Punk 77, thrash Bay Area, rock anos 80, grunge… são vários momentos do rock que receberam um nome próprio devido à importância e influência causadas. O gothic metal da virada dos anos 90 para 2000 — do qual veio o Evanescence — deveria ser mais lembrado nesse contexto pelos mesmos motivos.
Além de discos históricos, o subgênero revelou uma série de cantoras do mais alto nível e consolidou a imagem de bandas lideradas por mulheres, o que antes não era exatamente comum.
Duas décadas depois, muitas delas continuam ativas e operantes com a potência vocal inabalada, como é o caso de Anneke van Giesbergen (ex-Gathering, que recentemente fez uma turnê brasileira) e Amy Lee, cuja banda realizou no último sábado (21), no Allianz Parque, em São Paulo, seu show de maior público na carreira.
Ego Kill Talent
A noite começou com o Ego Kill Talent, provavelmente a única banda underground do mundo que toca quase exclusivamente em estádios e arenas. Estão agora com Emmily Barreto no vocal, que assumiu o posto sem sair do Far From Alaska.
Um novo logo, melhorado, solucionou brilhantemente o problema que o Kill, destacado, pode trazer em termos de algoritmo e redes sociais em geral — apenas trocando o i por um _; ou seja, K_ll. Essa nova fase foi devidamente apresentada no palco do Allianz Parque, tanto pelo show visceral quanto pela qualidade das novas músicas, que ocuparam a maior parte do set.
Duas delas vieram do single duplo “Call Us By Her Name”, lançado na sexta (20) imediatamente anterior. Outro par de inéditas chega no dia 10 de novembro, como anunciado pelo baixista e guitarrista Theo van der Loo. Completaram o time Rafael Brasil (emprestado do Far From Alaska devido à ausência de Jean Dolabella, que se apresentava com Pitty no mesmo dia em Ribeirão Preto), Raphael Miranda na bateria e Niper Boaventura na guitarra e baixo.
A boa recepção do público reforça a impressão de que a banda melhorou bastante. Pareceu começar a deixar para trás o som genérico praticado até então, indo para uma direção que parece atualizar o som da Alanis Morissette em seus momentos mais populares, mas com algo próprio.
O que é fato é que o Brasil está muito bem representado no campo das grandes vozes da atualidade com Emmily Barreto. Com a estrutura de que o Ego Kill Talent dispõe, que não é pequena, vai mostrar isso para o mundo.
Evanescence
A empolgação do público por essa turnê nacional do Evanescence, primeira desde 2017, estava evidente desde o início da venda dos ingressos, com quatro das seis datas esgotadas.
Do lado da banda foi igual, com saudações à parte da banda e Amy Lee indicando que talvez tocaria algum cover em português por aqui. A simpatia com que ela chegou ao país, acessível aos fãs desde o aeroporto, corroborou esta impressão.
Era de se perguntar: o que o grupo faria de diferente em São Paulo, no maior show da carreira segundo eles próprios?
Nada. Saiu “Made of Stone”, entrou “What You Want”; de resto, foi o mesmo set com 17 músicas. O que não indica que o show tenha sido sem graça. A expressão de esforço que a Lee faz ao longo do show tem razão de ser: ela não para de agitar em nenhum momento, toca teclado e piano enquanto leva a voz do falsete mais suave ao grito do tamanho do estádio enquanto Troy McLawhorn e Tim McCord (ambos guitarras), Emma Anzai (baixo e backing vocals) e Will Hunt (bateria) não economizam no peso.
A discografia do Evanescence não é extensa. São quatro discos de inéditas em mais de 20 anos de carreira. Contudo, o nível de acerto é alto. Quase metade do setlist é composta por hits. Talvez por isso a banda se dê ao luxo de sacrificar “Everybody’s Fool”, de “Fallen” (2003), tocando apenas o final dela em um medley. Sim, houve não apenas um como dois medleys que somaram trechos de 9 músicas, quase um set dentro do set.
“My Immortal” e “Bring Me to Life” são os dois maiores hits do Evanescence e encerram a apresentação. Entre elas, a principal surpresa guardada especialmente para o Brasil: Amy Lee cantou ao piano “amor é a sua luz / deixe brilhar / eu nunca vou deixar isso passar / não acabou / nunca acaba / você sabe” com voz baixa e tom melancólico, mas muito bonito. Uma estrofe em português mesmo, de uma música inédita, apresentada pela primeira vez em Curitiba foi tocada novamente em São Paulo. O feito de Bruce Springsteen, de tocar “Sociedade Alternativa” (Raul Seixas) no idioma original em 2013, foi levado a outro patamar.
Fogos de artifício no topo do estádio marcaram o fim da performance. Os músicos, sorridentes, filmavam tudo individualmente com o próprio celular. Para eles, também foi especial o maior show do Evanescence acontecer em um lugar tão impressionante como o Allianz Parque.
O público da banda só cresceu desde 2007, quando a banda estreou em São Paulo no mesmo lugar, ainda um Palestra Itália não reformado e com capacidade menor. O grupo não se apoia em nostalgia, não acelerou os lançamentos para continuar em evidência nem reduziu o peso das guitarras, principalmente ao vivo – a execução é pesada, ao ponto de enjoar dado o uso aparente da mesma distorção e timbre o tempo todo.
O sucesso do Evanescence é real. Tem base sólida. E isso não deve mudar tão cedo, pois o público brasileiro que viu esta turnê quer ouvir o restante da música feita especialmente para eles.
*Fotos de Gustavo Diakov / @diakovphotograph. Mais imagens ao fim da página.
Evanescence – ao vivo em São Paulo
- Local: Allianz Parque
- Data: 21 de outubro de 2023
- Turnê: The Bitter Truth Tour
Repertório:
- Broken Pieces Shine
- What You Want
- Going Under
- Take Cover
- Lose Control / Part of Me / Never Go Back
- Call Me When You’re Sober
- Wasted on You
- Lithium
- Far From Heaven
- Imaginary
- Better Without You
- End of the Dream
- Haunted / My Last Breath / Cloud Nine / Everybody’s Fool / Weight of the World / Whisper
- Use My Voice
- Blind Belief
- My Immortal
- Bring Me to Life
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