No Rio, Blind Guardian inicia turnê nacional com show épico e (realmente) caloroso

Intensa conexão entre banda alemã de power metal e público do Circo Voador compensa falta de alguns recursos vocais

*Texto de Diego Garcia sobre o show realizado pelo Blind Guardian no Circo Voador, em 18 de novembro de 2023.

Num sábado escaldante do (antecipado) verão carioca, com temperaturas acima dos 42°C e sensação térmica beirando os 60°C em algumas partes da cidade, um Circo Voador bem cheio — ainda que não lotado — recebeu os bardos alemães do Blind Guardian em sua quinta passagem pela cidade e oitava pelo país. Com oito anos de separação entre essa visita e a última, os bangers cariocas puderam matar a saudade do power metal com letras inspiradas em “hobbits, dwarves and men, and elves”.

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O calor infernal não cancelou esse show, mas fez com que a atração mais concorrida da cidade no mesmo dia (a segunda apresentação de Taylor Swift, no estádio Nilton Santos) fosse desmarcada. De todo modo, várias camisetas pretas já estavam pela Lapa algumas horas pregressas ao início da performance — que começou pontualmente às 20h, conforme prometido pelos produtores do evento. Minutos antes, uma chuva torrencial abateu a cidade, mas os bardos brasileiros já estavam focados e posicionados para receber a banda alemã. O painel do grupo, com a capa do mais recente álbum (“The God Machine”, 2022) já estava estendido desde cedo.

Jogo ganho já de início

As luzes se apagaram, e o baterista Frederik Ehmke surgiu para se posicionar atrás de seu kit; Johan van Stratum (baixo) e Michael Schüren (teclados) o seguiram e formaram a linha de fundo. Na sequência, a parte de frente começou a se posicionar: os guitarristas André Olbrich e Marcus Siepen tomaram suas posições e começaram a tocar uma intro que logo se transforma na parte inicial de “Imaginations from the other side”, faixa de abertura do 5º álbum do grupo. Apareceu, então, o carismático e simpático vocalista Hansi Kürsch para completar o núcleo mais avançado no palco. Nesse momento, cedo mesmo, já se podia dizer que os alemães já tinham ganho o jogo. Era só cumprir a entrega que todos saberiam que ocorreria.

O público cantou junto todas as palavras da letra da música inicial e fez as vezes de backing vocal de Kürsch. De todo modo, é importante ressaltar que a voz do frontman de 57 anos já não é mais a mesma, e que a banda ganharia em colocar na sua formação de turnê alguns vocais de apoio. Apesar de todo o grupo dispor de microfones para exercer esse papel, nota-se uma certa lacuna nas canções, em especial quando Kürsch precisa “dialogar” com os backings em diversas partes.

Foto: Diego Garcia

“Blood of the Elves” foi o cartão de visitas do disco novo, levantando boas reações do público. Depois, “Nightfall”, um dos maiores clássicos da banda, fez com que o Circo fosse abaixo, com todos bradando a plenos pulmões a letra da canção. “The Script for My Requiem” completou a primeira quadra do show de forma nostálgica. Mais uma do álbum mais recente, “Violent Shadows” também agradou bastante aos presentes, mostrando que o grupo acertou ao direcionar novamente seu som para algo mais direto — ainda mais depois do trabalho orquestrado de 2019 (“Legacy of the Dark Lands”).

Respiros

“Skalds and Shadows”, o primeiro dos três números “acústicos” da noite, permitiu algum respiro aos presentes. A saga de Tolkien voltou com força total em “Time Stands Still (At the Iron Hill)”; apesar de não ser uma de minhas favoritas da banda, é inegável que é uma canção que funciona bem ao vivo, com grande receptividade do público.

“Secrets of the American Gods” foi a terceira e última da noite oriunda do mais recente play. Ela figura entre uma de minhas favoritas do álbum novo e da história do grupo, mas talvez tenha sido a que mais sofreu com a já citada ausência de backing vocals. Além disso, as diversas variações vocais esbarraram nas limitações de Hansi, que mostra algumas dificuldades em atingir certas notas – coisa mais que normal para quem já está na estrada há cerca de 35 anos e tem que reproduzir difíceis melodias a todo tempo. De toda forma, o público cantou junto e não pareceu se importar muito com isso.

“The Bard’s Song – In the Forest” trouxe um descanso para o vocalista, pois a plateia se encarregou de cantar toda a letra e se emocionar junto com a banda. Foi um dos momentos mais bonitos e emotivos do show, com muitos filmando o local e os músicos, na catarse coletiva que essa canção proporciona. Já rumando para o final da primeira etapa, “Majesty” e “Traveler in Time” trouxeram o Blind Guardian dos primórdios para o deleite de todos os presentes.

Bis e catarse

O Blind Guardian saiu do palco, de forma protocolar, e logo retornou para suas respectivas posições com a intro de “Sacred Worlds”, única representante de “At the Edge of Time” (2010). Curiosamente, a turnê desse álbum também passou pela Lapa, mas na casa vizinha, a Fundição Progresso. Confesso que gostaria de ter visto “A Voice in the Dark” representando esse álbum, e amigos que foram ao show, assim como outros que se juntam ao final e conversam sobre o espetáculo, também compartilham dessa opinião.

Voltando ao terceiro álbum do grupo (“Tales from the Twilight World”), o último número acústico, “Lord of the Rings”, viu um público pra lá de empolgado em cantarolar sobre a saga tolkeniana.

Nesse momento, ao que se pode constatar pelos sets da turnê, a banda tenta agradar ao público, atendendo algum pedido. No Chile, eles foram agraciados com “Run for the Night”; em algum show da perna europeia, “Wizard’s Crown” se fez presente.

Em terras cariocas, alguns ensaiaram um coro de “Into the Storm”, faixa de abertura de “Nightfall in Middle-Earth” (1998). No entanto, a maioria dos presentes começou a entoar o refrão do clássico “Valhalla” — e foi prontamente atendida pelos músicos. Essa música figura entre uma das melhores da discografia, e, ao vivo, mostra que a força dela não é à toa. Incrível a dinâmica entre grupo e público, com a plateia cantando o refrão ao final por mais alguns minutos.

Se não rolou “Into the Storm”, “Welcome to Dying” foi a surpresa reservada pelos bardos alemães para o Rio de Janeiro. O final apoteótico já era conhecido por todos e veio com o hino “Mirror Mirror”, também do álbum de 1998. O Circo Voador inteiro cantou todos os coros e toda a letra, mostrando que o público ainda guarda grande carinho por esse disco. Após cerca de duas horas de show, a banda saiu ovacionada, com todos felizes pelo espetáculo entregue.

Foto: Diego Garcia

Tecnicamente, na parte instrumental, o Blind Guardian executou um show perfeito, que só apresentou máculas na questão dos vocais de apoio. O som da casa oscilou em alguns momentos, com alguns achando que poderia estar mais alto. Mas isso foi um ponto menor na emoção e no contentamento de todos que estiveram presentes.

O concerto no Rio de Janeiro inaugurou a perna brasileira da turnê, e, respaldado pela empolgação e dedicação evidenciadas pela banda, promete tornar-se inesquecível para os fervorosos admiradores dos músicos alemães.

*O Blind Guardian se apresentou também em Belo Horizonte, no último domingo (19). Os próximos compromissos serão em Curitiba (21/11), Porto Alegre (23/11), São Paulo (25 e 26/11), Brasília (28/11) e Manaus (30/11). Há ingressos à venda no site oficial, com exceção da primeira data em SP e em Brasília.

Blind Guardian – ao vivo no Rio de Janeiro

  • Local: Circo Voador
  • Data: 18 de novembro de 2023
  • Turnê: The God Machine Tour

Repertório:

  1. Imaginations From the Other Side
  2. Blood of the Elves
  3. Nightfall
  4. The Script for My Requiem
  5. Violent Shadows
  6. Skalds and Shadows
  7. Time Stands Still (At the Iron Hill)
  8. Secrets of the American Gods
  9. The Bard’s Song – In the Forest
  10. Majesty
  11. Traveler in Time

Bis:

  1. Sacred Worlds
  2. Lord of the Rings
  3. Valhalla
  4. Welcome to Dying
  5. Mirror Mirror

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Engenheiro, com mestrado em mobilidade urbana e especializações em finanças e design de serviços, equilibra seus afazeres profissionais com uma paixão profunda por rock, hard rock e heavy metal, em suas mais variadas vertentes. Começou a colecionar CDs, DVDs e Blurays aos 8 anos de idade e não parou mais, mesmo com a chegada do streaming. Não mede esforços para ir a shows e a festivais.

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