Entrevista: Biff Byford exalta longevidade e fidelidade às raízes do Saxon

Lendária banda de heavy metal lançou seu 23º álbum de estúdio, “Carpe Diem”; em paralelo, vocalista liberou recentemente um disco solo e outro com o Heavy Water

Apesar de todas as restrições, não dá para dizer que a pandemia foi tediosa para Biff Byford. O Saxon lançou dois álbuns: “Inspirations” (composto por covers) e “Carpe Diem”. O cantor também gravou o primeiro disco do projeto Heavy Water, com seu filho Seb: “Red Brick City”. Além disso, havia disponibilizado o trabalho solo “School of Hard Knocks” pouco antes.

Em entrevista exclusiva, o músico revelou alguns detalhes por trás de cada projeto, seguindo a ordem cronológica.

“Em ‘School of Hard Knocks’, a questão é que eu tinha algumas ideias e muitos amigos que queriam fazer isso comigo. E a maioria das letras são sobre mim e minha vida. Consegui fazer músicas sobre mim, sobre como me sinto, em vez do que o Saxon sente.

No caso de ‘Inspirations’, nossa gravadora queria um álbum e todos nós tínhamos essa ideia sobre as músicas que nos inspiraram. Parecia uma ótima ideia. Todos escolheram canções que eram importantes ou nos influenciaram. Foi um desafio, pois elas não foram feitas para minha voz, mas acho que fizemos um bom trabalho.

Seb e eu tínhamos a ideia do Heavy Water na cabeça. Devido à pandemia e a obrigação de estar em casa chegamos a um ponto de tentar algo juntos. Seb escreveu os riffs, algumas coisas folk e outras mais pesadas. Foi uma ótima experiência me concentrar mais nas ideias dele e fazer algo diferente.”

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Quanto ao novo álbum da banda principal, Biff destaca que o título, “Carpe Diem” (“Aproveite o dia” em latim), não teve a ver com a situação atual da humanidade.

“No começo eu queria chamar o álbum de ‘Pilgrimage’. E então eu saí do hospital (nota do editor: Biff sofreu um problema cardíaco no final de 2019) e minha esposa me levou para uma pequena pausa na parte norte da Inglaterra. Visitamos a Muralha Romana, a Muralha de Adriano, que se estende por toda a Inglaterra. Estávamos explorando os fortes romanos e os castelos. E eu continuei vendo essa coisa de carpe diem em todos os lugares. Isso era como ‘tenha um bom dia’ para os romanos ou ‘aproveite o dia’. E eu pensei que seria um grande título para um álbum. Aproveite o dia, Carpe Diem. Então foi daí que veio.”

Repercussão e parceria com Andy Sneap

Os resultados do novo trabalho não poderiam ser mais animadores para o Saxon. “Carpe Diem” chegou ao 17º lugar na parada britânica em sua semana de lançamento. É a melhor marca desde “Power and the Glory”, 15º em 1983.

Na Alemanha, o disco ficou em 3º, melhor posição de um trabalho da banda em toda a carreira em qualquer chart mundial. Biff comenta:

“Fiquei grato, agradecido e feliz com isso. Confirma que fizemos tudo certo com este álbum.”

É o quarto álbum do grupo a ser produzido por Andy Sneap. Byford garante que a dinâmica não mudou depois que o colega se tornou um membro permanente do Judas Priest.

“Nenhuma mudança para nós, estamos trabalhando com Andy Sneap há cerca de 20 anos ou mais e estamos muito felizes. A produção é incrivelmente importante. Andy nos entende, ele é um grande fã de heavy metal e adoramos trabalhar com ele. Ele também se envolve em estruturas de músicas – ele pode sugerir coisas como partes de guitarra, mudar um arranjo.”

Um Saxon estável, mas inspirado

Não apenas as coisas não mudaram, como seguem uma constante na carreira do Saxon. Já são 23 álbuns de estúdio desde o início da banda. Em vários momentos, diferentes elementos foram adicionados à proposta. Flertes com hard rock, AOR e até mesmo com o progressivo, de onde veio boa parte das raízes dos músicos. Mas o fato recente inegável é que a sequência “Sacrifice” (2013), “Battering Ram” (2015), “Thunderbolt” (2018) e “Carpe Diem” (2022) mostra uma banda ainda inspirada e motivada.

“Não há segredos, sempre queremos ser melhores, se é que isso é possível. Não perdendo nossas raízes saxãs, mas atualizando e tentando não nos copiar”.

A regularidade se apresenta além da discografia, pois a formação atual está junta há quase 3 décadas – exceto pela saída temporária de Nigel Glockler devido a problemas de saúde. Muitos fãs até começaram a acompanhar o grupo com os membros atuais.

Uma banda sempre acaba tendo o que é considerado sua formação clássica. No caso do Saxon, ela conta com Graham Oliver em uma das guitarras e Steve Dawson no baixo. Na bateria, Nigel divide o posto com Pete Gill.

Mas o fato é que o quinteto não sofre com a mesma frequência que outros da síndrome do “sinto falta daquele músico”. Nenhum fã sequer considera uma reunião com colegas do passado. Byford vê a situação como uma prova da força do grupo atual.

“Nossa formação é ótima e estável e todos nós gostamos uns dos outros. Somos mais do que uma banda. Nós experimentamos tanto juntos e ainda estamos unidos quando se trata de ideias de música, escrever e simplesmente manter o Saxon vivo e atualizado, puxando na mesma direção.”

Pandemia para os músicos e volta aos palcos

Ainda assim, não dá para deixar de voltar no tema lá do início. A Covid-19 deixou marcas que talvez sejam irrecuperáveis na indústria musical. Em agosto de 2021, Biff disse à Classic Rock Magazine: “O governo de Boris Johnson simplesmente abandonou os músicos durante a pandemia. Parece que esqueceram quanto dinheiro geramos para o país. Não sei se ainda teremos uma indústria viável quando tudo isto estiver acabado”.

Depois de meio ano, o vocalista prefere ver a situação de uma perspectiva mais positiva.

“Parece que poderemos fazer uma turnê novamente. Já fizemos alguns shows na Alemanha e no Reino Unido. Só podemos olhar para frente e esperar o melhor e dizer: vamos em frente.”

Abre-se espaço até para uma observação pessoal, quando cito que meu último show internacional antes do início da pandemia foi o Saxon em Porto Alegre, dia 13 de março de 2019. Biff ressalta que, apesar de vagarosos, os planos estão sendo retomados até mesmo para viagens de longa distância, como é o caso da América do Sul, onde a banda conta com inúmeros fãs.

“Acho que as coisas estão avançando. Nosso agente está planejando a próxima turnê e ela deve ser mundial, se possível.”

Uma das características marcantes dos shows do Saxon é perguntar ao público qual música eles gostariam de ouvir além das que já fazem parte do repertório. Por conta disso, a banda nem sempre está preparada para o que pode rolar. Mesmo assim, é importante manter a memória afiada.

“Depois de todos esses anos, nós meio que sabemos do que nossos fãs gostam. Mas sim, alguns deles têm um desejo extraordinário que temos de tocar depois que perguntamos a eles. Como banda, você deve conhecer todas as músicas, embora possa ser um pouco difícil depois de não ter tocado alguma por muito tempo. Mas de alguma forma nós administramos com nossos sentidos e habilidade.”

Melhor representação da NWOBHM

Já se passaram 45 anos desde que a banda foi criada. O Saxon é a banda que melhor representou a New Wave Of British Heavy Metal (NWOBHM) como um movimento que mudou a face da cena pesada britânica na virada dos anos 1980. Claro que o Iron Maiden e o Def Leppard fizeram muito mais sucesso. Mas até por isso, os dois se desvincularam completamente do rótulo, atingindo níveis estratosféricos e se tornando maiores que suas origens.

Apesar de reconhecer que o nome dado àquele período é o de menos, Biff Byford ressaltou que o começo ainda serve de referência para o que é feito até hoje.

“O Saxon é sempre mencionado como um pioneiro da NWOBHM e acho que isso vai ficar para sempre. É apenas um nome que a mídia criou para ter como chamar um gênero mais pesado e um pouco diferente. Temos muito orgulho do que alcançamos, mas o mais importante é que ainda estamos vivos e detonando depois de todos esses anos. Tocamos em locais lotados, os fãs ainda querem nos ver e gostam de nós.”

Saxon, “Carpe Diem” e “Seize the Day Tour”

Entre junho e julho, o Saxon fará temporada de festivais do verão europeu. A seguir, dará início à “Seize the Day Tour”, com shows mais longos divulgando “Carpe Diem”.

Com 23 álbuns de estúdio, a banda vendeu mais de 13 milhões de discos em todo o mundo até hoje.

Ouça “Carpe Diem” a seguir, via Spotify.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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