Ghost: a melhor versão do inferno na 2ª noite em São Paulo

Tobias Forge e seus comandados mostraram estar no auge do poder de fogo na "Re-Imperatour"; Crypta abriu os trabalhos com classe

Inicialmente, o Ghost viria ao Brasil para show único, no dia 21 de setembro. Como esperado, os ingressos se esgotaram em minutos — o que levou a abertura de uma segunda noite, só que no dia anterior (que também contou com cobertura do site). Portanto, a segunda apresentação dos suecos já estava mais do que “sold out” há muito tempo. Todos esperavam uma despedida digna da “Re-Imperatour” do país — e ninguém saiu insatisfeito.

Houve poucas mudanças da noite anterior para o segundo show. A maior delas foi a presença da Crypta, que sem os problemas de logística do dia 20, conseguiu fazer a abertura dos trabalhos.

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*Imagem destacada por Amanda Sampaio, gentilmente cedida por Sonoridade Underground. Fique de olho também no site parceiro para conferir a cobertura deles e outras fotos exclusivas.

Crypta: orgulho nacional

As brasileiras Fernanda Lira (vocais e baixo), Luana Dametto (bateria), Tainá Bergamaschi e Jéssica di Falchi (ambas guitarra) subiram ao palco pouco antes das 19h30. A reação não poderia ter sido melhor.

A sonoridade muito mais brutal do que a atração principal agradou até mesmo quem não é adepto da pancadaria. Entre suas várias qualidades, a Crypta consegue unir um death metal extremamente violento e técnico com melodias quase “cantaroláveis” – para os padrões do som, é claro.

A qualidade das musicistas também é digna de nota. Tainá e Jéssica despejam potência e melodia na medida, enquanto Fernanda incorpora um verdadeiro demônio — no melhor sentido — no palco. Por trás de tudo, cercada de velas, Luana Dametto segue como a mesma máquina imperturbável dos tempos de Nervosa, banda que integrava junto de Lira.

Vídeo público incorporado do YouTube / @Danilo_De_Almeida

Mesmo com um palco limitado — já que o equipamento ainda coberto do Ghost ocupava a maior parte do espaço —, a Crypta fez um show grandioso. No momento, elas divulgam o recém-lançado “Shades of Sorrow”, álbum do qual saiu um dos pontos altos da apresentação: o single “Lord of Ruins”.

É uma pena que o público da noite anterior não tenha tido a chance de ver a banda em ação. Durante o show do Ghost, até mesmo Tobias Forge elogiou o grupo, dizendo que nós brasileiros devemos ter orgulho delas. O homem tem razão.

Ghost: um dos grandes no auge

Começado o desmonte do equipamento da Crypta, não demorou muito para que a frente do palco fosse coberta com um pano branco. O Espaço Unimed, então, foi tomado pelo que todos achavam que fosse uma curta introdução. De fato, “Miserere mei, Deus”, de Gregorio Allegri, serviu como interlúdio inaugural, mas longe de ser breve. Pela segunda noite consecutiva em São Paulo, o Ghost “meteu” cerca de 15 minutos de música sacra cristã para um confuso público de heavy metal, o que diz muito sobre o bom humor de Tobias Forge e seus comandados.

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A introdução de fato veio com a vinheta “Imperium”, que abre o álbum mais recente, “Impera” (2022), puxando “Kaisarion” e a entrada triunfal do Papa Emeritus IV, ex-Cardinal Copia. Ao fim de “Rats”, segunda música do set, não havia uma alma naquele local que não estivesse totalmente rendida aos suecos. O público ainda foi presenteado com uma pequena mudança no setlist: saiu “Faith”, tocada no dia 20, para a entrada de “From the Pinnacle to the Pit”, pancada vinda diretamente de “Meliora” (2015).

Vídeo público incorporado do YouTube / @talesr.h.7689

Daí para frente, o show seguiu idêntico ao da noite anterior. Se a apresentação da Crypta já tinha deixado o clima quente, lá pela metade do show do Ghost o Espaço Unimed (com seu sempre insuficiente sistema de ar condicionado) já tinha se transformado em uma filial do inferno, seja pelo calor absurdo ou pelas letras entoadas pela banda. Se aquilo é como estar a sete palmos do chão, a experiência se provou bem mais agradável do que se supõe.

Muitos pegaram “ranço” do Ghost desde a primeira passagem da banda por aqui, quando tocaram no Rock in Rio 2013. Na ocasião, tudo era muito diferente: o Papa Emeritus ainda era o segundo e Forge costumava passar o show inteiro vestido em trajes clericais, parado e com um clima totalmente ritualístico. Passados alguns anos, as apresentações se tornaram bem mais dinâmicas e o clima de missa negra é apenas mais um dos momentos do show — quando surge, funciona muito bem, especialmente pelas músicas escolhidas para tal, “Call me Little Sunshine” e “Con Clavi Con Dio”.

Mas o Papa Emeritus IV é bem mais despojado do que alguns de seus antecessores. No personagem atual, que está perto de encerrar seu ciclo, Tobias Forge assume a persona de uma espécie de “crooner” infernal, com direito a “piadocas” aqui e ali durante as interações. Mudanças de figurino também são frequentes e a interação com os “ghouls” é cômica, fazendo lembrar de Alice Cooper e seu teatro. O veterano deve gostar bastante do Ghost; na via inversa, Forge já disse que sua banda não existiria sem o personagem de Vincent Furnier.

O diálogo com o público se dá de forma mais presente ao fim do concerto. Forge, frontman e idealizador da coisa toda, agradeceu pelo apoio e hospitalidade do público brasileiro, remerceou a presença da Crypta e teve que aguentar pedidos de “Twenties” — faixa de “Impera” executada em dois shows recentes nos Estados Unidos e que, segundo o próprio Tobias, tem inspiração no hip hop/funk brasileiro. De início, o Papa apenas negou, mas voltando para o bis, se desculpou e prometeu que a música estará no set na próxima visita ao país.

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Como “prêmio por bom comportamento”, o público foi agraciado com uma trinca de peso no final. “Kiss the Go-Goat” cresce muito ao vivo, “Dance Macabre” é um ótimo resumo do que é o Ghost e “Square Hammer” faz até o mais “true” dos metaleiros querer dançar. E acredite: eles também estavam lá. Todo mundo gosta do Ghost; até quem diz não gostar.

Entendendo o Ghost

O projeto de Tobias Forge vem crescendo desde o lançamento do primeiro álbum, “Opus Eponymous” (2010), e já está entre os grandes nomes do metal há algum tempo. Mesmo assim, é curioso como uma banda desse porte ainda acumular um grande número de detratores, o que não se vê em outros nomes já consolidados.

A desculpa geralmente gira em torno da sonoridade “pop” – apesar de grupos como os todos poderosos Metallica e Iron Maiden terem popularizado seu som há décadas – ou do visual – embora King Diamond, por exemplo, não receba nem metade do “hate”. O fato é que muitos de nós não pudemos ver os grandes medalhões em seu auge, justamente o momento vivenciado pelo grupo sueco atualmente.

É preciso saber entender o Ghost. Tobias Forge vai encarnar um Papa satânico, cantar letras mais “cabeludas” do que muito black metal, trazer músicos “anônimos” e tudo isso com um delicioso tempero pop, refrãos feitos para cantar junto e um som muito bem feito. E nem todo mundo pode lidar com isso. Existem aqueles que gostam do Ghost e aqueles que não entendem o Ghost.

Ghost – ao vivo em São Paulo

  • Local: Espaço Unimed
  • Data: 21 de setembro de 2023
  • Turnê: Re-Imperatour

Repertório:

Klara stjärnor (Jan Johansen)
Miserere mei, Deus (Gregorio Allegri)
Imperium (intro)

  1. Kaisarion
  2. Rats
  3. From the Pinnacle to the Pit
  4. Spillways
  5. Cirice
  6. Absolution
  7. Ritual
  8. Call Me Little Sunshine
  9. Con Clavi Con Dio
  10. Watcher in the Sky
  11. Year Zero
  12. Spöksonat (vinheta)
  13. He Is
  14. Miasma
  15. Mary on a Cross
  16. Mummy Dust
  17. Respite on the Spitalfields

Bis:

  1. Kiss the Go-Goat
  2. Dance Macabre
  3. Square Hammer

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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