por quem não foi. Muitos “olê, olê, olê, In Flames”, ou simplesmente a repetição incessante do nome da banda foram entoados nos intervalos entre as músicas — ao ponto de Anders, quando ia dizer algo, mandava, irônico, algo como “cala a boca, deixa eu falar um negócio rapidão”.

Vez ou outra o cantor foi bem-sucedido, mas uma hora desistiu, momento que o baterista Tanner Wayne gravou com o celular a vitória do povo barulhento. Os guitarristas Bjorn Gelotte e Chris Broderick (ex-Megadeth) e o baixista Liam Wilson (ex-Dillinger Escape Plan) também demonstraram satisfação, sorrindo o tempo todo para os fãs e entre eles quando alguma reação era ainda mais alta.

Lá em 2009, turnê do “A Sense of Purpose”, primeira vez que a banda sueca se apresentou em São Paulo, o público havia demonstrado empolgação acima da média. Também foi assim em 2017, divulgando o disco “Battles”, cujas faixas não apareceriam na noite da última quinta-feira (9) — a ponto de “Cloud Connected” ser incluída de tanto que foi pedida. Existia uma esperança de que dessa vez a pressão resultasse na inclusão do clássico “Trigger”, até então tocado apenas no Equador na atual excursão.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Mas não deu certo, talvez pela intensidade da turnê, seis shows no intervalo de oito dias, sendo o de São Paulo ocorrendo imediatamente ao do Chile (07/11) e Argentina (08/11). A voz de Anders chegou a apresentar rouquidão da metade do show para frente; fora isso, nada desse desgaste transpareceu. Foi uma hora e meia de show sem bis, sem enrolação e sem descanso. Em “Alias”, o baterista se empolgou e fez viradas que quase comprometeram o andamento da música, mas consegui manter o tempo. Anders virou para ele para dar um joia. Esse tipo de descontração aconteceu algumas vezes.

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Uma delas foi na apresentação dos integrantes, quando Anders pede desculpa a Chris Broderick por dizer que Bjorn é o melhor guitarrista com quem já tocou. Homenagem pertinente, pois, tal qual Greg MacKintosh do Paradise Lost, ele é responsável por arranjos e solos definidores do estilo das respectivas bandas. São guitarristas que jogam para o time, trabalham para as músicas, tão subestimados quanto raros. Pior para a música.

Não foi dessa vez nem que o In Flames fez um show desanimando, nem que viram uma plateia pouco empolgada em São Paulo. O grupo apresentou de forma coesa e sólida o longo catálogo distribuído por 14 discos, ainda que nem todos tenham sido apresentados. É uma das atrações fundadoras do metal moderno, das bandas que querem combinar vocal gutural, vocal limpo e melodias assobiáveis. Nem por isso escolhem o caminho fácil: se não deixam de apresentar a obrigatória “Only For the Weak”, escolhem lados B ou músicas que sequer foram o principal single do disco de onde vieram, como “Everything’s Gone”, que toma o lugar de “Rusted Nail”, primeira amostra do “Siren Charms” (2014), que nem de longe consta como preferido dos fãs.

Essa turnê a princípio ocorreria em 2024 e incluiria o festival Summer Breeze. Outra tour, nos Estados Unidos fez com que a vinda para a América do Sul fosse antecipada para agora, novembro de 2023. Talvez por isso tantas escolhas discutíveis, como a sequência exagerada de shows, uma casa e data não ideais para o tamanho do In Flames, em um período de concorrência de eventos na cidade de São Paulo poucas vezes vista. Uma excursão melhor planejada nesse sentido é algo que tanto a banda quanto o público merecem.

*Fotos de Gustavo Diakov / @xchicanox. Mais imagens ao fim da página.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

In Flames – ao vivo em São Paulo

  • Local: Tokio Marine Hall
  • Data: 9 de novembro de 2023
  • Turnê: Foregone South America 2023

Repertório:

  1. The Beginning Of All Things That Will End (Intro)
  2. The Great Deceiver
  3. Pinball Map
  4. Everything Is Gone
  5. Ordinary Story
  6. Deliver Us
  7. Behind Space
  8. Graveland
  9. The Hive
  10. Cloud Connected
  11. Only For The Weak
  12. The Quiet Place
  13. Foregone Pt.1
  14. State of Slow Decay
  15. Alias
  16. Mirrors Truth
  17. I Am Above
  18. Take This Life

Repertório — Kryour:

  1. However (Intro)
  2. Anxiety
  3. Restless
  4. Colorful
  5. Destructive
  6. Why
  7. Chrysalism
  8. Chaos
  9. Conjuge
  10. The Leaving

In Flames:

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
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Kryour:

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Rolf Amaro
Rolf Amarohttps://igormiranda.com.br
Nasceu em 83, é baixista do Mars Addict, formado em Ciências Sociais pela USP. Sempre anda com o Andreas no braço, um livro numa mão e a Ana na outra.

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