“Great Balls of Fire!”: a história da cinebiografia de Jerry Lee Lewis

Lançado em 1989, filme demorou para sair do papel e teve produção conturbada por conta do próprio músico

Jerry Lee Lewis, um dos pioneiros do rock, nos deixou aos 87 anos de idade. Contemporâneo de Elvis Presley, Chuck Berry e Buddy Holly, o músico notório pela técnica no piano em vez da guitarra também teve sua cinebiografia lançada para os cinemas, chamada “Great Balls of Fire!” (no Brasil, “A Fera do Rock”).

Disponibilizada em 1989, a obra narra a ascensão de Lewis ao estrelato até sua abrupta queda de popularidade causada por seu polêmico terceiro casamento. O astro foi interpretado pelo ator Dennis Quaid e o elenco também tem outros nomes famosos, como Winona Ryder e Alec Baldwin.

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A seguir, vamos te contar um pouco sobre a história de “Great Balls of Fire!”, que demorou para sair do papel e teve uma produção complicada justamente por conta do músico. As informações são da Wikipedia, Screen Rant e Ultimate Classic Rock.

Falta de interesse

O grande responsável por ter feito “Great Balls of Fire!” sair do papel foi o produtor Adam Fields, que já chefiou diversas produções de Hollywood. No início dos anos 1980, Fields se interessou em fazer um filme baseado na vida de Jerry Lee Lewis após ver uma notícia de que o músico estava retomando o estrelato.

Por mais que tivesse sido apontado como um sucessor de Elvis Presley pelo título de “rei do rock”, Jerry Lee Lewis viu sua carreira afundar alguns anos após estourar. O motivo foi a revelação de que sua terceira esposa, Myra Gale Brown, era sua prima e tinha apenas 13 anos de idade quando se casaram. Isso fez a opinião pública se voltar contra o cantor e sua carreira nunca mais foi mesma.

Ao Screen Rant, Fields afirmou:

“Eu não sabia nada sobre ele, mas vi um artigo no (jornal) LA Times que dizia ‘Jerry Lee Lewis no caminho do retorno’ e pensei ‘Retorno de quê? Onde ele está?’ Então, decidi vê-lo tocar em um clube e foi como se tivesse visto um show do Grateful Dead ou do (Bruce) Springsteen. Ele tocou por umas três horas, tinha uma energia louca. E quando li sobre ele, percebi que tinha de fazer esse filme.”

Adam Fields conseguiu os direitos de produção de um filme baseado na biografia do cantor, escrita pela própria Myra Gale Brown, de quem Lewis se divorciou em 1970. No entanto, o cineasta passou boa parte da década tentando vender, sem sucesso, a ideia para alguns estúdios de Hollywood.

Por um momento, o lendário produtor Dino De Laurenttis chegou a se interessar, mas desistiu por ter confundido Jerry Lee Lewis com o comediante Jerry Lewis, que ele considerou ter sido o foco do projeto inicialmente.

Os direitos de produção de um filme inspirado na biografia estavam para vencer, mas Fields não se deu por superado. “Great Balls of Fire!” saiu do papel após um dia em que o produtor contou com a ajuda da sorte.

Jerry Lee Lewis e Dennis Quaid

Já no fim dos anos 1980, Adam Fields estava na sede da produtora Orion Pictures, em Los Angeles, trabalhando para concluir o lançamento do filme “Johnny Be Good”, do qual era produtor. No mesmo dia, Dennis Quaid foi até o local conversar com o diretor do estúdio.

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Ciente de que Jerry Lee Lewis tocaria no mesmo dia em Los Angeles, Fields teve a ideia de convidar Quaid para se encontrar com o músico. O produtor chamou um amigo fotógrafo para tirar fotos dos dois tocando piano juntos durante a ocasião.

Em seguida, Fields vendeu as imagens do encontro de Lewis e Quaid para um amigo que trabalhava em uma revista. Elas fizeram bastante sucesso e, enfim, ajudaram o produtor a vender a ideia do filme para a própria Orion Pictures.

Jerry Lee Lewis, o empecilho

Chegou a hora de gravar “Great Balls of Fire!”, só que antes mesmo do início dos trabalhos, surgiu um pequeno problema: o próprio Jerry Lee Lewis foi contra o uso da biografia como base para o enredo. O o músico sempre foi um crítico do livro escrito pela terceira de suas sete esposas por considerar que muitos dos fatos relatados não eram verdadeiros.

Existe até mesmo um rumor de que o lendário artista chegou a apontar uma arma para Adam Fields em uma ocasião devido a seu descontentamento com o roteiro. Eles negam essa situação, mas confirmam as diferenças e revelaram que, um dia, Lewis entrou nervoso no escritório de Fields, gritando “mentiras, mentiras, mentiras!” com o roteiro em suas mãos.

Jerry também ficou preocupado que “Great Balls of Fire!” pudesse danificar sua reputação. Afinal, ele tinha acabado de recuperar a credibilidade por conta dos seus escândalos matrimoniais – além do casamento com Myra Gale Brown, duas de suas ex-esposas morreram em circunstâncias consideradas misteriosas. Adam confessa que foi difícil lidar com o astro.

“Ele era aquele tipo de cara assustador. Ele olhava para mim nos olhos com um olhar assustador e me dizia: ‘Eu vou gostar desse filme, rapaz?’ E eu disse: ‘Sabe, Jerry, não sei se alguém realmente se sentiria confortável de assistir toda sua história de vida contada em um filme para o mundo inteiro ver. Não sei se iria (ficar confortável), e minha vida não teve os mesmos problemas que a sua’.”

Outro ponto de divergência foi com relação ao subenredo que envolvia religião, assunto que sempre foi sensível para Jerry Lee Lewis por questões familiares. Para se ter ideia da seriedade, houve um período em que o músico chegou a deixar o rock para se dedicar à música gospel.

Para tentar amenizar esses problemas, a produção convidou Lewis para ser uma espécie de consultor do longa e o músico aceitou. Ele também topou regravar algumas de suas canções mais conhecidas apenas para a obra. Ainda assim, muitas complicações rolaram. Segundo o livro “The Dark Stuff: Selected Writings on Rock Music”, as filmagens foram “longas, dispendiosas e árduas, além de terem sido afetadas por enfermidades e clima instável”.

“Great Balls of Fire!”, enfim, chega

“Great Balls of Fire!” estreou nos cinemas americanos em 30 de junho de 1989, mas podemos afirmar que o “timing” para o lançamento não poderia ter sido pior. Uma semana antes, o primeiro filme do Batman foi lançado e a atenção do público estava voltada para o longa do herói dos quadrinhos.

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Por conta disso, o longa conhecido no Brasil como “A Fera do Rock” arrecadou apenas US$ 13,7 milhões em bilheteria, com um orçamento que variou entre US$ 16 milhões e US$ 18 milhões. Ou seja: deu prejuízo. A crítica considerou a obra mediana; não à toa, a aprovação é de 62% no Rotten Tomatoes.

O lendário crítico de cinema Roger Ebert disse o seguinte sobre o filme:

“Esta é uma história de rock n’ roll simplificada, em que os prazeres são muitos e os problemas são poucos. (…) O roteiro foge do lado sombrio de Lewis, desde suas noites como um homem cercado por violência e miséria até seu estilo de vida que quase o deixou perto da morte muitas vezes.”

Um aspecto considerado positivo foi a atuação do protagonista Dennis Quaid. O próprio Roger Ebert enalteceu o trabalho do ator.

“Quaid fez um ótimo trabalho em reproduzir a persona de Lewis no palco. (…) Quaid tem a habilidade de interpretar um vigarista charmoso e libidinoso.”

Ao canal de YouTube Build Series, o intérprete revelou que se preparou um ano para o papel. Como não sabia tocar piano, apenas violão, Quaid contou com a ajuda de professores que até ensinaram o estilo característico de Lewis.

Além disso, o ator revelou, com bom humor, que teve de gravar o filme com o próprio Jerry Lee Lewis presente no set de gravações.

“Jerry Lee estava no set todo santo dia. Ele carregava uma garrafa de uísque em um bolso e um (revólver) 38 em outro. Ele ficava atrás de mim o tempo todo e dizia (imitando a voz do cantor): ‘Está errado, rapaz! Está errado!’ Eu virei um enteado do Jerry Lee Lewis!”

Na mesma entrevista, Dennis também garantiu que o músico foi importante para sua atuação em “Great Balls of Fire!” e explicou por que o cobrou bastante em sua atuação.

“Ele foi ótimo. Ele foi um dos meus professores de piano e abriu todo seu mundo para mim. Ele pegou pesado comigo porque queria que eu fosse perfeito, ele era um perfeccionista. Uma vez, o vi em um estúdio gravando por 12 horas seguidas, sem ao menos parar para ir ao banheiro. Por quê? Porque ele amava tocar piano.”

E o que Jerry Lee Lewis pensa do filme?

Por mais que tenha sido convidado para atuar como consultor do projeto, Jerry Lee Lewis já deu a entender que também não ficou muito impressionado com “Great Balls of Fire!”. Na época do lançamento, ao ser questionado sobre a obra, se limitou a frases como:

“É um filme e precisa ser aceito como um filme.”

Além de:

“Estão fazendo um filme sobre minha vida e acho isso uma honra. E apenas espero que me paguem.”

No entanto, ele também enalteceu o trabalho de Dennis Quaid, dizendo:

“Ele nasceu para me interpretar. E ter me interpretado neste filme fará dele uma grande estrela.”

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Augusto Ikeda
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Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Atua no mercado desde 2013 e já realizou trabalhos como assessor de imprensa, redator, repórter web e analista de marketing. É fã de esportes, tecnologia, música e cultura pop, mas sempre aberto a adquirir qualquer tipo de conhecimento.

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