“Talk is Cheap”, o álbum solo que fez Keith Richards rir por último

Lançado em 3 de outubro de 1988, disco contava com a alma dos Rolling Stones, que Mick Jagger tentou abandonar em busca da consagração pessoal

A Terceira Guerra Mundial foi um período histórico nos anos 1980, quando Mick Jagger e Keith Richards elevaram as naturais tensões da parceria a níveis estratosféricos. Sim, estamos nos referindo aos Rolling Stones, o mundo não precisa passar por isso mais uma vez. Mas o fato é que os próprios se referem ao período dessa forma, dando um exemplo do quão agressiva estava a relação.

O frontman fez de tudo para triunfar sem a banda. Lançou discos solo, realizou aparições especiais, buscou incessantemente se provar como o artífice de uma das histórias mais bem-sucedidas da música popular mundial. Em sua biografia, “Vida” (2010), Richards se referiu ao momento como:

“A grande traição de Mick – que eu acho difícil perdoar, uma atitude que pareceu quase deliberadamente planejada para acabar com os Rolling Stones – foi quando ele anunciou em março de 1987 que estaria saindo numa turnê do seu segundo álbum, ‘Primitive Cool’ (no lugar de fazer uma excursão com a banda). Era um tapa forte demais na nossa cara.”

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O guitarrista tentou de tudo para resgatar a unidade coletiva. Porém, quando viu que não tinha jeito, decidiu também se aventurar individualmente.

Enquanto o vocalista buscava influências distintas em seus trabalhos, Keith se concentrou no que sabia fazer de melhor. Assim surgiu “Talk is Cheap”, primeiro disco a levar apenas sua assinatura, lançado em 3 de outubro de 1988. Seu grande companheiro na empreitada foi o multi-instrumentista, compositor e produtor Steve Jordan, que havia trabalhado com os Stones em “Dirty Work”, último lançamento antes dessa parada – e hoje, ironia do destino, é o baterista em substituição a Charlie Watts, falecido no ano de 2021.

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Algumas participações especiais de peso abrilhantaram o play. Lá estava o mago do baixo Bootsy Collins, assim como Mick Taylor, ex-companheiro de seis cordas de Keith, que substituiu o lendário Brian Jones e cedeu a vaga para Ron Wood mais tarde. Com esse clima de reunião de velhos amigos, “Talk is Cheap” saiu exatamente como o autor da obra gostaria. Fãs e crítica especializada compreenderam a ideia e aclamaram o disco.

Se Jagger achava que se daria bem explorando novos ares, acabou perdendo feio para o outrora contrariado companheiro, que sentiu certo gosto de vingança quando se deu melhor. O play consegue agradar quem esperava aqueles sons tipicamente stoneanos, como conferimos em “Take it So Hard” (grande sucesso comercial do álbum), “Struggle”, “How I Wish” ou “Whip it Up”.

Ao mesmo tempo, Keith recorreu a suas raízes em sons como “I Could Have Stood You Up” – a tal faixa com participação de Taylor –, trazendo aquela vibração que remete a seu grande herói, Chuck Berry. Ou a forte influência de R&B na maliciosa “Make no Mistake”, música em que rola um belíssimo dueto com Sarah Dash, abrilhantado por metais ao fundo. “You Don’t Move Me” é uma faixa que se destacou até mais pela letra, um recado direto a Mick Jagger, misturando mágoa e ironia na medida certa.

“Talk is Cheap” ganhou disco de ouro nos Estados Unidos e na Inglaterra. Ao mesmo tempo, “Primitive Cool”, segundo esforço solitário de Mick (que contava com ninguém menos que Jeff Beck na guitarra) fracassava comercialmente a ponto de sequer conseguir fazer com que uma turnê por Europa e América do Norte fosse agendada. Restou ao cantor engolir o orgulho, pedir trégua a Keith e fazer as pedras rolarem novamente.

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Novamente em “Vida”, Keef relembra da época com carinho, apesar das dificuldades ao descer de patamar.

“Nós vivemos uma das melhores épocas de nossas vidas com o Winos. A plateia aplaudia de pé em quase todos os shows. Costumávamos tocar em teatros pequenos com lotação esgotada. Não lucrávamos, mas também não tínhamos prejuízo. O calibre da musicalidade daqueles shows era impressionante. Todos tocavam muito, a música fluía de um jeito muito louco. Nos voávamos. Era simplesmente mágico.”

O retorno dos Rolling Stones veio em grande estilo com o álbum “Steel Wheels”, melhor do grupo desde “Tattoo You” (1981), que fez com que embarcassem em uma mega excursão que seria a mais bem-sucedida de suas carreiras até então – a famigerada “Steel on Wheels/Urban Jungle”, dividida em duas etapas. A dupla segue se estranhando até hoje, mas não a ponto de testar limites, como no passado. Afinal de contas, ficou provado que a união faz a força. Ainda assim, coube a Keith Richards sair triunfante do conflito, por mais que seu colega nunca venha a reconhecer por completo.

Keith Richards — “Talk is Cheap”

  • Lançado em 3 de outubro de 1988 pela Virgin
  • Produzido por Keith Richards e Steve Jordan

Faixas:

  1. Big Enough
  2. Take It So Hard
  3. Struggle
  4. I Could Have Stood You Up
  5. Make No Mistake
  6. You Don’t Move Me
  7. How I Wish
  8. Rockawhile
  9. Whip It Up
  10. Locked Away
  11. It Means a Lot

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

1 COMENTÁRIO

  1. Obra prima do Keef !! Mick Jagger sí lascou ele pensou que era superior ao companheiro de banda si deu mal teve que engolir o próprio orgulho.

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