A morte de Michael Hutchence, que ainda gera teorias sobre asfixia erótica

Apesar de hipóteses levantadas por fãs, versão oficial e informações contidas em documentário evidenciam problemas enfrentados pelo vocalista do INXS

Michael Hutchence, vocalista do INXS, morreu de forma considerada misteriosa aos 37 anos, no dia 22 de novembro de 1997. Teorias a respeito de seu falecimento, oficialmente tido como suicídio por enforcamento, circulam até hoje.

No entanto, havia muito mais por trás da mente perturbada do artista, que tinha 37 anos quando tirou a própria vida. E muitos desses detalhes só vieram a tona em 2019, com o lançamento do documentário “Mystify: Michael Hutchence”, dirigido por Richard Lowenstein e disponibilizado na Netflix.

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Últimas horas e morte de Michael Hutchence

O INXS já não estava exatamente no auge de sua popularidade em 1997, mas tudo parecia bem com a banda e seus integrantes. Michael havia acabado de ter sua primeira filha, Heavenly Hiraani Tiger Lily Hutchence, fruto de um relacionamento recente com a apresentadora de TV britânica Paula Yates. O grupo tinha planos para uma nova turnê de divulgação do álbum “Elegantly Wasted”, lançado em abril daquele ano.

O vocalista voltou para a Austrália, sua terra natal, em novembro de 1997. Hospedou-se no hotel Ritz-Carlton, em Sydney. Na noite do dia 20, jantou com seu pai, o empresário Kell Hutchence. Tudo dentro da normalidade.

No dia seguinte, porém, surgiu um conflito que pode ter sido a gota d’água para uma condição psicológica já deteriorada. Michael e Paula haviam planejado que a apresentadora trouxesse a filha do casal à Austrália, mas ela tinha a guarda de suas outras duas filhas mais velhas, de seu relacionamento anterior com Bob Geldof – e o também músico não permitiria que as garotas deixassem o Reino Unido.

Durante todo o dia 21, Michael Hutchence falou ao telefone com a esposa e com o empresário do INXS, além de alguns amigos próximos. Na madrugada, chegou a conversar com o próprio Bob Geldof, tentando convencê-lo da viagem. Mas o papo rendeu uma discussão feia e o vocalista do INXS foi se alterando cada vez mais. As últimas pessoas com quem ele teve contato logo notaram diferenças em sua voz, como se estivesse alcoolizado.

Na manhã do dia 22 de janeiro, uma funcionária do hotel responsável pela limpeza do quarto encontrou o cantor morto. Ele estava nu e ajoelhado, com o corpo apoiado na porta do quarto. Em seu pescoço, havia um cinto de couro de cobra, com a outra extremidade presa em um dispositivo acima da porta.

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Teorias sobre o falecimento

A morte do vocalista do INXS fez um grande barulho na imprensa. Logo começaram a surgir as primeiras teorias de que ele veio a óbito enquanto praticava uma técnica de asfixia erótica – uma espécie de fetiche sexual onde a pessoa se sente excitada ao ter sua respiração dificultada.

O fato de que ele havia conversado com uma ex-namorada, a modelo Michele Bennett, e a visita que recebeu no quarto da atriz Kym Wilson só colaboraram para essa hipótese.

Por sua vez, o resultado da perícia indicou que Hutchence cometeu suicídio por enforcamento. Exames detectaram a presença de álcool, cocaína, prozac e outras drogas em seu sangue. O cantor chegou a enviar uma mensagem para o empresário de sua banda onde dizia que “não aguentava mais”.

Sob um primeiro olhar, a teoria da asfixia erótica poderia até fazer algum sentido, visto que Michael, oficialmente, não apresentava tendências suicidas. Mas uma história guardada por muitos anos pode explicar melhor o que levou o frontman do INXS a tirar a própria vida, além de revelar uma grande batalha que ele enfrentou em seus últimos anos.

O acidente de Michael Hutchence

O documentário “Mystify: Michael Hutchence” surpreendeu ao relatar um caso ocorrido em 1992, cinco anos antes da morte de Michael Hutchence. E a única que sabia era a modelo Helena Christensen, com quem ele se relacionava na época.

Durante uma noite em Copenhague, na Dinamarca, o casal saiu para comer pizza e andar de bicicleta pela cidade. Em frente à pizzaria, Hutchence se desentendeu com um motorista de táxi, que lhe acertou um violento soco no rosto. Conforme relatado por Christensen no documentário, o artista ficou inconsciente de forma praticamente instantânea.

“Ele ficou inconsciente no chão e o sangue saía pela boca e ouvido. Pensei que estivesse morto. Quando acordou no hospital, ficou tão violento que os enfermeiros o deixaram ir embora sem fazer mais exames.”

Segundo a modelo, o vocalista passaria cerca de um mês em casa, vomitando muito, até ser convencido por ela a voltar ao médico. Michael recebeu então o diagnóstico de uma lesão no crânio e em alguns nervos, que fariam com que ele perdesse totalmente o olfato e o paladar.

Mas essas não foram as únicas alterações que se seguiram. O cantor desenvolveu uma espécie de transtorno bipolar, variando de humor de forma drástica e repentina. Colegas de banda e pessoas próximas notaram a diferença, mas não sabiam o motivo: Hutchence nunca contou a eles sobre o problema, pois tinha medo de ser deixado de lado nos processos de composição e decisões sobre a banda.

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Por tudo isso, durante os cinco anos que separaram o ocorrido em Copenhague de sua morte, o vocalista lutou contra transtornos psicológicos e depressão. A queda de popularidade do INXS nesse tempo colaborou para que a situação se complicasse ainda mais.

Um episódio emblemático de humilhação pública envolvendo o Oasis, que teria inspirado uma mudança nos backing vocals da faixa-título do álbum “Elegantly Wasted”, é citado como algo que agravou a condição de Michael. O cantor foi convidado a apresentar a categoria de Melhor Videoclipe do Brit Awards em 1996, vencida pela banda dos irmãos Gallagher. Ao receber o troféu, Noel, guitarrista, disse algo como: “Os antiquados não deveriam dar prêmios aos futuros”.

Michael teria ficado tão irritado com a situação que alterou os backing vocals da música “Elegantly Wasted”. Enquanto a voz principal diz “I am elegantly wasted”, o canto de apoio declara: “I am better than Oasis” (“sou melhor que o Oasis”).

https://www.youtube.com/watch?v=WKVNqya_Zxc

Antes mesmo do acidente em 1992 e dos eventos posteriores, há diários de Michael Hutchence da década de 1980 indicando que ele pensava em suicídio. Era algo ainda discreto, pouco preocupante para os que conviviam com ele, mas não deixa de estar registrado.

Em entrevistas na década de 1990, o cantor passou a falar no assunto com mais seriedade e frequência. Hoje, tal comportamento provavelmente seria classificado com uma “red flag”, como um sinal de alerta para pessoas com tendências ao suicídio.

Com a morte de Michael, o INXS tentou continuar com outros vocalistas. Jon Stevens, JD Fortune e Ciaran Gribbin assumiram o posto em diferentes momentos, sem o mesmo êxito de outros tempos. A banda encerrou atividades em 2012.

* Texto por André Luiz Fernandes e Igor Miranda, com pauta e edição por Igor Miranda.

** No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV), associação civil sem fins lucrativos, oferece apoio emocional e prevenção do suicídio, gratuitamente, 24 horas por dia. Qualquer pessoa que queira e precise conversar, pode entrar em contato com o CVV, de forma sigilosa, pelo telefone 188, além de e-mail, chat e Skype, disponíveis no site www.cvv.org.br.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

4 COMENTÁRIOS

  1. Quem teve uma suposta morte de asfixia erótica parecida foi o ator David Carradine, que fez sucesso nos anos 70, com o seriado Kung Fu, e anos depois foi resgatado do ostracismo pelo Tarantino nos filmes da série Kill Bill. Também foi encontrado morto em um quarto de hotel e circunstâncias semelhantes ao Michael.
    https://g1.globo.com/Noticias/Cinema/0,,MUL1184163-7086,00-DAVID+CARRADINE+TERIA+MORRIDO+EM+ACIDENTE+DE+MASTURBACAO.html

  2. Uma das coisas mais canalhas que esse doc fez foi tentar atribuir culpa ao Noel/Oasis pelo que aconteceu! Liam abraçou e beijou Michael no palco, e sobre o que o Noel disse, o próprio Michael deu entrevistas depois e disse que não tinha se importado porque sabia que Noel é assim. E eram os anos 90, não havia conscientização sobre a saúde mental dos outros e como a própria matéria lembra, Michael não dava sinais de depressão. Achei tendencioso demais insinuarem isso agora, em plena era dos cancelamentos!

    • O doc não gira em torno disso para ser tendencioso.
      Desde o acidente são uma serie de acontecimentos que tentam ilustrar como poderia estar o estado mental de Michael e todos eles tem um tempo de tela superior ao ocorrido no brit awards. Não poderiam ignorar isso, ja que foi uma humilhação publica na carreira de Michael. Sejamos francos, Noel sempre endossou uma imagem de babaca propositalmente com muitos artistas e conseguiu ser reconhecido como tal. Isso é de conhecimento de todos.

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