Os 9 discos que ajudam Dave Navarro em tempos sombrios

Músico teve a mãe e a tia assassinadas quando tinha apenas 15 anos; o criminoso só foi preso uma década depois

O guitarrista Dave Navarro teve a mãe assassinada por um ex-namorado, junto da tia. À época ele tinha 15 anos. O criminoso foi preso quase uma década depois. Como é de se imaginar, o evento teve grande influência em tudo que aconteceu na vida do músico posteriormente.

Em artigo à revista Revolver, publicado em 2018, o astro resolveu elencar 9 álbuns que o ajudaram e ainda ajudam nos piores momentos. Eis a lista completa:

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Beethoven – Symphony No. 7: “Atualmente em alta rotação, a sétima sinfonia de Beethoven. Essa é uma peça tão sombria, comovente, cinematográfica e bonita que quase… se você está passando o dia em sua casa e está tocando, torna tudo pesado. Você pode ir até a geladeira e pegar uma garrafa de água e é tipo, a coisa mais pesada que você já fez na vida.”

The Velvet Underground & Nico: “Eu costumo ir com álbuns completos, então eu diria que este é um dos meus discos apenas por causa da miríade de frequências emocionais que ele evoca. Algumas delas são realmente alegres, outras são muito sombrias, outras são bem diretas e outras são realmente induzidas por drogas. Ele meio que tem a capacidade de encapsular a condição humana, o que eu acho interessante.”

Pink Floyd – Animals: “Amo tudo do Pink Floyd, mas ‘Animals’ é o que me deixa mais melancólico. Essa é a trilha sonora perfeita para dias obscuros para mim. Há bandas como o Burzum, tipo, eu poderia colocar black metal, mas isso não chega aonde estou. Isso é alcançar onde outra pessoa está. ‘Animals’ é um dos álbuns que descobri quando era criança e meio que me leva de volta àquela inocência juvenil e meio que fantasiosa de como as coisas são feitas. Como a música foi feita? Como eles estão fazendo isso? Esse álbum realmente me moldou como artista em termos de músicas realmente longas que são cheias de emoção, sentimento, muito ar e respirabilidade.”

Led Zeppelin – Physical Graffiti: É um daqueles discos que não consigo parar de tocar. Nunca me canso. Tem tantas camadas diferentes para mim, apenas em termos de fascínio com o processo de gravação e o conteúdo lírico – há muito conteúdo lírico fantástico. Isso meio que te tira um pouco da sua realidade, mas te dá a oportunidade de se perder em uma infinidade de sentimentos humanos.

Ouvir ‘Physical Graffiti’ de frente para trás no meu toca-discos, o que requer levantar e virar para o lado dois e depois mudar o disco para o lado três e depois colocar no lado quatro, é uma experiência f*da. Uma sessão de terapia. É uma quantidade de tempo investida em autocuidado, fazendo algo agradável para si mesmo e, no entanto, você pode se identificar com isso. Você pode não saber o que tudo significa, mas você se identifica. Eu amo isso. Adoro quando não tenho ideia do que o cara está falando, mas ainda assim consigo sentir.”

Windhand – Windhand: “Amo Windhand. Metade do tempo eu não sei o que diabos está acontecendo, mas é algo que penetra em meu coração. Esse é apenas um daqueles discos em que eu fico tipo, ‘Não sei de onde esses caras estão vindo, mas eles são os melhores’.”

David Bowie – The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars: “Não há momento na minha vida em que não ouço esse disco. Ele consegue me levantar ou me puxar para baixo. Ouvindo David… Agora que ele se foi, estou ouvindo de novo, e você sabe, eu sempre soube desse disco desde que era criança. Mas agora que ele se foi, ouço novamente o que ele está dizendo e o que ele está fazendo e o que ele criou.

Ele é um dos caras que definitivamente me influenciou nos aspectos teatrais de um show. OK, então antes disso eu tinha o Kiss, quando era criança, e eles eram muito teatrais, mas não há muita profundidade acontecendo lá. Então chegamos a David Bowie e você vê toda a teatralidade e profundidade? Há uma outra coisa acontecendo. Ele estava criando uma persona diferente, assim como Paul McCartney fez com ‘Sgt. Pepper’s’.”

The Beatles – Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band: “Este é provavelmente um fruto óbvio e fácil de encontrar. Paul disse: ‘Por que não fingimos que somos uma banda diferente? Não vamos ser os Beatles, vamos ser o Sgt. Pepper.’ Esse conceito, para mim, essa imaginação, tirar essas músicas daquela coisa que eles eram meio resistentes a fazer, para começar, é uma mágica.

Essa também é um daqueles que pode fazer as lágrimas saírem dos meus olhos, porque se eu voltar à infância quando ouvi aquela música pela primeira vez, quando ‘Fool on the Hill’ tocava no rádio? Eu lembro disso. Eu me lembro de sentar na casa dos meus pais e aquela música começar a tocar, e eu ficava tipo ‘essa é a música mais triste que eu já ouvi’ e eu tinha sete malditos anos. Agora posso ouvir, entender a profundidade, o significado e me identificar como aquele tolo ou uma das pessoas solitárias.”

The Who – Tommy e Pink Floyd – The Wall: “Ambos os registros lidam com o isolamento. Ambos os registros tratam de abandono. Ambos os discos lidam com a perda e a sensação de ser uma aberração secundária, como se você não se encaixasse, e com o ego. Eles lidam com o estrelato do rock e a queda como resultado desse ego. Essas são todas as coisas com as quais me identifico, desde que eu era criança.

Perdi minha mãe muito cedo e Tommy perdeu o pai muito cedo. A mãe de Pink estava sufocando, e eu fui sufocado. Se você seguir essas histórias e tirar as coisas da Segunda Guerra Mundial, é a minha história. Esses discos realmente me atingiram.

Especialmente em Tommy, você tem o garoto surdo, mudo e cego que é realmente uma espécie de analogia para alguém que não se encaixa na sociedade. Por estar traumatizado, ele se fechou. Ele foi para dentro e não podia ver, não podia falar, não podia ouvir – foi o que aconteceu comigo! Minha mãe foi morta e eu entrei. Ouvi o disco e fiquei tipo, ‘Obrigado, Pete Townsend. Eu não estou sozinho.’ Quero dizer, Tommy acabou se tornando um evangelista e tem esse ego de mostrar às pessoas o caminho para a iluminação, e todos se voltam contra ele porque é um líder de culto.

Indetifico-me com ambos os discos porque são um instantâneo do desespero, isolamento, dúvida e medo, diretamente do narcisismo exagerado e do ego. Quando você pensa que o cara está se recuperando de seu narcisismo, você percebe que essa é a queda dele. O garoto surdo, mudo e cego estava bem. Sua queda foi o ego. Pink estava bem. A vida acontece. Muitos pais estão sufocando, muitos pais morrem, mas não foi até que ele se tornou antissemita, racista e se tornou um grande astro do rock e sua esposa o deixou e ele foi torturado e ele teve esse problema com a Segunda Guerra Mundial porque o pai dele foi morto…

É como se eu estivesse sempre atraído por esses álbuns e não sei se eles me fazem sentir, se mais feliz ou se apenas me fazem sentir confortável por não ser o único que carrega esses sentimentos e eu não sou uma aberração porque essas coisas foram escritas de uma maneira enorme.

É muito parecido com quando, e odeio dizer isso, mas já tive separações antes. É muito parecido com quando a pessoa com quem está terminando acaba dizendo: ‘Não entendo por que isso é tão difícil. Por que você está me deixando? Estou tão quebrado e tão perturbado’. E você apenas olha para eles e diz: ‘É por isso que todas as músicas no rádio são sobre desgosto’, porque é a coisa com a qual todos lidam. É universal. Então, se você ouve música e se sente de uma certa maneira, há algo lá fora que vai apoiá-lo.

Então, com Pink e Tommy, você está lidando com dois personagens que se consideram os piores pedaços de m*rda no centro do universo. É uma maneira de pensar que somos pedaços de m*rda em torno dos quais o universo gira, e isso é narcisismo reverso. ‘É tudo sobre mim, mas eu sou a pior coisa.’

É aí que se liga uma coisa interessante que muitas dessas pessoas – Tommy, Pink, inclusive eu – uma vez que atingem aquele nível de fama que pensaram que iria consertá-los ou chegaram àquele lugar onde pensaram: ‘Oh, isso é o que tenho buscado por toda a minha vida’ ou ‘Este é o tipo de amor que eu sempre quis por toda a minha vida’, aqui está! Então eles percebem: ‘Isso não vai me consertar. Agora estou fodido.’ O que eles têm buscado por toda a vida não é a resposta.

Eles deixam essas perguntas no final do registro. É melhor você ficar feliz pra c*ralho no agora, meu amigo, porque o passado é doloroso e o futuro é incerto, então vamos viver o agora.”

Sobre Dave Navarro

Nascido em Santa Monica, Califórnia, David Michael Navarro se destacou como guitarrista do Jane’s Addiction. Entre idas e vindas, segue com a banda até hoje. Entre 1993 e 1998 integrou o Red Hot Chili Peppers. Registrou apenas um álbum, “One Hot Minute”.

Também gravou e excursionou com nomes como Guns N’ Roses, Alanis Morissette, Marilyn Manson, Glenn Hughes, Gene Simmons e Janet Jackson, entre outros. Ainda foi apresentador e jurado no Ink Master, reality show de tatuadores que existiu entre 2012 e 2020.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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